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SELEÇÃO DOS ESCRITOS

DE 'ABDU'L-BAHÁ





"Ele é - e para todo o sempre deve assim ser considerado - primeiro e acima de tudo,
o Centro e Eixo do incomparável e todo abrangente Convênio de Bahá'u'lláh,
Sua mais exaltada obra, o imaculado Espelho de Sua Luz, o perfeito Exemplar
de Seus ensinamentos, o infalível Intérprete de Sua Palavra, a encarnação de
todos os ideais e virtudes bahá'ís, o Mais Poderoso Ramo nascido da Raiz Antiga,
o Sustentáculo da lei de Deus, o Ser "em torno de nomes", o Manancial da
Unidade do Gênero Humano, o Porta-estandarte da Paz Máxima,
a Lua do Orbe Central desta mais sagrada Revelação..."




Texto de Shoghi Effendi, o Guardião da Fé Bahá'í








Compilado pelo Departamento de Pesquisa da
Casa Universal de Justiça - Centro Mundial Bahá'í




Tradução de Leonora Armstrong,
Peiman Milani e Luis Henrique Beust









Título original: Selections from the Writings of 'Abdu'l-Bahá



Copyright ( 1978: The Universal House of Justice
Direitos reservados sob a Convenção de Berna


Copyright desta edição ( 1993: Assembléia Espiritual Nacional
dos Bahá'ís do Brasil


Traduzido para o inglês por um
Comitê no Centro Mundial Bahá'í
e por Marzieh Gail


Elaboração das Notas adicionais às
da edição em inglês: Peiman Milani
e Luis Henrique Beust


Guia de Assuntos: Luis Henrique Beust


Revisão da tradução: Luis Henrique Beust
Capa: Neissan Monadjem
Impressão: PALAS ATHENA, São Paulo



ISBN 85-320-0015-0



Editora Bahá'í do Brasil
Estrada Campinas - Mogi-Mirim SP 340, Km 155,5
Mogi-Mirim - SP - Brasil








PREFÁCIO À EDIÇÃO EM PORTUGUÊS



A publicação desta importante obra - SELEÇÃO DOS ESCRITOS DE 'ABDU'L-BAHÁ - em português, ocorre no final do Ano Santo (Ridván 1993), o ano em que foi comemorado o Centenário da Ascensão de Bahá'u'lláh e o centenário da instalação de Seu Convênio, que outorgou o 'Abdu'l-Bahá a posição de Centro do Convênio e a responsabilidade de Intérprete autorizado de Seus ensinamentos.
Os Escritos de 'Abdu'l-Bahá, portanto, revestem-se de importância muito grande na literatura da Fé Bahá'í. Anteriormente, a Editora Bahá'í do Brasil já havia publicado as outras duas seleções de Escritos Sagrados - os de BAHÁ'U'LLÁH e os do BÁB. Agora, nesta oportunidade histórica, entregamos ao leitor brasileiro, em participar aos bahá'ís, este tesouro imenso dos ESCRITOS DE 'ABDU'L-BAHÁ.
A edição em português tem como novidade - o GUIA DE ASSUNTOS - preparado para os leitores encontrarem os assuntos tratados em cada um dos 237 textos da obra. Portanto, recomenda-se inicialmente a leitura da Introdução ao Guia de Assuntos, na página 299, bem como as explicações que se seguem, que indicam sucintamente os assuntos tratados em cada um dos textos, numerados, conforme arranjados pelo Centro Mundial da Fé, sob cuja orientação foi feita a SELEÇÃO.
As NOTAS também contém alguns itens adicionais aos da edição original em inglês, enriquecendo ainda mais a obra com explicações muito oportunas sobre determinados trechos do livro.






Ridván de 1993

A Editora Bahá'í do Brasil









PREFÁCIO


A exposição que 'Abdu'l-Bahá fez da Revelação Bahá'í acha-se reunida em três espécies de texto: Suas obras escritas, as muitas compilações dos pronunciamentos Seus que foram registrados, e Sua correspondência. As obras por Ele redigidas, tais como The Secret of Divine Civilization, A Traveller's Narrative e a Última Vontade e Testamento já foram traduzidas para o inglês. Do mesmo modo, muitas compilações de Seus pronunciamentos registrados - entre as quais se poderiam mencionar O Esplendor da Verdade, Memorials of the Faithful, Palestras em Paris - estão permanentemente disponíveis em edições inglesas. Durante sessenta anos, porém, não se fez nenhuma coletânia, em inglês, de suas inumeráveis cartas; os três volumes de Tablets of 'Abdu'l-Bahá, publicados nos Estados Unidos entre 1909 e 1916, apesar de reimpressos mais tarde, há muito estão esgotados.
Esta compilação busca constituir uma seleção muito mais ampla que a feita na elaboração daqueles antigos volumes; seu exame dará noção da vasta gama de assuntos que o Mestre tratava em Sua correspondência. Incluem-se várias Epístolas traduzidas por um Comitê no Centro Mundial, que partiu de antigos rascunhos de Shoghi Effendi feitos ainda durante o ministério de 'Abdu'l-Bahá. Figura também na compilação um grande número de Epístolas vertidas pela Sra. Marziéh Gail, as quais lhe foram remetidas da coleção de mais de 19.000 cópias originais e autenticadas do Centro Mundial. Algumas Epístolas famosas, como a correspondência com Auguste Forel e a maior parte da Epístola a Haia, foram omitidas, já que podem ser encontradas em publicações separadas.
As felizes e abençoadas almas contempladas com a grande maioria das Epístolas aqui coligidas eram os primeiros crentes do Oriente e do Ocidente - indivíduos, grupos, comissões ou assembléias organizadas dos amigos; assim, é impossível sobreestimar o valor dessas palavras sagradas para as comunidades nascentes do Ocidente naqueles dias em que a literatura bahá'í em inglês era extremamente escassa.
Crê-se que a publicação destes escritos do Mestre servirão para intensificar, no coração de quantos O amam, o fervor de responderem a Seu chamado, bem como contribuirão para uma melhor percepção da maravilhosa harmonia entre o humano e o divino da qual Ele, o Mistério de Deus, foi tão perfeito exemplar.





REFERÊNCIAS AO ALCORÃO


Nas notas concernentes ao Alcorão, as suras foram numeradas de acordo com a original, ao passo que os números dos versículos são os usados na versão de Rodwell, vez por outra, dos texto árabe.






























1. Ó povos do mundo! O Sol da Verdade surgiu a fim de iluminar toda a Terra e espiritualizar a comunidade do homem. Louváveis são seus resultados - sem frutos - e abundantes as santas evidências que desta graça derivam. Isso é misericórdia genuína e a mais pura generosidade; é luz para o mundo e todos seus povos; é harmonia e companheirismo, amor e solidariedade; é, em verdade, compaixão e unidade e o fim do desamor; é a unificação de todos na Terra, em completa dignidade e liberdade.
Diz a Abençoada Beleza: "Todos vós sois os frutos de uma só árvore, as folhas do mesmo ramo". Assim Ele equiparou este mundo existente a uma única árvore e todos os povos às folhas dessa árvore, às flores e frutos. É necessário que o ramo floresça e a folha e o fruto medrem, e da interconexão de todas as partes dessa árvore - o mundo - é que depende o viço da folha e da flor, e a doçura do fruto.
Por esta razão devem todos os seres humanos apoiar vigorosamente um ao outro e buscar a vida eterna; por esta razão aqueles que amam a Deus devem tornar-se, neste mundo contingente, as graças e bênçãos dispensadas por aquele Rei clemente dos domínios visíveis e invisíveis. Que purifiquem a vista e vejam todos os seres humanos como as folhas, as flores e os frutos da árvore da existência. Que em todas as oportunidades ocupem-se em fazer algo de bom para algum de seus semelhantes, e ofereçam amor, consideração e ajuda atenciosa a alguma pessoa. Que a ninguém vejam como inimigo ou como pessoa que lhes quer mal, e sim pensem em toda a humanidade como amigos; que tenham o estranho por pessoa íntima, o desconhecido por companheiro, e mantenham-se livres do preconceito, sem construir barreira alguma.
Neste dia, é estimado no Limiar do Senhor quem oferece o cálice da fidelidade àqueles que estão ao redor; quem confere, até mesmo aos inimigos, a jóia da generosidade; e quem até mesmo ao opressor caído estende a mão em auxílio; é quem vier a ser amigo amoroso do mais violento adversário. São estes os Ensinamentos da Abençoada Beleza, estes os conselhos do Maior Nome.
Ó vós, queridos amigos! O mundo está em guerra e a espécie humana está em tribulação e combate mortal. A noite tenebrosa do ódio prevalece e a luz da boa fé extinguiu-se. Os povos e raças da Terra afiaram as garras e estão a arremessar-se uns contra os outros. É o próprio alicerce da espécie humana que está sendo destruído. São milhares as famílias errantes e desapossadas, e cada ano vê milhares e milhares de seres humanos a contorcer-se, banhados no próprio sangue vital em empoeirados campos de batalha. As tendas da vida e da alegria foram derrubadas. Os generais põem em prática suas táticas, jactando-se do sangue que derramaram, rivalizando-se mutuamente no estímulo à violência. "Com esta espada", diz um deles, "eu decapitei um povo inteiro!" E outro exclama: "Eu fiz vir abaixo uma nação!" E ainda outro: "Eu fiz cair um governo!" De tais coisas vangloriam-se os homens, tais as coisas das quais se envaidecem! O amor, a retidão - estes são em toda parte censurados, ao mesmo tempo em que a harmonia e a devoção à verdade são desprezadas.
A Fé da Abençoada Beleza convoca o gênero humano à segurança e ao amor, à amizade e à paz; ergueu seu tabernáculo nas alturas da Terra e dirige o chamado a todas as nações. Portanto, ó vós que amais a Deus, reconhecei o valor desta preciosa Fé, obedecei-lhe os ensinamentos, segui nesta estrada traçada em linha reta e mostrai ao povo este caminho. Levantai as vozes e cantai a canção do Reino. Difundi em toda parte os preceitos e conselhos do Senhor amoroso, de modo que este mundo se transforme em outro mundo, esta terra sombria inunde-se de luz e o corpo morto da humanidade levante e viva; para que toda alma suplique pela imortalidade, através dos sagrados sopros de Deus.
Em breve, vossos dias, que velozmente passam, terão findado, e a fama e as riquezas, os confortos e os deleites proporcionados por este monte de lixo, o mundo, terão desaparecido sem deixar traço sequer. Convocai o povo, pois, a Deus, e convidai a humanidade a seguir o exemplo da Companhia do alto. Sede pais amorosos para o órfão, e refúgio para o desamparado, e tesouro para o pobre, e cura para o enfermo. Sede os que auxiliam toda vítima de opressão e que protegem os desafortunados. Buscai, em todos os tempos, prestar algum serviço a todo membro do gênero humano. Não atenteis para a aversão e a rejeição, para o desdém, a hostilidade e a injustiça; agi do modo contrário. Sede sinceramente bondosos, não apenas na aparência. Que cada um dos bem-amados de Deus concentre a atenção nisto: ser a personificação da misericórdia do Senhor ao homem, ser a graça do Senhor. Que faça algum bem a toda pessoa com quem cruza no caminho e seja-lhe de algum benefício. Que aprimore o caráter de cada um e dê nova orientação às mentes dos homens. Desta maneira, a luz da guia divina irradiar-se-á e as bênçãos de Deus abrigarão toda a humanidade; pois o amor é luz, não importa em que morada habite, e o ódio é escuridão onde quer que faça seu ninho. Ó amigos de Deus! Para que o Mistério oculto possa ser manifesto, e a essência secreta de todas as coisas para revelar-se, esforçai-vos por banir essa escuridão para todo o sempre.


2. Ó meu Senhor! De Ti me aproximei nas profundezas desta noite tenebrosa, confiei em Ti com a língua de meu coração, trêmulo de júbilo ao perceber as doces fragrâncias que manam de Teu reino, o Todo-Glorioso, e a Te invocar, dizendo:
Ó Meu Senhor, palavras não encontro para Te glorificar; nenhum caminho vejo por onde a ave de minha mente possa alçar vôo para Teu Reino de Santidade; pois Tu, em Tua própria essência, estás santificado acima desses tributos e em Teu próprio ser estás além do alcance daqueles louvores a Ti oferecidos pelo povo que criaste. Na santidade de Teu próprio ser estás desde sempre elevado além da compreensão dos eruditos da Companhia no alto, e para sempre haverás de permanecer envolto na santidade de Tua própria realidade, jamais alcançado pelo conhecimento daqueles habitantes de Teu Reino excelso que Te glorificam o Nome.
Ó Deus, Meu Deus! Como Te posso glorificar ou descrever, inatingível que és; imensuravelmente elevado e santificado estás, acima de toda descrição e todo louvor.
Ó Deus, Meu Deus! Tem misericórdia, pois, de meu estado de desamparo, de minha pobreza, minha aflição, meu rebaixamento. Dá-me de beber do generoso cálice de Tua graça e perdão, comove-me com as doces fragrâncias de Teu amor, alegra-me o íntimo com a luz de Teu conhecimento, purifica minh'alma com os mistérios de Tua unicidade, ressuscita-me com a brisa suave que sopra dos jardins de Tua misericórdia - até que eu me aparte de tudo menos de Ti, e me segure à orla de Teu manto de grandeza, e relegue ao esquecimento tudo o que não seja Tu, e seja acompanhado pelos doces sopros que manam durante estes, Teus dias, e atinja a fidelidade em Teu limiar de Santidade, e me levante para servir Tua Causa e ser humilde diante de Teus bem-amados; até que, na presença daqueles por Ti favorecidos, eu seja o próprio nada.
Verdadeiramente, Tu és o Amparo, o Sustentáculo, o Excelso, o Mais Generoso.
Ó Deus, meu Deus! Suplico-Te pelo alvorecer da luz de Tua Beleza, que iluminou toda a Terra; e pelo relance dos olhos de Tua compaixão divina, os quais têm em conta todas as coisas; e pelo mar encapelado de Tuas dádivas, no qual todas as coisas estão imersas; e por Tuas nuvens que transbordam generosidade e chovem favores sobre a essência de todas as coisas criadas; e pelos esplendores de Tua misericórdia que existia antes de o mundo ser - que ajudes Teus eleitos a serem fiéis, e auxilies Teus bem-amados a servirem em Teu Limiar excelso, e os faças conquistar a vitória através dos batalhões de Teu poder que sobre todas as coisas predomina; que os reforces com grande hoste guerreira que procede da Assembléia do alto.
Ó meu Senhor! Eles são almas fracas que se apresentam em Tua porta; são indigentes em Teu pátio, desesperados de Tua graça, em necessidade extrema de Teu socorro, volvendo as faces para o reino de Tua unicidade, suspirando pelas bênçãos de Tuas dádivas. Ó meu Senhor! Inunda-lhes as mentes com Tua santa luz; purifica-lhes os corações com a graça de Teu amparo; alegrando-lhes o íntimo com a fragrância da felicidade que mana de Tua Companhia no alto; ilumina seus olhos pela contemplação dos sinais e símbolos de Teu poder; faze-os as insígnias da pureza, os estandartes da santidade que tremulam alto nos ápices da Terra, acima de todas as criaturas; faze com que suas palavras comovam corações duros como a rocha sólida. Possam levantar-se para Te servir e dedicar-se ao Reino de Tua divindade, e volver as faces para o domínio de Tua Auto-Subsistência, e difundir em toda parte Teus sinais, e ser iluminados por Tuas luzes resplandecentes, e desvelar Teus mistérios ocultos. Que guiem Teus servos a águas plácidas e à fonte de Tua misericórdia que salta e corre no âmago do coração de Tua unicidade. Possam eles içar a vela do desprendimento na Arca da Salvação e mover-se sobre os mares de Teu conhecimento; que estendam largas as asas da unidade e por meio delas alcem vôo para o Reino de Tua unicidade, para que se tornem servos aos quais a Assembléia Suprema dará aplauso, cujos louvores os habitantes de Teu todo-glorioso domínio haverão de pronunciar; que escutem os arautos do mundo invisível a erguer a proclamação das Mais Poderosas Boas Novas; que eles, por desejo de Te encontrar, Te invoquem e supliquem, entoando maravilhosas orações ao alvorecer da luz - ó meu Senhor que de todas as coisas dispões - vertendo lágrimas ao amanhecer e ao anoitecer, ansiando por entrar na sombra de Tua misericórdia que jamais finda.
Ajuda-os, ó meu Senhor, sob todas as condições, apoia-os em todos os tempos com Teus anjos de santidade, aqueles que são Tuas hostes invisíveis, Teus batalhões celestiais, que levam à derrota os exércitos reunidos deste mundo inferior.
Tu, em verdade, és o Potente, o Poderoso, o Forte, Aquele Que a tudo abarca, O Que tem domínio sobre tudo o que existe.
Ó santo Senhor! Ó Senhor de benevolência! Circundamos Tua morada, desejando ardentemente contemplar Tua beleza e amando todos os Teus caminhos. Somos desditosos, humildes e de pouco valor. Somos indigentes: mostra-nos misericórdia, concede-nos favores; não olhes nossas falhas, oculta nossos pecados sem fim. Apesar de sermos o que somos, ainda pertencemos a Ti, e o que pronunciamos e ouvimos é louvor a Ti, e é Tua a face que buscamos, Tua a trilha que seguimos. És o Senhor de clemência, e nós somos pecadores; estamos errantes, longe de nossa morada. Concede-nos, pois, ó Nuvem de Misericórdia, algumas gotas de chuva. Ó Jardim Florido de graça, faze manar brisa fragrante. Ó Mar de todas as dádivas, desdobra em nossa direção uma grande onda. Ó Sol de Generosidade, emite um raio de luz. Concede-nos compaixão, concede-nos graça. Por Tua beleza! Vimos sem outra provisão senão nossos pecados, sem nenhuma boa ação para relatarmos, com esperanças somente. A não ser que Teu véu ocultador nos cubra e Tua proteção nos escude e aninhe, que poder têm estas almas desamparadas para levantar e Te servir, que recursos têm estes seres aflitos para que possam exibir coragem? Tu que és o Forte, o Todo-Poderoso! ajuda-nos, favorece-nos; estamos caídos, revivifica-nos com as chuvas de Tuas nuvens de graças; somos inferiores, ilumina-nos com os raios brilhantes do Sol de Tua unicidade. Imerge estes peixes sedentos no oceano de Tua misericórdia, guia ao abrigo de Tua unidade esta caravana errante; ao manancial da guia conduze aqueles que para longe se desviaram, e concede refúgio dentro dos recintos de Tua grandeza àqueles que perderam o caminho. Refresca Tu estes lábios ressecados com as águas copiosas e gentis do céu, ressuscita estes mortos para a vida eterna. Ao cego, concede olhos para enxergar. Faze o surdo ouvir, o mudo falar. Faze com que o esmorecido se ponha em chama, torna cauteloso o desatento, alerta o orgulhoso; desperta aqueles que dormem.
És o Potente, és o Doador, és o Amoroso. Verdadeiramente és o Generoso, o Mais Excelso.

Ó vós, bem-amados de Deus, vós, os auxiliadores deste Servo evanescente! Quando o Sol da Realidade irradiou infinitos favores do Ponto do Alvorecer de todo anelo, e o mundo da existência foi iluminado de pólo a pólo com a luz sagrada, com tal intensidade emitiu Seus raios que pode banir para sempre a escuridão infernal; com isso, esta Terra de pó tornou-se a inveja das esferas celestiais, e este lugar inferior adquiriu a condição e a roupagem do reino altíssimo. A suave brisa de santidade soprou sobre este mundo, espargindo doces sabores; os ventos primaveris do céu perpassaram-no; sobre ele, da Fonte de todas as dádivas, manaram aragens fecundas carregadas de infinita mercê. Então raiou a brilhante alvorada, e chegaram notícias de grande júbilo. A primavera divina estava aqui, com tendas erguidas sobre o mundo contingente, de modo que toda a criação saltava e dançava. A terra seca encheu-se de floração imortal, o pó morto despertou para a vida eterna. Apareceram então flores de erudição mística e, evidenciando o conhecimento de Deus, brotou do solo nova vegetação. O mundo contingente exibia as generosas dádivas de Deus, o mundo visível refletia as glórias de domínios ocultos da vista. Proclamou-se o chamado de Deus, preparou-se a mesa do Convênio Eterno; o cálice do Testamento foi passado de mão em mão, o convite universal foi emitido. Então, alguns entre o povo foram acesos com o vinho do céu, enquanto outros foram deixados sem nenhuma porção desta maior das dádivas. A vista e a percepção de alguns foram iluminadas com a luz da graça, e houve aqueles que ao ouvir os hinos da unidade saltaram de júbilo. Pássaros começaram a gorjear nos jardins da santidade, e rouxinóis, nos ramos da roseira celestial, ergueram seu canto dorido. Então foram embelezados e adornados o Reino no alto e a terra inferior, e este mundo tornou-se a inveja do alto céu. Ainda assim, que lástima! os negligentes têm permanecido presos no sono desatento, e os insensatos têm desdenhado esta mais sagrada das dádivas. Os cegos continuam amortalhados em véus, os surdos não participam daquilo que sucedeu, os mortos nenhuma esperança tem de a isso atingir, assim como Ele diz: "Eles desesperam a vida vindoura, assim como os infiéis desesperam de que os habitantes dos túmulos levantem outra vez."1

Quanto a vós, ó bem-amados de Deus! Soltai as línguas e rendei graças a Ele; louvai e glorificai a Beleza do Ser Adorado, pois sorvestes deste mais puro dos cálices e estais jubilosos e ardentes com este vinho. Percebestes as doces fragrâncias da santidade e inalastes o almiscar da fidelidade das vestes de José2. Das mãos dAquele que é o único Bem-Amado tendes saboreado a melhor essência da lealdade; na generosa mesa de banquete do Senhor tendes vos regalado com pratos imortais. Essa abundância é especial favor conferido por um Deus amoroso; são bênçãos e dádivas raras que derivam de Sua graça. Diz Ele no Evangelho: "Porque são muitos os chamados e poucos os escolhidos".3 Isto é, a muitos isso é oferecido, mas é rara a alma escolhida para receber a grande dádiva da guia. "Assim é a generosidade de Deus: Ele a concede a quem Ele deseja, e de generosidade imensa é Deus".4
Ó vós, amados de Deus! Dos povos do mundo sopram e batem os ventos da discórdia contra a Vela do Convênio. O Rouxinol da fidelidade está cercado de renegados que são como corvos do ódio. O Pombo da lembrança de Deus é severamente oprimido pelas insensatas aves da noite, e a Gazela que habita os prados do amor de Deus está sendo caçada por animais vorazes. Mortal é o perigo, torturante a dor.
Os bem-amados do Senhor têm de manter-se estáveis como as montanhas, firmes como muros inexpugnáveis. Devem permanecer inabaláveis mesmo diante das mais deploráveis adversidades, não se entristecendo nem pelo pior dos desastres.
Que segurem-se à orla do Deus Onipotente, e ponham a fé na Beleza do Altíssimo; que se apoiem na ajuda infalível que provém do Antiqüíssimo Reino e dependam do cuidado e da proteção do Senhor generoso. Que eles, em todos os tempos, se refresquem e recuperem com o orvalho da graça celestial e, através dos sopros do Espírito Santo, sejam ressuscitados e renovados a cada momento. que se levantem para servir o Senhor e façam todo o possível para difundir em toda parte Seus sopros de santidade. Que sejam poderosa fortaleza para a defesa de Sua Fé, cidadela inexpugnável para as hostes da Antiga Beleza. Que guardem fielmente, de todos os lados, o edifício da Causa de Deus. Que se tornem as estrelas brilhantes de Seus luminosos céus. Pois as hordas da escuridão estão de toda parte atacando esta Causa e os povos da Terra estão resolvidos a extinguir esta Luz evidente. E desde que todas as raças da Terra estão armando ataque, como podemos deixar distrair-se-nos a atenção por um momento sequer? Ficai seguramente cientes dessas coisas, sede vigilantes e guardai a Causa de Deus.
Hoje a mais premente de todas as tarefas é a purificação do caráter, a reforma da mortal, a retificação da conduta. Cumpre aos bem-amados de Deus levantarem-se entre todos os povos com tais qualidades e ações que os ventos fragrantes que sopram sobre os jardins de santidade venham a perfumar toda a Terra e restaurar vida às almas mortas. A razão por que Deus Se tornou manifesto, e por que se irradiaram as luzes infinitas do domínio invisível, não é outra senão o treinamento das almas de todos os homens e o aperfeiçoamento do caráter de todos na Terra - de modo que indivíduos abençoados, que se tenham livrado das trevas do mundo animal, levantem-se, manifestando aquelas qualidades que são o adorno da realidade do homem. O intuito é que seres terrenos transformem-se no povo do Céu, que os que andam na escuridão ingressem na luz, e os excluídos entrem no mais interior círculo do Reino, e os que como nada figuram tornem-se íntimos da Glória eterna. O propósito é que os desapossados recebam seu quinhão do mar infinito, e os que carecem de esclarecimento sorvam, até saciarem-se, da fonte vivificadora do conhecimento; e que os sanguinários abandonem a selvageria, e os agressores cruéis tornem-se meigos e tolerantes, e os amantes da guerra procurem a verdadeira conciliação; a intenção é que as personificações da brutalidade, de garras aguçadas como navalhas, venham a desfrutar dos benefícios da paz duradoura; que os imundos aprendam que existe um domínio de pureza, e os maculados descubram o caminho para os rios da santidade.
A não ser que essas dádivas divinas sejam reveladas do âmago dos seres humanos, a generosidade da Manifestação provar-se-á ineficaz, e os deslumbrantes raios do Sol da Verdade deixarão de ter qualquer efeito.
Portanto, ó bem-amados do Senhor, esforçai-vos de coração e alma, para que possais receber um quinhão de Seus santos atributos e obter vossa porção das dádivas de Sua santidade - para vos tornardes os símbolos da unidade, os estandartes da singularidade, e buscardes os significado da unicidade; para que possais, neste jardim de Deus, erguer as vozes e cantar os jubilosos hinos do espírito. Tornai-vos como as aves que a Ele rendem graças e, nos caramanchões floridos da vida, entoai melodias que venham a deslumbrar as mentes dos que conhecem. Erguei um estandarte nos mais altos picos do mundo, uma bandeira do favor de Deus para ondular e tremular aos ventos de Sua graça; plantai uma árvore no campo da vida, entre as rosas deste mundo visível, que venha a produzir frutos frescos e doces.
Juro pelo Mestre verdadeiro que, se agirdes de acordo com as admoestações de Deus, conforme reveladas em Suas luminosas Epístolas, esta poeira escura virá a espelhar o Reino do céu, e este mundo inferior a refletir o domínio do Todo-Glorioso.
Ó vós, amados do Senhor! Louvado seja Ele! As invisíveis, transbordantes dádivas do Sol da Verdade cercam-vos de todos os lados e em todas as direções os portais de Sua misericórdia estão abertos. Agora é o tempo de tirar proveito destes favores e de beneficiar-se deles. Reconhecei o valor deste tempo - não permitais que esta oportunidade vos escape. Apertai-vos inteiramente das ocupações deste mundo tenebroso e tornai-vos conhecidos pelos atributos daquelas essências que constróem seu lar no Reino. Então havereis de ver como é intensa a glória do Sol celestial e como é ofuscante o brilho dos sinais da munificência oriundos do domínio invisível.


3. Ó vós, os bem-amados de Deus! Ó vós, os filhos de Seu Reino! Em verdade, em verdade já vieram o novo céu e a nova terra. A Cidade Santa, a nova Jerusalém, desceu do alto na forma de donzela do céu, velada, formosa, sem igual, e preparada para a reunião com aqueles na Terra que a amam. A companhia angélica da Assembléia Celestial reuniu-se num chamado que percorreu o universo, todos aclamando poderosamente em altas vozes: "Esta é a Cidade de Deus e Sua morada, onde haverão de habitar os puros e santos entre Seus servos. Ele há de viver entre eles, pois eles são Seu povo e Ele é seu Senhor!"
Eles lhes enxugou as lágrimas, acendeu neles a luz, alegrou seus corações e extasiou suas almas. A morte não mais lhes haverá de sobrevir nem lhes afligirão tristeza, pranto ou tribulação. O Senhor Deus Onipotente foi entronizado em Seu Reino e tornou novas todas as coisas. É esta a verdade, e qual verdade pode ser maior do que aquela anunciada pela Revelação de São João, o Divino?
Ele é Alfa e Ômega. É Ele Quem ao sedento dará de beber da fonte da água da vida e ao enfermo concederá o remédio da verdadeira salvação. Quem é assistido por essa graça é, em verdade, aquele que recebe dos Profetas de Deus e Seus santos a mais gloriosa herança. O Senhor será seu Deus e ele será Seu bem-amado filho.
Regozijai-vos, pois, ó vós, bem-amados de Deus e Seus eleitos, e vós, filhos de Deus e Seu povo, erguei as vozes para louvar e magnificar o Senhor, o Altíssimo; pois Sua luz irradiou-se, Seus sinais apareceram e as ondas de Seu oceano intumescente espargiram inumeráveis pérolas preciosas em todas as praias.


4. Louvores àquele que criou o mundo da existência, que formou tudo o que há. Aquele que elevou os sinceros a uma posição de honra5, que fez o mundo invisível manifestar-se no plano do visível - e ainda assim, os homens, no estupor da embriaguez6, vagueiam e desviam-se.
Ele lançou os alicerces da sublime Cidadela, inaugurou o Ciclo da Glória e fez surgir uma nova criação neste dia que é, claramente, o Dia do Juízo - e ainda assim os desatentos permanecem profundamente adormecidos na embriaguez.
O Clarim7 soou, a Trombeta8 foi soprada, o Pregoeiro ergueu o chamado e todos da Terra desfaleceram - mas ainda os mortos, nos túmulos de seus corpos, continuam adormecidos.
E o segundo clarim9 soou, o segundo toque seguindo-se após o primeiro10, e veio o temível ai; e cada mãe que amamentava esqueceu do infante que estava no peito11 - e ainda assim o povo, confuso e desvairado, não percebe.
E a ressurreição alvoreceu, e a Hora soou, e a Vereda foi traçada em linha reta, e a Balança foi armada, e todos os que habitam sobre a Terra foram reunidos12 - mas ainda o povo não vê nenhum sinal do caminho.
A luz brilhou, e resplendor inundou o Monte Sinai, e vento suave sopra, provindo dos jardins do Senhor Sempre-Clemente; os doces sopros do espírito estão a perpassar, e aqueles que jazem na sepultura levantam-se - e ainda os desatentos dormem nos túmulos.
As chamas do inferno fizeram-se arder, e o céu foi trazido para perto; os jardins celestiais estão floridos, e lagoas frescas transbordam, e o paraíso reluz em beleza - mas os inconscientes ainda se atolam em sonhos vazios.
Caiu o véu, levantou-se a cortina, partiram-se as nuvens e o Senhor dos Senhores está plenamente visível - tudo isso, porém, escapou à percepção dos pecadores.
Ele é Quem fez para vós a nova criação13, e trouxe o ai14 que excede todos os demais, e reuniu os seres santos no reino das alturas. Nisso, verdadeiramente, há sinais para aqueles que têm olhos para ver.
E entre Seus sinais encontra-se o aparecimento de augúrios e jubilosas profecias, de alusões e indícios; a disseminação de muitas e variadas notícias, e as expectativas dos justos - aqueles que agora atingiram sua meta.
E entre Seus sinais estão Seus esplendores, surgindo acima do horizonte da unicidade, Suas luzes que emanam do alvorecer do poder, e o anúncio das Supremas Boas Novas por Seu Arauto, o Uno, o Incomparável. Nisso, verdadeiramente, há prova brilhante para a companhia dos que sabem.
Entre Seus sinais está o fato de estar Ele manifesto, sendo visto por todos, figurando como Sua própria prova, e Sua presença entre testemunhas em todas as regiões, entre povos que contra Ele investiram assim como lobos, cercando-O de todos os lados.
Entre Seus sinais está Sua resistência face a poderosas nações e estados invencíveis, e uma hoste de inimigos sedentos de Seu sangue, todo momento a mirar Sua ruína, onde quer que Ele estivesse. É este, em verdade, assunto que merece ser escrutado por aqueles que ponderam os sinais e indícios de Deus.
Outro de Seus sinais é a maravilha de Suas palavras, a eloqüência de Sua expressão, a rapidez com que Seus Escritos eram revelados, Seus pensamentos de sabedoria, Seus versos, Suas epístolas, Suas meditações, Seu esclarecimento do Alcorão, tanto dos versículos abstrusos como dos evidentes. Por tua própria vida! Isto está claro como o dia para quem quer que contemple com os olhos da justiça.
Ainda entre Seus sinais encontra-se o despontar do sol de Seu conhecimento, e o nascer da lua de Suas artes e habilidades, e a perfeição por Ele demonstrada em todos os modos de agir, assim como testificam os homens de erudição e realização de muitas nações.
E ainda entre Seus sinais está o fato de Sua beleza ter-se mantido inviolável, e Seu templo humano ter sido protegido enquanto Ele revelava Seus esplendores, a despeito dos ataques pelas massas de todos Seus inimigos reunidos, que aos milhares contra Ele investiam com flechas velozes, lanças e espadas. Aqui há, em verdade, algo admirável, e advertência para qualquer juiz eqüitativo.
E entre Seus sinais está Sua paciência, Suas tribulações e sofrimentos, Sua agonia em correntes e grilhões e, a todo momento, Sua convocação: "Vinde a Mim, vinde a Mim, vós, os justos! Vinde a Mim, vinde a Mim, vós que amais o bem! Vinde a Mim, vinde a Mim, vós, os pontos do alvorecer da luz!" Verdadeiramente, os portais do mistério estão abertos de par em par - mas ainda os perversos divertem-se com vãs cavilações!"15
Ainda outro de Seus sinais é a promulgação de Seu Livro, Seu decisivo Texto Sagrado no qual Ele reprovou os reis, e Sua temível advertência àquele16 cujo poderoso domínio se fazia sentir ao redor do mundo - e cujo magnífico trono então tombou em questão de dias -, sendo isso fato claramente comprovado e em toda parte conhecido.
E entre Seus sinais está a sublimidade de Sua grandeza, Seu estado excelso, Sua glória eminente e o fulgor de Sua beleza irradiada por sobre o horizonte da Prisão: de modo que as cabeças curvaram-se diante dEle e as vozes foram aquietadas, e humildes eram as faces que para Ele se volviam. Esta é prova nunca vista nas eras anteriores.
Ainda entre Seus sinais estão as coisas extraordinárias que Ele continuamente fazia, os milagres por Ele realizados, as maravilhas que dEle surgiam ininterruptamente como emanação de Suas nuvens - e o reconhecimento, até por descrentes, de Sua poderosa luz. Pela vida dEle Próprio! Isso foi claramente atestado, foi demonstrado àqueles de qualquer crença que entravam na presença do Senhor vivente, O Que subsiste por Si Próprio.
E ainda outro de Seus sinais é a larga difusão dos raios do Sol de Sua era e a lua nascente de Seu período no céu de todas as eras: Seu Dia, que está no ápice de todos os dias, em virtude do grau e poder, das ciências e artes que alcançaram todas as terras, e têm deslumbrado o mundo e tornado atônitas as mentes dos homens.
Este, em verdade, é assunto assentado e estabelecido para todos os tempos.


5. A grande Luz do mundo, que resplandecia outrora sobre toda a humanidade, já Se pôs, para brilhar eternamente do Horizonte de Abhá, Seu Reino de glória perene. Do alto, esparge fulgor sobre Seus bem-amados e insufla-lhes os corações e almas com o sopro da vida eterna.
Ponderai nos corações o que Ele predisse na Epístola da Visão Divina, que foi difundida pelo mundo inteiro. Assim diz Ele: "Com isso ela gemeu e exclamou: 'Que o mundo e tudo o que nele está seja um resgate por Teus infortúnios. Ó Soberano do céu e da terra! Por que razão Te deixaste nas mãos dos habitantes dessa cidade-prisão de Akká? Apressa-Te para outros domínios, para Teus refúgios no alto, sobre os quais o povo dos nomes jamais deitou os olhos.' Então sorrimos e nada dissemos. Meditai sobre estas mais excelsas palavras e compreendei o propósito deste mistério oculto e sagrado."
Ó vós, os bem-amados do Senhor! Acautelai-vos, acautelai-vos para que não hesiteis ou vacileis. Não deixeis que vos domine o medo nem fiqueis perturbados ou desalentados. Tende o maior cuidado para que este dia calamitoso não vos diminua as chamas do ardor nem extinga vossas frágeis esperanças. Hoje é o dia para fidelidade e constância. Bem-aventurados aqueles que se mantêm firmes e inabaláveis como a rocha, e enfrentam com bravura o tumulto e a tensão desta hora tempestuosa. Eles, em verdade, serão alvo da graça de Deus; eles, em verdade, receberão Sua ajuda divina e serão, deveras, vitoriosos. Haverão de reluzir entre a humanidade com tal esplendor que os habitantes do Pavilhão da Glória louvam e magnificam. A eles é dirigido este chamamento celestial, revelado em Seu Livro Mais Sagrado: "Que vossos corações não se perturbem, ó povo, quando a glória de Minha Presença se retirar e o oceano de Minhas Palavras se aquietar. Em Minha presença entre vós há uma sabedoria, e em Minha ausência há ainda outra, inescrutável para todos menos para Deus, o Incomparável, o Onisciente. Verdadeiramente, Nós vos vemos de Nosso reino de glória e ajudaremos qualquer um que se levante para o triunfo de Nossa Causa com as hostes da Assembléia do alto e uma companhia de Nossos anjos favoritos."
O Sol da Verdade, aquela Maior Luz, já Se pôs no horizonte do mundo para surgir, com esplendor imortal, por sobre o Reino do Ilimitado. No Livro Mais Sagrado Ele chama os amigos firmes e fiéis: "Não vos consterneis, ó povos do mundo, quando o sol de Minha beleza se tiver posto e o céu de Meu tabernáculo se ocultar de vossos olhos. Levantai-vos para promover Minha Causa e enaltecer Minha Palavra entre os homens."


6. Ó vós, povos do Reino! Tantas foram as almas que despenderam toda a vida em adoração, suportaram a mortificação da carne, ansiaram por ganhar acesso ao Reino, mas ainda assim não tiveram êxito, enquanto vós, sem fadiga nem dor nem abnegação, obtivestes o galardão e entrastes.
É assim como no tempo do Messias, quando os fariseus e os piedosos foram deixados sem quinhão qualquer enquanto Pedro, João e André, que não se dedicavam à pia adoração nem às práticas ascéticas, ganharam a vitória. Assim, pois, agradecei a Deus por haver colocado nas cabeças a coroa da glória sempiterna, por vos haver concedido essa imensurável graça.
Já veio o tempo quando, em ação de graças por tais dádivas, deveis crescer dia a dia em fé e constância, e aproximar-vos cada vez mais do Senhor, vosso Deus, tornando-vos a tal ponto atraídos e tão cheios de ardor, que vossas santas melodias em louvor do Bem-Amado elevem-se até alcançar a Companhia no alto; e que cada um de vós, como rouxinol no roseiral de Deus, glorifique o Senhor das Hostes e torne-se o instrutor de todos os que habitam na terra.


7. Ó vós, amigos espirituais de 'Abdu'l-Bahá! Eis que é chegado um mensageiro de confiança e ele, no mundo do espírito, entregou uma mensagem dos bem-amados de Deus. As emanações de grande ardor, as brisas vivificadoras do amor de Deus são esse mensageiro auspicioso. Ele faz o coração dançar de júbilo e inunda a alma com êxtase de amor e beatitude. Tão intensamente tem a glória da Unidade Divina penetrado as almas e os corações, que todos estão agora ligados um ao outro com laços celestiais, e são todos como um só coração, uma só alma. Dessa maneira, reflexos do espírito e impressões do Divino são agora espelhados clara e nitidamente no âmago profundo do coração. Suplico a Deus que fortaleça esses laços espirituais dia a dia, e que faça brilhar cada vez mais intensamente essa unidade mística, até que por fim todos sejam como tropas enfileiradas sob a bandeira do Convênio, à sombra protetora da Palavra de Deus; que se esforcem com todo poder até que a fraternidade universal, íntima e calorosa, e o amor puro e as relações espirituais unam todos os corações do mundo. Então, em virtude dessa nova e deslumbrante graça, toda a humanidade reunir-se-á numa só pátria. Então o conflito e a dissensão desaparecerão da face da terra; então os seres humanos serão nutridos no amor pela beleza do Todo-Glorioso. A discórdia transformar-se-á em acordo, e a dissensão em harmonia. Serão extirpadas as raízes da malevolência, e os fundamentos da agressão destruídos. Os brilhantes raios da união virão a obliterar as trevas das limitações, e os esplendores do céu transformarão o coração humano numa mina rica de filões do amor de Deus.
Ó vós, os bem-amados do Senhor! Esta é a hora em que deveis vos associar a todos os povos da Terra com extrema bondade e amor, e serdes para eles os sinais e símbolos da grande misericórdia de Deus. Deveis tornar-vos a própria alma do mundo, o espírito vivo no corpo dos filhos dos homens. Nesta Era maravilhosa, neste tempo em que a Antiga Beleza, o Maior Nome, trazendo incontáveis dádivas elevou-Se acima do horizonte do mundo, a Palavra de Deus infundiu tão assombroso poder na mais íntima essência da humanidade, que Ele despiu os homens do efeito de suas qualidades humanas e, com Seu poder predominante, unificou os povos num vasto mar de unicidade. Agora é o tempo para os que amam a Deus erguerem altamente os estandartes da unidade; de entoarem, nas congregações do mundo, os versículos da amizade e do amor; e de demonstrarem a todos que a graça de Deus é una. Dessa forma os tabernáculos da santidade serão erigidos nos cumes da Terra, reunindo todos os povos à sombra protetora da Palavra da Unicidade. Essa grande dádiva há de alvorecer no mundo quando aqueles que amam a Deus levantarem-se para pôr em prática Seus Ensinamentos e para difundir em toda parte as frescas e doces fragrâncias do amor universal.
Em cada dispensação17 o mandamento da amizade e do amor tem existido, mas era mandamento limitado à comunidade daqueles em acordo mútuo, não abrangendo o inimigo dissidente. Porém, nesta era admirável, louvado seja Deus! os mandamentos do Onipotente não se limitam ou restringem a nenhum grupo humano em particular - antes, é ordenado que todos os amigos mostrem fraternidade e amor, consideração, generosidade e benevolência a todas as comunidades da Terra. Agora os que amam a Deus devem levantar-se para levar a cabo estas instruções Suas: que sejam pais bondosos para as crianças do gênero humano, e irmãos cheios de afeto e compreensão para os jovens, e filhos abnegados para aqueles que se curvam sob o peso dos anos. O sentido disso é que deveis mostrar ternura e amor a todo ser humano, mesmo vossos inimigos, e a todos dar acolhida com amizade sincera, com alegria e benevolência. Quando receberdes crueldade e perseguição das mãos de outrem, sede-lhe fiéis; quando malevolência é dirigida contra vós, respondei com coração amável. Aos dardos e flechas que sobre vós chovem, exponde os peitos como alvo brilhante e, em resposta das maldições, do escárneo e das palavras que ferem mostrai abundante amor. Dessa forma, todos os povos virão a testemunhar o poder do Nome Supremo e todas as nações a reconhecer a força da Antiga Beleza; e verão como Ele derrubou os muros da discórdia, e com que segurança guiou todos os povos da Terra à unidade; como Ele iluminou o mundo dos homens e fez este mundo de pó emitir correntes de luz.
As criaturas humanas são mesmo como crianças: impetuosas e irresponsáveis. Essas crianças devem ser criadas com infinito e amoroso cuidado, e ternamente nutridas nos braços da misericórdia, de modo que possam saborear a melíflua doçura espiritual do amor de Deus; que se possam tornar velas que irradiam luz neste mundo sombrio, e venham a perceber claramente as coroas flamejantes de glória com que o Nome Supremo, a Antiga Beleza, adornou as frontes de Seus bem-amados, e as tantas graças que conferiu aos corações dos que Ele estima, e quanto amor infundiu nos peitos dos seres humanos, e os tesouros de amizade que fez surgir entre todos os homens.

Ó Deus, meu Deus! Ajuda Teus servos fiéis a terem corações cheios de amor e ternura. Auxilia-os a difundir, entre todas as nações da Terra, a luz que guia, oriunda da Assembléia nas alturas. Verdadeiramente, Tu és o forte, o Poderoso, o Grande, o Predominante, Aquele que sempre concede. Verdadeiramente, Tu és o Generoso, o Benigno, o Deus de Ternura e Suma Bondade.


8. Ó vós, os bem-amados de 'Abdu'l-Bahá, e vós, as servas do Misericordioso! Agora é a hora do amanhecer, e os ventos revivificadores do Paraíso de Abhá sopram sobre toda a criação, mas só podem comover os puros de coração, e somente o sentido imaculado pode perceber-lhes a fragrância. Apenas os olhos observadores contemplam os raios do sol; só o ouvido atento pode escutar a canção da Assembléia nas alturas. Apesar de as copiosas chuvas da primavera, as dádivas do céu, caírem sobre todas as coisas, somente podem fazer frutificar o solo bom; elas não gostam do terreno salobre, onde nenhum resultado de toda a graça se evidencia.
Hoje os suaves e sagrados sopros do Reino de Abhá estão a soprar sobre todas as terras, mas apenas os puros de coração se aproximam e deles obtêm benefícios. Esta alma injuriada nutre a esperança de que, através da graça dAquele que subsiste por Si próprio e pelo poder manifesto da Palavra de Deus, as cabeças dos desatentos possam ser purificadas, a fim de que possam perceber os doces sabores que emanam das roseiras secretas do espírito.
Ó vós, amigos de Deus! Amigos verdadeiros são como médicos peritos e os Ensinamentos de Deus são como bálsamo que cura, como remédio para a consciência do homem. Eles desobstruem a cabeça, de modo que é possível aspirá-los e deleitar-se com sua doce fragrância. Eles despertam os adormecidos, tornam conscientes os desatentos; trazem ao proscrito um quinhão, e ao desesperado esperança.
Neste dia, se uma alma agir de acordo com os preceitos e conselhos de Deus, servirá como médico divino para a humanidade e, assim como a trombeta de Isráfíl18, chamará à vida os mortos deste mundo contingente; pois as confirmações do Reino de Abhá jamais cessam e uma alma assim virtuosa tem por amparo a infalível ajuda da Companhia no alto. Assim, a desprezível mariposa há de tornar-se águia na plenitude das forças, e o frágil pardal transformar-se-á em falcão real nas alturas da glória antiga.
Portanto, não considereis o grau de vossa capacidade, nem questioneis se sois dignos da tarefa: depositai as esperanças na ajuda e na benevolência, nos favores e nas graças de Bahá'u'lláh - que minh'alma seja ofertada por Seus amigos! Apressai o corcel do esforço denodado pelo campo do sacrifício e, dessa larga arena, levai o galardão da graça divina.
Ó vós, servas do Senhor misericordioso! Quantas rainhas deste mundo deitaram as cabeças em travesseiro de pó e desapareceram. Delas nenhum fruto restou, nenhum traço, nenhum sinal, nem sequer seus nomes. Nenhum favor mais é dado a elas; para elas, nenhuma vida mais. Isso não ocorre com as servas que prestam serviços no Limiar de Deus: estas têm fulgurado como estrelas cintilantes nos céus da glória antiga, derramando esplendores por toda a extensão do tempo. Elas têm visto suas mais acalentadas esperanças cumprirem-se no Paraíso de Abhá e saboreiam o mel da reunião na congregação do Senhor. Almas como estas tiram proveito da existência aqui na Terra - colheram o fruto da vida. Quanto às demais, "Seguramente, lhes sobreveio o tempo em que deixaram sequer de ser mencionadas."
Ó vós que amais este ser injuriado! Purificai vossos olhos, para que a nenhum homem vejais como diferente de vós próprios. A ninguém vejais como pessoas estranhas; antes, vede todos como amigos, pois é difícil que o amor e a unidade surjam quando fixais o olhar nas diferenças. E nesta nova e maravilhosa era, as Escrituras Sagradas rezam que devemos estar em harmonia com todos os povos; que não devemos ver aspereza, nem injustiça, nem malevolência, nem hostilidade, nem ódio; antes, devemos volver os olhos ao céu da glória antiga. Pois cada uma das criaturas é sinal de Deus - e foi pela graça do Senhor e por Seu poder que cada uma veio ao mundo -; não são estranhos, portanto, mas sim pertencem à família; não são estrangeiros, mas sim amigos, e devem ser tratados como tais.
Os bem-amados de Deus, pois, devem associar-se com estranhos e amigos de forma igual, em afetuoso espírito fraternal, mostrando a todos a maior benevolência, sem considerar os graus de capacidade nem jamais questionar se merecem ser amados. Que os amigos tenham, em todas as circunstâncias, consideração e infinita bondade. Que nunca se deixem derrotar pela malícia do povo, pela agressividade e ódio, não importa quão intensos. Se contra vós lançarem dardos, oferecei-lhes em troca leite e mel; se vos envenenarem as vidas, sede doces para com suas almas; se vos injuriarem, ensinai-lhes como ser confortados; se vos ferirem, sede bálsamo para suas dores; se vos aguilhoarem, oferecei-lhes aos lábios um cálice refrescante.

Ó Deus, meu Deus! Estes são Teus servos fracos, Teus leais escravos e Tuas servas que se curvaram diante de Tuas Palavras excelsas e se humilharam em Teu Limiar de luz, e deram testemunho de Tua unicidade, através da qual se fez brilhar o sol em esplendor meridiano. Escutaram o chamado que levantaste de Teu Reino Oculto e, com corações trêmulos de amor e êxtase, responderam à Tua convocação.
Ó Senhor, concede a todos eles os copiosos eflúvios de Tua misericórdia; faze descer sobre todos eles as chuvas de Tua graça. Faze-os crescer como belas plantas no jardim do céu e, das nuvens plenas e transbordantes de Tuas dádivas, e das fontes profundas de Tua abundante graça, faze com que esse jardim floresça, e conserva-o sempre verdejante e glorioso, sempre fresco, iluminado e belo.
Tu és, verdadeiramente, o Forte, o Excelso, o Poderoso, Aquele único que, nos céus e na terra, permanece inalterável. Nenhum outro Deus há, salvo Tu, o Senhor dos sinais e símbolos manifestos.


9. Ó tu cujo coração transborda de amor pelo Senhor! A ti me dirijo deste lugar consagrado, para te alegrar o íntimo com minha epístola, pois é missiva que faz o coração dos que crêem na unicidade de Deus alçar vôo para os píncaros do êxtase.
Agradece a Deus por te haver capacitado a entrar em Seu Reino de poder. Dentro em breve as graças de Teu Senhor descerão sobre ti, uma após a outra, e Ele fará de ti sinal para cada um que busca a verdade.
Segura-te com firmeza no Convênio de Teu Senhor e, à medida que os dias passam, aumenta teu suprimento de amor por Seus bem-amados. Curva-te com ternura sobre os servidores do Todo-Misericordioso, para que possas içar a vela do amor na arca da paz que se move através dos mares da vida. Que nada te entristeça, nem contra pessoa alguma te encolerizes. Cumpre-te estares contente com a Vontade de Deus e seres verdadeiro amigo, amoroso e fidedigno, de todos os povos da Terra, sem qualquer exceção. É esta a qualidade dos sinceros, a conduta dos santos, o emblema dos que acreditam na unidade de Deus, o adorno do povo de Bahá.
Rende graças ao Senhor e glorifica-O por te haver Ele permitido oferecer-Lhe o Direito de Deus19. É este, deveras, favor especial que te concede; expressa, pois, louvores a Ele por este mandamento estabelecido nas Escrituras de teu Senhor, Aquele que é o Ancião dos Dias.
Verdadeiramente, Ele é o Deus de Amor e Ternura, é Quem sempre dá.


10. Ó tu, querida serva de Deus! Tua carta foi recebida e atenção foi dada ao conteúdo. Pediste uma norma pela qual guiar a vida.
Crê em Deus e mantém os olhos fixos no Reino excelso; enamora-te pela Beleza de Abhá; permanece firme no Convênio; anseia por ascender ao Céu da luz Universal. Aparta-te do mundo, e renasce através das doces fragrâncias de santidade que manam do reino do Altíssimo. Sê daquelas que convocam ao amor, e bondosa com todo o gênero humano. Ama os filhos dos homens e compartilha de suas mágoas. Sê dos que promovem a paz. Oferece amizade, sê digna de confiança. Que sejas bálsamo para cada ferida, remédio para cada mal. Enlaça as almas. Recita os versículos que guiam. Ocupa-te na adoração de teu Senhor e levanta-te para guiar o povo ao caminho certo. Desenlaça a língua e ensina, e deixa tua face arder com o fogo do amor de Deus. Não descanses nem por um momento sequer, não procures respirar com calma. Assim te podes tornar sinal e símbolo do amor de Deus, e estandarte de Sua graça.


11. Prestar serviço aos amigos é prestar serviço ao Reino de Deus, e mostrar consideração aos pobres é dos maiores ensinamentos de Deus.


12. Sabe tu com certeza que o Amor é o segredo da santa Dispensação20 de Deus, é a manifestação do Todo-Misericordioso, a fonte das efusões espirituais. O amor é a benévola luz do céu, o sopro eterno do Espírito Santo que vivifica a alma humana. O amor é a causa da revelação de Deus ao homem, o laço vital que, de acordo com a criação divina, é inerente à realidade das coisas. O amor é o único meio de assegurar a verdadeira felicidade, tanto neste mundo como no vindouro. O amor é a luz que guia nas trevas, o elo vivo que une Deus ao homem, que torna certo o progresso de cada alma iluminada. O amor é a maior lei que governa este ciclo poderoso e celestial, o poder sem igual que liga os diversos elementos deste mundo material, a suprema força magnética que dirige os movimentos das esferas nos domínios celestiais. O amor revela com poder infalível e ilimitado os mistérios latentes no universo. O amor é o espírito da vida para o corpo adornado da humanidade, é o que estabelece a verdadeira civilização neste mundo mortal, e, sobre cada raça e nação de aspirações elevadas, derrama glória imperecível.
Qualquer povo ao qual Deus benevolamente conceda esse favor, terá o nome, seguramente, magnificado e enaltecido pela Assembléia no alto, pela companhia dos anjos e pelos habitantes do Reino de Abhá. E qualquer povo que afaste o coração deste Amor Divino - a revelação do Misericordioso - haverá de errar de forma lastimável, haverá de cair em desespero e será completamente destruído. A tal povo será negado todo refúgio - e tais pessoas se tornarão semelhantes às mais desprezíveis criaturas da terra, vítimas de ignomínia e degradação.
Ó vós, bem-amados do Senhor! Esforçai-vos por chegar a ser manifestações do amor de Deus, as lâmpadas da guia divina a brilhar entre as raças da Terra com a luz do amor e da concórdia.
Todo louvor aos reveladores desta gloriosa luz!


13. Ó tu, filha do Reino! Tua carta datada de 5 de dezembro de 1918 foi recebida. Trazia as boas novas de que os amigos de Deus e as servas do Misericordioso haviam-se reunido em Green Acre21 durante o verão, e que ocupam dia e noite na comemoração de Deus, que prestam serviço à unidade do mundo humano, mostram amor a todas as religiões, se mantêm livres de todo preconceito religioso e são bondosos para com todo o povo. As religiões divinas devem ser a causa de união entre os homens, e instrumentos da unidade e do amor; devem promulgar a paz universal, livrar o homem de todo preconceito, conferir alegria e júbilo, demonstrar bondade para com todos os homens e eliminar qualquer diferença ou distinção. Assim como diz Bahá'u'lláh, dirigindo-Se à humanidade: "Ó povo! Sois os frutos de uma só árvore e as folhas do mesmo ramo". No máximo, a diferença está nisso: algumas almas carecem de conhecimento, devem ser educadas; algumas estão enfermas, têm de ser curadas; algumas são ainda de tenra idade, devem ser ajudadas a atingir maturidade e a máxima bondade têm de lhes ser mostrada. É esta a conduta do povo de Bahá.
Espero que teus irmãos e irmãs venham todos a ser aqueles que promovem o bem-estar do mundo humano.


14. Ó vós, duas almas abençoadas! Vossas cartas foram recebidas. Elas demonstram que haveis investigado a verdade e vos livrastes de imitações e superstições, que observais com os próprios olhos e não com os alheios, que escutais com os próprios ouvidos e não com os ouvidos de outros, e que desvendais mistérios com a ajuda de vossas próprias consciências e não com as dos demais. Pois o imitador diz que tal homem viu, tal homem ouviu e tal consciência descobriu; em outras palavras, ele depende da vista, do ouvido e da consciência dos outros, e não tem vontade própria.
Porém, louvado seja Deus! haveis mostrado força de vontade e vos volvestes para o Sol da Verdade. A planície de vossos corações foi iluminada com as luzes do Senhor do Reino e fostes guiadas ao caminho reto; marchastes pela estrada que conduz ao Reino, entrastes no Paraíso de Abhá e obtivestes uma medida e um quinhão do fruto da árvore da Vida.
Bem-aventuradas sois e bela morada vos espera. Sobre vós estejam saudações e louvor.


15. Ó tu que estás cativa do amor de Deus! Foi recebida a carta que escreveste na ocasião de tua partida. Ela me trouxe júbilo; e é minha esperança que teus olhos interiores abram-se totalmente, de modo que a ti se revele o próprio cerne dos mistérios divinos.
Começaste a carta com uma frase bendita, que dizia: "Sou cristã". Oxalá fossem todos verdadeiramente cristãos! É fácil ser cristão na palavra, mas difícil sê-lo em verdade. Hoje, cerca de quinhentos milhões de almas são cristãs, mas o verdadeiro cristão é muito raro: ele é aquela alma de cuja bela face irradia-se o esplendor de Cristo, e que demonstra as perfeições do Reino. Este é assunto de suma gravidade, pois ser cristão significa corporificar toda excelência que existe. E minha esperança é que tu, também, te tornes verdadeira cristã. Rende louvores a Deus por haveres afinal obtido, no mais alto grau, através dos ensinamentos divinos, tanto a visão exterior como a interior, e por te teres arraigado firmemente na fé e na certeza. É minha esperança que outros também adquiram olhos iluminados e ouvidos perceptivos, e que atinjam a vida eterna - que esses numerosos rios, fluindo todos em diversos leitos separados, encontrem o caminho de volta para o mar que os circunda, e se unam, e ergam-se numa só onda de encapelada unicidade; possa o fato de a verdade ser una fazer desaparecerem, através do poder de Deus, essas diferenças ilusórias. É esta a única coisa essencial, pois, se for conquistada a unidade, todos os demais problemas haverão de desaparecer por si mesmos.
Ó honrada senhora! De acordo com os ensinamentos divinos desta gloriosa dispensação a ninguém devemos desprezar nem chamar de ignorante, nem dizer: "Tu não sabes, mas eu sei." Ao contrário, devemos tratar os demais com respeito e, ao tentarmos explicar e demonstrar algo, deveríamos falar como quem está investigando a verdade, dizendo: "Aqui estão estas coisas diante de nós. Vamos investigá-las a fim de determinarmos onde e em que forma se pode encontrar a verdade." O instrutor não deveria considerar-se erudito nem tomar os outros por ignorantes. Tal pensamento gera orgulho, e o orgulho não conduz à influência. O instrutor não deveria ver em si próprio nenhuma superioridade; deveria falar com a maior meiguice, modéstia e humildade, pois esse modo de falar exerce influência e educa as almas.
Ó honrada senhora! Com um único propósito foram todos os Profetas, sem exceção, enviados à Terra; com este propósito Cristo tornou-Se manifesto; foi por isto que Bahá'u'lláh levantou o chamado do Senhor: para que o mundo do homem se tornasse o mundo de Deus; este plano inferior se transformasse no Reino; esta escuridão, em luz; esta iniqüidade satânica, em todas as virtudes do céu - e a unidade, a fraternidade e o amor fossem conquistados em prol de todo o gênero humano; para que ressurgisse a unidade orgânica e fossem destruídos os alicerces da discórdia, e assim a vida eterna e a graça eterna fossem a colheita da humanidade.
Ó honrada senhora! Olha para o mundo ao teu redor: aqui unidade, atração mútua e reunião engendram vida, mas desunião e desarmonia significam morte. Ao refletires sobre todos os fenômenos, verás que cada coisa criada veio à existência através da combinação de muitos elementos e, uma vez dissolvida a reunião de elementos e destruída essa harmonia de componentes a forma de vida é eliminada.
Ó honrada senhora! Em ciclos passados, embora a harmonia tenha sido estabelecida, ainda assim, devido à falta de meios, a unidade de todo o gênero humano não poderia ter sido conquistada. Os continentes permaneciam separados por grandes distâncias - até mais, mesmo entre os povos do mesmo continente a associação e o intercâmbio de idéias eram praticamente impossíveis. Em conseqüência disso, as relações mútuas, o entendimento e a unidade entre todas as nações e raças da Terra eram irrealizáveis. Nos dias atuais, entretanto, os meios de comunicação têm-se multiplicado, e os cinco continentes da Terra fundiram-se virtualmente num só. E agora todos podem facilmente viajar para qualquer lugar, associar-se com outros povos e com eles trocar idéias, e familizar-se, por meio de publicações, com as condições, crenças religiosas e pensamentos de todos os homens. De modo igual, todos os membros da família humana, quer povos, quer governos, cidades ou aldeias, têm-se tornado cada vez mais interdependentes. A auto-suficiência não mais é possível a nenhum deles, pois que todos os povos e nações estão unidos por laços políticos e cada dia mais se fortalecem as relações de comércio e indústria, de agricultura e educação. Portanto, a unidade de todo o gênero humano pode ser conseguida na época atual. Em verdade, isso não é senão uma das maravilhas desta admirável era, deste século glorioso. Disso, as eras passadas foram privadas, pois este século - o século da luz - foi dotado de glória, poder e iluminação incomparáveis. Daí a miraculosa revelação de nova maravilha a cada dia. Há de vir o dia em que se verá quão intensamente ardem suas velas na Assembléia da humanidade.
Vede como sua luz agora alvorece no tenebroso horizonte do mundo. A primeira vela é a unidade no reino da política, da qual podem agora ser discernidos os primeiros clarões. A segunda vela é a unidade de pensamento em atividades mundiais, cuja consumação dentro em breve se haverá de testemunhar. A terceira vela é a unidade na liberdade, a qual seguramente se realizará. A quarta vela é a unidade na religião, sendo esta a pedra angular do próprio alicerce; através do poder de Deus será revelada em todo seu esplendor. A quinta vela é a unidade das nações - unidade esta que será seguramente estabelecida neste século, fazendo com que todos os povos do mundo considerem-se cidadãos da mesma pátria. A sexta vela é a unidade das raças: todos os que habitam a Terra haverão de tornar-se povos de uma só raça. A sétima vela é a unidade de idioma, isto é, a escolha de uma língua universal a ser ensinada a todos os povos, e na qual todos poderão conversar. Tudo isso, sem exceção, haverá de se realizar, inevitavelmente, porque o poder do Reino de Deus ajudará e facilitará tal consumação.


16. Ó vós bem-amados e iluminados, e vós, servas do Misericordioso! Num tempo em que se estendera sobre a Terra a noite sombria da ignorância, da desatenção ao mundo divino e do afastamento de Deus, uma radiante manhã despontou e a luz que crescia iluminou o céu oriental. Então nasceu o Sol da Verdade e os esplendores do Reino espargiram-se sobre Oriente e Ocidente. Aqueles que tinham olhos para ver regozijaram-se com as boas novas e exclamaram: "Oh! bem-aventurados, bem-aventurados somos nós!" Eles contemplaram a realidade interior de todas as coisas e desvendaram os mistérios do Reino. Libertados, então, de fantasias e dúvidas, contemplaram a luz da verdade e, saciando-se do cálice do amor de Deus, a tal ponto foram extasiados que esqueceram completamente do mundo e de si mesmos. Dançando de júbilo, apressaram-se ao lugar do próprio martírio e ali, onde os homens morrem por amor, deitaram fora suas cabeças e corações.
Aqueles, no entanto, cujos olhos não enxergavam, espantaram-se diante desse tumulto e exclamaram: "Onde está a luz?", e ainda, "Não vemos luz alguma! Não vemos nascer nenhum sol! Não há verdade aqui. Isso é apenas ilusão e nada mais." Como morcegos, fugiram para a escuridão subterrânea e ali, segundo seu modo de pensar, encontraram algo de segurança e paz.
Entretanto, esse é apenas o começo do alvorecer, e o calor do Orbe da Verdade a se erguer não está ainda na plenitude de seu poder. Assim que o sol se tiver alçado às alturas do meio-dia suas chamas arderão com tanta intensidade que farão agitar-se até as coisas que se arrastam em baixo da terra; e apesar de que não estão destinadas a ver a luz, todas se haverão de pôr em frenético movimento com o impacto do calor.
Portanto, ó vós, os bem-amados de Deus, rendei graças por haverdes, no dia do alvorecer, volvido as faces para a Luz do Mundo e contemplado seus esplendores. Recebestes um quinhão da luz da verdade, desfrutastes duma medida das bênçãos que duram para sempre; portanto, em retribuição por tal graça, não descanseis nem por um momento sequer; não permaneçais sentados em silêncio, mas sim levai aos ouvidos dos homens as boas novas do Reino, difundi em toda parte a Palavra de Deus.
Comportai-vos de acordo com os conselhos do Senhor, ou seja, levantai-vos de tal modo e com tais qualidades que o corpo do mundo seja por vós dotado de uma alma viva, e essa criança, a humanidade, seja conduzida à idade adulta. Tanto quanto vos for possível, acendei em cada reunião uma vela de amor e, com ternura, regozijai e alegrai cada coração. Tende afeição pelo estranho assim como tendes por um dos vossos; mostrai aos forasteiros a mesma benevolência que conferis a vossos amigos fiéis. Se alguém vos agredir, procurai tornar-vos amigos dele; se alguém vos ferir o coração, sede vós remédio que lhe cure as feridas; se alguém zombar e mofar de vós, acolhei-o com amor. Se alguém vos cobrir de injúrias, enchei-o de louvor; se vos oferecer veneno mortal, dai-lhe em troca o mais puro mel; e se vos ameaçar a vida, concedei-lhe remédio que o cure para sempre. Fosse ele a encarnação da dor, sede vós seu remédio; fosse ele espinhos, sede para ele rosas e doces ervas. Quiçá tais ações e palavras de vossa parte farão que esse mundo tenebroso se ilumine afinal, que essa Terra empoeirada se torne celestial, essa prisão diabólica converta-se em palácio real do Senhor, de modo que acabem e desapareçam a guerra e a contenda, e o amor e a confiança ergam suas tendas nos ápices do mundo. Tal é a essência das admoestações de Deus; tais, em suma, são os ensinamentos para a Dispensação de Bahá.


17. Ó vós que sois os eleitos do Reino de Abhá! Expressai louvores ao Senhor dos Exércitos, pois Ele, provindo do céu do reino invisível, montado sobre as nuvens, desceu a este mundo, de forma que Oriente e Ocidente iluminaram-se com a glória do Sol da Verdade, e o chamado do Reino ergueu-se, e os arautos do domínio do alto, com as melodias da Assembléia nas alturas, cantaram as boas novas do Advento. Então todo o mundo da existência estremeceu de júbilo, mas ainda o povo, exatamente como diz o Messias, permaneceu adormecido: pois o dia da Manifestação, quando o Senhor dos Exércitos desceu do alto, surpreendeu-os envoltos no sono da inconsciência. É tal qual Ele diz no Evangelho: Minha vinda é como quando o ladrão está na casa e o pai de família não vigia.
Dentre toda a humanidade, Ele vos escolheu, e vossos olhos foram abertos para a luz que guia, e vossos ouvidos harmonizaram-se com a música da Companhia no alto; vossos corações e almas, abençoados por graça abundante, nasceram para nova vida. Rendei graças e louvores a Deus por haver a mão de infinitas dádivas colocado em vossas cabeças essa coroa ornada de jóias - coroa cujas gemas brilhantes haverão de reluzir e cintilar para sempre, por toda a extensão do tempo.
A fim de Lhe agradecerdes por isso, empenhai extraordinário esforço, e escolhei para vós próprios uma meta nobre. Através do poder da fé, obedecei aos ensinamentos de Deus e harmonizai todos os vossos atos com Suas leis. Lede As Palavras Ocultas, ponderai sobre seus significados interiores e agi de acordo com isso. Lede com atenção concentrada as Epístolas de Tarázát (Adornos), Kalimát (Palavras do Paraíso), Tajallíyyát (Fulgores), Ishráqát (Esplendores) e Bishárát (Boas Novas), e levantai-vos como vos é ordenado nos ensinamentos celestiais. Assim pode cada um de vós ser como vela que emite luz, e centro de atração onde quer que pessoas se reúnam; assim, como de canteiro de flores, podem emanar de vós doces fragrâncias.
Como mar encapelado, erguei vosso bramido; como nuvem pródiga, fazer chover a graça do céu. Levantai as vozes e cantai as canções do Reino de Abhá. Extingui os fogos da guerra; içai altos os estandartes da paz, trabalhai pela unidade do gênero humano e lembrai-vos de que a religião é o canal do amor para todos os povos. Sêde conscientes de que os filhos dos homens são as ovelhas de Deus e Ele é seu amoroso Pastor, Aquele que cuida com ternura de todas as Suas ovelhas e alimenta-as de Seus próprios pastos verdejantes de graça, e dá-lhes de beber do manancial da vida. Tal é o método do Senhor. Tais são Suas dádivas. Dentre Seus ensinamentos, este é Seu preceito da unidade do gênero humano.
Os portais de Suas bênçãos estão abertos de par em par; Seus sinais promulgam-se amplamente e a glória da verdade flameja; inesgotáveis são as bênçãos. Reconhecei o valor deste tempo. Esforçai-vos de todo coração, levantai as vozes e clamai, até que este mundo tenebroso torne-se pleno de luz, e este estreito lugar de sombras seja alargado; e este monte de pó, tão efêmero, seja transformado em espelho que reflita os jardins eternos do céu; e este globo de terra receba sua porção da graça celestial.
Então a agressão se desintegrará e tudo o que causa a desunião será destruído; então se erguerá a estrutura da unidade - de modo que a árvore Abençoada possa estender a sombra sobre Oriente e Ocidente, que o Tabernáculo da unificação dos homens se estabeleça nos altos cumes e bandeiras indicativas do amor e fraternidade tremulem nas hastes por todo o mundo, até que o mar da verdade erga altamente as ondas, a terra produza rosas e doces ervas de bênçãos infindáveis e se torne, de pólo a pólo, o Paraíso de Abhá.
São estes os conselhos de 'Abdu'l-Bahá. É minha esperança que, através das graças do Senhor dos Exércitos, venhas a tornar-vos a essência espiritual e a própria luz radiante da humanidade, ligando os corações de todos com laços de amor; que por intermédio do poder da Palavra de Deus ressusciteis os mortos enterrados nos túmulos dos desejos sensuais; que restaureis, com os raios do Sol da Verdade, vista àqueles cujos olhos interiores estão cegos; que ministreis cura espiritual aos espiritualmente enfermos. Estas coisas espero, mediante as graças e dádivas do Bem-Amado.
Em todos os tempos sois lembrados e mencionados por mim. Suplico ao Senhor, e com lágrimas imploro-Lhe que faça chover sobre vós todas essas bênçãos, que vos alegre os corações, torne extáticas vossas almas e vos conceda a maior felicidade e deleites celestiais...

Ó Tu, amoroso Provedor! Estas almas escutaram o chamado do Reino e contemplaram a glória do Sol da Verdade. Elevaram-se ao firmamento vivificador do amor; extasiam-se perante Tua natureza e adoram Tua beleza. A Ti têm-se volvido, em reunião falam de Ti, buscam Tua morada, sedentas pelos regatos de Teu domínio celestial.
Tu és o Generoso, o Dispensador de graças, O Que sempre ama.


18. Ó tu que possuis coração que vê! Embora no plano material estejas privado da vista física, no entanto - louvado seja Deus! - tens visão espiritual. Teu coração vê e teu espírito ouve. A visão física está sujeita a mil enfermidades e, seguramente, no fim será perdida. Assim, nenhuma importância lhe deve ser dada. A vista do coração, porém, é iluminada. Ela discerne e descobre o Reino divino. É duradoura, é eterna. Rende, pois, louvores a Deus por estar iluminada a vista de teu coração e por poderes escutar bem com a mente.
Cada uma das reuniões que tendes organizado, nas quais sentis emoções celestiais e compreendeis as realidades e os significados, é como o firmamento, e as almas ali reunidas são como estrelas resplendentes a refulgir com a luz que guia.
Feliz é a alma que, nesta era radiante, busca os ensinamentos celestiais, e bem-aventurado o coração que se comove e é atraído pelo amor de Deus.



19. Louvado àquele por Cujos esplendores a terra e os céus reluzem, através de Cujos sopros fragrantes os jardins de santidade que adornam os corações dos escolhidos tremulam de júbilo; louvor àquele que derramou Sua luz e iluminou a face do firmamento. Em verdade, apareceram estrelas luminosas e fulgentes a cintilar, a brilhar e emitir raios sobre o horizonte supremo. Elas obtiveram sua graça e brilho nas dádivas do Reino de Abhá e então, qual estrelas de guia, manaram sobre a terra suas luzes.
Louvor àquele que formou esta nova era, esta época de majestade, como espetáculo que se desdobra e expõe à vista as realidades de todas as coisas. Agora, nuvens de generosidade fazem cair sua chuva, e claramente se manifestam as graças do Senhor amoroso; pois foram iluminados ambos o mundo visível e o invisível, e o Prometido veio à Terra e a beleza do Ser Adorado resplandeceu.
Saudações, bênçãos e boas-vindas àquela Realidade Universal, àquela Palavra Perfeita, àquele Livro Manifesto, àquele Esplendor que despontou no mais alto céu, àquela Guia de todas as nações, àquela Luz do mundo - o oceano encapelado Cuja graça abundante inundou toda a criação, de forma que Suas ondas lançaram pérolas brilhantes sobre as praias deste mundo visível. Agora a Verdade apareceu, e a falsidade fugiu; agora alvoreceu o dia, e o júbilo predomina; em razão disso as almas dos homens são santificadas, seus espíritos são purgados, os corações são alegrados, as mentes são purificadas, os pensamentos secretos tornam-se sadios e as consciências, limpas; o mais recôndito âmago dos homens foi santificado, pois o Dia da Ressurreição já veio e as graças de teu Senhor, o Clemente, abrangeram todas as coisas. Saudações e louvor àquelas estrelas luminosas, resplandecentes, que fazem descer seus raios do mais alto céu - aqueles corpos celestes do zodíaco que cinge o Reino de Abhá. Glória sobre elas repouse.
E agora, ó tu homem honrado que escutaste o Grande Anúncio, levanta-te para servir a Causa de Deus com o irresistível poder do Reino de Abhá e com os sopros que emanam do espírito da Companhia no alto. Não te entristeças por causa daquilo que os fariseus e os provedores de boatos falsos, entre aqueles que escrevem na imprensa, estão dizendo de Bahá. Recorda-te dos dias de Cristo e das aflições sobre Ele amontoadas pelo povo, e todos o tormentos e tribulações que foram infligidos a Seus discípulos. Já que sois adoradores da Beleza de Abhá, deveis também, por amor a Ele, ser alvo da censura dos povos, e tudo o que sobreveio àqueles que eras anteriores, a vós, igualmente, deverá sobrevir. Então as faces dos eleitos se iluminarão com os esplendores do Reino de Deus e brilharão ao longo das eras - sim! através de todos o ciclos do tempo - enquanto os que negam haverão de permanecer em perda manifesta. Sucederá assim como foi dito pelo Senhor Cristo: eles vos perseguirão por causa de Meu Nome.
Relembra a eles essas palavras e dize-lhes: "Em verdade, os fariseus levantaram-se contra o Messias, a despeito da beleza radiante de Sua face e de toda a Sua formosura, e gritaram dizendo que Ele não era o Messias (Masíh), mas sim um monstro (Masíkh), por ha ver Ele pretendido ser o Deus Todo-Poderoso, o Senhor soberano de todos, pois disse-lhes: "Sou o filho de Deus e, verdadeiramente, no mais íntimo ser de Seu Filho unigênito, Seu poderoso Tutelato, está o Pai, claramente revelado com todos os atributos, com todas as perfeições". Isso, comentaram eles, era blasfêmia flagrante, calúnia contra o Senhor, segundo os textos claros e irrefutáveis do Velho Testamento. Por causa disso pronunciaram sentença contra Ele, decretando que fosse derramado Seu sangue, e suspenderam-No na cruz, donde Ele exclamou: "Ó meu bem-amado Senhor, por quanto tempo Me abandonarás a eles? Eleva-Me a Ti, abriga-Me próximo a Ti, faze para Mim uma morada perto de Teu trono de glória. Verdadeiramente és Tu Quem atende às preces, e és o Clemente, o Misericordioso. Ó Meu Senhor! Verdadeiramente, este mundo, com toda a sua vastidão, não mais Me pode conter, e amo esta cruz por amor à Tua beleza e porque anseio por Teu reino no alto, e porque este fogo, atiçado pelos sopros de Tua santidade, flameja dentro de Meu coração. Ajuda-Me, ó Senhor, a ascender a Ti, ampara-Me para que possa alcançar Teu Sagrado Limiar, ó Meu Senhor amoroso! Verdadeiramente és o Misericordioso, o Possuidor de grande generosidade! Verdadeiramente és o Generoso! Verdadeiramente és o Compassivo! Verdadeiramente és o Onisciente! Nenhum outro Deus há, salvo Tu, o Forte, o Poderoso!"
Nunca se teriam os fariseus atrevido a caluniá-Lo e acusá-Lo daquele penoso pecado, se não fosse por ignorância da íntima essência dos mistérios e pelo fato de haverem desatendido Seus esplendores e desprezado Suas provas. Doutro modo, ter-Lhe-iam reconhecido as palavras, teriam dado testemunho dos versículos que revelou, teriam confessado a verdade daquilo que disse, teriam buscado amparo à sombra protetora de Seu estandarte, teriam sabido de Seus sinais e evidências, e ter-se-iam regozijado ao ouvir Suas novas jubilosas.
Sabe tu que a Essência Divina, denominada de Invisível dos Invisíveis - a qual jamais poderá ser descrita e está além do alcance da mente - é santificada acima de toda menção, definição, sinal ou alusão; acima de qualquer aclamação ou louvor. Ela é o que é, e, assim, o intelecto jamais poderá compreendê-La, e a alma que A busca conhecer é apenas como errante no deserto, completamente perdido. "Nenhuma visão O abrange, mas Ele abrange toda a visão: Ele é o Sutil, o Onisciente."22
No entanto, quando contemplas a mais íntima essência de todas as coisas e a individualidade de cada uma delas, contemplarás os sinais da misericórdia de Teu Senhor em toda coisa criada, e verás os raios de Seus Nomes e atributos a difundir-se através de todo o reino da existência, com evidências que ninguém negará, a não ser os refratários e inconscientes. Então haverás de observar que o universo é pergaminho que desvenda Seus segredos ocultos, preservados na Epístola bem-guardada. E não há nenhum átomo entre todos os átomos existentes, e nenhuma criatura entre as criaturas, que não renda louvores a Ele, que não expresse Seus atributos e nomes, que não revele a glória de Sua grandeza e não guie à Sua unicidade e misericórdia; e isso não será negado por quem tiver ouvidos para ouvir, olhos para ver e mente que seja sã.
E sempre que contemplares o todo da criação e observares os próprios átomos que a compõem, notarás que os raios do Sol da Verdade difundem-se sobre todas as coisas e fulgaram dentro delas, e proclamam os esplendores daquele Sol, Seus mistérios e a difusão de Suas luzes. Observa as árvores, as flores e os frutos, e mesmo as pedras. Aqui também verás os raios do Sol sobre eles difundidos, dentro deles claramente visíveis, e sendo por eles manifestados.
Se, porém, dirigirdes o olhar a um Espelho, brilhante, imaculado e puro, no qual a Beleza divina está refletida, ali encontrarás o Sol brilhando com Seus raios, Seu calor, na plenitude de Sua bela forma. Pois cada entidade independente possui uma porção determinada da luz solar e revelado algo do Sol, mas aquela Realidade Universal em pleno esplendor - aquele Espelho imaculado cujas qualidades são adequadas àquelas do Sol que nEle Se revela - expressa os atributos da Fonte de Glória na totalidade. E essa Realidade Universal é o Homem, o Ser divino, a Essência que para sempre permanece. "Dize: invocai a Deus, ou invocai o Todo-Misericordioso; independente e como clameis, de suma beleza são Seus Nomes."23
É este o significado das palavras do Messias, quando diz que o Pai está no Filho24. Acaso não vês que se um Espelho imaculado proclamasse: "Verdadeiramente, dentro de mim está o sol a brilhar com todas as suas qualidades, sinais e evidências!", essa afirmação por tal Espelho não seria ilusória nem falsa? Não! por Aquele que O criou, que O amoldou, que O formou, e que O fez uma entidade em harmonia com os atributos de glória dentro dEle! Louvado seja Quem O criou! Louvado seja Quem O amoldou! Louvado seja Aquele Que O tornou manifesto!
Tais foram as palavras pronunciadas por Cristo. Por causa dessas palavras contra Ele cavilaram e contra Ele investiram quando lhes disse: "Verdadeiramente, o Filho está no Pai e o Pai está no Filho."25 Sê informado disso e aprende os segredos de teu Senhor. Quanto aos que negam, estão velados de Deus: não vêem, não ouvem, nem compreendem. "Deixa-os entreterem-se com suas cavilações."26 Deixa que vaguem ao longo de leitos secos de rio. Como animais do pasto, não podem distinguir o capim da pérola. Não estão eles excluídos dos mistérios de teu Senhor, o Clemente, o Misericordioso?
Quanto a ti, regozija-te por causa desta, a melhor de todas as boas-novas, e levanta-te para exaltar a Palavra de Deus e difundir-Lhe as doces fragrâncias por todo esse vasto e grande país. Sabe com certeza que teu Senhor te irá socorrer com uma companhia da Assembléias nas alturas e com hostes do Reino de Abhá. Elas prepararão o ataque e com fúria investirão contra as forças dos ignorantes, dos cegos. Dentro em breve haverás de contemplar o brilho da alvorada e emanar do Reino Mais Excelso, e verás que o despontar da manhã ilumina todas as regiões. Ele afugentará as trevas, e a escuridão da noite desaparecerá gradualmente até sumir; a fronte radiante da Fé reluzirá, e o Sol há de surgir e irradiar-Se sobre o mundo. Naquele dia os fiéis haverão de regozijar-se e os constantes serão felizes; daí os caluniadores hão de afastar-se e os que vacilam desaparecerão, assim como as mais negras sombras se dissipam ao primeiro raiar da alvorada.
Saudações a ti, e louvor.

Ó Deus, meu Deus! Este é Teu servo radiante, Teu cativo espiritual que se acercou de Ti e se aproximou de Tua presença. Ele volveu a face para a Tua, e reconheceu Tua unidade, confessou Tua unicidade e, em Teu Nome, ergueu o chamado entre as nações, guiando o povo às águas transbordantes de Tua misericórdia, ó Tu, Generosíssimo Senhor! Aos que pedem, ele tem dado de beber do cálice da guia, pleno do vinho de Tua imensurável graça.
Ó Senhor, ajuda-o sob todas as condições, faze-o descobrir Teus bem-guardados mistérios, e concede-lhe em profusão Tuas pérolas ocultas. Torna-o bandeira que tremula nos cimos de castelos, aos ventos de Teu auxílio celestial; faze dele manancial de águas cristalinas.
Ó meu Senhor clemente! Ilumina os corações com raios de lâmpada que difunde brilho por toda parte, e que revela a realidade de todas as coisas àqueles dentre Teu povo que tens favorecido abundantemente.
Verdadeiramente Tu és o Grande, o Poderoso, o Protetor, o Forte, o Generoso! Verdadeiramente és Tu o Senhor de toda misericórdia!


20.27 Quando Cristo apareceu, há vinte séculos, embora os judeus estivessem ansiosamente esperando Seu Advento, e orassem todos os dias, com lágrimas nos olhos, dizendo: - Ó Deus, apressa a Revelação do Messias! - ainda assim, ao alvorecer do Sol da Verdade eles O negaram, e levantaram-se contra Ele com a maior inimizade, e ao final crucificaram aquele Espírito Divino, o Verbo de Deus, e chamaram-No de Belzebu, o malfeitor, assim como nos diz o Evangelho. A razão disso foi o dizerem: "A Revelação do Cristo, segundo o claro texto da Tora, será confirmada por certos sinais e, enquanto estes não aparecerem, quem pretender ser o Messias será apenas impostor. Entre esses indícios figura o seguinte: o Messias há de vir de lugar desconhecido, mas todos nós conhecemos a casa deste homem em Nazaré; e pode alguma coisa boa vir de Nazaré? O segundo sinal é que Ele governará com açoite de ferro, isto é, deverá agir com a espada, mas este messias nem sequer tem um bordão de madeira. Outro dos requisitos e sinais é este: Ele deve sentar no trono de Davi e estabelecer a soberania de Davi. Ora, longe de ser entronizado, este homem nem possui esteira sobre a qual repousar. Outra condição é esta: a promoção de todas as leis da Tora; entretanto, este homem anulou essas leis, e até quebrou o Sábado, apesar de o texto da Tora dizer claramente que qualquer um que avançar a pretensão de ser profeta e realizar milagres, mas quebrar o Sábado, deve ser morto. Outro dos sinais é este: durante Seu reinado a justiça será tão adiantada que a retidão e as boas ações atingirão até mesmo o reino animal - a serpente e o rato ocuparão o mesmo abrigo, a águia e o perdiz o mesmo ninho, o leão e a gazela habitarão o mesmo pasto, e o lobo e o carneiro beberão da mesma fonte. Agora, porém, a injustiça e a tirania chegaram a tal ponto que o crucificaram! Outra condição é que, nos dias do Messias, os judeus haverão de prosperar e triunfarão sobre todos os povos do mundo, mas agora estão vivendo na maior humilhação, escravizados no Império dos Romanos. Como, pois, poderá este ser o Messias prometido na Tora?"
Desse modo fizeram objeção àquele Sol da Verdade, muito embora aquele Espírito de Deus fosse realmente o Prometido da Tora. Contudo, como não compreenderam a significação dos sinais, crucificaram o Verbo de Deus. Os bahá'ís sustentam que todos os sinais prometidos verdadeiramente apareceram na Manifestação de Cristo, embora não no sentido que os judeus entendiam, por ser alegórica a descrição na Tora. Entre os sinais figura, por exemplo, o da soberania. Os bahá'ís afirmam que a soberania de Cristo era celestial, divina, eterna, e não uma soberania napoleônica, que desaparece em pouco tempo. Há quase dois mil anos foi estabelecida a soberania de Cristo, até agora ela permanece, e por toda a eternidade esse Ser Divino estará enaltecido sobre trono imperecível.
De igual modo, todos os outros sinais tornaram-se manifestos, mas os judeus não os compreenderam. Apesar de quase vinte séculos terem-se ido desde que Cristo apareceu em esplendor divino, os judeus, no entanto, ainda esperam a vinda do Messias; consideram estar corretos e têm Cristo por falso.


21. Ó tu, personagem distinto que buscas a verdade! Tua carta de 4 de abril de 1921, foi lida com amor.
A existência do Ser Divino tem sido claramente estabelecida, com base em provas lógicas, mas a realidade da Deidade está além do alcance da mente. Quando considerares cuidadosamente este assunto, verás que um plano inferior jamais poderá compreender um superior. O reino mineral, por exemplo, que é inferior, está impedido de compreender o reino vegetal; para o mineral, qualquer compreensão dessa natureza seria inteiramente impossível. Outrossim, não importa quanto o reino vegetal possa desenvolver-se, jamais adquirirá qualquer concepção do reino animal, e qualquer compreensão deste reino seria, em seu nível inconcebível, pois o animal ocupa plano mais alto do que o do vegeta: a árvore não pode conceber os sentidos de audição e visão. E o reino animal, por mais que evolua, jamais se tornará ciente da realidade do intelecto, o qual descobre a mais íntima essência de todas as coisas e compreende aquelas realidades que não podem ser vistas; pois o plano humano, em comparação com o do animal, é muito elevado. E embora os seres todos co-existam no mundo contingente, em cada caso a diferença entre os graus impede a compreensão da totalidade; porquanto nenhum grau inferior pode compreender seu superior, sendo impossível tal compreensão.
O plano superior, no entanto, entende o inferior. O animal, por exemplo, compreende o mineral e o vegetal; o ser humano entende os planos do animal, vegetal e mineral. É inteiramente impossível, porém, o mineral compreender os domínios do homem. E não obstante o fato de que todos os seres co-existem no mundo fenomenal, mesmo assim, nenhum grau inferior jamais compreenderá o superior.
Como seria possível, então, uma realidade contingente, ou seja, o homem, compreender a natureza daquela essência pre-existente, o Ser Divino? A diferença de grau entre o homem e a Realidade Divina é milhares sobre milhares de vezes maior do que a diferença entre vegetal e animal. E aquilo que um ser humano poderia conjurar na mente é apenas a imagem fantasiosa de sua condição humana; ela não abrange a realidade de Deus, mas sim é por ela abrangida. Ou seja, o homem compreende suas próprias concepções ilusórias, mas a Realidade da Divindade jamais poderá ser compreendida: Ela, em Si Própria, abarca todas as coisas criadas, e tudo o que foi criado está sob Seu controle. Aquela divindade que o homem imagina para si existe só na mente, não na verdade. O homem, entretanto, existe tanto na própria mente como na realidade; assim, o homem é superior àquela realidade irreal por ele imaginada.
Os limites máximos desta ave de barro são estes: por pequena distância pode ela seguir esvoaçando, a mergulhar na vastidão infinita, mas jamais se poderá erguer ao sol nos altos céus. Devemos, entretanto, apresentar novas sensatas ou inspiradas a respeito da existência do Ser Divino, isto é, provas na medida da compreensão do homem.
É evidente que todas as coisas criadas estão ligadas entre si por elo completo e perfeito, assim como, por exemplo, os membros do corpo humano. Observa como todos os membros e partes componentes do corpo estão unidos um ao outro. Do mesmo modo, todos os membros deste ilimitado universo estão ligados entre si. O pé e o passo, por exemplo, estão ligados ao ouvidos e aos olhos: a vista precisa olhar para a frente antes de se dar um passo. O ouvido deve ouvir antes de os olhos observarem cuidadosamente. E qualquer parte do corpo humano que seja deficiente produz deficiência nas outras partes. O cérebro está conectado com o coração e o estômago; os pulmões estão relacionados com todos os elementos do corpo. Assim é com as demais partes.
E cada um desses elementos componentes tem sua própria função especial. A força da mente - não importa se a temos por pré-existente ou contingente - dirige e coordena todas as partes do corpo humano, incumbindo-se de ver que cada parte desempenhe devidamente sua própria função especial. Se houver, entretanto, alguma interrupção no poder da mente, todas as partes deixarão de levar a efeito suas funções essenciais, deficiências aparecerão no corpo e no funcionamento das partes que o compõem, e o poder provará ser ineficaz.
Outrossim, examina este ilimitado universo: existe, inevitavelmente, um poder universal que a tudo abrange, dirigindo e regulando todas as partes desta criação infinita; e não fosse este Diretor, este Coordenador, o universo teria falhas e deficiências. Seria assim como um homem louco. Porém, podemos ver que esta ilimitada criação exerce suas funções em perfeita ordem, que cada parte desempenha a própria tarefa fielmente, e que em todas as suas operações não há de ser encontrada qualquer falha. Assim, torna-se claro que existe um Poder Universal, dirigindo e regulando este universo infinito. Toda mente racional pode compreender este fato.
Além disso, embora todas as coisas criadas cresçam e se desenvolvam, estão sujeitas, no entanto, a influências exteriores. Por exemplo, o sol dá calor, a chuva nutre, o vento vivifica, de modo que o homem possa crescer e desenvolver-se. Assim, está claro que o corpo humano está sujeito a influências exteriores e que, sem estas, o homem não poderia crescer. De modo igual, essas influências exteriores estão sujeitas, por sua vez, a outras influências. O crescimento e desenvolvimento do ser humano dependem, por exemplo, da existência da água, e a água depende da existência da chuva, e a chuva depende da existência das nuvens, e as nuvens dependem da existência do sol, o qual faz com que a terra e o mar produzam vapor, cuja condensação forma as nuvens. Dessa forma, cada uma dessas entidades exerce influência e é por sua vez igualmente influenciada. Inevitavelmente, pois, o processo leva a Alguém que exerce influência sobre todas as coisas, mas por nenhuma é influenciado, assim interrompendo a corrente. A realidade íntima desse Ser, no entanto, não é conhecida, embora Seus efeitos estejam claros e evidentes.
E, ademais, todos os seres criados são limitados, e a própria limitação de todos os seres prova a realidade do Ilimitado; pois a existência de um ser limitado assinala a existência de um Ser Ilimitado.
Em suma, há muitas provas que estabelecem a existência daquela Realidade Universal. E, já que Ela é pré-existente, não é afetada pelas condições que governam os fenômenos; pois qualquer entidade que esteja sujeita a circunstâncias e à operação dos eventos é contingente, e não pré-existente. Sabe, pois: a divindade que outras comunidades e outros povos têm fantasiado jaz dentro da esfera da imaginação, não passando disso, ao passo que a realidade da Deidade transcende todo conceito.
Quanto aos Santos Manifestantes de Deus, Eles são os pontos focais onde os emblemas, sinais e perfeições dessa Realidade sagrada, pré-existente, aparecem com todo esplendor. Eles são graça eterna, glória celestial, e dEles depende a vida imortal da humanidade. Para ilustrar: o Sol da Verdade habita num céu ao qual nenhuma alma tem qualquer acesso, e que mente alguma pode alcançar, e está muito além da compreensão de todas as criaturas. Os Santos Manifestantes de Deus, porém, são assim como espelho polido e sem mácula, que reúne as correntes de luz desse Sol e então esparge a glória sobre o resto da criação. Nessa superfície polida, o Sol está claramente revelado em toda a Sua majestade. Assim, pois, fosse o Sol espelhado proclamar: "Eu sou o Sol!", isto seria pura verdade; e caso exclamasse, "Não sou o Sol!", isso também seria verdade. E embora o Sol, com toda Sua glória, beleza e perfeições esteja claramente visível nesse espelho imaculado, Ele, no entanto, não desceu de Sua própria posição elevada nos reinos do alto, não Se movimentou para entrar no espelho; antes, permanece, como para sempre haverá de permanecer, nas alturas celestes de Sua própria santidade.
E, mais ainda, todas as criaturas da Terra necessitam das dádivas do sol, pois a própria existência delas depende da luz e do calor do sol. Fossem elas privadas do sol, extinguir-se-iam. Isto é o que significa estar com Deus, como dizem os Livros Sagrados: o homem deve estar com o Senhor.
Está claro, pois, que a realidade essencial de Deus revela-se nas perfeições que Ele possui; e o sol, com suas perfeições, refletido num espelho, é algo visível, é entidade que expressa claramente a graça de Deus.
É minha esperança que tu adquiras olhos perceptivos, ouvidos que ouvem, e que os véus te sejam removidos da vista.


22. Ó tu que para Deus estás volvendo a face! Fecha teus olhos a tudo o mais e abre-os para o reino do Todo-Glorioso. A Ele, tão somente, pede o que quer que desejes; dEle, tão somente, busca o que quer que busques. Com um olhar, Ele torna realidade cem mil esperanças; num relance, cura cem mil males incuráveis; num vislumbre, aplica bálsamo em toda ferida; com um aceno, livra os corações dos grilhões do sofrimento. Assim Ele procede, e que recurso temos nós? Ele cumpre com a Sua Vontade; ordena o que Lhe apraz. Assim, te é melhor curvares a cabeça em submissão, e colocar tua confiança no Senhor Todo-Misericordioso.


23. Ó tu que realmente buscas a verdade! Tua carta de 13 de dezembro de 1920 foi recebida.
Desde os dias de Adão até hoje, as religiões de Deus tornaram-se manifestas, uma após a outra, e cada uma delas cumpriu devidamente sua função: revivificou a humanidade e proveu educação e esclarecimento. Elas libertaram os povos da escuridão do mundo da natureza, e os conduziram ao resplendor do Reino. À medida que cada sucessiva Fé e lei era revelada, ela permanecia durante alguns séculos como árvore abundantemente frutífera, e era-lhe confiada a felicidade do gênero humano. Com a revolução dos séculos, entretanto, envelhecia, não mais florescendo ou produzindo frutos, e, por isso, era então rejuvenescida outra vez.
A religião de Deus é uma só religião, mas precisa sempre ser renovada. Moisés, por exemplo, foi enviado aos homens e estabeleceu uma Lei, e os Filhos de Israel, mediante aquela Lei mosáica, foram livrados da ignorância e entraram na luz; foram erguidos de seu estado abjeto e atingiram glória imperecível. Ainda assim, ao passar-se longos anos, desvaneceu-se aquele brilho, findou aquele esplendor, aquele dia iluminado transformou-se em noite; e quando essa noite se tornou triplamente escura, alvoreceu a estrela do Messias e assim novamente a glória iluminou o mundo.
O que queremos dizer é isto: a religião de Deus é uma só e é o meio de educar a humanidade, mas, ainda assim, deve necessariamente ser renovada. Quando plantas uma árvore, sua altura aumenta dia a dia. Nela aparecem folhas e flores e deliciosos frutos. Contudo, depois de longo tempo a árvore envelhece e não há mais qualquer frutificação. Então o Lavrador da Verdade retira a semente dessa mesma árvore e planta-a em solo puro, e - eis! - lá está a primeira árvore, assim como era antes.
Observa cuidadosamente que, neste mundo da existência, todas as coisas devem sempre ser renovadas. Olha para o mundo material ao redor: vê como ele foi agora renovado. Os pensamentos têm mudado, os modos de vida têm sido reconsiderados, as ciências e artes mostram novo vigor, descobertas e invenções são novas, percepções são novas. Como, então, seria possível que um poder tão vital como a religião - que é a garantia dos grandes avanços da humanidade, que é o próprio meio para se atingir a vida eterna, a promotora de infinita excelência, a luz de ambos os mundo - como seria possível tal poder não ser renovado? Isso seria incompatível com a graça e a benevolência do Senhor.
A religião, ademais, não é uma série de crenças, um conjunto de costumes; a religião consiste nos ensinamentos do Senhor Deus, ensinamentos que constituem a própria vida da humanidade, que estimulam a mente a pensamentos elevados, que aperfeiçoam o caráter e estabelecem a base para a imperecível honra do homem.
Considera a agitação que tem dominado as mentes, e as chamas da guerra e do ódio, do ressentimento e da malevolência entre nações, e a agressão de povos contra povos, todas as quais têm destruído a tranqüilidade do mundo inteiro - acaso poderia isso tudo ser algum dia mitigado por outro meio senão pelas águas vivificadoras dos ensinamentos de Deus? Não, nunca!
E isto está claro: um poder acima e além dos poderes da natureza deve forçosamente ser aplicado para que essa negra escuridão transforme-se em luz, e ódios e ressentimentos, rancores e vinganças, intermináveis disputas e guerras sejam substituídos por fraternidade e amor entre todos os povos da Terra. Este poder não é outro senão os sopros do Espírito Santo e o poderoso influxo da Palavra de Deus.


24. Ó jovem espiritual! Rende louvores a Deus por haveres acertado o caminho ao Reino dos Esplendores, e rompido o véus das vãs imaginações, e porque o imo do mistério interior foi a ti revelado.
Todos os povos têm elaborado uma imagem de Deus no domínio da mente, e adoram essa imagem que para si fizeram. E, todavia, tal imagem é restrita, e é a mente humana que a restringe. Certamente, aquilo que abrange é maior do que o abrangido. A imaginação é apenas como um ramo, enquanto a mente é raiz. Seguramente, a raiz é de maior importância do que o ramo. Considera, pois, como todos os povos do mundo estão prostrados ante uma fantasia por eles mesmos gerada; como criaram um criador dentro das próprias mentes, e o consideram o Formador de tudo o que há - ao passo que, na verdade, ele é apenas ilusão. Assim estão os povos adorando apenas um erro de percepção.
Aquela Essência das Essências, entretanto, aquele Invisível dos Invisíveis, está santificado acima de toda especulação humana, e jamais haverá de ser alcançado pela mente do homem. Jamais aquela Realidade imemorial haverá de permanecer ao alcance de seres contingentes. Seu domínio é outro domínio, e nenhuma compreensão pode ser obtida daquele reino. Não se conseguirá ali nenhum acesso; ali é proibida toda a entrada. O máximo que pode ser dito é que Sua existência pode ser provada, mas as condições de tal existência são desconhecidas.
Que tal Essência realmente existe todos os filósofos e doutores eruditos, sem exceção, têm compreendido; mas sempre que tentavam aprender algo sobre Seu ser, viam-se confusos e consternados e, afinal, em desespero, com as esperanças arruinadas, seguiam seu caminho, partindo desta vida. Pois a fim de se compreender o estado e o mistério interior daquela Essência das Essências, daquele Mais Secreto dos Segredos, é preciso ter, necessariamente, outro poder e outras faculdades; e tal poder e tais faculdades seriam demais para a humanidade suportar - por isso, nenhuma palavra a respeito dEle lhes pode chegar.
Se, por exemplo, uma pessoa for dotada dos sentidos da audição, do olfato, do paladar e do tato, mas for privada do sentido da visão, não lhe será possível olhar ao redor, pois a visão não se pode dar através do ouvir, ou dos sentidos do olfato, do paladar ou do tato. Da mesma maneira, com as faculdades que o homem tem disponíveis, é impossível a compreensão daquela Realidade invisível, sagrada e santificada acima de todas as dúvidas dos céticos. Para tanto outras faculdades são necessárias, outros sentidos; fossem tais poderes se tornar disponíveis ao ser humano, ele então poderia receber algum conhecimento daquele mundo; em caso contrário, nunca.


25. Ó tu, serva de Deus! Está registrado em histórias orientais que Sócrates viajou à Palestina e à Síria e lá, através de homens versados nas coisas de Deus, adquiriu certas verdades espirituais; é dito que, ao regressar à Grécia, promulgou duas crenças: uma, a unidade de Deus e a outra, a imortalidade da alma após a separação do corpo; é relatado que tais conceitos, tão alheios ao pensamento dos gregos, provocou entre eles grande comoção, até que afinal deram-lhe veneno, matando-o. E isso é autêntico, pois os gregos acreditavam em muitos deuses, enquanto Sócrates firmou o fato de ser Deus um só - o que, obviamente, estava em conflito com as crenças gregas.
O Fundador do monoteísmo foi Abraão; é a Ele que remonta esse conceito, e a doutrina era corrente entre os Filhos de Israel mesmo nos dias de Sócrates.
O que foi dito acima, entretanto, não se encontra nas histórias judaicas. Há muitos fatos que não estão incluídos na história judaica. Nem todos os eventos da vida de Cristo são expostos na história de Josefus, que era judeu, embora tenha sido ele quem escreveu a história dos tempos de Cristo. Por conseguinte, não se pode recusar acreditar nos eventos do dia de Cristo baseando-se no fato de não serem encontrados na história de Josefus.
Dizem histórias orientais, também, que Hipócrates passou muito tempo na cidade de Tiro28, na Síria.


26. Ó tu que buscas o Reino do Céu! Tua carta foi recebida e seu conteúdo foi considerado.
Os Santos Manifestantes de Deus possuem duas condições: uma é a condição física e a outra é a espiritual. Em outras palavras, um grau é o humano, e o outro é o da Realidade Divina. Se os Manifestantes são sujeitados a provações, isso se dá no grau humano tão somente, e não no esplendor de Sua Realidade Divina.
E, além disso, tais provações apenas o são do ponto de vista da humanidade. Isto é, aparentemente, a condição humana dos Santos Manifestantes é sujeitada a provações, e quando Sua firmeza e capacidade de suportar tornam-se destarte reveladas na plenitude do poder, outros homens tiram disso uma lição, e tornam-se conscientes de quão grande deve ser sua própria firmeza e resignação em face às provações e tribulações. Pois o Educador Divino deve ensinar por palavra e também por ações, assim revelando a todos o caminho reto para a verdade.
Quanto ao meu grau, ele é o de servo de Bahá; 'Abdu'l-Bahá, a expressão visível da servitude ao Limiar da Beleza de Abhá.


27. Nos ciclos passados, cada um dos Manifestantes de Deus teve Seu próprio grau no mundo da existência, e cada um representou uma etapa no desenvolvimento da humanidade. Contudo, a Manifestação do Nome Supremo - seja minha vida sacrifício por Seus amados - foi expressão da chegada da idade adulta, da maturidade da mais íntima realidade do homem neste mundo da existência. Pois o sol é a fonte e o manancial da luz e do calor, o ponto focal de esplendores, e abarca todas as perfeições manifestadas pelas outras estrelas que têm alvorecido no mundo. Esforça-te por tomares teu lugar ao sol e receberes abundante quinhão de sua luz deslumbrante. Em verdade digo, quando tiveres atingido essa posição, haverás de ver os santos, com toda humildade, diante dEle curvarem as cabeças. Apressa-te à vida antes que a morte venha; apressa-te à primavera antes de o outono se aproximar; e antes que a doença te atinja, apressa-te à cura - para te tornares médico do espírito, o qual através dos sopros do Espírito Santo cura toda espécie de enfermidade nesta era célebre e gloriosa.


28. Ó folha na árvore da Vida! A árvore da Vida, da qual é feita menção na Bíblia, é Bahá'u'lláh, e as filhas do Reino são as folhas nessa abençoada árvore. Agradece a Deus, pois, por haveres sido relacionada a essa árvore, e estares florescendo, tenra e fresca.
Os portais do Reino estão abertos de par em par, e toda alma eleita está sentada à mesa de banquete do Senhor, recebendo sua parte nessa festa celestial. Louvado seja Deus! também estás presente à mesa, participando do abundante alimento do céu. Estás servindo ao Reino e bem conheces os doces sabores do Paraíso de Abhá.
Esforça-te, então, com todo o teu poder, para guiar o povo, e alimenta-te do pão que veio do céu. Pois isto é o que significam as palavras de Cristo: "Eu sou o pão vivo que desceu do céu;... quem comer este pão viverá para sempre."29


29. Ó tu que estás encantado com a verdade e atraído pelo Reino Celestial! Tua longa carta chegou e trouxe grande alegria, pois nela havia claros indícios de teus zelosos esforços e elevados propósitos. Louvado seja Deus! desejas o bem do homem, anseias pelo Reino de Abhá e anelas ver o gênero humano avançar. É minha esperança que em virtude de tão elevados ideais, dessas nobres sugestões do coração e boas-novas do céu, possas tornar-te tão luminoso que a luz de teu amor a Deus derrame glória por todas as eras.
Tu te descreveste como estudante na escola do progresso espiritual. Feliz és tu! Se tais escolas de progresso conduzirem à universidade do céu, então se desenvolverão ramos de conhecimento mediante os quais a humanidade virá a contemplar a epístola da existência como pergaminho em permanente desdobrar, e todas as coisas criadas serão vistas nesse pergaminho como letras e palavras. Então os diversos estágios da significação haverão de ser aprendidos e dentro de cada átomo do universo serão testemunhados os sinais da unicidade de Deus. O homem ouvirá, então, o chamado do Senhor do Reino, e contemplarás as confirmações do Espírito Santo que lhe vêm em socorro. Então sentirá tanta felicidade, tanto êxtase, que o grande mundo, com sua vastidão, não mais poderá contê-lo; ele seguirá para o Reino de Deus e apressar-se-á para o domínio do espírito. Pois, uma vez crescidas as asas, a ave não mais permanece no solo, mas sim alça vôo para as alturas do céu - a não ser aquelas que estão atadas pelos pés, ou cujas asas estão quebradas, ou atoladas.
Ó tu que buscas a verdade! O mundo do Reino é um só mundo. A única diferença é que a primavera retorna vezes sem conta, e dá início a uma nova e grande comoção que afeta todas as coisas criadas. Então ressuscitam a planície e a colina, as árvores vestem-se de verde delicado, e folhas, flores e frutos manifestam-se em beleza terna e infinita. As revelações das eras passadas, portanto, estão intimamente relacionadas com as que lhes sucedem; na realidade, são uma só, mas, à medida que o mundo cresce, o mesmo ocorre com a luz, com a efusão de graça celestial, e então o sol irradia em merídio esplendor.
Ó tu que buscas o Reino! Todo Manifestante Divino é a verdadeira vida do mundo - é o médico perito para cada alma enferma. O mundo humano está doente, e esse Médico competente conhece a cura, visto que Se ergue com ensinamentos, conselhos e admoestações que são remédio para cada dor, bálsamo que alivia cada ferida. Certamente o médico sábio pode diagnosticar as necessidades do paciente em qualquer tempo, e conceder-lhe a cura. Relaciona, pois, os Ensinamentos da Beleza de Abhá às urgentes necessidades do dia atual e verás que provêem remédio instantâneo para o corpo enfermo do mundo. Em verdade, são o elixir que traz saúde eterna.
O tratamento prescrito pelos médicos sábios do passado e por aqueles que lhes sucedem não é sempre o mesmo, mas sim depende da enfermidade do paciente. No entanto, embora possa mudar o remédio, sempre o objetivo é restaurar a saúde do paciente. Nas eras passadas, o débil corpo do mundo não poderia ter suportado tratamento enérgico ou rigoroso. Foi por essa razão que Cristo disse: "Tenho ainda muitas coisas para vos dizer - questões que necessitam ser tratadas - mas não podeis suportar ouvi-las agora. Quando, porém, vier aquele Espírito Confortador, a Quem o Pai enviará, Ele tornar-vos-á clara a verdade."30
Assim, pois, nesta era de esplendores, os ensinamentos que outrora estavam restritos a alguns poucos tornam-se acessíveis a todos, a fim de que a misericórdia do Senhor possa abraçar Oriente e Ocidente, para que a unidade do mundo humano desvele-se em plena beleza, e os deslumbrantes raios da realidade inundem de luz o domínio da mente.
A descida da Nova Jerusalém representa a Lei celestial, aquela Lei que assegura a felicidade humana e a fulgência do mundo de Deus.
Emanuel31 foi, em verdade, o Arauto da Segunda Vinda de Cristo e um dAqueles que convocam ao caminho do Reino. É evidente ser a Letra um elemento da Palavra, e essa condição de componente da Palavra significa que o valor da Letra depende da Palavra, isto é, que deriva sua graça da Palavra; ela tem com a Palavra uma relação espiritual e é considerada parte necessária da Palavra. Os apóstolos eram como Letras e Cristo era a essência da Palavra em Si; e o significado da Palavra, o qual é graça infindável, derramou esplendor sobre aquelas Letras. E, ademais, já que a Letra é membro da Palavra, ela, em seu significado interior, está portanto em harmonia com a Palavra.
É nossa esperança que, neste dia, te levantes para promover o que Emanuel predisse. Sabe tu, com toda a certeza, que nisso terás êxito, pois as confirmações do Espírito Santo descem continuamente, e o poder da Palavra há de exercer tal influência que a Letra Se tornará o espelho no qual o majestoso Sol - a própria Palavra - refletir-se-á; e a graça e glória da Palavra haverão de iluminar toda a Terra.
Quanto à Jerusalém celestial que desceu para assentar-Se nos cumes do mundo, e o Santo dos Santos de Deus cuja bandeira eleva-se agora no alto, isso engloba dentro de si todas as perfeições, todo o conhecimento das dispensações anteriores. Além disso, prenuncia a unidade dos filhos dos homens. É o estandarte da paz universal, o espírito da vida eterna; é a glória das perfeições de Deus, a graça que circunda toda a existência, o adorno que embeleza todas as coisas criadas, a fonte de tranqüilidade interior para todo o gênero humano.
Dirige tua atenção às sagradas Epístolas; lê o Ishráqát, o Tajallíyyát, as Palavras do Paraíso, as Boas Novas, o Tarázát, o Mais Sagrado Livro. Então verás que esses Ensinamentos celestiais são hoje o remédio para o mundo enfermo, sofredor, e bálsamo curador para as feridas no corpo da humanidade. São o espírito da vida, a arca da salvação, o ímã para atrair glória eterna, o poder dinâmico para motivar a realidade íntima do homem.


30. A existência é de duas espécies: uma é a existência de Deus, a qual transcende a compreensão do homem. Ele, o Invisível, o Sublime, o Incompreensível, não é precedido por nenhuma causa; antes, é o Originador da causa das causas. Ele, o Antigo, não teve começo, e é o Independente de tudo o mais. A segunda espécie de existência é a existência humana. É uma existência comum, compreensível à mente humana; não é antiga, é dependente e tem uma causa que a precede. A substância mortal não se torna eterna, nem a substância eterna torna-se mortal; a espécie humana não pode vir a ser o Criador, nem o Criador pode tornar-Se humano. A transformação da substância inata é impossível.
No mundo da existência - daquele que é compreensível - há estágios de mortalidade: o primeiro grau é o mundo mineral, o segundo é o mundo vegetal. No mundo vegetal o mineral também existe, mas com qualidade distintiva, a característica vegetal. Da mesma forma, no mundo animal estão presentes as características do mineral e do vegetal e, além destas, encontram-se as características do mundo animal, que são as faculdades de audição e visão. No mundo humano encontram-se características dos mundo mineral, vegetal e animal e, em acréscimo, o atributo da espécie humana, a saber, a característica intelectual, que descobre a realidade das coisas e compreende princípios universais.
O homem, portanto, no plano do mundo contingente, é o ser mais perfeito. Por homem entende-se o indivíduo perfeito, que assemelha-se a espelho no qual as perfeições divinas são refletidas e tornadas manifestas. O sol, entretanto, não desce de suas alturas de santidade para entrar no espelho. Porém, quando o espelho é purificado e dirigido para o Sol da Verdade, as perfeições deste Sol, que são a luz e o calor, refletem-se e manifestam-se nele. Essas almas são os Sagrados Manifestantes de Deus.


31. Ó tu que és estimado e sábio! Tua carta datada de 27 de maio de 1906 foi recebida; seu conteúdo traz satisfação e foi causa de grande alegria.
Perguntaste se esta Causa - esta Causa nova e viva - poderia substituir os ritos e cerimoniais da Inglaterra, os quais já se encontram sem vida; se, agora que têm aparecido vários grupos cujos membros são sacerdotes e teólogos de grande prestígio - muito superiores àqueles do passado no que diz respeito às realizações -, se seria possível que esta nova Causa a tal ponto impressionasse os membros desses grupos de forma a reuni-los, e aos demais, sob sua sombra que a tudo protege.
Ó tu, querido amigo! Sabe que a Pessoa eminente32 de cada era é dotada de acordo com as perfeições de Seu tempo. Aquela Pessoa que em eras passadas foi elevada acima de Seus semelhantes era dotada conforme as virtudes de Sua Época. Nesta era de esplendores, porém, nesta era de Deus, a Personagem preeminente, o Orbe luminoso, o Indivíduo escolhido, resplandecerá com tais perfeições e tal poder que, afinal, fará com que fiquem deslumbradas as mentes de todas as comunidades e grupos. Ademais, visto que essa Personagem é superior a todas as outras em perfeições espirituais e realizações de grau celestial, e é, em verdade, o centro focal das bençãos divinas e o ponto central do círculo de luz, Ela abarcará todas as demais e, sem a menor dúvida, reluzirá com tal poder que haverá de reunir todas as almas à Sua sombra protetora.
Quando se pondera com cuidado este assunto, torna-se evidente que isto que afirmamos está de acordo com uma lei universal, a qual se pode ver agindo em todas as coisas: o todo atrai a parte e, no círculo, o centro é o eixo das circunferências. Pondera tu sobre o Espírito33: porque Ele era o centro focal do poder espiritual, a fonte das graças divinas, embora de início só tivesse reunido a Seu redor pouquíssimas almas, Ele, mais tarde, em virtude, daquele poder predominante que possuía, pôde unir dentro do Tabernáculo protetor da Cristandade todos os grupos divergentes. Compara o presente com o passado e vê como é grande a diferença; assim poderás chegar à verdade e à certeza.
Os conflitos entre as religiões do mundo devem-se às variações de ponto de vista. Enquanto os poderes da compreensão forem variados, os juízos e opiniões dos homens certamente têm de discordar entre si. Todavia, se for introduzido um único poder perceptivo universal - poder que abranja todos os demais - aquelas opiniões divergentes fundir-se-ão, e a harmonia espiritual e a unidade tornar-se-ão evidentes. Por exemplo, quando o Cristo Se tornou manifesto as percepções dos vários povos da época, suas opiniões e atitudes emocionais - fossem romanos, gregos, sírios, israelitas ou outros - estavam em desacordo entre si. Contudo, quando Seu poder universal se fez sentir, Ele conseguiu gradativamente, no decurso de trezentos anos, reunir todas aquelas mentes discordantes sob a proteção e o governo de um Ponto central, todas vindo a compartilhar as mesmas emoções nos corações.
Para usarmos de metáfora: quando um exército está sob as ordens de vários comandantes, cada qual com sua própria estratégia, eles haverão de diferir, obviamente, quanto às linhas de batalha e movimentação das tropas; mas, uma vez assumida a liderança pelo Comandante Supremo, que é perfeitamente versado nas artes da guerra, as demais estratégias serão postas de lado, pois o general - sumamente talentoso que é - sujeitará o exército inteiro ao seu controle. Estamos apenas usando uma metáfora e não comparação exata. Agora, se argumentasses que cada um dos outros generais é altamente capacitado na arte militar, tendo completa proficiência e sendo muito experiente, e que, portanto, não quererá sujeitar-se ao comando de outro, não importa quão indescritível seja sua grandeza, tal afirmação seria insustentável, pois o que foi descrito acima é o que ocorre na realidade, sem qualquer sombra de dúvida.
É assim que ocorre com os santos Manifestantes de Deus. Isto, em particular, é o que sucede com a realidade divina do Nome Supremo, a Beleza de Abhá. Logo que Se revela aos povos congregados do mundo, e aparece com tal formosura, tal encanto - tão atraente como um José no Egito do espírito - Ele cativa todos os apaixonados da Terra.
Quanto àquelas almas que nascem para esta vida como entidades sublimes e radiantes e, no entanto, por causa de deficiências e provações são privadas de grandes e reais vantagens, e deixam o mundo sem terem desfrutado a vida na plenitude - isso certamente é causa de lástima. É essa a razão porque os Manifestantes universais de Deus desvelam Seus semblantes diante do homem, suportam toda calamidade e penosa aflição e sacrificam Suas vidas como resgate; é para que essas mesmas pessoas, as que estão preparadas, as que têm capacidade, tornem-se pontos do alvorecer da luz, e seja-lhes conferida a vida que jamais se esvai. É este o verdadeiro sacrifício: oferecer-se, da mesma maneira que Cristo o fez, como resgate pela vida do mundo.
Quanto à influência dos Seres santos e à continuação de Sua graça à humanidade após haverem posto de lado a forma humana, isto, para bahá'ís, é fato inegável. Na realidade, a graça transbordante, os efusivos esplendores dos santos Manifestantes aparecem após Sua ascensão deste mundo. A exaltação da Palavra, a revelação do poder de Deus, a conversão das almas tementes a Deus, a dádiva da vida imortal - foi após o martírio do Messias que tudo isso aumentou e intensificou-se. Do mesmo modo, desde a ascensão da Abençoada Beleza, as graças têm sido sempre mais abundantes, a luz que se difunde tem brilho maior, os sinais da grandeza do Senhor são mais poderosos, a influência da Palavra é muito mais forte, e não tardará muito até que o movimento, o calor, o brilho e as bênçãos do Sol de Sua realidade abranjam toda a Terra.
Não te aflijas em vista do lento progresso da Causa Bahá'í nesse país. Agora é apenas o começo da alvorada. Considera a Causa de Cristo - como trezentos anos tiveram de passar antes de se tornar manifesta sua grande influência. Hoje - nem sessenta anos ainda deste seu nascimento - a luz desta Fé difundiu-se ao redor do planeta.
Com referência à sociedade de saúde da qual és membro, uma vez que entre na sombra desta Fé, sua influência será cem vezes maior.
Observas que o amor entre os bahá'ís é muito grande, e que o amor é a coisa principal. Assim como o poder do amor tem-se desenvolvido a tão alto grau entre os bahá'ís, sendo muito maior do que entre o povo de outras religiões, assim é também com tudo o mais, pois o amor é a base de todas as coisas.
Quanto à tradução dos Livros e Epístolas da Abençoada Beleza, dentro em breve serão feitas traduções para todas as línguas, com poder, clareza e graça. No tempo em que forem traduzidos de conformidade com os originais e com poder e graça de estilo, difundir-se-ão os esplendores de seus significados interiores e serão iluminados os olhos de toda a humanidade. Faze o máximo possível para assegurar que a tradução esteja de conformidade com o original.
A Abençoada Beleza foi até Haifa em muitas ocasiões. Tu O viste lá, mas não O conhecias naquele tempo. É minha esperança que atinjas o verdadeiro encontro com Ele, o qual é vê-Lo com olhos interiores, não exteriores.
A essência do Ensinamento de Bahá'u'lláh é o amor que a tudo abarca, pois o amor abrange todas as virtudes da humanidade. Ele faz com que cada alma progrida. Confere a cada um a herança da vida imortal. Dentro em breve haverás de testemunhar que Seus Ensinamentos celestiais, a verdadeira glória da própria realidade, iluminarão o firmamento do mundo.
A breve prece que escreveste na conclusão da carta foi realmente original, comovente e bela. Recita essa oração em todas as ocasiões.


32. Ó vós, servas do Senhor! Neste século - o século do Senhor Todo-Poderoso - o Sol dos Domínios nas alturas, a Luz da Verdade, brilha na glória meridiana e seus raios iluminam todas as regiões. Pois esta é a era da Antiga Beleza, o dia da revelação da grandeza e do poder do Nome Supremo - seja minha vida oferecida como sacrifício por Seus bem-amados.
Nas eras vindouras, a Causa de Deus haverá de ser enaltecida e ampliada imensamente, e a sombra do Sadratu'l-Muntahá34 abrigará toda a humanidade; o presente século, no entanto, haverá de se manter inigualável, pois testemunhou o romper daquela Aurora e o despontar daquele Sol. Este século é, verdadeiramente, a origem da Luz e o alvorecer da Revelação que a Ele pertencem. Futuras eras e gerações haverão de contemplar a difusão de seu esplendor e as manifestações de seus sinais.
Esforçai-vos, portanto, para que possais obter vossa plena medida e vosso quinhão de Suas dádivas.


33. Ó servo de Deus! Tomamos conhecimento daquilo que escreveste a Jináb-i-Ibn-Abhar, e de tua pergunta sobre o versículo: "Qualquer um que asseverar ser portador de Revelação direta de Deus antes do término de mil anos completos, tal homem é, seguramente, um impostor mentiroso." O significado é este: se antes da expiração de mil anos completos - anos esses conhecidos e estabelecidos claramente por uso comum, sem ser necessária nenhuma interpretação - se alguém afirmar que traz uma Revelação direta de Deus, ainda que revele certos sinais, tal homem é seguramente falso, um impostor.
Isto não faz referência ao Manifestante Universal, pois está claramente exposto nas Sagradas Escrituras que haverão de passar séculos, não, antes, milhares de anos devem transcorrer até aparecer novamente uma Manifestação como esta Manifestação.
Porém, é possível que após a consumação de mil anos completos, certos Seres Santos sejam capacitados a transmitir uma Revelação; isso, no entanto, não será por intermédio de uma Manifestação Universal. Assim, pois, cada dia do ciclo da Abençoada Beleza iguala-se, na realidade, a um ano, e cada ano deste ciclo é igual a mil anos.
Considera, por exemplo, o sol: seu deslocamento de um signo zodiacal ao próximo ocorre dentro de breve lapso de tempo, mas só após longo período o sol atinge a plenitude da resplandecência, do calor e glória, no signo de Leão. Ele precisa primeiro completar uma revolução completa através das demais constelações antes de entrar novamente no signo de Leão, para ali flamejar em pleno esplendor. Nas demais posições ele não revela a plenitude de seu calor e luz.
Em essência: antes da consumação de mil anos nenhum indivíduo deve atrever-se a sussurrar palavra. Todos se devem considerar na condição de súditos, submissos e obedientes aos mandamentos de Deus e às leis da Casa de Justiça. Fosse alguém desviar-se dos decretos da Casa Universal de Justiça - nem que fosse por algo mínimo como a ponta de uma agulha - ou vacilar em lhes prestar obediência, ele, então, seria dos proscritos e rejeitados.
Quanto ao ciclo da Abençoada Beleza, o tempo do Maior Nome, este não se limita a mil ou dois mil anos...
Quanto se diz que o período de mil anos começa com a Manifestação da Abençoada Beleza e que cada dia desse período é mil anos, o intuito é fazer referência ao ciclo da Abençoada Beleza, o qual, neste contexto, estender-se-á através de muitas eras, eternidade a dentro.


34. Ó tu que estás servindo ao mundo humano! Tua carta foi recebida e sentimo-nos extremamente felizes com o conteúdo. Ela foi prova clara e brilhante evidência. É apropriado e conveniente, nesta era iluminada - a era do progresso do mundo humano - que sejamos abnegados e nos dediquemos ao serviço da humanidade. Toda causa universal é divina, e cada causa individual é mundana. Os princípios das sagradas Manifestações de Deus foram, portando, todo-universais e todo-abrangentes.
Toda alma imperfeita concentra-se em si mesma e pensa somente no próprio bem. Mas, à medida que seus pensamentos se expandem um pouco, começa a pensar no bem-estar e no conforto da família. Se suas idéias alargarem-se mais, ela terá como objetivo a felicidade dos concidadãos; e se ampliarem-se mais ainda passará a pensar na glória de sua terra e de sua raça. Porém, quando as idéias e as perspectivas alcançam o máximo grau de expansão e atingem a etapa da perfeição, então a alma se interessará pelo enaltecimento da humanidade. Daí ela desejará o bem de todos os homens e procurará a felicidade e a prosperidade de todas as terras. Isso é indício da perfeição.
Assim, as sublimes Manifestações de Deus tinham conceito universal, que a tudo incluía. Elas esforçaram-Se pelo bem da vida de todos e ocuparam-Se em promover educação universal. O campo de Seus objetivos não era limitado - não, antes, era amplo e tudo abrangia.
Vós também, pois, deveis pensar em todos, para que os seres humanos sejam educados, seu caráter venha a modelar-se, e este mundo transforme-se num Jardim do Éden.
Amai todas as religiões e todas as raças com amor verdadeiro e sincero, e mostrai esse amor através de ações, não da língua, pois esta não tem importância; a maioria dos homens deseja o bem por palavras, mas o que mais vale é a ação.


35. Ó exército de Deus! Foi recebida a carta assinada em conjunto por vós todos. Era muito eloqüente e cheia de ardor.
Escrevestes sobre o mês do jejum. Felizes sois por haverdes obedecido o mandamento de Deus e observado o jejum durante a estação sagrada. Pois este jejum material é sinal exterior do jejum espiritual; é símbolo de autocontrole, da renúncia de todos os apetites do ego, de aquisição das características do espírito, do deixar-se dominar pelo êxtase dos sopros celestiais, e do estar aceso com o amor de Deus.
A carta indicou também vossa unidade e o laço estreito que vos une os corações. É minha esperança que o Oeste, através da ilimitada graça de Deus faz manar nesta nova era, torne-se o Leste, o ponto do alvorecer do Sol da Verdade, e que os crentes ocidentais venham a ser auroras de luz, os que manifestam os sinais de Deus. Espero que sejam protegidos das dúvidas dos desatentos e mantenham-se firmes e inabaláveis no Convênio e Testamento; que laborem dia e noite até despertar os adormecidos e tornar atentos os inconscientes, até admitir os desprezados no círculo dos amigos íntimos e conferir aos destituídos seu quinhão da graça eterna. Que sejam arautos do Reino, chamando os habitantes deste mundo inferior e convocando-os para entrarem no domínio nas alturas.
Ó exército de Deus! Hoje, neste mundo, cada povo vagueia perdido em seu próprio deserto, indo de lá para cá segundo os ditames de suas fantasias e noções, seguindo seu próprio capricho particular. Entre todas as numerosas multidões da terra, somente esta comunidade do Nome Supremo está livre e isenta de maquinações humanas e nenhum propósito egoísta tem para promover. Entre todas elas, este povo levantou-se sozinho com objetivos purificados do ego, seguindo os Ensinamentos de Deus, laborando com o máximo zelo e esforçando-se por atingir uma só meta: converter este pó inferior no alto céu, fazer da Terra um espelho para o Reino, transformar o mundo num mundo diferente, guiar toda a humanidade aos caminhos da retidão e levá-la a adotar novo modo de vida.
Ó exército de Deus! Através da proteção e da ajuda concedidas pela Abençoada Beleza - que minha vida seja sacrifício a Seus bem-amados - deveis comportar-vos de tal maneira que possais, entre as almas, sobressair distintos e brilhantes como o Sol. Se qualquer um de vós entrar numa cidade, deverá tornar-se centro de atração em virtude de sua sinceridade, fidelidade e amor, de sua honestidade e lealdade, sua veracidade e benevolência para com todos os povos do mundo, de modo que o povo dessa cidade exclame, dizendo: "Este homem é inquestionavelmente um bahá'í, pois suas maneiras, seu comportamento, sua conduta, sua moral, sua natureza e disposição refletem os atributos dos bahá'ís." Até que atinjais esta condição, não se poderá dizer que tenhais sido fiéis ao Convênio e Testamento de Deus. Pois Ele, por meio de textos irrefutáveis, entrou em irrevogável Convênio com todos nós e demanda que nossas ações estejam de acordo com Suas sagradas instruções e advertências.
Ó exército de Deus! Já chegou o tempo no qual os efeitos e as perfeições do Maior Nome devem tornar-se manifestos nesta época admirável, a fim de se estabelecer, acima de qualquer dúvida, que esta era é a era de Bahá'u'lláh, que esta época se distingue acima de todas as outras épocas.
Ó exército de Deus! Sempre que virdes pessoa cuja atenção é inteiramente dirigida à Causa de Deus e cujo objetivo único é que se torne efetiva a Palavra de Deus; pessoa que, dia e noite, com intenções puras, está a prestar serviço à Causa; de cuja conduta não se pode discernir o mínimo traço de egoísmo ou de motivos particulares - que, antes, passeia absorta na selava do amor de Deus e sorve somente do cálice do conhecimento de Deus, e está completamente concentrada no difundir as doces fragrâncias de Deus e enamorada dos sagrados versículos do Reino de Deus -, sabei com certeza que tal pessoa será sustentada e reforçada pelo céu; que ela para todo o sempre, assim como a estrela d'alva, reluzirá radiantemente nos céus da graça eterna. Se, entretanto, mostrar a menor mácula de desejos egoístas e amor de si própria, seus esforços em nada resultarão e tal pessoa será afinal destruída e abandonada ao desespero.
Ó exército de Deus! Louvores a Deus, pois Bahá'u'lláh retirou as correntes dos pescoços dos homens, e livrou-os de tudo que lhes era estorvo, e disse: Vós sois os frutos de uma só árvore e as folhas do mesmo ramo; sede compassivos e bondosos com toda a espécie humana. Tratai os estranhos do mesmo modo que os amigos; estimai os demais assim como estimais vossos próprios parentes. Vede inimigos como amigos; vede demônios como anjos; dai ao tirano o mesmo grande amor que mostrais ao leal e ao fiel, e assim como gazelas das cidades perfumadas de Khatá e Khutan35, oferecei perfumado almíscar ao lobo voraz. Sede refúgio para os amedrontados; trazei repouso e paz aos agitados; providenciai provisão para os destituídos; sede tesouro de riqueza para os pobres, remédio que cura os que sofrem dor; sede médicos e enfermeiros para os enfermos; promovei amizade, e honra, e conciliação e devoção a Deus neste mundo da existência.
Ó exército de Deus! Esforçai-vos grandemente: talvez possais inundar de luz a Terra, para que assim esta choupana de barro, o mundo, possa transformar-se no Paraíso de Abhá. As trevas prevaleceram, e as características brutais predominam. O mundo humano é agora arena para animais selvagens, é campo onde os ignorantes, os desatentos, agarram sua chance. As almas dos homens são lobos vorazes e animais com olhos cegos; são veneno moral ou ervas inúteis; todas, exceto aquelas raras almas que realmente nutrem objetivos e planos altruístas para o bem-estar dos semelhantes. Vós, porém, neste assunto - isto é, o serviço à humanidade - deveis sacrificar as próprias vidas; e ao vos oferecerdes, regozijai-vos.
Ó exércitos de Deus! O Excelso, o Báb, sacrificou a vida. A Abençoada Perfeição ofertou cem vidas a todo instante. Suportou calamidades. Sofreu angústia. Foi aprisionado. Foi acorrentado. Ficou sem lar e foi banido para terras distantes. Então, finalmente, consumiu os dias de Sua vida na Suprema Prisão. De modo igual, grande multidão dos amantes de Deus, aqueles que seguiram este caminho, saborearam o mel do martírio e renunciaram tudo - vida, possessões, famílias - tudo o que tinham. Quantas casas foram reduzidas a escombros; quantos lares, arrombados e saqueados; quantos edifícios nobres foram arrasados; quantos palácios foram demolidos, tornando-se túmulos. E tudo isso veio a suceder para que a humanidade se iluminasse, a ignorância desse lugar ao conhecimento; que os homens da terra se tornassem homens do céu; para que a discórdia e a dissensão fossem arrancadas pelas raízes e o Reino da Paz se estabelecesse no mundo inteiro. Esforçai-vos agora para que esta graça se torne manifesta, e esta mais acariciada de todas as esperanças se realize com glória em toda a comunidade humana.
Ó exército de Deus! Acautelai-vos para não ferir nenhuma alma, nem trazer tristeza a nenhum coração; para que não firais homem algum com vossas palavras, seja ele conhecido ou estranho, amigo ou inimigo. Orai por todos; suplicai que todos sejam abençoados, que todos sejam perdoados. Acautelai-vos, acautelai-vos para que nenhum de vós busque vingança, nem sequer dos que têm sede de vosso sangue. Acautelai-vos, acautelai-vos para que a ninguém ofendais, ainda que seja malfeitor e vos deseje mal. Não olheis para as criaturas, volvei-vos a seu Criador. Não vejais o povo refratário; vede apenas o Senhor dos Exércitos. Não fixeis no pó o olhar, mas sim volvei os olhos para cima, para o sol brilhante, o qual fez todo recanto de terra tenebrosa fulgir de luz.
Ó exército de Deus! Quando a calamidade ataca, sede pacientes e serenos. Por mais aflitivos que sejam os sofrimentos, mantende-vos tranqüilos e, com perfeita confiança na abundante graça de Deus, enfrentai a tempestade de tribulações e provações causticantes.
No ano que passou, alguns dos infiéis - seja os de dentro, seja os de fora, quer conhecidos, quer estranhos - levaram ao Sultão da Turquia acusações caluniadoras contra estes exilados sem lar; acusações graves, sem nenhuma base nos fatos. O Governo, com prudência, determinou que tais acusações fossem investigadas e despachou para esta cidade uma Comissão de Investigação. É óbvio que isso deu a nossos inimigos grande oportunidade. Que violenta tempestade criaram! Tudo além da descrição da língua ou da pena. Somente alguém que tivesse presenciado tudo poderia saber que tumulto provocaram, e o terremoto de angústia que resultou. E, não obstante isso, nossa reação foi esta: depender inteiramente de Deus e manter-nos serenos, confiantes, pacientes, imperturbáveis, a tal ponto que quem desconhecesse a situação teria pensado que tínhamos o coração e a mente despreocupados, que fôssemos perfeitamente felizes, gozando de prosperidade e paz.
Aconteceu, então, que os próprios acusadores, aqueles que haviam levantado contra nós as inculpações difamatórias, uniram-se com os membros da Comissão para fazer a investigação, de modo que querelantes, testemunhas e juiz eram todos os mesmos, e o veredito foi assegurado de antemão. Contudo, para sermos justos, deve ser dito que até agora Sua Majestade, o Sultão da Turquia, não deu ouvidos a essas imputações falsas, essa difamação, essas fábulas e calúnias, e tem agido com justiça. ...

Ó Tu, Provedor! Sopraste sobre os amigos no Ocidente a doce fragrância do Espírito Santo e, com a luz da guia divina, iluminaste o céu ocidental. Fizeste com que os outrora remotos se aproximassem de Ti Próprio; transformaste estranhos em afetuosos amigos; despertaste aqueles que dormiam; tornaste atentos os negligentes.
Ó Tu, Provedor! Ajuda esses nobres amigos a conquistarem Teu beneplácito. Torna-os igualmente benévolos para com estranhos e amigos. Faze-os entrarem no mundo que perdura para todo o sempre; concede-lhes um quinhão da graça celestial; faze com que sejam verdadeiros bahá'ís, sinceramente de Deus; protege-os de aparências exteriores e estabelece-os firmemente na verdade. Torna-os sinais e emblemas do Reino, estrelas luminosas acima dos horizontes desta vida inferior. Que sejam conforto e consolo para a humanidade e promotores da paz do mundo. Extasia-os com o vinho de Teu desígnio e permite que todos eles trilhem o caminho de Teus mandamentos.
Ó Tu, Provedor! O mais acalentado desejo deste servo de Teu Limiar é ver os amigos do Oriente e Ocidente em abraço íntimo; é ver todos os membros da sociedade humana reunidos com amor numa mesma grande congregação, como as gotas d'água reunidas num único e poderoso mar; é contemplar todos como aves num único jardim de rosas - como pérolas do mesmo oceano, folhas de uma única árvore, raios do mesmo sol.
Tu és o Grande, o Poderoso; és o Deus de fortaleza, o Onipotente, O Que tudo vê.


36. Ó vós duas, servas estimadas do Senhor! A carta de Mãe Beecher foi recebida e falou, realmente, por ambas; por isso dirijo-me a vós em conjunto. Isso me parece muito bom, pois vós, dois seres puros, sois assim como uma só jóia preciosa; como dois ramos de uma só árvore; ambas adorais o mesmo Bem-Amado, ambas ansiais pelo mesmo Sol resplandecente.
É minha esperança que todas as servas de Deus nessa região unam-se como as ondas de um único mar infindável; pois as vagas, carregadas ao sabor do vento, estão separadas entre si, embora, na realidade, formem um todo com as ilimitadas profundezas. Como é bom quando os amigos estão unidos como feixes de luz, quando se juntam lado a lado numa linha firme e ininterrupta. Pois, agora, os raios da realidade, provindos do Sol do mundo da existência, têm unido em adoração todos aqueles devotados a esta luz; e esses raios, através de infinita graça, têm congregado todos os povos dentro de amplo abrigo. Todas as almas, pois, devem tornar-se como uma só alma, todos os corações como um só coração. Que todos se libertem das múltiplas identidades nascidas da paixão e do desejo e, na unidade do amor a Deus, encontrem novo modo de vida.
Ó vós, duas servas de Deus! Agora é o tempo de vos tornardes semelhantes a cálices de graças, transbordantes, e, assim como os ventos revivificadores que sopram do Paraíso de Abhá, deveis espargir a fragrância de almíscar por toda essa terra. Libertai-vos da vida deste mundo e, a cada etapa, almejai a inexistência; pois quando regressa ao sol o raio é obliterado, e quando a gota chega ao mar, desaparece, e aquele que ama verdadeirment rende a alma quando encontra o Bem-Amado.
Enquanto o ser não atingir o plano do sacrifício, estará privado de todo favor e toda graça; e o plano do sacrifício é o reino no qual se morre para o ego, a fim de que o esplendor do Deus vivo possa então irradiar-se. O campo do martírio é o lugar do desprendimento do ego, para que possam erguer-se os hinos da eternidade. Diligenciai ao máximo para aborrecerdes totalmente o ego, e apegai-vos ao Semblante de Esplendores; e uma vez que tenhais alcançado tais alturas de servitude, encontrareis, reunidas à vossa sombra, todas as coisas criadas. Isso é graça ilimitada; é suma soberania, é vida que não fenece. A não ser isto, tudo o mais é, afinal, apenas perdição manifesta e grande perda.
Louvado seja Deus! o portal da infindável graça está aberto de par em par, a mesa celestial está servida, os servos do Misericordioso, e Suas servas, estão presentes na festa. Esforçai-vos por receber vosso quinhão deste alimento eterno, para que venhais a ser amados e estimados tanto neste mundo como no vindouro.


37. Ó vós, queridos amigos de 'Abdu'l-Bahá! Abençoada carta foi recebida de vós, e relatava a eleição de uma Assembléia Espiritual. Foi motivo de regozijo para meu coração saber que os amigos daquelas regiões, Deus seja louvado! com absoluta unidade, camaradagem e amor, realizaram nova eleição e tiveram êxito na escolha de almas santificadas, favorecidas junto ao Sagrado Limiar e bem conhecidas pelos amigos como leais ao Convênio, e firmes nele.
Agora os representantes eleitos devem levantar-se para servir com espiritualidade e júbilo, com pureza de intenções, atraídos intensamente pelas fragrâncias do Todo-Poderoso, e firmemente apoiados pelo Espírito Santo. Que icem o estandarte da guia e, como soldados da Companhia do alto, glorifiquem a Palavra de Deus, difundam Suas doces fragrâncias, eduquem as almas dos homens e promovam a Paz Máxima.
Verdadeiramente, almas abençoadas foram eleitas. No instante em que li os nomes, vibrei com alegria espiritual por saber que, louvado seja Deus! foram erguidas nesse país pessoas que são servas do Reino, que estão prontas para entregar a vida por Ele, Que não tem igual ou semelhante.
Ó vós, queridos amigos! Iluminai essa Assembléia com o brilho do amor de Deus. Fazei-a soar com a música jubilosa das esferas benditas, nutri-a daqueles alimentos servidos na Ceia do Senhor, na mesa de banquetes de Deus. Reuni-vos com pura alegria e, no início do encontro, recitai esta oração:

Ó Tu Senhor do Reino! Apesar de nossos corpos estarem aqui reunidos, contudo, nossos corações, cheios de encantamento, são arrebatados por Teu amor, e somos transportados pelos raios de Tua face radiante. Apesar de fracos, aguardamos as revelações de Tua força e Teu poder. Apesar de pobres, sem bens nem posses, buscamos riquezas nos tesouros de Teu Reino. Apesar de sermos gotas, sorvemos de Tuas profundezas oceânicas. Apesar de sermos mariposas, cintilamos na glória de Teu Sol esplendoroso.
Ó Tu, nosso Provedor! Faze descer até nós Tua ajuda, para que cada um aqui reunido possa ser como vela acesa, cada qual um centro de atração, um convocador para Teus reinos celestiais, até que finalmente façamos desse mundo inferior o reflexo de Teu Paraíso.

Ó meus queridos amigos! Incumbe às assembléias de sua região estar unidas umas às outras e trocar correspondência entre si, e também comunicar-se com as assembléias do leste, dessa forma tornando-se instrumentos de união em todo o mundo.
Ó amigos espirituais! Vossa constância deve ser tamanha que, fossem os malfeitores trazer a morte a todos os crentes menos a um deles, este único, só e por si, seguirá difundindo amplamente as santas e doces fragrâncias de Deus. Portanto, caso alguma notícia aterradora, qualquer informação sobre horríveis eventos, vos chegue da Terra Santa, acautelai-vos por não vacilardes; não sejais tomados pela dor, não vos abaleis. Antes, levantai-vos imediatamente, com decisão férrea, e servi o Reino de Deus.
Este Servo do Limiar de Senhor tem estado em perigo em todos os tempos. Está em perigo agora. Em nenhum momento tive qualquer esperança de segurança, e meu mais acalentado desejo é este: beber do cálice generoso e transbordante do martírio, e morrer no campo do sacrifício, saboreando aquele vinho que é a mais preciosa dádiva de Deus. Esta é minha maior esperança, meu mais intenso desejo.
Soubemos que as Epístolas de Ishráqát (Esplendores), Tarázát (Adornos), Bishárát (Boas Novas), Tajallíyyát (Fulgores) e Kalimát (Palavras do Paraíso) foram traduzidas e publicadas em vossa região. Nessas Epístolas tendes modelo de como deveis ser e como deveis viver.


38. Ó serva de Deus, tu que tremulas qual ramo novo e tenro nos ventos do amor de Deus! Li tua carta, que fala de teu abundante amor, tua devoção intensa e ocupação na lembrança de teu Senhor.
Confia em Deus. Abandona tua própria vontade e firma-te à dEle, deixa de lado teus próprios desejos e abraça o que ele deseja, a fim de que te possas tornar um exemplo - santo, espiritual e do Reino - para Suas servas.
Sabe, ó serva, que aos olhos de Bahá as mulheres são consideradas iguais aos homens, e Deus criou toda a humanidade à Sua própria imagem, à Sua própria semelhança. Ou seja, homens e mulheres revelam, de modo igual, Seus nomes e atributos e, do ponto de vista espiritual, não há entre eles nenhuma diferença. Quem mais se aproxima de Deus é mais estimado, seja homem, seja mulher. Quantas servas, ardentes e devotadas, sob a sombra protetora de Bahá, provaram ser superiores aos homens e sobrepujaram os famosos da Terra.
A Casa de Justiça, entretanto, segundo o explícito texto da Lei de Deus, restringe-se aos homens; isto por uma sabedoria do Senhor Deus, a qual, dentro em breve, tornar-se-á tão claramente manifesta como o sol ao meio-dia.
Quanto a vós, demais servas que vos extasiais com as fragrâncias celestiais, organizai reuniões sagradas e fundai Assembléias Espirituais, pois estas são a base para a difusão dos doces aromas de Deus e a exaltação de Sua Palavra, para que se erga a lâmpada de Sua graça e seja promulgada Sua religião, sendo assim promovidos Seus Ensinamentos. E qual a graça maior que essa? Essas Assembléias Espirituais são amparadas pelo Espírito de Deus. Seu defensor é 'Abdu'l-Bahá - sobre elas estende Ele Suas asas. Que graça há maior que essa? Tais Assembléias Espirituais são lâmpadas radiantes e jardins celestiais, donde as fragrâncias da santidade difundem-se por todas as regiões e as luzes do conhecimento irradiam-se sobre todas as coisas criadas. Delas emana em todas as direções o espírito da vida. Elas, em verdade, são as poderosas fontes do progresso do homem, em todos os tempos e sob todas as condições. Qual a graça maior que essa?


39. Ó serva de Deus! Tua carta foi recebida e trazia notícias de que uma Assembléia foi estabelecida nessa cidade.
Não considereis vosso pequeno número; antes, buscai corações que sejam puros. Uma alma consagrada é preferível a mil outras almas. Se um pequeno número de pessoas reúne-se com amor, absoluta pureza e santidade, com os corações livres do mundo, sentindo as emoções do Reino e as poderosas forças magnéticas do Divino, e unidas em feliz associação fraterna, essa reunião exercerá influência sobre toda a Terra. A natureza de tal grupo de pessoas, as palavras que proferem, as ações que realizam, haverão de liberar as graças do Céu, e proverão amostra da felicidade eterna. As hostes da Companhia nas alturas irão defendê-las, e os anjos do Paraíso de Abhá, a descer em contínua sucessão, virão socorrê-las.
Com "anjos" queremos dizer as confirmações de Deus e Seus poderes celestiais. Da mesma forma, anjos são seres abençoados que romperam todos os laços com este mundo inferior, que se libertaram das correntes do ego e dos desejos carnais e fixaram firmemente os corações nos domínios celestiais do Senhor. Eles são do Reino: celestiais; são de Deus: espirituais; são reveladores da abundante graça de Deus; são pontos do alvorecer de Suas dádivas espirituais.
Ó serva de Deus! Louvores a Ele! teu prezado esposo percebeu os doces aromas que sopram dos jardins do céu. Agora, dias após dia, deves, através do amor de Deus e por meio de tuas próprias boas ações, fazê-lo aproximar-se cada vez mais da Fé.
Foram realmente terríveis aqueles acontecimentos em São Francisco36. Desastres dessa natureza deveriam servir para despertar o povo e diminuir o amor que nutrem nos corações por este mundo inconstante. É neste mundo inferior que ocorrem tais coisas trágicas: este é o cálice que oferece vinho amargo.


40. Ó vós, amados de 'Abdu'l-Bahá! Li vossos relatórios com grande júbilo; são de tal natureza que anima e refresca o coração e alegra a alma. Se essa Assembléia, através dos sopros sagrados do Todo-Misericordioso e de Suas confirmações divinas, perseverar e permanecer constante e firme, haverá de produzir resultados notáveis e terá êxito em empreendimentos de grande importância.
As Assembléias Espirituais que serão estabelecidas nesta Era de Deus, neste sagrado século, indiscutivelmente jamais tiveram igual ou semelhante nos ciclos anteriores. Pois aquelas congregações que possuíam poder baseavam-se no apoio de grandes líderes entre os homens, enquanto estas Assembléias baseiam-se no apoio da Beleza de Abhá. Os defensores e patronos daquelas outras assembléias eram ou príncipe, ou rei, ou sumo sacerdote, ou a massa do povo. Mas estas Assembléias Espirituais têm por defensor e sustentáculo, por auxiliador e inspirador, o Senhor onipotente.
Não mireis o presente, fixai o olhar nos tempos vindouros. No início, quão pequena é a semente, contudo, no final é árvore majestosa. Não olheis para a semente, mas sim para a árvore, e suas flores, e suas folhas e frutos. Considerai os dias de Cristo, quando apenas pequeno grupo O seguia; então, vede que majestosa árvore aquela semente veio a ser, e observai-lhe a frutificação. E, neste dia, coisas ainda maiores haverão de suceder, pois este é o chamado do Senhor dos Exércitos, é o toque de trombeta do Senhor, é o hino da paz mundial, é o estandarte da retidão, e da confiança, e da compreensão que se içou entre os vários povos do globo; este é o esplendor do Sol da Verdade, é a santidade do espírito do próprio Deus. Esta mais poderosa dispensação envolverá toda a Terra, e sob sua bandeira todos os povos serão reunidos e abrigados. Percebei, pois, a importância vital desta pequenina semente que o verdadeiro Lavrador, com as mãos de Sua misericórdia, semeou nos campos arados do Senhor, e regou com a chuva das dádivas e graças, e que agora cultiva no calor e na luz do Sol da Verdade.
Portanto, ó bem-amados de Deus, rendei-Lhe agradecimentos por haver Ele vos escolhido para tais dádivas e tais favores. Bem-aventurados sois! Boas novas a vós! por essa graça abundante.


41. Ó tu que estás inabalável no Convênio, e firme! A carta que escreveste ... foi-me apresentada, e as opiniões nela expressadas são muito louváveis. Incumbe à Assembléia Espiritual Consultiva de Nova Iorque estar em total acordo com a de Chicago, e essas duas Assembléias de consulta devem conjuntamente aprovar o que quer que considerem apropriado para publicação e distribuição. Depois disso, que mandem cópia a Akká, de modo que também possa ser aprovado aqui, e então o material será devolvido para ser publicado e divulgado.
A questão de coordenar e unificar as duas Assembléias Espirituais, a de Chicago e a de Nova Iorque, é da máxima importância, e quando uma Assembléia Espiritual for devidamente formada em Washingtom, aquelas duas deverão estabelecer laços de unidade com esta também. Em suma, é o desejo do Senhor Deus que os bem-amados de Deus e as servas do Misericordioso no Ocidente liguem-se mais estreitamente, em harmonia e unidade, dia após dia; até que isso seja efetuado, o trabalho jamais irá para a frente. As Assembléias Espirituais são, coletivamente, o mais eficaz de todos os instrumentos para estabelecer unidade e harmonia. Este assunto é de suma importância; é o ímã que atrai as confirmações de Deus. No momento em que a beleza da unidade dos amigos - essa Bem-Amada Divina - for ataviada com os adornos do Reino de Abhá, é certo que dentro de pouquíssimo tempo esses países se tornarão o Paraíso do Todo-Glorioso, e do ocidente os esplendores da unidade se irradiarão sobre toda a Terra.
Estamo-nos esforçando de coração e alma, não descansamos nem de dia nem de noite, não buscamos sequer um momento de repouso, a fim de fazer deste mundo humano o espelho da unidade de Deus. Quanto mais, então, devem os bem-amados do Senhor refletir essa unidade! E esta esperança que nutrimos, este mais almejado objetivo nosso, só se cumprirá visivelmente no dia em que os verdadeiros amigos de Deus levantarem-se para pôr em prática os Ensinamentos da Beleza de Abhá - seja minha vida o resgate daqueles que O amam! Entre Seus Ensinamentos está este: que o amor e a boa fé de tal modo devem dominar o coração humano que os homens venham a considerar o estranho como um amigo familiar, o malfeitor como um dos seus, e o inimigo como companheiro estimado e íntimo. Àquele que os mata, chamarão de doador da vida; quem se afasta deles será visto como um dos que para eles se volvem; quem lhes nega a mensagem será por eles considerado como alguém que lhes admite a verdade. Isso significa que devem tratar toda a humanidade assim como tratam seus simpatizantes, seus irmãos de fé, seus entes queridos e amigos íntimos.
Se tocha como essa iluminar a comunidade mundial, vereis que toda a Terra está exalando perfume, que se tornou deleitável paraíso e que sua face é a imagem do alto céu. Então o mundo inteiro será uma só terra natal, seus diversos povos serão uma única espécie, as nações do leste e do oeste, uma só família.
É minha esperança que chegue esse dia, que tal esplendor se irradie, que tal visão se desvele com plena beleza.


42. Ó vós, colaboradores apoiados por exércitos do reino do Todo-Glorioso! Bem-aventurados sois, porquanto vos reunistes à sombra protetora da Palavra de Deus e encontrastes refúgio na caverna de Seu Convênio; trouxestes paz a vossos corações ao construir o lar no Paraíso de Abhá, e sois tranqüilizados pelos ventos suaves que sopram de Sua benevolência, seu ponto de origem; vós vos levantastes para servir a Causa de Deus e difundir Sua religião em toda parte, para promover Sua Palavra e erguer altamente as bandeiras da santidade em todas essas regiões.
Pela vida de Bahá! Verdadeiramente, o consumado poder da Realidade Divina insuflará em vós as graças do Espírito Santo e ajudar-vos-á a realizar façanha cujo igual jamais foi contemplado pelos olhos da criação.
Ó vós, Liga do Convênio! Verdadeiramente a Beleza de Abhá fez uma promessa aos bem-amados que são firmes no Convênio: que lhes fortaleceria os esforços com o mais poderoso apoio, e os socorreria com Sua força triunfante. Dentro em breve percebereis que vossa Assembléia iluminada tem deixado sinais e emblemas conspícuos nos corações e almas dos homens. Segurai-vos à orla das vestes de Deus e dirigi todos os esforços à promoção de Seu Convênio, e ao brilhardes cada vez mais intensamente com o fogo de Seu amor, para que vossos corações vibrem de júbilo aos sopros de servitude que manam do peito de 'Abdu'l-Bahá. Reanimai-vos os corações, fazei-vos firmes os passos, confiai nas graças eternas que sobre vós serão derramadas, uma após outra, do Reino de Abhá. Sempre que vos reunirdes nessa congregação radiante, sabei que os esplendores de Bahá sobre vós estão brilhando. Cumpre-vos buscar a concórdia e estardes unidos; cumpre-vos estar em estreita comunhão, unidos de corpo e alma, até vos assemelhardes às Plêiades, ou a cordão de pérolas reluzentes. Assim havereis de firmar-vos solidamente; assim vossas palavras prevalecerão, vossa estrela resplandecerá e vossos corações serão confortados.
Sempre que entrardes na sala de conselho, recitai esta prece com coração a vibrar de amor a Deus, e com língua purificada de tudo salvo de Sua comemoração, para que o Todo-Poderoso vos ajude generosamente a alcançar a vitória suprema.

Ó Deus, meu Deus! Somos servos Teus que nos voltamos em devoção a Teu Sagrado Semblante, e nos desprendemos de tudo, menos de Ti, neste Dia Glorioso. Reunimo-nos nesta Assembléia Espiritual, com opiniões e pensamentos unidos e um único propósito: o de exaltar Tua Palavra entre o gênero humano. Ó Senhor, nosso Deus! Faze de nós os sinais de Tua Orientação Divina, os Estandartes de Tua Fé sublime entre os homens, servos de Teu poderoso Convênio, ó Tu, nosso Senhor Altíssimo. Que possamos manifestar Tua Unidade Divina em Teu Reino de Abhá, e luzir como estrelas resplandecentes sobre todas as regiões. Senhor! Ajuda-nos a sermos mares encapelados com as ondas de Tua graça maravilhosa, rios manando de Tuas alturas de glória, frutos excelentes na Árvore de Tua Causa divina, árvores movidas pelas brisas de Tua bondade em Tua Vinha celestial. Ó Deus! Faze nossas almas dependerem dos versículos da Tua Divina Unidade, e nossos corações alegrarem-se com os eflúvios de Tua graça, para que nos unamos como as ondas do mesmo mar e sejamos fundidos como os raios de Tua Luz esplendorosa; e assim nossos pensamentos, opiniões e sentimentos tornem-se como uma só realidade, manifestando pelo mundo inteiro o espírito da união. Tu és o Benévolo, o Magnânimo, o Generoso, o Onipotente, o Misericordioso, o Compassivo.


43. Os requisitos primordiais para aqueles que se reúnem em consulta são pureza de motivo, espírito radiante, desprendimento de tudo menos de Deus, atração a Suas Fragrâncias Divinas, humildade e submissão entre Seus bem-amados, paciência e resignação em dificuldades e serviço a Seu excelso Limiar. Se por Sua graça forem auxiliados a adquirir estes atributos, ser-lhes-á concedida a vitória proveniente do Reino invisível de Bahá.


44. Os membros37 devem consultar em conjunto de tal modo a não dar ocasião para ressentimentos ou discórdia. Isto pode ser atingido quando cada membro expressa com absoluta liberdade a própria opinião e expõe suas razões, não se ofendendo caso alguém se opuser, pois só pela ampla consideração dos assuntos poderá ser revelado o caminho certo. A brilhante fagulha da verdade só aparece depois do fragor de opiniões diferentes. Se depois da consulta chegarem a decisão unânime, excelente! mas se - oxalá Deus o proíba! - ainda surgirem diferenças de opinião, a maioria das vozes deverá prevalecer.


45. A primeira condição é absoluto amor e harmonia entre os membros da Assembléia. Eles precisam estar totalmente livres de desavença e devem manifestar em si próprios a Unidade de Deus, pois são as ondas do mesmo mar, as gotas de um só rio, as estrelas de um só céu, os raios do mesmo sol, as árvores de um só pomar, as flores do mesmo jardim. Se não existir harmonia de pensamento e absoluta unidade, essa reunião será dispersada, essa assembléia se reduzirá a nada. A segunda condição: devem, ao reunir-se, volver as faces para o Reino nas alturas e pedir auxílio do Reino de Glória. Devem então prosseguir expressando as opiniões com a maior devoção, cortesia, dignidade, cuidado e moderação. Em todo assunto devem buscar a verdade e não insistir cada qual na própria opinião, pois a obstinação e a persistência no próprio ponto de vista levarão afinal à discórdia e à disputa, e a verdade permanecerá oculta. Os honrados membros devem com toda liberdade expressar os próprios pensamentos, e de modo algum é permissível menosprezar os pensamentos de outrem; antes, devem, com moderação, expor a verdade e, se surgirem diferenças de opinião, a maioria das vozes deverá prevalecer, e todos devem obedecer e submeter-se à maioria. Tampouco é permitido que qualquer dos honrados membros faça objeção a decisão tomada anteriormente, ou a censure, na reunião ou fora dela, ainda que tal decisão não seja certa, pois tal crítica impediria a execução de qualquer decisão. Em suma, tudo o que for decidido em harmonia, e com amor e pureza de motivo, resultará em luz, e se prevalecer o menor traço de dissensão o resultado será treva sobre treva... Se isso for assim levado em consideração, essa assembléia será de Deus, mas, de outro modo, levará à frieza e alienação, as quais procedem do Ente Mau. ... Se se esforçarem por cumprir essas condições, a Graça do Espírito Santo ser-lhes-á concedida, essa Assembléia se tornará o centro das bênçãos divinas, as hostes da confirmação divina haverão de vir em seu auxílio e, dia a dia, receberão nova efusão do Espírito.


46. Ó vós que sois firmes no Convênio! 'Abdu'l-Bahá mantém constante comunicação ideal com toda Assembléia Espiritual que é instituída através da graça divina e cujos membros se volvem, com máxima devoção, ao Reino divino e que sejam firmes no Convênio. Ele está de todo coração ligado a eles, e com eles está unido por laços sempiternos. Assim, a correspondência com essa reunião é sincera, constante e ininterrupta.
A todo instante peço por vós ajuda, dádivas, e novo favor e benção, para que as confirmações de Bahá'u'lláh, do mesmo modo que o mar, estejam constantemente em movimento, e as luzes do Sol da Verdade brilhem sobre todos vós; a fim de que sejais confirmados no servir e vos torneis as manifestações da bondade; para que, ao alvorecer, cada um de vós se volva para a Terra Santa e, com toda a intensidade, sinta emoções espirituais.


47. Ó vós, verdadeiros amigos! Vossa carta foi recebida e trouxe grande alegria. Louvado seja Deus, haveis preparado uma recepção e estabelecestes a festa a ser comemorada a cada dezenove dias. Toda reunião que é preparada com extremo amor, e na qual os presentes volvem as faces para o Reino de Deus, e onde a conversa é sobre os Ensinamentos de Deus, e cujo efeito é o progresso dos participantes - essa reunião é do Senhor, e essa mesa festiva desceu do céu.
É minha esperança que a festa seja realizada uma vez cada dezenove dias, pois ela vos une mais estreitamente - é o verdadeiro manancial da unidade e da benevolência.
Percebeis quanto o mundo está, continuamente, em tumulto e conflito, e a conjuntura à qual as nações agora chegaram. Quiçá aqueles devotados a Deus possam erguer a bandeira da unidade humana, de modo que o tabernáculo unicolor do Reino do Céu possa estender sua sombra protetora sobre toda a Terra; para que os desentendimentos entre os povos do mundo se desvaneçam; para que todas as nações se associem umas às outras, tratando-se mutuamente como seres apaixonados.
É vosso dever ser extremamente bondosos com todos os seres humanos, e desejar-lhes o bem; deveis trabalhar pela elevação da sociedade, insuflar nos mortos o alento da vida, agir de acordo com as instruções de Bahá'u'lláh e seguir Seu caminho - até que transformeis o mundo do homem no mundo de Deus.


48. Ó vós, servos leais da Beleza Antiga! Em cada ciclo e era, as festividades têm sido aprovadas e amadas, e o ato de servir a mesa para os que amam a Deus tem sido considerado louvável. Isso é especialmente verdade hoje, nesta dispensação incomparável, nesta mais generosa era, na qual as festividades são vivamente aclamadas, pois realmente são incluídas entre as reuniões realizadas com o fim de adorar e glorificar a Deus. Nelas são entoados os sagrados versículos, as odes e os louvores celestiais, e o coração é revivificado e arrebatado para longe de si mesmo.
A intenção fundamental é despertar essas vibrações do espírito, porém, é muito natural que, simultaneamente, os participantes compartilhem alimento, de modo que o mundo do corpo possa espelhar o do espírito, e a carne adquirir as qualidades da alma; e assim como os deleites espirituais estão disponíveis em abundância, assim também estejam os deleites materiais.
Felizes sois, por estardes observando este preceito, com todos os seus sentidos místicos que tem, assim mantendo vigilantes e atentos os amigos de Deus, e trazendo-lhes paz de espírito e contentamento.


49. Tua carta foi recebida. Escreveste a respeito da festividade de Dezenove Dias e isso alegrou-me o coração. Essas reuniões fazem a mesa divina descer do céu, e atraem as confirmações do Todo-Misericordioso. Minha esperança é que os sopros do Espírito Santo estejam sobre elas e que cada um dos presentes - com língua eloqüente e coração a transbordar de amor a Deus - ponha-se a louvar em grandes assembléias o nascer do Sol da Verdade, a aurora daquele Sol que ilumina o mundo inteiro.


50. Perguntaste sobre a festa em cada mês bahá'í. Realiza-se essa festa a fim de promover camaradagem e amor, para se lembrar de Deus e a ele suplicar com corações contritos, e para encorajar atividades benevolentes.
Isto é, os amigos devem nesta ocasião concentrar os pensamentos em Deus e glorificá-Lo, ler as orações e os sagrados versículos, e tratar uns aos outros com o maior afeto e amor.


51. Quanto à Festa de Dezenove Dias: ela é causa de regozijo para a mente e o coração. Se essa festa for comemorada de modo apropriado, os amigos, uma vez em cada dezenove dias, ver-se-ão restaurados espiritualmente e imbuídos de poder que não é deste mundo.


52. Ó servo do Deus Uno e Verdadeiro! Louvado seja o Senhor! Ó bem-amados de Deus, podem ser encontrados em todas as terras e estão todos, sem exceção, abrigados à sombra da árvore da Vida e sob a proteção de Sua Divina Providência. Seu cuidado e Sua benevolência movem-se como as eternas ondas do mar, e Suas bençãos manam continuamente de Seu Reino sempiterno.
Deveríamos suplicar que Suas bençãos sejam concedidas em abundância ainda maior, e segurar-nos àqueles meios que hão de garantir mais copiosas efusões de Sua graça e mais plena medida de Seu auxílio divino.
Entre tais meios, um dos maiores é o espírito de verdadeira fraternidade e amorosa comunhão entre os amigos. Recordai o ditado: "De todas as peregrinações, a maior é aliviar o coração entristecido".


53. Verdadeiramente, 'Abdu'l-Bahá inala a fragrância do amor de Deus de cada local de encontro onde é pronunciada a Palavra de Deus, e no qual se expõem provas e argumentos cujos raios iluminam o mundo, e onde são narradas as tribulações de 'Abdu'l-Bahá nas mãos malévolas dos que violaram o Convênio de Deus.
Ó serva do Senhor! Não pronuncies palavra alguma sobre política; tua tarefa diz respeito à vida da alma, pois é o que conduz verdadeiramente à felicidade do homem no mundo de Deus. A não ser que seja para elogiá-los, não faças menção alguma dos reis e dos governos mundanos da Terra. Em vez disso, restringe as palavras à difusão das jubilosas novas do Reino de Deus, e à demonstração da influência da Palavra de Deus, e da santidade da Causa de Deus. Fala tu da felicidade infindável, de deleites espirituais e qualidades divinas, e de como o Sol da Verdade ergueu-Se acima dos horizontes da Terra - fala do sopro do espírito da vida no corpo do mundo.


54. Escrevestes a respeito das reuniões dos amigos e de quão plenas estão de paz e contentamento. É natural que assim seja, pois onde quer que se reúnam aqueles dotados de pensamento espiritual, ali reina, em Sua beleza, Bahá'u'lláh. Portanto é indubitável que tais reuniões produzirão ilimitada felicidade e paz.
Hoje, a todos convém abster-se da menção de tudo o mais; convém desdenhar todas as coisas. Que as palavras e o estado interior de todos resumam-se a isso: "Faze todas as minhas palavras de súplica e de louvor limitarem-se a um só refrão; faze de toda a minha vida apenas servitude a Ti." Ou seja, que concentrem todos os pensamentos, todas as palavras, no ensino da Causa de Deus e na difusão da Fé de Deus, e no inspirar a todos para se distinguirem com as características de Deus; no amar a humanidade; no serem puros e santos em todas as coisas, e imaculados quer na vida pública, quer na particular; no serem íntegros e desprendidos, e ferverosos, e ardorosos. Tudo deve ser abandonado, exceto apenas a lembrança de Deus; tudo há de ser desaprovado, menos Seu louvor. Hoje o mundo há de vibrar e dançar por esta melodia da Companhia no alto: "Glória a meu Senhor, o Todo-Glorioso!" Apenas sabei isto: a não ser esta canção de Deus, canção alguma comoverá o mundo, e a não ser esta melodia do rouxinol da verdade, proveniente do Jardim de Deus, nenhuma melodia seduzirá o coração. "Donde vem esse Cantor que pronuncia o nome do Bem-Amado?"


55. Convém aos amigos realizarem uma reunião, um encontro, onde hão de glorificar a Deus e nEle fixar os corações; onde deverão ler e recitar as Escrituras Sagradas da Abençoada Beleza - seja minh'alma o resgate daqueles que O amam! As luzes do Reino Todo-Glorioso, os raios do Horizonte Supremo, serão lançados sobre essas assembléias radiantes, pois não são senão os Mashriqu'l-Adhkárs, os Pontos Onde Alvorece a Lembrança de Deus, os quais devem, conforme ordena a Mais Excelsa Pena, ser estabelecidos em cada aldeia e cidade... Tais reuniões espirituais devem ser realizadas com a maior pureza e consagração, de modo que do próprio sítio, da terra e do ar ao redor, possam inalar-se os fragrantes sopros do Espírito Santo.


56. Sempre que um grupo de pessoas se reunir em determinado local, ocupadas da glorificação de Deus e conversar sobre os mistérios de Deus, sem a menor dúvida os sopros do Espírito Santo manarão suavemente sobre elas, e cada uma há de receber disso um quinhão.


57. Soubemos que tens a intenção de embelezar tua casa de tempos em tempos com uma reunião de bahá'ís, na qual alguns se ocuparão em glorificar o Senhor Todo-Glorioso... Sabe que, em o realizando, essa casa terrenal tornar-se-á uma casa do céu, e essa construção de pedra, uma congregação do espírito.


58. Inquiriste a respeito dos locais de adoração e da razão subjacente a eles. A sabedoria que jaz no construir-se tais edifícios é que em dada hora o povo saberia que é tempo de reunir-se, e assim todos se congregariam, e com perfeita harmonia entre si devotar-se-iam à oração; como resultado de tal reunião a unidade e o afeto haverão de crescer e florescer no coração humano.


59. 'Abdu'l-Bahá por muito tempo nutriu o desejo de que um Mashriqu'l-Adhkár fosse erigido nessa região. Louvado seja Deus! graças aos árduos esforços dos amigos, anunciou-se recentemente a jubilosa notícia desse feito. Esse serviço é sumamente aceitável no Limiar de Deus, pois o Mashriqu'l-Adhkár inspira aos amantes de Deus e alegra-lhes o coração, e faz com que sejam constantes e firmes.
Este é assunto da máxima importância. Se a construção da Casa de Adoração num lugar público vier a incitar a hostilidade dos malfeitores, então, em todas as localidades, a reunião deve realizar-se em lugar secreto. Até mesmo nas aldeias deve ser reservado local para o Mashriqu'l-Adhkár, nem que seja subterrâneo.
Agora, pois, louvado seja Deus! fostes bem sucedidos nisso. Consagrai-vos à lembrança de Deus ao alvorecer; levantai-vos para louvá-Lo e glorificá-Lo. Bem-aventurados sois, júbilo é vosso, ó justos! pois haveis erigido o Ponto do Alvorecer dos Louvores de Deus. Verdadeiramente imploro ao Senhor que vos faça estandartes de salvação e bandeiras de redenção, tremulando alto acima dos vales e colinas.


60. Embora aparentemente o Mashriqu'l-Adhkár seja uma estrutura material, ele tem, no entanto, efeito espiritual. Forja elos de unidade entre os corações; é centro coletivo para as almas dos homens. Em toda cidade na qual um templo foi erguido nos dias do Manifestante, ali se estabeleceu segurança, paz e constância, pois essas estruturas foram dedicadas à perpétua glorificação de Deus, e só na comemoração de Deus pode o coração achar tranqüilidade. Deus Benévolo! O edifício da Casa de Adoração tem influência poderosa sobre cada fase da vida. A experiência, no Oriente, tem demonstrado claramente ser isso um fato. Mesmo numa pequena aldeia, se uma casa fosse designada para ser o Mashriqu'l-Adhkár, isso produziria efeito notável; quão maior seria o impacto de uma construção especialmente erigida.


61. Ó Senhor, ó Tu que abençoas todos os que se mantêm firmes no Convênio, e lhes possibilitas, em virtude de seu amor pela Luz do Mundo, despenderem o que possuem como oferta ao Mashriqu'l-Adhkár - o alvorecer de Teus raios amplamente difundidos e o proclamador de Tuas evidências - ajuda Tu, tanto neste mundo como no vindouro, esses seres justos, íntegros e pios a aproximarem-se cada vez mais de Teu sagrado Limiar, e torna luminosas suas faces com Teus esplendores deslumbrantes.
Verdadeiramente, Tu és o Generoso, O Que sempre dispensa dádivas.


62. Ó minha bem-amada filha do Reino! A carta que havias escrito ao Dr. Esslemont foi enviada por ele à Terra do Desejo [a Terra Santa]. Li-a inteiramente com a maior atenção. Fui, por um lado, profundamente comovido porque cortaste tuas belas madeixas com a tesoura do desprendimento deste mundo e da abnegação na vereda do Reino de Deus. E, por outro lado, fiquei muitíssimo satisfeito por haver essa bem-amada filha mostrado tão grande espírito de sacrifício a ponto de oferecer parte tão preciosa de seu corpo no caminho da Causa de Deus. Se tivesses pedido minha opinião, de modo algum teria eu consentido que cortasses nem um fio sequer de teu lindo cabelo ondulado; não, ao contrário, eu mesmo teria contribuído em teu nome para o Mashriqu'l-Adhkár. Essa tua ação é, entretanto, eloqüente testemunho de teu nobre espírito de auto-sacrifício. Ofereceste, em verdade, tua vida, e grandes serão os resultados espirituais que haverás de obter. Tem confiança de que dia a dia haverás de progredir e crescer em firmeza e constância. As dádivas de Bahá'u'lláh circundar-te-ão e as jubilosas novas do alto a ti serão freqüentemente anunciadas. E embora tenha sido o cabelo que sacrificaste, ver-te-ás, no entanto, plena do Espírito; se bem que tenha sido essa parte perecível do corpo que ofereceste no caminho de Deus, encontrarás, entretanto, a Dádiva Divina, contemplarás a Beleza Celestial, obterás imperecível glória e atingirás a vida eterna.


63. O vós almas abençoadas38! A carta que havieis escrito a Rahmatu'lláh foi lida. Muitas e variadas foram as notícias alegres que trouxe, ou seja, que através do poder da fé e da firmeza no Convênio numerosas reuniões têm sido realizadas e que os bem-amados estão em movimento e ativos em toda parte.
Sempre tem sido o ardente desejo de 'Abdu'l-Bahá que o solo desse lugar sagrado - o qual nos primeiros dias da Causa foi refrescado e tornado verdejante com as chuvas primaveris da graça - possa de tal forma brotar e florescer que torne pleno de júbilo cada coração.
Louvado seja o Senhor! a Causa de Deus tem sido proclamada e promovida por todo o Oriente e Ocidente de tal maneira que nenhuma mente jamais teria concebido quão rapidamente as doces fragrâncias do Senhor viriam a perfumar todas as regiões. Em verdade, isso é devido exclusivamente aos consumados favores da Beleza sempre abençoada, cuja graça e poder triunfante são continuamente recebidos em profusão.
Um dos maravilhosos eventos que ocorreram recentemente é este: o edifício do Mashriqu'l-Adhkár está sendo erigido bem no coração do continente americano, e inúmeras almas das regiões circunvizinhas estão contribuindo para a construção desse sagrado Templo. Entre eles há uma senhora profundamente estimada, de Manchester, que se sentiu movida a oferecer sua parcela.
Como não possuísse riquezas ou bens terrenos, ela, com as próprias mãos, cortou os belos, longos e preciosos cabelos que tão graciosamente adornavam-lhe a cabeça, e colocou-os à venda, para que a importância assim obtida promovesse a causa do Mashriqu'l-Adhkár.
Considerai: apesar de que aos olhos das mulheres nada é mais apreciado do que cabelos abundantes e belos, a despeito disso, aquela senhora sumamente digna mostrou tão raro e encantador espírito de auto-sacrifício.
E apesar de ter sido ato inesperado, e de que 'Abdu'l-Bahá jamais teria consentido em permitir, contudo, como isso revela tão elevado e nobre espírito de devoção, Ele ficou profundamente comovido pelo gesto. Não obstante ser o cabelo tão precioso aos olhos das mulheres ocidentais - mais valioso que a própria vida! - ela, assim mesmo, sacrificou-o por causa do Mashriqu'l-Adhkár!
Conta-se que certa vez, nos dias do Apóstolo de Deus39, Ele expressou o desejo de que o exército avançasse em certa direção, e permissão foi concedida aos fiéis para angariar contribuições para a guerra santa. Em meio a tantos, houve um homem que doou mil camelos, cada qual carregado de milho, e outro que ofertou metade de seus bens, e ainda outro que ofereceu tudo o que tinha. Porém, uma mulher, combalida pela idade, cuja única possessão era um punhado de tâmaras, veio ao Apóstolo e colocou a Seus pés a humilde contribuição. Logo a seguir o Profeta de Deus - que Lhe seja oferecida como sacrifício minha vida - ordenou que essa mancheia de tâmaras fosse colocada bem acima de todas as contribuições que tinham sido recolhidas, dessa forma estabelecendo o mérito e a superioridade delas em relação a tudo o mais. Assim foi feito porque a mulher idosa nenhuma outra possessão terrena tinha, senão aquela.
E, da mesma maneira, esta estimada senhora nada tinha para contribuir senão suas preciosas madeixas, e ela sacrificou-as gloriosamente pela causa do Mashriqu'l-Adhkár.
Ponderai e refleti: quão grande e potente tornou-se a Causa de Deus! Uma senhora do Ocidente ofertou seu cabelo pela glória do Mashriqu'l-Adhkár.
Não! isso é apenas lição para os que percebem.
Em conclusão - estou extremamente satisfeito com os bem-amados em Najáf-Ábád, pois desde o primeiro alvorecer da Causa até o dia de hoje todos eles, sem exceção, têm demonstrado sob todas as condições grande espírito de auto-sacrifício.
Zaynu'l-Muqarrabín durante sua vida inteira orou - com toda a sinceridade de sua alma imaculada - pelos crentes de Najaf-Ábád, implorando por eles a graça de Deus e Sua confirmação divina.
Louvado seja o Senhor por terem sido atendidas as orações dessa alma benévola, pois os efeitos delas estão em toda parte manifestos.


64. O Mashriqu'l-Adhkár é das mais vitais instituições do mundo, e tem muitas ramificações suplementares. Embora seja uma Casa de Adoração, está também ligado a um hospital, um dispensário de medicamentos, uma pousada para viajantes, uma escola para órfãos e uma universidade para estudos avançados. Cada Mashriqu'l-Adhkár está ligado a essas cinco coisas. É minha esperança que agora o Mashriqu'l-Adhkár seja estabelecido na América, e que gradualmente a ele sejam acrescidos o hospital, a escola, a universidade, o dispensário e a hospedaria, todos funcionando conforme os mais eficientes e metódicos procedimentos. Torna estes assuntos conhecidos aos bem-amados do Senhor, para que venham a saber quão mui grande é a importância desse "Ponto do Alvorecer da Recordação de Deus". O Templo não é apenas lugar para a adoração, antes, é em todos os sentidos completo e perfeito.
Ó tu, querida serva de Deus! Se pudesses apenas saber quão elevado é o grau destinado àquelas almas desprendidas do mundo, e poderosamente atraídas à Fé, e que se ocupam com o ensino, à sombra protetora de Bahá'u'lláh! Como exultarias! Com regozijo e êxtase estenderias tuas asas e voarias em direção ao céu por seguires este caminho e estares viajando para Reino como este.
Quanto à terminologia que usei em minha carta, ordenando que te consagrasses ao serviço da Causa de Deus, o significado é este: limita os pensamentos ao ensino da Fé. Age dia e noite de acordo com os ensinamentos, os conselhos e as admoestações de Bahá'u'lláh. Isso não impede o matrimônio. Podes casar e ao mesmo tempo servir a Causa de Deus; uma coisa não impede a outra. Conhece tu o valor destes dias; não deixes que te escape esta oportunidade. Implora a Deus que faça de ti uma vela acesa, de modo que possas guiar grande multidão nesse mundo tenebroso.


65. Ó tu, estimada serva do Reino Celestial! Tua carta foi recebida. Ela falava de elevadas aspirações e nobres objetivos; dizia que tencionas empreender viagem ao extremo Oriente e que estás pronta para suportar hostis adversidades a fim de guiar as almas e difundir em toda parte as boas novas do Reino de Deus. Esse teu propósito, querida serva de Deus, indica que nutres a mais nobre de todas as aspirações.
Ao transmitires as boas novas, exclama: o Prometido de todos os povos do mundo tornou-Se agora manifesto. Pois todos os povos, sem exceção, e todas as religiões, esperam um Prometido, e Bahá'u'lláh é Aquele esperado por todos; por essa razão a Causa de Bahá'u'lláh há de causar a unidade do gênero humano, e o tabernáculo da unidade erguer-se-á nos cimos do mundo, e as bandeiras da universalidade de toda a espécie humana desfraldar-se-ão nos cumes da Terra. Quando realmente te puseres a falar a fim de transmitir esta extraordinária boa nova, isso se tornará o instrumento para o ensino do povo.
A viagem que planejas fazer, entretanto, é para terra longínqua e, a menos que um grupo de pessoas esteja disponível, as boas novas não terão muito efeito naquele local. Caso consideres melhor, viaja em vez disso à Pérsia e, no caminho de volta, passa pelo Japão e pela China. Isto parece ser muito melhor e bem mais aprazível. Em todo caso, faze o que parecer viável, e será aprovado.


66. Ó tu que buscaste iluminação da luz que guia! Rende louvores a Deus por te haver Ele dirigido à luz da verdade e te convidado para entrar no Reino de Abhá. Tua vista foi iluminada e teu coração transformou-se num jardim de rosas. Oro por ti: que possas crescer sempre em fé e convicção, brilhar como tocha em todas as reuniões e irradiar sobre elas a luz da guia.
Sempre que uma assembléia iluminada dos amigos de Deus se reúne, 'Abdu'l-Bahá está presente em espírito e alma, embora Seu corpo esteja ausente. Estou constantemente viajando em direção à América e, seguramente, associo-me aos amigos iluminados e espirituais. A distância é aniquilada, e não impede a estreita e íntima associação de duas almas cujos corações estão estreitamente unidos, ainda que estejam em dois países diferentes. Portanto, sou-te amigo íntimo, em concórdia e harmonia com tua alma.


67. Ó tu, dama do Reino! Tua carta enviada de Nova Iorque foi recebida. Seu conteúdo trouxe júbilo e alegria, pois indicava que decidiste, com resolução firme e intenção pura, viajar para Paris a fim de acender o fogo do amor de Deus naquela cidade silenciosa e, em meio àquela escuridão da natureza, brilhar como vela resplandecente. Essa viagem é sumamente louvável e apropriada. Ao chegar em Paris, deverás esforçar-te - não importa quão pequeno seja o número dos amigos - para que seja instituída a assembléia do Convênio, e que as almas sejam vivificadas através do poder do Convênio.
A cidade de Paris encontra-se em estado de desalento extremo e de torpor, não se tendo até agora inflamado, embora a nação francesa seja ativa e vivaz. O mundo da natureza, porém, estendeu seu pavilhão completamente sobre Paris e eliminou os sentimentos religiosos. No entanto, este poder do Convênio, aquecerá toda alma gélida, conferirá luz a tudo o que está nas trevas, e assegurará àquele cativo na mão da natureza a verdadeira liberdade do Reino.
Agora levanta-te em Paris com o poder do Reino, com confirmação divina, com genuíno ardor e zelo e com a chama do amor de Deus. Deverás rugir como leão, e mostrar tal amor e êxtase entre essas poucas almas, que o louvor e a glorificação do Reino divino incessantemente venham a ti, e poderosas confirmações desçam sobre ti. Sê confiante. Se agires dessa maneira, e içares o estandarte do Convênio, Paris haverá de arder em chamas. Busca sempre as confirmações de Bahá'u'lláh e a elas te segura, pois transformam a gota em mar e convertem o mosquito em águia.


68. Ó vós que sois firmes no Convênio e no Testamento! Vossa carta foi recebida e vossos abençoados nomes foram lidos com atenção, um por um. O teor da carta era inspirações divinas e graças manifestas, pois falava da união dos amigos e da harmonia de todos os corações.
Hoje, o mais notável favor de Deus concentra-se na união e na harmonia entre os amigos; de modo que tal unidade e concórdia possam ser a causa da promulgação da unicidade do mundo humano, possam libertar o mundo da escuridão intensa da inimizade e do rancor, e assim o Sol da Verdade possa brilhar com plena e perfeita fulgência.
Hoje todos os povos do mundo entregam-se a objetivos egoístas e envidam tremendo esforço e empenho para promover seus próprios interesses materiais. Adoram a si próprios e não à Realidade Divina, nem ao mundo humano. Diligentemente buscam seu próprio benefício, e não o bem-estar de todos. Isso ocorre porque estão cativos no mundo da natureza e inconscientes dos ensinamentos divinos, das bênçãos do Reino, e do Sol da Verdade. Vós, porém, louvado seja Deus, sois agora especialmente favorecidos com essa graça, viestes a ser contados entre os eleitos, fostes informados das instruções celestiais, obtivestes acesso ao Reino de Deus, tornaste-vos agraciados com incontáveis bençãos, e fostes batizados com a água da Vida, com o fogo do amor de Deus e com o Espírito Santo.
Esforçai-vos, pois, de coração e alma, a fim de vos tornardes velas acesas na comunidade do mundo, estrelas cintilantes no horizonte da Verdade, e possais ser a causa da difusão da luz do Reino; para que o mundo humano possa ser transformado num reino divino, o mundo inferior possa vir a ser o mundo das alturas, o amor de Deus e a misericórdia do Senhor possam erguer seu dossel sobre o ápice do mundo, as almas humanas possam tornar-se ondas do oceano da verdade, o mundo da humanidade possa vir a ser uma só árvore abençoada, os versículos da unidade sejam entoados e as melodias da santidade alcancem a Assembléia Suprema.
Dia e noite imploro e suplico ao Reino de Deus, pedindo para vós infinito auxílio e confirmação. Não considereis vossas próprias aptidões e capacidades, mas sim fixai vosso olhar na consumada graça, na dádiva divina e no poder do Espírito Santo - poder esse que transforma a gota em mar e estrela em sol.
Louvores a Deus, as hostes da Assembléia Suprema asseguram a vitória, e o poder do Reino está pronto para auxiliar e sustentar. Ainda que a todo instante vos ocupasseis em render graças, em expressar gratidão, não vos poderíeis eximir da obrigação de agradecer por essas dádivas.
Considerai: personagens eminentes, cuja fama difundiu-se pelo mundo inteiro, em breve hão de esvaecer-se completamente devido à sua privação dessa bênção celestial; nem nome nem fama deixarão eles atrás de si - nenhum fruto ou sinal haverá de sobreviver-lhes. Vós, entretanto, por terem as fulgências do Sol da Verdade sobre vós despontado, e porque atingistes a vida eterna, havereis de reluzir e brilhar do horizonte da existência para todo o sempre.
Pedro era pescador e Maria Madalena, camponesa, mas porque foram especialmente favorecidos com as bençãos de Cristo, o horizonte de sua fé iluminou-se, e até hoje reluzem do horizonte da glória imperecível. Nesse grau, não devem ser considerados o mérito e a capacidade, mas sim os resplendentes raios do Sol da Verdade, os quais iluminaram esses espelhos, é que devem ser tidos em conta.
Vós me estais a convidar para a América. Também desejo contemplar essas faces iluminadas, e conversar, e me associar com esses verdadeiros amigos. Porém, o poder magnético que me atrairá a essas plagas é a união e a harmonia entre os amigos, é sua conduta de acordo com os ensinamentos de Deus, é a firmeza de todos no Convênio e no Testamento.

Ó Divina Providência! Essa congregação é formada por Teus amigos, atraídos à Tua beleza e inflamados com o fogo de Teu amor. Transforma essas almas em anjos celestiais, ressuscita-as através dos sopros de Teu Espírito Santo, concede-lhes línguas eloqüentes e corações resolutos, dota-as de poder celestial e de suscetibilidades misericordiosas, faze com que sejam promotoras da unidade do gênero humano e a causa de amor e concórdia no mundo humano, para que assim as perigosas trevas do preconceito ignorante desvaneçam-se ante a luz do Sol da Verdade, e este mundo sombrio se ilumine, e este reino material possa absorver os raios do mundo do espírito, e essas cores diferentes possam fundir-se numa só cor, e a melodia do louvor possa elevar-se ao Reino de Tua santidade.
Verdadeiramente és o Onipotente, o Todo-Poderoso!


69. Escreveste a respeito de organização. Os ensinamentos divinos e as advertências e exortações de Bahá'u'lláh são plenamente evidentes. Eles constituem a organização do Reino, e sua observância é obrigatória. O menor desvio para longe deles é erro absoluto.
Escreveste sobre minha viagem à América. Se pudesses ver como as ondas da constante ocupação encapelam-se, saberias que absolutamente não dispomos de tempo para viajar; em épocas de residências fixa até o descanso parcial é impossível. Se for a Vontade de Deus, através das graças de Bahá'u'lláh, acredito que me decida por viajar logo que surjam os meios para a tranqüilidade do coração e da mente. Informar-te-ei a esse respeito.


70. Ó tu que és como vela radiante! Tua carta foi recebida. Seu conteúdo trouxe-nos felicidade espiritual, pois estava impregnado de sentimentos espirituais, indicava que teu coração está atraído e demonstrava teu apego ao Reino de Deus e teu amor por Seus ensinamentos sagrados.
Verdadeiramente, tens demonstrado grande empenho; tens propósito puro e santificado; nada desejas, salvo o beneplácito de Deus; nada buscas, senão a conquista de bênçãos ilimitadas; e te ocupas na divulgação dos ensinamentos divinos e no esclarecimento de abstrusas questões metafísicas. É minha esperança que, através do favor de Bahá'u'lláh, tu e tua respeitada esposa possais dia a dia aumentar vossa firmeza e constância, a fim de vos tornardes dois estandartes altaneiros e duas luzes resplandecentes em vossa augusta pátria.
Extensas viagens, em outubro, para o Norte, o Sul, o Leste e o Oeste, na companhia dessa vela do amor de Deus, a Sra. Maxwell, seriam sumamente bem-vindas. É minha esperança que ela recupere completamente a saúde. Essa bem-amada serva de Deus é como chama de fogo; dia e noite em nada pensa a não ser no serviço a Deus. Por agora, viajai através de todos os estados do Norte e, no inverno, apressai-vos para os estados do Sul40. Vosso serviço deve dar-se através de palestras eloqüentes apresentadas em reuniões nas quais podeis propagar os ensinamentos divinos. Se for possível, empreendei eventualmente uma viagem às ilhas do Havaí.
Os eventos que transcorreram foram todos mencionados há cinqüenta anos nas Epístolas de Bahá'u'lláh - Epístolas que têm sido impressas, publicadas e difundidas por todo o mundo. Os ensinamentos de Bahá'u'lláh são a luz desta era e o espírito deste século. Deveis expor cada um deles em todas as reuniões.
O primeiro é a investigação da verdade.
O segundo, a unidade do gênero humano.
O terceiro, a paz universal.
O quarto, harmonia entre a ciência e a revelação divina.
O quinto, a eliminação dos preconceitos de raça e de religião, os preconceitos mundanos e políticos - preconceitos esses que destroem o alicerce da humanidade.
O sexto é retidão e justiça.
O sétimo, o aprimoramento da moral e a educação celestial.
O oitavo, a igualdade dos dois sexos.
O nono, a difusão do conhecimento e da educação.
O décimo, as questões econômicas.
E assim por diante. Esforçai-vos para que as almas atinjam a luz da guia e segurem-se à orla de Bahá'u'lláh.
A carta que mandaste anexa foi lida. Quando a alma do homem se espiritualiza e purifica, elos espirituais são estabelecidos, e tais laços produzem sensações que o coração percebe. O coração humano assemelha-se a um espelho. Quando o espelho é purificado, os corações humanos harmonizam-se e refletem um ao outro, e assim emoções espirituais são geradas. É como o mundo dos sonhos, quando o homem está desprendido das coisas tangíveis e experimenta as espirituais. Que leis espantosas operam e que notáveis descobertas são feitas! E até pode ser que comunicações detalhadas venham a ocorrer...
Finalmente, espero que em Chicago os amigos se tornem unidos e que possam iluminar essa cidade, pois ali despontou a aurora da Causa e nisso está sua primazia sobre outras cidades. Ela, portanto, deve ser respeitada; quiçá possa ser, pela vontade de Deus, livrada de todas as aflições espirituais, e venha atingir perfeita saúde e tornar-se um centro do Convênio e Testamento.


71. Ó tu, bem-amada serva de Deus! Tua carta foi recebida e o conteúdo revelou que os amigos, com perfeita vitalidade e energia, estão empenhados na disseminação dos ensinamentos celestiais. Essa notícia despertou alegria e contentamento profundos, pois cada era tem um espírito e o espírito desta era iluminada está nos ensinamentos de Bahá'u'lláh, porque lançam o alicerce da unidade do mundo humano e promovem a fraternidade universal. Baseiam-se na unidade da ciência e da religião e na investigação da verdade. Sustentam o princípio de que a religião deve ser a causa da amizade, união e harmonia entre os homens. Estabelecem a igualdade de ambos os sexos e expõem princípios econômicos para a felicidade dos indivíduos. Eles propagam a educação universal, para que cada alma possa adquirir tanto conhecimento quanto possível. Ab-rogam e eliminam preconceitos religiosos, raciais, políticos, patrióticos, econômicos e quaisquer outros. Esses ensinamentos, que estão disseminados por todas as Epístolas e Códices, são a causa da iluminação e da vida do mundo humano. Deveras, quem quer que os difunda será auxiliado pelo Reino de Deus.
O presidente da República, Dr. Wilson, está realmente servindo o Reino de Deus, pois é incansável e dia e noite se esforça para que os direitos de todos os homens sejam preservados íntegros e seguros, para que as nações pequenas possam viver, assim como as maiores, em paz e conforto à sombra protetora da Retidão e da Justiça. Esse propósito é verdadeiramente elevado. Tenho confiança em que a incomparável Providência auxiliará e confirmará almas como essa sob todas as condições,


72. Ó tu, amigo verdadeiro! Lê, na escola de Deus, as lições do espírito, e do Mestre do amor aprende as mais profundas verdades. Busca os segredos do Céu, e fala da graça e do favor abundantes de Deus.
Embora a aquisição das ciências e das artes seja a maior glória da humanidade, isso só será verdade caso o rio do homem venha a desaguar no poderoso mar, e retire, do antigo manancial de Deus, Sua inspiração. Quando isso acontece, então cada professor é como um oceano sem limites, e cada aluno é fonte pródiga de conhecimento. Portanto, se a busca do conhecimento conduzir à beleza dAquele que é o Objeto de todo o Conhecimento, quão excelente é tal meta; mas se assim não ocorrer, uma mera gota talvez possa excluir o homem da graça transbordante, pois com a erudição vêm a arrogância e o orgulho, e isso leva ao erro e à indiferença para com Deus.
As ciências de hoje são pontes para a realidade; se elas não conduzirem à realidade nada resta senão inútil ilusão. Pelo Deus Uno e Verdadeiro! Se o conhecimento não for meio de acesso a Ele, o Mais Manifesto, então nada é senão perda evidente.
Incumbe-te adquirir os vários ramos do conhecimento e volver a face para a beleza da Manifesta Beleza, a fim de que possas ser sinal de guia salvadora entre os povos do mundo, e centro focal de compreensão nesta esfera da qual são excluídos os sábios e sua sabedoria, exceto aqueles que entram no Reino das luzes e informam-se do mistério velado e oculto, do segredo bem guardado.


73. Ó filha do Reino! Tua carta chegou, e seu conteúdo demonstra que tens dirigido todos os pensamentos à aquisição de luz dos domínios de mistério. Enquanto os pensamentos de uma pessoa estiverem dispersos ela não obterá nenhum resultado, mas se o pensamento for concentrado num só ponto seus frutos serão admiráveis.
Não é possível obter a plena força da luz do sol quando ela é dirigida a um espelho plano, mas se o sol brilhar num espelho côncavo ou em uma lente convexa, todo o calor se concentrará num só ponto, e esse ponto arderá com o maior calor. Assim, é necessário focalizar o pensamento num só ponto para torná-lo força efetiva.
Expressaste o desejo de celebrar o Dia de Ridván com festa na qual os participantes recitassem Epístolas com deleite e júbilo, e me pediste que te enviasse uma carta para ser lida nesse dia. Minha carta é esta:
Ó vós, bem-amados, e vós, servas do Misericordioso! Este é o dia em que o Sol da Verdade ergueu-Se acima do horizonte da vida, e Sua glória difundiu-se, e Seu brilho irradiou-se com tal poder que atravessou a aglomeração de espessas nuvens e galgou os céus do mundo em todo Seu esplendor. Por isso testemunhais novo impulso em todas as coisas criadas.
Vêde como, neste dia, o escopo das ciências e das artes ampliou-se, e que admiráveis avanços técnicos foram conseguidos, e a que alto grau os poderes da mente se ergueram, e quão estupendas as invenções que têm surgido.
Esta era, em verdade, equivale a cem outras eras: se reunirdes os resultados de cem eras e os comparardes com o produto acumulado de nosso tempo, o fruto desta única era provará ser maior do que o de cem eras anteriores. Tomai, por exemplo, a soma total dos livros escritos em épocas passadas e comparai-a com o volume de livros e tratados que nossa era já produziu: os livros escritos apenas durante os nossos dias excedem em número o total dos volumes escritos através dos séculos. Vede como é poderosa a influência exercida pelo Sol do mundo sobre a íntima essência de todas as coisas criadas!
Porém, que lástima! Mil vezes, lástima! Os olhos não enxergam tal fato, os ouvidos são surdos, e corações e mentes estão inconscientes desta graça suprema. Esforçai-vos, pois, de todo coração e alma, por despertardes os adormecidos, e fazerdes os cegos verem, e os mortos ressuscitarem.


74. Ó ave que suavemente canta da Beleza de Abhá! Nesta nova e maravilhosa dispensação os véus da superstição foram rompidos e os preconceitos dos povos orientais são censurados. Entre certas nações do Oriente, a música era considerada condenável, mas nesta nova era a Luz Manifesta proclamou especificamente em Suas sagradas Epístolas que a música, seja cantada, seja tocada, é alimento espiritual para a alma e o coração.
A arte musical está entre as artes dignas do mais alto louvor, e comove o coração de todos os que sofrem. Assim, pois, ó Shahnáz41, toca e canta as sagradas palavras de Deus, em tons maravilhosos, nas reuniões dos amigos, para que o ouvinte possa ser libertado dos grilhões da preocupação e da tristeza, e sua alma vibre de júbilo e se humilhe em oração ao reino da Glória.


75. Esforçai-vos de coração e alma a fim de causar união e harmonia entre os brancos e os negros e assim provar a unidade do mundo bahá'í - onde não há lugar para distinção de cor, onde somente os corações são tidos em conta. Louvado seja Deus! os corações dos amigos estão ligados e unidos, quer sejam eles do leste, quer do oeste, do norte ou do sul; sejam alemães, franceses, japoneses ou americanos; sejam pertencentes à raça branca, à negra, à vermelha, à amarela ou à castanha. Variações de cor, de país e de raça não têm nenhuma importância na Fé Bahá'í; ao contrário, a unidade bahá'í sobrepuja todas elas e elimina todas essas fantasias e imaginações.


76. Ó tu que tens coração iluminado! És assim como a pupila do olho, o verdadeiro manancial da luz, pois o amor de Deus lançou seus raios sobre o âmago de teu ser, e volveste a face para o Reino de teu Senhor.
Intenso é o ódio, na América, entre negros e brancos, mas minha esperança é que o poder do Reino una-os em amizade, servindo-lhes como bálsamo.
Que não olhem para a cor do homem, e sim para o coração. Se o coração estiver cheio de luz, esse homem estará próximo do limiar de seu Senhor; caso contrário, esse homem - branco ou negro - estará desatento de seu Senhor.


77. Ó tu, venerada serva de Deus! Tua carta de Los Angeles foi recebida. Agradece à divina Providência por teres sido ajudada a servir, e por teres sido a causa da promoção da unidade do mundo humano, para que as trevas das diferenças entre os homens possam ser dissipadas, e o pavilhão da unidade das nações estenda sua sombra sobre todas as regiões. Sem essa unidade, são inatingíveis o sossego e o conforto, a paz e a reconciliação universal. Este século iluminado requer tal realização e necessita dela. Em cada século, um tema específico e central é, de acordo com as exigências desse século, confirmado por Deus. Nesta era iluminada, o que Deus sanciona é a unidade do mundo humano. Cada alma que promove essa unidade será, sem a menor dúvida, amparada e confirmada.
Espero que, nas reuniões, possas cantar louvores com doce melodia e assim tornar-te causa de júbilo e alegria para todos.


78. Ó tu que tens coração puro, espírito santificado, caráter incomparável e belo semblante. Tua fotografia foi recebida, e revelou tua forma física na maior beleza e melhor das aparências. Tens o semblante escuro e o caráter iluminado. És semelhante à pupila do olho, que tem cor escura mas é a fonte da luz, e é aquela que revela o mundo contingente.
Não me esqueci de ti, nem me esquecerei. Suplico a Deus para que Ele, benevolamente, de ti faça o sinal de Sua bondade entre o gênero humano, ilumine tua face com a luz daquelas bençãos que são concedidas pelo Senhor Misericordioso, e te eleja para Seu amor nesta era que se destaca entre todas as eras e todos os séculos passados.


79. Ó honrado personagem! Li tua obra The Gospel of Wealth42, e nela encontrei recomendações verdadeiramente apropriadas e judiciosas para o alívio do fardo da humanidade.
Em poucas palavras, os Ensinamentos de Bahá'u'lláh prescrevem a partilha voluntária de bens, e isso é melhor que a equiparação da riqueza. Pois a equiparação precisa ser imposta de fora, enquanto a partilha é questão de livre escolha.
O homem atinge a perfeição através de boas ações que sejam realizadas voluntariamente, e não de boas ações que ele seja forçado a praticar. E o compartilhar é um ato reto de escolha pessoal; ou seja, os ricos deveriam prestar auxílio aos pobres, deveriam despender suas posses com os pobres, mas de sua própria e espontânea vontade, e não porque os pobres tivessem conseguido isso por força. Pois o fruto da força é o tumulto e a ruína da ordem social. Por outro lado, a partilha voluntária, a distribuição dos bens por vontade própria, conduz ao conforto e à paz da sociedade. Isso ilumina o mundo; confere honra à humanidade.
Pude ver os bons resultados de tua própria filantropia na América - em várias universidades, em reuniões pela paz, e em associações culturais - enquanto eu viajava de cidade em cidade. Por isso, oro por ti, para que sejas cercado pelas dádivas e bençãos do céu, e possas realizar muitos atos filantrópicos no Oriente e Ocidente. Assim poderás resplandecer qual círio aceso no Reino de Deus, e atingir honra e vida eterna, e reluzir como estrela fulgorosa no horizonte da eternidade.


80. Ó tu que estás a volver a face para Deus! Tua carta foi recebida. Seu conteúdo deu a saber que é teu desejo assistir aos pobres. Qual desejo melhor que esse? As almas que são do Reino desejam ardentemente dar assistência aos pobres e compartilhar de seus sentimentos, mostrar bondade aos que sofrem e tornar-lhes frutífera a vida. Feliz és tu por teres tal desejo.
Transmite, em meu nome, o maior amor e carinho a teus dois filhos. Suas cartas foram recebidas, mas por falta de tempo, cartas separadas não lhes podem ser escritas no momento. Transmite-lhes, em meu nome, o maior carinho.


81. Quanto às almas que durante a guerra auxiliaram os pobres e engajaram-se no trabalho da Missão da Cruz Vermelha, seus serviços são aceitos no Reino de Deus e são a causa de sua vida eterna. Transmite-lhes estas boas novas.


82. Ó tu que estás firme no Convênio! Tua carta foi recebida. Tens feito grande esforço em prol daquele prisioneiro, quiçá venha mostrar-se frutífero. Não obstante, dize-lhe: "Os habitantes do mundo estão confinados na prisão da natureza - prisão essa que é incessante e eterna. Se estás atualmente confinado dentro dos limites de temporária prisão, não te entristeças por isso. É minha esperança que possas ser libertado da prisão da natureza e que atinjas a corte da vida eterna. Suplica a Deus dia e noite e pede clemência e perdão. A onipotência de Deus haverá de resolver todas as dificuldades."


83. Transmite à tua honrada esposa, em nome de 'Abdu'l-Bahá, minhas saudações de Abhá, e dize: "A bondade mostrada aos presos, e o treino e a educação a eles oferecidos são de extrema importância. Portanto, porque te esforçaste por fazê-lo e despertaste alguns deles - tendo sido a causa de eles dirigirem as faces para o Reino Divino - esse ato louvável é plenamente aprovado. Seguramente deveis perseverar. Aos dois prisioneiros de San Quentin transmite em meu nome o maior carinho, e dize-lhes: "Essa prisão, aos olhos das almas sábias, é escola para o treinamento e o desenvolvimento. Deveis esforçar-vos de coração e alma para adquirirdes fama pelo caráter e pelo conhecimento".


84. Ó tu querida serva de Deus! Tua carta foi recebida e seu conteúdo foi analisado.
O matrimônio, entre a generalidade do povo, é um laço físico, e essa união só pode ser temporária, pois está predestinada à separação física no final.
Entre o povo de Bahá, porém, o casamento deve ser união tanto física quanto espiritual, pois aqui ambos os cônjuges estão extasiados com o mesmo vinho, enamorados pela mesma Face incomparável; ambos vivem através do mesmo espírito, através deles movem, e são iluminados pela mesma glória. Essa relação entre eles é espiritual e, portanto, é laço que permanecerá para todo o sempre. Da mesma forma, no mundo físico, desfrutam de laços fortes e duráveis, pois, se o casamento é baseado tanto no espírito como no corpo, essa é uma união verdadeira e por isso haverá de durar. Entretanto, se o laço for apenas físico, e nada mais, é certo que será só temporário, tão somente, e deverá inexoravelmente terminar em separação.
Portanto, quando o povo de Bahá tenciona casar, a união deve ser uma relação verdadeira, uma aproximação espiritual bem como física, de modo que através de todas as fases da vida, e em todos os mundos de Deus, sua união perdurará; porque essa verdadeira unidade é uma centelha do amor de Deus.
Do mesmo modo, quando as almas amadurecem ao ponto de se tornar verdadeiros crentes, haverão de alcançar uma relação espiritual entre si, e demonstrarão uma ternura que não é deste mundo. Elas, todas elas, hão de ficar exultantes com um sorvo do amor divino, e essa união mútua, essa ligação, também haverá de permanecer para sempre. Ou seja, as almas que esquecem de si próprias, que se despem dos defeitos da humanidade, e se libertam da escravidão humana serão, sem a menor dúvida, iluminadas com os esplendores celestiais da unidade, e atingirão, todas, a verdadeira união no mundo que não fenece.


85. Quanto à pergunta sobre o casamento dentro da Lei de Deus: primeiro deves escolher alguém que te seja agradável, e então o assunto fica sujeito ao consentimento do pai e da mãe. Antes de fazeres a escolha, eles não têm o direito de interferir.


86. O casamento bahá'í é o compromisso recíproco das duas partes, e sua ligação mútua de coração e mente. Cada um deve, porém, exercer o máximo cuidado para familiarizar-se totalmente com o caráter do outro, para que o firme convênio entre eles seja um laço que dure para sempre. Seu propósito deve ser este: tornarem-se amorosos companheiros e camaradas, unidos um ao outro por todo o sempre. ...
O verdadeiro casamento de bahá'ís é este: que o marido e a mulher estejam unidos física e espiritualmente, que sempre melhorem a vida espiritual um do outro, e que desfrutem de unidade sempiterna em todos os mundos de Deus. É este o casamento bahá'í.


87. Ó tu, recordação daquele que morreu pela Abençoada Beleza! Há pouco tempo, a jubilosa notícia de teu casamento com aquela folha luminosa foi recebida, e trouxe infinita alegria aos corações do povo de Deus. Preces de súplica foram oferecidas, com toda a humildade, junto ao Santo Limiar, a fim de que esse matrimônio seja arauto de júbilo para os amigos, que seja vínculo de amor por toda a eternidade, e produza benefícios e frutos imperecíveis.
Da separação deriva toda espécie de mal e dano, mas a união das coisas criadas produz sempre os mais louváveis resultados. Através da associação - até mesmo entre as mais ínfimas partículas do mundo da existência - a graça e a generosidade de Deus tornam-se manifestas; e quanto mais alto o grau, mais momentosa é a união. "Glória àquele que criou todos os pares: entre as coisas que a terra produz, entre os próprios homens, e entre as coisas além de sua compreensão."43 Acima de todas as outras uniões está aquela entre os seres humanos, especialmente quando se realiza no amor de Deus. Assim se faz aparecer a unidade primária; assim é lançado no espírito o alicerce do amor. É certo que um casamento como o vosso fará com que sejam reveladas as dádivas de Deus. Por isso, transmitimos felicitações aos dois, e suplicamos bençãos para vós; e pedimos da Abençoada Beleza, através de Sua ajuda e favor, que faça dessa festa nupcial uma ocasião de júbilo para todos, e adorne-a com a harmonia do Céu.

Ó meu Senhor, ó meu Senhor! Esses dois orbes brilhantes casam em Teu amor, unidos em serviço a Teu Santo Limiar, ligados no auxílio à Tua Causa. Faze esse casamento ser como luzes radiantes de Tua transbordante graça, ó meu Senhor, Todo-Misericordioso, como luminosos raios de Tuas dádivas, ó tu, o Benéfico, O Que sempre concede, para que dessa grande árvore cresçam ramos que se tornem verdejantes, e floresçam em meio aos favores derramados de Tuas nuvens de graça.
Em verdade, Tu és o Generoso, em verdade és o Onipotente, em verdade és o Compassivo, o Todo-Misericordioso.


88. Ó vós dois, meus amados filhos! A notícia de vossa união, logo que chegou a mim, provocou infinita alegria e gratidão. Louvado seja Deus! essas duas aves fiéis buscaram abrigo em um só ninho. Suplico a Deus que os capacite a criar uma família nobre, pois a importância do casamento está no criar uma família ricamente abençoada, para que, com toda a alegria, possam iluminar o mundo, como velas. Porquanto a iluminação do mundo depende da existência do homem. Se o homem não existisse no mundo, este seria como árvore sem fruto. É minha esperança que ambos vos torneis como uma só árvore e que, através das efusões da nuvem da benevolência, possais adquirir frescor e encanto, florescer e dar frutos, para que vossa linhagem perdure para sempre.
Sobre vós esteja a Glória do Mais Glorioso.


89. Ó tu que és firme no Convênio! A carta que escreveste no dia 2 de maio de 1919 foi recebida. Rende louvores a Deus por seres firme e constante nas provações e por estares fortemente apegado ao Reino de Abhá. Não és abalado por aflição alguma, nem perturbado por nenhuma calamidade. Só quando o homem é provado é que o ouro puro é separado distintamente da escória. O tormento é o fogo da provação no qual o ouro puro brilha com resplendor, e a impureza é queimada e enegrecida. Louvado seja Deus! atualmente estás firme e constante nas provações e tribulações, e por elas não és abalado.
Tua esposa não está em harmonia contigo, mas - mercê de Deus - a Abençoada Beleza está satisfeita contigo e te está concedendo as maiores dádivas e bençãos. Mas esforça-te ainda para teres paciência com tua esposa; talvez ela se transforme e seu coração se ilumine. A contribuição que fizeste para o ensino é sumamente aceitável, e será mencionada eternamente no Reino Divino, pois é causa da difusão de fragrâncias e da exaltação da Palavra de Deus.


90. Ó Deus, meu Deus! Esta Tua serva Te invoca, depositando em Ti a confiança, volvendo a Ti a face, implorando-Te que sobre ela derrames Tuas graças celestiais, que lhe reveles Teus mistérios do espírito, e irradies sobre ela as luzes de Tua Divindade.
Ó meu Senhor! Faze com que os olhos de meu esposo enxerguem. Regozija seu coração com a luz do conhecimento de Ti, atrai sua mente à Tua luminosa beleza, e alegra-lhe o espírito pela revelação de Teus esplendores manifestos.
Ó meu Senhor! Levanta Tu o véu que lhe obstrui a visão. Faze chover sobre ele Tuas abundantes graças, inebria-o com o vinho do amor por Ti; transforma-o num de Teus anjos, cujos pés andam sobre a Terra ao mesmo tempo em que suas almas voam através dos altos céus. Faze com que se torne como lâmpada brilhante, a irradiar a luz de Tua sabedoria em meio a Teu povo.
Verdadeiramente, Tu és o Precioso, O Que sempre concede, o Dadivoso.


91. Ó tu que te curvaste em oração perante o Reino de Deus! Bem-aventurado és, pois a beleza do Semblante Divino extasiou teu coração, e a luz da sabedoria interior inundou-o, e dentro dele brilha o fulgor do Reino. Sabe tu que Deus está contigo sob todas as condições, e que Ele te protege dos acasos e das vicissitudes deste mundo, e fez de ti uma serva em Sua vastíssima vinha...
Quanto a teu honrado esposo: incumbe a ti tratá-lo com grande bondade, levar em conta seus desejos, e ter para com ele uma atitude conciliatória em todos os momentos - até que ele veja que, porque te dirigiste ao Reino de Deus, tua ternura para com ele e teu amor a Deus têm aumentado, bem como tua consideração por seus desejos em todas as circunstâncias.
Imploro ao Todo-Poderoso que te mantenha firmemente dedicada ao Seu amor, e sempre ocupada em difundir os doces sopros de santidade por todas essas regiões.


92. Ó vós dois, crentes em Deus! O Senhor - incomparável é Ele - fez a mulher e o homem para viverem unidos na mais íntima associação, e serem como uma só alma. São dois esteios mútuos, dois amigos íntimos que deveriam atentar para o bem-estar um do outro.
Se desse modo viverem, passarão por este mundo com perfeito contentamento, êxtase, e paz interior, e tornar-se-ão objeto do favor e da graça divina no Reino do céu. Se porém agirem de outro modo, passarão a vida em grande amargura, desejando a todo momento a morte, e ficarão envergonhados no reino celestial.
Esforçai-vos, portanto, de coração e alma, por permanecerdes juntos assim como dois pombos no ninho, pois isso é ser abençoado em ambos os mundos.


93. Ó tu, serva de Deus! Cada mulher que se torna serva de Deus supera em glória às imperatrizes do mundo, porquanto está associada a Deus e sua soberania é imperecível; enquanto um punhado de pó haverá de apagar o nome e a fama daquelas imperatrizes. Em outras palavras, assim que baixarem ao túmulo, estarão reduzidas a nada. As servas do Reino de Deus, por outro lado, desfrutam de soberania eterna, jamais afetada pelo correr das eras e gerações.
Considera: quantas imperatrizes vieram e se foram desde o tempo de Cristo. Cada uma era governante de um país, mas delas não resta agora traço ou nome sequer, enquanto Maria Madalena, que era apenas uma camponesa e serva de Deus, ainda brilha do horizonte da glória infindável. Esforça-te, pois, para continuares a ser uma serva de Deus.
Elogiaste a Convenção. Essa Convenção há de adquirir grande importância no futuro, pois está servindo o Reino Divino e ao mundo humano. Ela promove a paz universal e lança o alicerce da unidade do gênero humano; liberta as almas dos preconceitos religiosos, raciais e mundanos, e as reúne à sombra do pavilhão unicolor de Deus. Rende louvores a Deus, pois, por haveres assistido a uma Convenção como essa e escutado os Ensinamentos divinos.


94. Ó servas da beleza de Abhá! Vossa carta foi recebida, e sua leitura trouxe grande alegria. Louvado seja Deus, as mulheres bahá'ís organizaram reuniões nas quais aprenderão a ensinar a Fé, difundirão as doces fragrâncias dos Ensinamentos, e farão planos para o ensino das crianças.
Essa reunião deve ser completamente espiritual. Isto é, as deliberações devem restringir-se à reunião de prova claras e concludentes de que o Sol da Verdade realmente Se levantou. E, além disso, as participantes deveriam ocupar-se com todos os meios para o treinamento das meninas; com o ensino dos vários ramos do conhecimento, do bom comportamento e do modo de vida adequado; com o cultivo do bom caráter, da castidade, da constância, da perseverança, da fortaleza, da determinação e da firmeza de propósitos; com a administração do lar, a educação das crianças e qualquer coisa que se aplique especialmente às necessidades das meninas a fim de que estas - criadas na cidadela de todas as perfeições, e com a proteção de um belo caráter - quando elas mesmas forem mães, venham a educar seus filhos, desde a primeira infância, de tal maneira que eles adquiram bom caráter e boa conduta.
Que também estudem a respeito de tudo o que promove a saúde do corpo e sua boa condição física, e sobre como proteger seus filhos contra doenças.
Quando as coisas forem bem organizadas dessa maneira, cada criança tornar-se-á planta sem igual nos jardins do Paraíso de Abhá.


95. Ó servas do Senhor! A congregação espiritual que estabelecestes nessa cidade iluminada é extremamente oportuna. Fizestes grandes progressos; excedestes aos demais; levantaste-vos em serviço ao Santo Limiar e obtivestes dádivas celestiais. Agora, com todo zelo espiritual, deveis reunir-vos nessa congregação iluminada, deveis recitar os Escritos Sagrados e ocupar-vos na comemoração do Senhor. Exponde Seus argumentos e Suas provas. Trabalhai pela orientação das mulheres dessa terra, ensinai as mocinhas e as crianças, de forma que as mães possam educar seus pequenos desde a primeira infância, adestrá-los plenamente, incutir-lhes bom caráter e boa moral, guiá-los a todas as virtudes da humanidade, impedir o desenvolvimento de qualquer conduta condenável, e nutri-los no regaço da educação bahá'í. Destarte, essas tenras criancinhas haverão de ser nutridas no seio do conhecimento e do amor de Deus. Desse modo haverão de crescer e florescer, e ser-lhes-ão ensinadas a retidão e a dignidade da espécie humana, a coragem e a vontade para esforçar-se e para resistir. Assim aprenderão a ter perseverança em todas as coisas, a querer progredir, a ter magnanimidade e firme determinação, castidade e pureza na vida. Dessa maneira, serão capacitadas a concluir com êxito qualquer coisa que empreendam.
As mães devem considerar prioritário tudo o que se relacione com a educação de crianças. Devem fazer todo esforço nesse sentido, pois quando o ramo está verde e tenro ele crescerá em qualquer direção na qual o orientardes. Cumpre às mães, portanto, criar seus pequenos do mesmo modo como um jardineiro cultiva as plantas novinhas. Que elas, dia e noite, esforcem-se para inculcar em seus filhos a fé e a certeza, o temor a Deus, o amor ao Bem-Amado dos mundos, e todas as boas qualidades e características. Sempre que a mãe veja o filho proceder bem, deve elogiá-lo e aplaudi-lo, e alegrar-lhe o coração; e se a menor característica indesejável manifestar-se, deveria aconselhar o filho, e puni-lo usando métodos baseados na razão - até mesmo através de leve reprimenda, caso isso seja necessário. Contudo, não é permissível bater numa criança, nem insultá-la, pois o caráter da criança será totalmente deturpado se ela for sujeitada a maus-tratos ou abuso verbal.


96. Ó servas do Misericordioso! Rendei graças à Antiga Beleza porque fostes levantados e reunidos neste mais imponente dos séculos, nesta mais iluminada das eras. A fim de agradecerdes condignamente tal bondade, mantende-vos constantes e firmes no Convênio, e - seguindo os preceitos de Deus e a sagrada Lei - nutri vossas crianças desde a infância com o leite de uma educação universal; desde seus primeiros dias, criai-as de modo a estabelecer firmemente no imo de seus corações, na própria natureza delas, um modo de vida que em todos os aspectos esteja conforme com os Ensinamentos divinos.
Pois as mães são as primeiras educadoras, os primeiros mentores; e verdadeiramente são as mães que determinam a felicidade, a futura grandeza, os modos corteses, a erudição e o discernimento, a compreensão, e a fé de seus pequeninos.


97. Há certos pilares que foram estabelecidos como os inabaláveis sustentáculos da Fé de Deus. O mais poderoso deles é o conhecimento e o uso da mente, a expansão da consciência e a percepção das realidades do universo e dos mistérios ocultos de Deus Onipotente.
Promover o conhecimento é, assim, inescapável dever imposto a cada um dos amigos de Deus. Incumbe a essa Assembléia Espiritual, essa Assembléia de Deus, envidar todo esforço para educar as crianças de modo que, desde a infância, sejam treinadas na conduta bahá'í e nos caminhos de Deus, e, como plantas jovens, cresçam e floresçam nas águas que fluem mansamente: os conselhos e as admoestações da Abençoada Beleza.


98. Se nenhum educador houvesse, todas as almas permaneceriam selvagens, e, não fosse o professor, as crianças seriam criaturas ignorantes.
É por esta razão que, neste novo ciclo, a educação e a instrução estão inscritas no Livro de Deus como sendo obrigatórias, e não como voluntárias. Isto é, ao pai e à mãe impõe-se, como um dever, envidar todos os esforços para dar instrução à filha e ao filho, para nutri-los do seio do conhecimento e criá-los no regaço das ciências e das artes. Se negligenciarem esse assunto, terão de prestar contas, e serão dignos de reprovação na presença do austero Senhor.


99. Escreveste a respeito das crianças: desde o princípio as crianças têm de receber educação divina e ser continuamente lembradas de recordar seu Deus. Deixai que o amor de Deus penetre-lhes no imo do ser, juntamente com o leite materno.


100. É meu desejo que essas crianças recebam a educação bahá'í, para que possam progredir tanto aqui como no Reino, e alegrem teu coração.
No futuro, a moralidade degenerará em grau extremo. É essencial que as crianças sejam educadas na conduta bahá'í, para que possam encontrar felicidade tanto neste mundo como no vindouro. Se assim não for, serão assediadas por tristezas e tribulações, pois a felicidade humana está alicerçada no comportamento espiritual.


101. O vós que tendes paz na alma! Entre os Textos divinos, expostos no Mais Sagrado Livro e também em outras Epístolas, encontra-se isto: incumbe ao pai e à mãe treinar os filhos na boa conduta e no estudo dos livros; estudo esse no grau necessário para que nenhuma criança, menina ou menino, permaneça analfabeta. Se o pai faltar com seu dever, deverá ser obrigado a desincumbir-se de sua responsabilidade. Caso isso não lhe seja possível, caberá à Casa Universal de Justiça cuidar da educação das crianças; em nenhuma circunstância se deve deixar qualquer criança sem alguma educação. Este é um dos mandamentos rigorosos e inevitáveis, cuja inobservância provocaria a furiosa indignação de Deus Onipotente.


102. Ó verdadeiros companheiros! Todos os seres humanos são como crianças numa escola, e os Pontos Onde Alvorece a Luz, as Fontes da Revelação Divina, são os professores, maravilhosos e sem igual. Na escola das realidades, eles educam esses filhos e filhas em conformidade com os ensinamentos de Deus, nutrindo-os do seio da graça, a fim de que se possam desenvolver-se em todos os sentidos, e manifestem as excelentes dádivas e bençãos do Senhor, e reúnam em si as perfeições humanas; para que possam progredir em todos os aspectos da conquista humana - quer exteriores, quer interiores, ocultos ou visíveis, materiais ou espirituais - até transformarem este mundo mortal num grande espelho que reflita aquele outro mundo que não fenece.
Ó vós amigos de Deus! O Sol da Verdade, nesta mais momentosa era, elevou-Se ao mais alto ponto do equinócio vernal e lança Seus raios sobre todas as regiões. Por isso, Ele provocará tão vibrante comoção, liberará tais vibrações no mundo da existência, estimulará tamanho crescimento e desenvolvimento, irradiará com tal glória de luz - e as nuvens da graça derramarão águas tão abundantes, e campos e planícies encher-se-ão com tal universo de plantas e flores de doces aromas - que esta terra humilde se tornará o Reino de Abhá, e este mundo inferior, o mundo do alto. Então esta partícula de pó será como o imenso círculo dos céus; este lugar humano, como a corte palatina de Deus; esta mancha de barro, a aurora dos ilimitadas favores do Senhor dos Senhores.
Portanto, ó bem-amados de Deus! envidai vigoroso esforço até que vós próprios simbolizeis esse progresso e todas essas confirmações, e vos torneis centros focais das bençãos de Deus, auroras da luz de Sua unidade, promotores das dádivas e graças da vida civilizada. Sede nessa terra as vanguardas das perfeições da humanidade; levai avante os vários ramos do conhecimento; sede ativos e progressistas no campo das invenções e das artes. Esforçai-vos por retificar a conduta dos homens, e procurai exceder o mundo inteiro quanto à virtude do caráter. Enquanto as crianças estão ainda na infância, alimentai-as no seio da graça celestial, nutri-as no berço de toda excelência, criai-as nos braços da bondade. Proporcionai-lhes a vantagem de toda a espécie de conhecimento útil. Deixai-as partilhar de cada um dos novos, admiráveis e maravilhosos ofícios e artes. Estimulai-as ao trabalho e ao empenho, e acostumai-as a dificuldades. Ensinai-as a dedicar as vidas para assuntos de grande importância e inspirai-as a empreender estudos que beneficiem a humanidade.


103. A educação e a instrução das crianças está entre os atos mais meritórios da humanidade, e atrai a graça e o favor do Todo-Misericordioso, pois a educação é o indispensável fundamento de toda a excelência humana e permite ao homem ascender às alturas da glória eterna. Se uma criança for treinada desde a infância, ela, através do amoroso cuidado do Santo Jardineiro, sorverá as águas cristalinas do espírito e do conhecimento, assim como árvore jovem em meio a regatos que correm mansamente. Ela, seguramente, atrairá para si os brilhantes raios do Sol da Verdade e, por meio da luz e calor, crescerá sempre viçosa e bela no jardim da vida.
Por esse motivo, o mentor deve ser também médico; isto é, ao instruir a criança, deve remediar-lhe os defeitos; deve dar-lhe conhecimento e, ao mesmo tempo, criá-la de modo que adquira natureza espiritual. Que o professor seja um médico para o caráter da criança, de modo que possa curar os males espirituais dos filhos dos homens.
Se nesta momentosa tarefa for enviado esforço vigoroso, o mundo humano resplandecerá com outros adornos e irradiará a mais bela luz. Então este lugar sombrio tornar-se-á brilhante, e esta morada de terra há de converter-se no Céu. Os próprios demônios, então, se transformarão em anjos; os lobos, em pastores de rebanhos; as matilhas de cães selvagens, em gazelas que pastam nas planícies da unidade; as bestas ferozes, em pacíficos rebanhos; as aves de rapina, com garras afiadas como navalhas, em aves canoras que chilreiam os melodiosos cantos seus.
Pois a realidade íntima do homem é linha de demarcação entre a sombra e a luz, é um lugar onde os dois mares encontram-se44; é o ponto mais baixo do arco de descida45 e, por esse motivo, é capaz de atingir todos os graus superiores. Com educação, pode alcançar toda a excelência; sem educação, estagnará no ponto mais baixo da imperfeição.
Toda criança é potencialmente a luz do mundo e - ao mesmo tempo - suas trevas; por isso a questão da educação precisa ser considerada da máxima importância. Desde a infância, a criança tem de ser nutrida no seio do amor de Deus e criada nos braços de Seu conhecimento, para que irradie luz, cresça em espiritualidade, encha-se de sabedoria e erudição, e seja adornada com as características da hoste angelical.
Visto que vos foi designada esta santa tarefa, deveis, portanto, envidar todos os esforços por tornardes famosa essa escola, em todos os aspectos, em todo o mundo; para torná-la a causa do enaltecimento da Palavra do Senhor.


104. Ó amados de Deus e servas do Misericordioso! Um grande número de eruditos é de opinião que a diversidade entre as mentes e os variados graus de percepção são devidos às diferenças na educação, treinamento e cultura. Ou seja, crêem que as mentes são todas iguais no princípio, mas que o treinamento e a educação fazem surgir a variedade de mentes e os diversos graus de inteligência, e que tais desigualdades não são componente inerente à individualidade, mas resultado da educação: que ninguém possui qualquer superioridade inata em relação aos demais. ...
As Manifestações de Deus também concordam com a visão de que a educação exerce a mais poderosa influência possível sobre a humanidade, contudo, afirmam que as diferenças no grau de inteligência são inatas. Esse fato é óbvio, e não merece discussão, pois vemos que crianças da mesma idade, do mesmo país, da mesma raça, até da mesma família e educadas pelo mesmo indivíduo, ainda assim, são diferentes no que diz respeito ao grau de compreensão e inteligência. Algumas delas farão rápido progresso, outras educar-se-ão apenas gradualmente, e outras ficarão no nível mais baixo de todos. Portanto não importa quanto uma concha seja polida, ela não se transformará em pérola brilhante, nem é possível tornar o cascalho opaco numa gema cujos raios puros venham a iluminar o mundo. Jamais, através de treino e cultivo, a colocíntia e a árvore amarga46 transformar-se-ão na árvore da Santidade.47 Ou seja, a educação não pode alterar a essência íntima do homem, mas, efetivamente, exerce influência formidável e, com esse poder, pode fazer manifestarem-se no indivíduo quaisquer perfeições e capacidades que estejam depositadas dentro dele. Um grão de trigo, se cultivado pelo fazendeiro, produzirá uma colheita inteira, e uma semente, através do cuidado do jardineiro, tornar-se-á uma grande árvore. Graças aos esforços amorosos do professor, as crianças da escola primária podem chegar aos mais altos níveis de realização; em verdade, seus favores podem erguer a um trono excelso crianças tidas em pouca conta. Assim, fica claramente demonstrado que, por sua natureza essencial, as mentes diferem quanto à sua capacidade; ao mesmo tempo, a educação também desempenha um grande papel e exerce poderosa influência sobre o desenvolvimento delas.


105. Quanto à diferença entre a civilização material, que agora prevalece, e a civilização divina, a qual será um dos benefícios destinados a emergir da Casa de Justiça, ela é esta: a civilização material, mediante o poder de leis punitivas e retaliatórias, refreia o povo de atos criminosos. Não obstante isso, embora proliferem continuamente as leis de represália para punir o homem, como podeis ver, nenhuma lei existe para recompensá-lo. Em todas as cidades da Europa e da América, imensos prédios têm sido erigidos para servir de cárceres para os criminosos.
A civilização divina, entretanto, de tal modo treina cada membro da sociedade, que ninguém, exceto um número insignificante, tentará cometer crime. Há, assim, grande diferença entre a prevenção do crime por meio de medidas violentas e retaliativas, e a prevenção por meio de tal educação, de tal iluminação, de tal espiritualização, que o povo, sem medo de castigo ou vingança iminentes, evitarão todo e qualquer ato criminoso. Virão a considerar, de fato, a própria perpetração de crime como grande desgraça e, em si, o mais severo dos castigos. Tornar-se-ão enamorados das perfeições humana e a consagrarão suas vidas àquilo que possa trazer luz ao mundo e promover as qualidades que sejam aceitáveis no Santo Limiar de Deus.


106. Entre os maiores serviços que ao homem é possível prestar a Deus Todo-Poderoso, está a educação e instrução das crianças, essas jovens plantas do Paraíso de Abhá, a fim de que essas crianças - nutridas pela graça no caminho da salvação, a crescer como pérolas da generosidade divina na concha da educação - algum dia adornem a coroa da glória infindável.
No entanto, é muito difícil empreender esse serviço, e ainda mais difícil ser nele bem-sucedido. Espero que te desincumbas bem dessa mais importante das tarefas, que ganhes a vitória, e te tornes insígnia da abundante graça de Deus; que essas crianças - educadas todas, sem exceção, nos sagrados Ensinamentos - desenvolvam índoles semelhantes aos ares perfumados que sopram através dos jardins do Todo-Glorioso, e venham a difundir sua fragrância por todo o mundo.


107. É a esperança de 'Abdu'l-Bahá que essas almas jovens na escola do conhecimento aprofundado sejam assistidas por alguém que as ensine a ter amor. Possam todas elas, em todo o alcance do espírito, aprender bem a respeito dos mistérios ocultos - tão bem que, no Reino do Todo-Glorioso, cada uma delas, como rouxinol dotado de fala, divulgue em altas vozes os segredos do Reino Celestial e, como alguém que ardentemente ama, exprima seu extremo anelo e sua necessidade absoluta do Bem-Amado.


108. Deveríeis considerar de fundamental importância a questão do caráter virtuoso. Incumbe a todo pai e toda mãe aconselhar os filhos durante um longo período, e guiá-los àquelas coisas que conduzem à honra eterna.
Encorajai as crianças em idade escolar, desde os primeiros anos, a proferir palestras de alta qualidade, de modo que venham a dedicar suas horas de lazer à apresentação de palestras convincentes e notáveis, expressando-se com clareza e eloqüência.


109. Ó vós, agraciados pelos favores de Deus! Nesta nova e admirável Era, o fundamento inabalável é o ensino das ciências e artes. Segundo os explícitos Textos Sagrados, a cada criança devem ser ensinadas as artes e os ofícios, no grau que for necessário. Assim, pois, em cada cidade ou aldeia, devem ser estabelecidas escolas, e todas as crianças nessas cidades e aldeias devem envolver-se no estudo até o grau necessário. Por conseguinte, quem oferecer ajuda para tornar isso realidade, seguramente será recebido no Limiar Celestial, e elogiado pela Companhia no alto.
Uma vez que vos tendes esforçado muito por atingir este objetivo de suma importância, é minha esperança que recebais vossa recompensa do Senhor de Claros Sinais e Evidências, e que as miradas da graça celestial sejam a vós dirigidas.


110. Quanto à organização das escolas: se possível, todas as crianças deveriam usar o mesmo tipo de roupa, mesmo que o tecido varie. É preferível que também o tecido seja uniforme, mas, se isso não é possível, não importa. Quanto mais asseados os alunos, melhor - deveriam ser imaculados. A escola deveria estar situada num local onde o ar seja delicado e puro. As crianças devem ser cuidadosamente orientadas para que venham a ser extremamente corteses e bem-comportadas. Devem ser constantemente encorajadas e incentivadas a ansiar pela conquista de todos os cumes das realizações humanas, de forma que, desde os primeiros anos, sejam ensinadas a ter elevados ideais, a comportar-se bem, a ser castas, puras, e sem mácula - e aprendam a ter determinação firme e propósito inabalável em todas as coisas. Que não façam zombarias nem ajam frivolamente, mas sim avancem diligentemente em direção a suas metas, de modo que em todas as situações permaneçam resolutas e firmes.
O aprendizado da moral e da boa conduta é muito mais importante do que o conhecimento dos livros. Uma criança asseada, agradável, de bom caráter e boa conduta - ainda que careça de conhecimentos - é preferível a outra que seja rude, suja, e de má índole, ainda que se esteja tornando profundamente versada em todas as artes e ciências. A razão disso é que a criança bem-comportada, ainda que seja ignorante, é de benefício aos demais, enquanto uma criança de má índole e má conduta está corrompida - e é prejudicial aos outros, muito embora seja letrada. Se, contudo, a criança for educada para ser tanto instruída quanto boa, o resultado é luz sobre luz.
As crianças são como ramo ainda verde e novo - crescerão da maneira que as orientardes. Tomai o máximo cuidado a fim de lhes conceder ideais e objetivos elevados, de modo que, quando forem adultos, irradiem seus raios de luz sobre o mundo, como velas brilhantes - e não sejam maculadas por desejos lascivos e paixões, como os animais desatentos e inconscientes, mas, ao contrário, volvam os corações para a conquista de honra perene e a aquisição de todas as virtudes humanas.


111. A causa básica da maldade é a ignorância, razão pela qual temos de segurar firmemente as ferramentas da percepção e do conhecimento. O bom caráter tem de ser ensinado. A luz precisa ser difundida em toda parte, de modo que, na escola da humanidade, todos possam adquirir as características celestiais do espírito e ver, por si mesmos, sem a menor sombra de dúvida, que não há inferno mais horrendo ou abismo mais abrasador do que possuir caráter mau e doentio; nenhum fosso mais negro nem tormento mais repugnante do que manifestar qualidades merecedoras de condenação.
Cada pessoa tem de ser em tão elevado grau educada que preferiria ter cortada a garganta a dizer uma mentira, e consideraria mais fácil ser retalhada por espada ou trespassada por lança do que pronunciar calúnia, ou deixar-se dominar pela ira.
Assim acender-se-á o senso de dignidade e brio da humanidade, a fim de consumir no fogo a colheita dos apetites luxuriosos. Então, cada um dos bem-amados de Deus resplandecerá, qual lua brilhante, com qualidades do espírito; e a relação de cada um com o Sagrado Limiar de seu Senhor não será ilusória, mas sim perfeita e real; será como o próprio alicerce do edifício, e não um adorno na fachada.
Por conseguinte, a escola das crianças deve ser lugar da maior disciplina e ordem, a instrução deve ser completa, e medidas devem ser tomadas para a retificação e o refinamento do caráter; de modo que, nos primeiros anos, dentro da própria essência da criança, seja assentado o alicerce divino e erguida a estrutura da santidade.
Sabei que este assunto de instrução, retificação, e aperfeiçoamento do caráter - de estímulo e encorajamento da criança - é da máxima importância, pois estes são princípios básicos de Deus.
Assim, se for a vontade de Deus, surgirão, dessas escolas espirituais, crianças iluminadas, adornadas com todas as mais belas virtudes da humanidade, espargindo sua luz não só através da Pérsia, mas também ao redor do mundo.
É extremamente difícil ensinar o indivíduo e refinar seu caráter uma vez passada a puberdade. Nessa altura, como tem demonstrado a experiência, ainda que seja envidado todo esforço para lhe modificar alguma tendência, tudo é inútil. Poderá, talvez, melhorar um pouco durante algum tempo, mas, passados alguns dias, esquecerá tudo e regressará à sua condição habitual e seus modos costumeiros. Portanto, é na primeira infância que um firme alicerce deve ser estabelecido. Enquanto o ramo estiver verde e tenro, será fácil endireitá-lo.
O que desejamos dizer é que as qualidades espirituais são o alicerce básico e divino, e adornam a verdadeira essência do homem - que o conhecimento é a causa do progresso humano. Os bem-amados de Deus devem dar grande importância a esse assunto e levá-lo avante com entusiasmo e zelo.


112. Nesta sagrada Causa, a questão dos órfãos é de máxima importância. Suma consideração deve ser mostrada aos órfãos; eles devem ser ensinados, treinados, e educados. Sobretudo os Ensinamentos de Bahá'u'lláh, certamente, lhes devem ser dados na medida do possível.
Suplico a Deus que possas vir a ser um pai bondoso para as crianças órfãs, vivificando-as com as fragrâncias do Espírito Santo, a fim de que atinjam a idade da maturidade como verdadeiros servos do mundo humano, e como velas brilhantes na congregação da humanidade.


113. Ó serva de Deus!... às mães devem ser ministrados os Ensinamentos divinos e os conselhos efetivos, e ânimo deve-lhes ser dado, e desejo ardente de ensinar os filhos deve-lhes ser incutido, pois a mãe é a primeira educadora da criança. É ela quem deve, desde os primeiros dias, amamentar o recém-nascido no seio da Fé e da Lei de Deus, de modo que nele penetre o amor divino ao mesmo tempo que o leite materno, e nele permaneça até o último suspiro.
Se a mãe deixar de orientar os filhos, e não conduzi-los a uma forma de vida correta, o ensino que mais tarde receberem não terá pleno efeito. Incumbe às Assembléias Espirituais proverem as mães de um programa bem planejado para a educação das crianças, que mostre como, desde a infância, a criança deve ser cuidada e instruída. Essas instruções devem ser dadas a cada mãe, para servir-lhe de guia, de modo que cada uma eduque e nutra os filhos em conformidade com os Ensinamentos. Assim, essas jovens plantas no jardim do amor de Deus haverão de crescer e florescer aquecidas pelo Sol da Verdade, sopradas pelas suaves brisas primaveris do Céu, e guiadas pela mão de suas mães. Assim, no Paraíso de Abhá, cada uma se tornará árvore carregada de frutos, e cada uma, nesta estação nova e admirável, virá a possuir toda beleza e graça devido às dádivas da primavera.


114. Ó vós mães amorosas, sabei que, aos olhos de Deus, a melhor das formas de adorá-Lo é a educação das crianças; é dar-lhes treinamento em todas as perfeições da humanidade. Nenhum ato mais nobre do que este pode ser imaginado.


115. Ó vós duas, bem-amadas servas de Deus! Tudo quanto disser a língua do homem, ele o deve provar por seus atos. Se ele proclama ser um crente, que então aja de acordo com os preceitos do Reino de Abhá.
Louvado seja Deus! vós duas tendes demonstrado, por vossas ações, a verdade de vossas palavras, e obtivestes as confirmações do Senhor Deus. Todos os dias, ao alvorecer, reunis as crianças bahá'ís e lhes ensinais as orações e meditações. Esse é ato digno do maior louvor e traz alegria aos corações das crianças: o fato de, toda manhã, volverem as faces para o Reino, fazerem menção do Senhor e louvarem-Lhe o Nome, e, nas mais doces vozes, entoarem e recitarem (versículos).
Essas crianças são como plantas novas, e ensinar-lhes as orações é assim como deixar chuva manar sobre elas, para que cresçam tenras e viçosas, e sobre elas soprem as suaves brisas do amor de Deus, fazendo-as vibrar de alegria.
Beatitude vos aguarda, e um lindo abrigo.


116. Ó tu filha do Reino! Tuas cartas foram recebidas. O conteúdo delas revelou que tua mãe ascendeu ao reino invisível e que foste deixada só. É teu desejo servir a teu pai, que te é querido, e também servir ao Reino de Deus, e estás perplexa, não sabendo qual das duas coisas deverias fazer. Seguramente, ocupa-te em serviço a teu pai, e também, sempre que encontrares tempo, difunde as fragrâncias divinas.


117. Ó querido de 'Abdu'l-Bahá! Sê o filho de teu pai e sê o fruto dessa árvore. Sê um filho nascido de sua alma e de seu coração, e não apenas da água e do barro. Um verdadeiro filho é aquele que brotou da parte espiritual do homem. Peço a Deus que possas ser confirmado e fortalecido em todos os tempos.


118. Ó vós, pequeninas crianças bahá'ís, vós que buscais verdadeira compreensão e conhecimento! O ser humano distingue-se do animal de várias maneiras. Antes de mais nada ele é feito à imagem de Deus, à semelhança da Luz Suprema; assim como diz a Tora: "Façamos o homem à nossa imagem e semelhança"48. Essa imagem divina representa todas as qualidades da perfeição, cujas luzes, emanadas do Sol da Verdade, iluminam a realidade dos homens, e estão entre os atributos perfeitos encerrados na sabedoria e no conhecimento. Deveis, pois, fazer vigoroso esforço, trabalhando dia e noite, sem descansar um momento sequer, a fim de adquirirdes abundante porção de todas as ciências e artes, para que assim a Imagem Divina, que irradia-Se do Sol da Verdade, ilumine o espelho dos corações dos homens.
É o ardente desejo de 'Abdu'l-Bahá ver cada um de vós considerado como o mais eminente professor nas academias, e, na escola dos mais íntimos significados, cada um tornar-se líder em sabedoria.


119. Incumbe às crianças bahá'ís superarem as demais crianças na aquisição das ciências e artes, pois elas foram embaladas na graça de Deus.
O que as outras crianças aprendem num ano, que as crianças bahá'ís aprendam num mês. O coração de 'Abdu'l-Bahá, em seu amor, anseia por perceber que todos os jovens bahá'ís, sem exceção, são conhecidos no mundo inteiro por seu desenvolvimento intelectual. Inquestionavelmente ele envidarão todos os esforços, energias e brio a fim de adquirirem as ciências e artes.


120. Ó meus queridos filhos! Vossa carta foi recebida. Tamanha alegria foi sentida, que desafia expressão por palavras faladas ou escritas. Isto porque, louvado seja Deus ! o poder do Reino de Deus treinou tais crianças, as quais, desde a primeira infância, ardentemente desejam adquirir a educação bahá'í a fim de se ocuparem no serviço ao mundo humano desde seu período de infância. Meu desejo e aspiração supremos é que vós, que sois meus filhos, possais ser educados de acordo com os ensinamentos de Bahá'u'lláh, e recebais instrução bahá'í; para que cada um de vós possa transformar-se numa vela acesa no mundo humano, devotados ao serviço de toda a humanidade, renunciando repouso e conforto, de modo que venhais a ser a causa da tranqüilidade do mundo da criação.
É esta minha esperança por vós, e tenho confiança de que vos podeis tornar a causa de meu regozijo e contentamento no Reino de Deus.


121. Ó tu que tens poucos anos, mas cujos dons mentais são muitos! Quantas as crianças que, apesar de jovens, possuem no entanto juízo maduro e correto! Quantas as pessoas idosas que são ignorantes e confusas! Pois o crescimento e o desenvolvimento dependem dos poderes de intelecto e raciocínio que a pessoa possui, e não da idade ou do número de dias que conta.
Embora ainda estejas no período da infância, reconheceste, porém, teu Senhor, enquanto miríades de mulheres são dEle inconscientes, e estão excluídas de Seu Reino celestial, e privadas de Suas dádivas. Rende graças a teu Senhor por este admirável favor.
Suplico a Deus que cure tua mãe, que é reverenciada no Reino do céu.


122. Quanto à tua pergunta sobre a educação das crianças: cumpre-te nutri-las no seio do amor de Deus, e exortá-las para que busquem as coisas do espírito, para que dirijam a Deus suas faces; a fim de que seus modos conformem-se com as regras de boa conduta, e seu caráter seja inigualável; para que conquistem todas as graças e qualidades louváveis da humanidade; para que adquiram correto entendimento dos vários ramos do conhecimento, para que, desde o princípio da vida possam tornar-se seres espirituais, habitantes do Reino, enamoradas pelas doces fragrâncias da santidade, e possam receber educação religiosa, espiritual - a educação do Reino Celestial. Verdadeiramente, invocarei a Deus para que lhes conceda nisso resultado feliz.


123. Ó tu que fixas teu olhar no Reino de Deus! Tua carta foi recebida e notamos que te ocupas no ensino das crianças dos crentes, e que esses pequeninos têm aprendido as Palavras Ocultas e as orações, e o que significa ser bahá'í.
A instrução dessas crianças é assim como o trabalho de um jardineiro afetuoso, que cuida de suas jovens plantas nos campos floridos do Todo-Glorioso. Sem a menor dúvida, isso produzirá os resultados desejados; isto é especialmente verdade no que se refere ao ensino da conduta e das obrigações bahá'ís, pois as pequenas crianças devem ser conscientizadas, no coração e na alma, que bahá'í não é apenas um nome, mas uma verdade. Toda criança tem de ser treinada nas coisas do espírito, para que venha a personificar todas as virtudes e tornar-se fonte de glória para a Causa de Deus. De outro modo, a mera palavra "bahá'í", se não produzir frutos, perderá seu significado.
Esforça-te, pois, o mais que puderes, para que essas criancinhas venham a saber que um bahá'í é quem incorpora todas as perfeições, que ele tem de brilhar como círio aceso - e não ser treva sobre treva e ainda assim ser portador do nome "bahá'í".
Dá tu a essa escola o nome de Escola Dominical Bahá'í49.


124. A escola dominical para as crianças, na qual se lêem as Epístolas e os Ensinamentos de Bahá'u'lláh e onde a Palavra de Deus é recitada para as crianças é, verdadeiramente, algo abençoado. Deve, certamente, continuar sem interrupção essa atividade organizada, e atribuir-lhe importância, a fim de que cresça dia a dia e seja vivificada com os sopros do Espírito Santo. Se essa atividade for bem organizada, podes ter certeza de que produzirá grandes resultados. Firmeza e constância são, contudo, necessárias, pois, de outro modo, ela continuará por algum tempo, mas, mais tarde, pouco a pouco será esquecida. A perseverança é condição essencial. Em todo projeto, firmeza e constância levarão indubitavelmente a bons resultados; caso contrário, existirá por alguns dias e então cessará.


125. A substituição de professores não deveria ser nem demasiado freqüente nem por demais postergada: a moderação é preferível. Realizar as reuniões quando é momento de oração em outras igrejas não é aconselhável; isso levaria ao afastamento, porquanto as crianças bahá'ís que têm sua própria escola dominical dela seriam privadas caso quisessem assistir outras aulas dominicais. Além do mais, é permissível aceitar filhos de pais não-bahá'ís nas aulas para crianças bahá'ís. E se nessas aulas for apresentado um esboço dos princípios fundamentais que baseiam todas as religiões, para a instrução das crianças, isso não será prejudicial.
Como as crianças são poucas, não é possível ter classes diferentes e, naturalmente, apenas uma é necessária. Quanto à última pergunta, sobre as diferenças entre crianças, devereis agir como vos parecer aconselhável.


126. Tua carta foi recebida. Louvado seja Deus! ela trouxe a boa notícia de tua saúde e segurança, e informou que estás pronto para entrar numa escola de agricultura. Isso é muito adequado. Esforça-te o mais possível por te tornares proficiente na ciência da agricultura, porque de acordo com os ensinamentos divinos a aquisição de ciências e o aperfeiçoamento nas artes são considerados atos de adoração. Se um homem se ocupar-se na aquisição da ciência ou no aprimoramento da arte com todo o seu poder será como se estivesse adorando a Deus em igrejas e templos. Assim, ao entrares numa escola de agricultura e te esforçares na aquisição dessa ciência, estarás ocupado dia e noite em atos de adoração - atos que são aceitos no limiar do Todo-Poderoso. Qual graça maior que esta? a ciência ser considerada ato de adoração, e a arte como serviço ao Reino de Deus?


127. Ó tu servo do Deus Uno e Verdadeiro! Nesta dispensação universal a maravilhosa faculdade inventiva do homem é aceita como adoração à Beleza Resplandecente. Considera que favor e benção é o engenho humano ser tido como adoração! Nos tempos antigos acreditava-se que tais habilidades não passavam de ignorância, ou até mesmo que eram uma desgraça que impedia o homem de aproximar-se de Deus. Considera tu, agora, como suas infinitas graças e abundantes favores converteram o fogo infernal em paraíso, e um monte de pó escuro em jardim luminoso.
Compete aos artífices do mundo a cada minuto ofertarem mil sinais de gratidão no Limiar Sagrado, e esforçarem-se com o máximo empenho, e diligentemente seguir em suas profissões, para que seus esforços possam criar a maior beleza e perfeição ante os olhos de todos os homens.


128. Tua carta foi recebida. Espero que possas receber proteção e ajuda sob a providência do Ser Verdadeiro, ocupar-te sempre com a menção do Senhor e demonstrar esforço para completares tua formação profissional. Precisas esforçar-te vigorosamente para te distinguires em tua profissão e teres fama nessas terras, pois, neste período misericordioso, alcançar a perfeição na profissão, é considerado adoração a Deus. E enquanto estás te ocupando em tua profissão, podes recordar do Ser Verdadeiro.


129. Ó Amigos do Deus Puro e Onipotente! Ser puro e santo em todas as coisas é atributo da alma consagrada e característica necessária da mente que não esteja escravizada. A melhor das perfeições é a imaculabilidade e o livrar-se de todo defeito. Uma vez limpo e purificado em todos os sentidos, o indivíduo então se tornará um centro focal a refletir a Luz Manifesta.
No modo de vida de um ser humano deve haver, antes de tudo, pureza, e então frescor, asseio e independência de espírito. Primeiro se deve limpar o leito do córrego e, então, podem as águas doces do rio ser para aí conduzidas. Olhos castos desfrutam da visão beatífica do Senhor e sabem o que significa esse encontro; um sentido puro inala as fragrâncias que emanam dos roseirais de Sua graça; um coração polido espelhará a bela face da verdade.
Eis porque, nas Sagradas Escrituras, os conselhos do céu são comparados à água, assim como diz o Alcorão: "E água pura fazemos nós descer do céu"50, e o Evangelho: "Quem não renascer da água e do Espírito, não pode entrar no Reino de Deus."51 Assim está claro que os Ensinamentos que vêm de Deus são emanações celestiais de graça; são chuvas de misericórdia divina e purificam o coração humano.
O que quero dizer é isto: que, em cada aspecto da vida, a pureza e a santidade, a limpeza e o refinamento, elevam a condição humana e promovem o desenvolvimento da realidade interior do homem. Até no reino físico, o asseio conduz à espiritualidade, assim como os Sagrados Escritos claramente afirmam. E embora seja uma coisa física, o asseio do corpo, no entanto, exerce uma influência poderosa sobre a vida do espírito. É comparável a uma voz admiravelmente doce ou a uma melodia que é tocada: embora os sons sejam apenas vibrações no ar que afetam o nervo auditivo do ouvido, e essas vibrações nada mais são que fenômenos acidentais transmitidos através do ar, mesmo assim, vede quanto elas comovem o coração. Uma admirável melodia é como asas para o espírito e faz que a alma vibre de alegria. O intuito é que o asseio físico também exerce seu efeito sobre a alma humana.
Observai como a limpeza é agradável aos olhos de Deus e quão especificamente, nos Sagrados Livros dos Profetas, é acentuada sua importância; pois as Escrituras proíbem alimentos impuros ou o uso de qualquer coisa impura. Algumas dessas proibições eram absolutas, e obrigatórias para todos, e quem quer que transgredisse a lei estabelecida era abominado por Deus e anatematizado pelos crentes. Tais coisas, por exemplo, eram categoricamente proibidas, a perpetração das quais era considerada o mais penoso pecado, havendo entre elas ações tão abomináveis que é vergonhoso até lhes pronunciar o nome.
Há outras coisas proibidas, no entanto, que não causam dano imediato, cujos efeitos prejudiciais se produzem só gradativamente. Tais atos também são repugnantes ao Senhor, e, aos Seus olhos, são censuráveis e repugnantes. Sua absoluta ilegalidade, porém, não foi expressamente estabelecida no Texto, mas é necessário evitá-los para que se tenha pureza e asseio, para a preservação da saúde e a independência do vício.
Entre estes últimos está o fumar tabaco, o qual é sujo, de cheiro desagradável, ofensivo - um hábito funesto, cuja nocividade gradualmente se torna evidente a todos. Todo médico qualificado já verificou - e isso também foi provado por testes - que um dos componentes do tabaco é um veneno mortal e que os fumantes são vulneráveis a muitas e variadas moléstias. É por isso que o fumar tem sido claramente considerado repugnante do ponto de vista da higiene.
O Báb, no início de Sua missão, proibiu explicitamente o tabaco, e todos os amigos abandonaram seu uso. Como naquele tempo, porém, se admitia a dissimulação, e cada indivíduo que se abstinha de fumar era exposto à perseguição, ao abuso e até à morte, os amigos, para não chamarem atenção às suas crenças, fumavam. Mais tarde, o Livro de Aqdas foi revelado, e como não proibiu especificamente o uso do tabaco, os crentes não renunciaram dele. A Abençoada Beleza, no entanto, sempre expressou repugnância por esse hábito, e embora nos primeiros tempos houvesse razões por que Ele fumasse um pouco, Ele breve renunciou tal ação totalmente, e aquelas almas santificadas que em todas as coisas O seguiam também deixaram de usar o tabaco.
O que quero dizer é que, aos olhos de Deus, o uso do tabaco é desaprovado, abominável e extremamente nojento; e é altamente prejudicial à saúde, embora gradativamente. É também um desperdício de dinheiro e de tempo, e quem o usa se escraviza a um hábito nocivo. Para aqueles que se mantêm firmes no Convênio, portanto, esse hábito é censurado tanto pelo raciocínio quanto pela experiência, e renunciar a ele trará alívio e paz de espírito a todos os homens. Além disso, tornará possível se manter em estado fresco a boca, sem mácula os dedos, e livre de cheiro repelente o cabelo. Ao receberem esta comunicação, os amigos, certamente abandonarão de qualquer modo esse hábito pernicioso, ainda que seja gradativamente. É esta minha esperança.
Quanto ao ópio, é abominável e amaldiçoado. Que Deus nos proteja da punição que Ele inflige a quem o usa. De acordo com o explícito Texto do Mais Sagrado Livro ele é proibido e seu uso é absolutamente condenado. O raciocínio mostra que o uso do ópio é uma espécie de demência, e a experiência atesta que quem o usa é completamente excluído do reino humano. Que Deus proteja todos contra a perpetração de um ato tão hediondo como esse, um ato que arruína o próprio alicerce daquilo que constitui ser-se humano, e faz quem o usa permanecer para sempre privado. Pois o ópio prende-se à alma, tanto que morre a consciência de quem o usa, apaga-se sua mente, e suas percepções são destruídas. Transforma em mortos os vivos. Extingue o calor natural. Não se pode conceber maior dando do que aquele que o ópio inflige. Felizes os que nunca lhe mencionam o nome - considerai, pois, como é infeliz quem o usa.

Ó vós que amais a Deus! Neste ciclo, o ciclo de Deus Todo-Poderoso, a violência e a força, a coerção e a opressão, são todas condenadas. É imperativo, entretanto, que o uso do ópio seja impedido por qualquer meio, para que a humanidade se livre, porventura, dessa mais poderosa das pragas. Do contrário, que infelicidade e miséria sobrevenham a quem quer que falhe em seu dever a seu Senhor52.

Ó Divina Providência! Em todas as coisas, concede Tu pureza e um estado imaculado ao povo de Bahá. Permite que sejam libertos de toda corrupção e da escravidão a qualquer vício. Protege-os da perpetração de qualquer ato repugnante, livra-os dos grilhões de todo mau hábito, para que possam ter uma vida pura, em liberdade e integridade, sem mácula, e que sejam dignos de servir em Teu Sagrado Limiar, e de se relacionarem com seu Senhor. Livra Tu este povo de bebidas intoxicantes e do tabaco, protege-os, salva-os do ópio, o qual leva à loucura, permite-lhes fruir dos doces sabores da santidade, saciar-se do cálice místico do amor celestial, e conhecer o êxtase de se aproximar cada vez mais do Reino do Todo-Glorioso. Pois é assim mesmo como tens dito: "Tudo o que tens em tua adega não satisfará a sede de meu amor - ó tu, ó portador do cálice - traz-me, do vinho do espírito, um cálice pleno como o mar!".
Ó vós, os bem-amados de Deus! A experiência tem demonstrado o quanto a renúncia do fumo, de bebidas intoxicantes e do ópio conduz à saúde e ao vigor, à perspicácia e à expansão da mente, bem como à força física. Há hoje um povo que evita estritamente o tabaco, as bebidas alcoólicas e o ópio. Esse povo53 é muito superior aos outros, no que diz respeito à coragem e à força física, à saúde, beleza e formosura. Um só de seus homens iguala em poder a dez de qualquer outra tribo. Isso foi comprovado a respeito do povo inteiro: ou seja, um a um, cada indivíduo dessa comunidade é em todos os aspectos superior aos indivíduos de outras comunidades.
Fazei, pois, um grande esforço, para que a pureza e a santidade, que 'Abdu'l-Bahá estima acima de tudo mais, venham a distinguir o povo de Bahá; que em toda espécie de excelência o povo de Deus supere a todos os demais seres humanos; que tanto exterior quanto interiormente provem ser superiores aos demais; que sejam líderes na vanguarda daqueles que têm conhecimento, devido à sua pureza, imaculabilidade, refinamento e preservação da saúde. Que sejam os primeiros entre os puros, os livres e os sábios por estarem livres de escravização e por causa de seu conhecimento e seu auto-controle.


130. Ó tu, médico eminente!... Louvado seja Deus por estares dotado de dois poderes: um, de assegurar cura física, e outro, a cura espiritual. As coisas relacionadas ao espírito do homem exercem grande efeito sobre sua condição física. Tu, por exemplo, deverias infundir alegria em teu paciente, proporcionar-lhe consolo e júbilo, e elevá-lo a um estado de êxtase e exultação. Quantas vezes tem ocorrido isso causar rápida recuperação. Portanto, trata os enfermos com ambos poderes. Os sentimentos espirituais têm efeito surpreendente na cura de males nervosos.


131. Ao proveres tratamento médico, volve-te à Abençoada Beleza, e então segue os ditames de teu coração. Trata dos enfermos por meio de alegria celestial e exultação espiritual; cura os que estão em dolorosa aflição através da transmissão de jubilosos boas-novas, e sara os feridos através de Suas resplandecentes dádivas. Quando estiveres junto a um paciente no leito, anima e alegra seu coração e enleva-lhe o espírito através do poder celestial. Tal alento celestial, em verdade, vivifica todo osso decomponente e reanima o espírito de todo enfermo e doente.


132. Conquanto se constitua num dos inevitáveis estados do ser humano, a saúde debilitada é verdadeiramente difícil de suportar. A bênção da boa saúde é a maior das dádivas.


133. Há dois modos de curar-se enfermidades: por meios materiais e espirituais. O primeiro é por tratamento médico; o segundo consiste em preces oferecidas pelas almas espirituais a Deus, e em volver-se a Ele. Ambos os meios devem ser utilizados e postos em prática.
As enfermidades que surgem em virtude de causas físicas devem ser tratadas por médicos através de remédios; as que têm origem espiritual desaparecem através de meios espirituais. Assim, uma moléstia provocada por aflição, temor ou impressões nervosas será curada mais eficazmente por tratamento espiritual do que por físico. Daí dever-se lançar mão de ambas as espécies de tratamento; eles não são antagônicos. Deves, por conseguinte, aceitar também os medicamentos físicos, porquanto também eles provêm da mercê e do favor de Deus, que revelou e tornou manifesta a ciência médica a fim de que Seus servos pudessem beneficiar-se também desta forma de terapia. Deves dirigir igual atenção aos tratamentos espirituais, pois produzem efeitos maravilhosos.
Porém, se desejas conhecer o remédio verdadeiro, capaz de curar todo mal e proporcionar ao homem a saúde do reino divino, sabe que tal remédio são os preceitos e ensinamentos de Deus. Focaliza neles tua atenção.


134. Ó tu que estás atraído às fragrantes brisas de Deus! Li a carta que dirigiste à Sra. Lua Getsinger. Realmente examinastes com esmero as razões para a incursão da doença no organismo humano. Não resta dúvida de que os pecados constituem uma potente causa de enfermidades físicas. Se a humanidade estivesse livre das imundícias do pecado e da desobediência, vivendo em conformidade com um equilíbrio natural e inato, e sem seguir cegamente suas paixões, é inegável que as moléstias não mais prevaleceriam e tampouco haviam de se diversificar com tal intensidade.
Todavia, o homem tem continuado de forma impertinente a satisfazer seus apetites lascivos, não se contentando com alimentos simples; ao invés disso, tem preparando para si alimento composto de muitos ingredientes, de substâncias discrepantes entre si. Dessa forma, e com a perpetração de atos vis e ignóbeis, sua atenção foi monopolizada, e ele abandonou a temperança e a moderação do modo de vida natural. O resultado foi o engendramento de moléstias tanto agudas quanto variadas.
Isto porque o animal, no que concerne a seu corpo, é composto dos mesmos elementos constituintes do homem. Visto que, no entanto, o animal se contenta com alimentos simples e não realiza qualquer grande esforço para saciar seus apetites importunos, nem comete pecados, suas enfermidades, comparativamente com o homem, são poucas. Vemos claramente, portanto, quão poderosos são o pecado e a contumácia como fatores patogênicos. E uma vez originadas, essas moléstias tornam-se complexas, multiplicam-se, e são transmitidas a outros. Tais são as causas espirituais, interiores da enfermidade.
Contudo, o fator exterior, físico, que ocasiona a doença é um distúrbio na harmonia, no equilíbrio proporcional de todos os elementos que constituem o corpo humano. Para efeito de ilustração, consideremos como o organismo do homem é uma combinação de inúmeras substâncias constituintes, cada uma das quais está presente numa determinada quantidade, de modo a contribuir para o equilíbrio essencial do todo. Enquanto esses constituintes permanecem em sua devida proporção, consoante o equilíbrio natural do todo - ou seja, nenhum componente sofre alteração em seu equilíbrio e medida proporcional natural, não experimentando aumento ou diminuição - não haverá causa física para a incursão da enfermidade.
Por exemplo, o amido, como componente, deve estar presente numa dada quantidade, o mesmo sendo válido para o açúcar. Enquanto cada um permanecer em sua proporção natural em relação ao todo, nenhuma causa haverá para a investida da doença. Todavia, ao experimentarem esses constituintes alteração em suas quantidades naturais e apropriadas - isto é, ao sofrerem acréscimo ou decréscimo - é indubitável que isto propiciará incursões de moléstias.
Esta questão requer a mais meticulosa investigação. O Báb afirmou que incumbe ao provo de Bahá desenvolver a ciência médica a um tão elevado grau que eles venham a curar as enfermidades através de alimentos. A razão fundamental disto é que se ocorrer um desequilíbrio em alguma substância componente do organismo humano - alternando sua proporção correta relativamente ao todo - este fato haverá de resultar, inevitavelmente, na investida da doença. Se, por exemplo, o ingrediente amídico for indevidamente aumentado, ou o componente sacarino diminuído, uma moléstia prevalecerá. É missão de médico hábil precisar qual constituinte do organismo do paciente sofreu decréscimo e qual sofreu acréscimo. Uma vez descoberto isto, cumpre-lhe prescrever alimento que contenha em quantidade considerável o elemento que experimentou redução, de modo a restabelecer o equilíbrio essencial do corpo. Tão logo seja restaurado o equilíbrio na constituição do paciente, ele ver-se-á livre da enfermidade.
A prova disto é que conquanto outros animais jamais tenham estudado a ciência médica, e tampouco empreendido pesquisas sobre moléstias e medicamentos, tratamentos e métodos de cura, ainda assim, quando um mal o acomete, ele é guiado pela natureza, em campos ou ermos, precisamente à planta que, uma vez ingerida, lhe salvará da doença. A explicação é que se, a título de exemplo, houver ocorrido um decréscimo do componente sacarino no organismo do animal, este ansiará, de acordo com uma lei natural, por uma erva rica em açúcar. Então, por um impulso natural, representado pelo apetite, dentre mil variedades distintas de plantas esparsas pelo campo, o animal haverá de descobrir e consumir aquela erva que contém um componente sacarino em grande quantidade. Deste modo o equilíbrio essencial das substâncias constituintes de seu corpo é restaurado, e ele encontra-se livre de sua enfermidade.
Esta questão requer a mais meticulosa investigação. Quando médicos altamente qualificados examinarem este assunto em plenitude, minuciosa e perseverantemente, tornar-se-á manifesto e evidente que a incursão da doença deve-se a uma alteração nas quantidades relativas das substâncias componentes do organismo, e que o tratamento consiste em regular-se essas quantidades relativas, sendo possível atingir-se isso por meio de alimentos.
É indubitável que nesta maravilhosa nova era o desenvolvimento da medicina levará a que os médicos promovam a cura de seus pacientes através de alimentos. Pois os sentidos da visão, audição, paladar, olfato e tato são todos faculdades discriminativas cujo propósito é distinguir o benefício de qualquer coisa que cause dano. Será possível, então, que algum odor cause repugnância ao olfato - o sentido que discrimina os odores - e ainda assim seja benefício ao físico do homem? Absurdo! Impossível! Outrossim, poderia o corpo humano, através da faculdade da visão - que discerne as coisas visíveis - ter algum proveito em fitar uma repugnante massa de excremento? Jamais! E ainda, se algo for nauseabundo ao paladar - que é também uma faculdade que seleciona a rejeita - aquilo certamente não será benéfico; e se a princípio puder ser de algum benefício, com o decorrer do tempo seu caráter pernicioso será evidenciado.
Do mesmo modo, quando a constituição encontra-se num estado de equilíbrio, não resta dúvida de que tudo aquilo que for saboreado será bom para a saúde. Observa como o animal, ao pastar num prado onde há miríades de espécies de ervas e relvas, inala com seu olfato o odor das plantas, e as experimenta por meio de seu paladar; ele ingere então qualquer erva que seja agradável a esses sentidos, e disso colhe benefício. Não fosse o poder da seletividade, todos os animais pereceriam num único dia, porquanto há uma enorme quantidade de vegetais venenosos, e os animais nenhum conhecimento têm da farmacopéia. Não obstante, observa que conjunto fidedigno de padrões eles possuem, por meio do qual distinguem o salutar do prejudicial. Não importa qual elemento de seu organismo haja experimentado decréscimo, eles podem restabelecer-se através da busca e da ingestão de uma planta que contenha abundante reserva daquele elemento que sofreu redução; desse modo é restaurado o equilíbrio dos componentes de seu físico, e eles obtêm a cura.
Quando médicos de grande perícia desenvolverem a cura das enfermidades através de alimentos, prescrevendo alimentos simples e proibindo às pessoas viverem como escravos de seus apetites lascivos, é indubitável que a incidência de moléstias crônicas e diversificadas será reduzida, e haverá uma imensa melhora na saúde geral de toda a humanidade. Isto está destinado a suceder. Da mesma forma, modificações universais haverão de ser efetuadas no caráter, na conduta e nas maneiras do homem.


135. De acordo com o explícito decreto de Bahá'u'lláh, ninguém deve se desviar dos conselhos de um médico competente. É imperativo que se consulte um, ainda que o próprio paciente seja um renomado e eminente clínico. Em suma, o essencial é que deves preservar tua saúde consultando um médico altamente qualificado.


136. Incumbe a todos procurar tratamento médico e seguir as instruções do clínico, pois isso significa aquiescência ao mandamento divino; na realidade, contudo, quem concede a cura é Deus.


137. Ó tu que estás expressando louvores a teu Senhor! Li tua carta, na qual exprimiste estupefação diante de algumas das leis de Deus, tais como a que concerne à caça de animais inocentes, criaturas que não perpetram nenhum mal.
Não te surpreendas com isso. Reflete sobre as realidades íntimas do universo, as sabedorias recônditas envolvidas, os enigmas, as inter-relações e as leis que a tudo governam; pois cada parte do universo está unida a cada uma das demais por vínculo mui poderosos e inflexíveis, que desequilíbrio algum permitem. No reino físico da criação, todas as coisas alimentam-se e servem de alimento: o vegetal absorve o mineral, o animal morde e deglute o vegetal, o homem alimenta-se do animal e o mineral consome o corpo do homem. Os corpos físicos transpõem uma barreira após outra, de uma vida a outra, estando tudo sujeito a transformação e mudança, salvo unicamente a própria essência da existência - pois ela é constante e imutável e sobre ela está alicerçada a vida de toda espécie e gênero, de todas as realidades contingentes através da criação inteira.
Se examinares, por meio de um microscópio, a água que o homem sorve ou o ar por ele aspirado, perceberás que com cada inspiração o ser humano absorve vida animal em profusão, e com cada cálice de água ele também ingere uma grande variedade de animais. Como poderia ser possível estancar este processo? Pois todas as criaturas se alimentam e servem de alimento, estando a própria estrutura da vida erigida sobre este fato. Não fosse assim, os vínculos que entrelaçam todas as coisas criadas no universo seriam desenleados.
Ademais, sempre que algo é destruído, que sofre decomposição, e lhe é cortado o fio da vida, ele é promovido a um mundo maior que aquele que lhe era conhecido anteriormente. Por exemplo, um elemento abandona a vida do mineral e segue adiante, adentrando a vida do vegetal; parte, então, deixando a vida vegetal e ascendendo à do animal; após isso abandona a vida do animal e eleva-se ao reino da vida humana, e isto provem da graça de teu Senhor, o Misericordioso, o Compassivo.
Rogo a Deus que te auxilie a compreender os mistérios que jazem no âmago da criação, e que remova o véu de teus olhos e dos de tua irmã, para que o segredo bem guardado seja desvelado e o mistério oculto se revele tão claramente quanto o sol no zênite; e que Ele auxilie tua irmã e teu marido a ingressarem no Reino de Deus, e te cure de todo mal - físico ou espiritual - que assalta o homem nesta vida.


138. Ó vós amados do Senhor! O Reino de Deus tem por alicerce a eqüidade e a justiça, bem como a misericórdia, a compaixão e a bondade para com toda alma vivente. Esforçai-vos, pois, de todo coração, para tratardes de forma compassiva todo o gênero humano - exceto aqueles que têm algum intuito egoísta e pessoal, ou alguma moléstia na alma. Não se pode mostrar bondade ao tirano, ao impostor ou ao ladrão, pois longe de despertá-los para o erro de seu procedimento, isso os fará seguir em sua perversidade como antes. Não importa quanta benevolência derrameis sobre o mentiroso, ele apenas há de mentir ainda mais, pois crerá ter-vos logrado, enquanto vós o compreendeis muitíssimo bem, e apenas permaneceis silentes em virtude de vossa extrema compaixão.
Em breves palavras, não é somente a seu próximo que os amados de Deus devem tratar com mercê e compaixão; antes incumbe-lhes manifestar a máxima benevolência a toda criatura vivente. Isto porque em todos os aspectos físicos, e naquilo que se refere ao espírito animal, os mesmos idênticos sentimentos são compartilhados por homem e animal. O homem, todavia, não tendo ainda apreendido esta verdade, crê que as sensações físicas confinam-se a ele, razão pela qual é injusto e cruel para com os animais.
E na verdade, entretanto, considerando-se as sensações físicas, que diferença há? Os sentimentos são idênticos quer se inflija dor a um ser humano, quer a um animal. Diferença alguma há quanto o isso. E, na realidade, comete-se um ato mais condenável ferindo-se um animal, porque o homem possui linguagem, tem a possibilidade de apresentar queixa, protestar e lastimar-se; se for ferido, pode recorrer às autoridades, e estas o protegerão de seu agressor. O pobre animal, porém, é mudo e incapaz de exprimir sua dor ou levar seu caso às autoridades. Se uma pessoa infligir mil males a um animal, ele não poderá defender-se dela por meio da fala, nem tampouco poderá levá-la à força a julgamento. Portanto, é essencial que manifesteis a máxima consideração ao animal e lhe sejais ainda mais bondosos que com vosso semelhante.
Treinai vossos filhos desde a mais tenra infância a serem infinitamente carinhosos e amorosos com os animais. Se um animal estiver enfermo, que as crianças tentem curá-lo; se estiver com fome, que lhe provejam alimento; se estiver sedento, saciem-lhe a sede; se cansado, proporcionem-lhe repouso.
Os seres humanos, em sua maioria, são pecadores, mas os animais são inocentes. Indubitavelmente, os que não têm pecado deveriam receber a maior bondade e amor - todos exceto os animais que são nocivos, como os lobos sanguinários, os ofídios peçonhentos e semelhantes criaturas perniciosas, porquanto bondade para com estes é uma injustiça aos seres humanos e também a outros animais. Por exemplo, se fordes piedosos em relação a um lobo, isto nada mais será que tirania para com o cordeiro, pois um lobo é capaz de destruir um rebanho inteiro de ovelhas. Um cão atacado de raiva, se lhe for dada a oportunidade, pode matar mil animais e homens. Portanto, compaixão para com animais ferinos e vorazes é crueldade para com os pacíficos - e assim é que aos perigosos deve-se dar o tratamento apropriado. Aos animais abençoados, no entanto, a máxima bondade deve ser oferecida; quanto mais, melhor. Ternura e benevolência são princípios fundamentais do Reino celestial de Deus. Cumpre-vos ter esta questão em mente com extrema atenção.


139. Ó tu, serva de Deus! As boas-novas celestiais devem ser enunciadas com a máxima dignidade e magnanimidade. E até que uma alma não se levante com as qualidades essenciais ao portador dessas novas, efeito algum exercerão suas palavras.
Ó serva de Deus! O espírito humano é dotado de poderes maravilhosos, mas deve ser reforçado pelo Espírito Santo. Tudo o mais que te chega aos ouvidos, além disto, é mera imaginação. Se, todavia, ele for favorecido pela graça do Espírito Santo, sua força será algo assombroso. Então aquele espírito humano haverá de desvendar realidades e desvelar mistérios. Volve teu coração inteiramente ao Espírito Santo, e convida outros a fazer o mesmo; então havereis de testemunhar resultados maravilhosos.
Ó serva de Deus! As estrelas do céu não exercem qualquer influência espiritual sobre este mundo de pó; não obstante, todos os membros e partes do universo estão mui fortemente unidos uns aos outros nesse espaço ilimitado, e tal conexão engendra uma reciprocidade de efeitos materiais. Excluindo a graça do Espírito Santo, tudo o mais que ouves a respeito do efeito de transes ou dos mensageiros mediúnicos, que transmitem as vozes cantantes dos mortos, não passa de imaginação pura e simples. Quanto à graça do Espírito Santo, porém, relaciona-lhe o que desejares, pois é impossível exagerá-lo; crê, portanto, no que quer que venhas a ouvir a seu respeito. No entanto, as pessoas aludidas, ou seja, os médiuns, estão inteiramente excluídas dessa graça e dela porção alguma recebem; a vereda que trilham é uma ilusão.
Ó serva de Deus! As orações são respondidas através das Manifestações universais de Deus. Não obstante, quando a intenção é obter dádivas materiais, mesmo em se tratando dos desatentos - se estes suplicarem humildemente implorando o auxílio divino -, até mesmo sua prece tem certo efeito.
Ó serva de Deus! Conquanto a realidade da Deidade seja santificada e ilimitada, os desígnios e necessidades das criaturas são restritos. A graça de Deus assemelha-se à chuva que provém do céu: a água não é restringida por limitações quanto à forma, e, no entanto, onde quer que caia copiosamente, ela assume limitações - dimensões, aparência e forma - conforme as características do lugar em questão. Numa piscina retangular, a água, anteriormente inconfinada, torna-se um hexágono, num reservatório octogonal, um octógono, e assim por diante. A chuva em si não tem geometria, nem limites ou forma, porém adquire uma forma ou outra conforme as restrições do recipiente. Do mesmo modo, a Santa Essência do Senhor Deus é ilimitada e incomensurável, mas Suas graças e esplendores tornam-se finitos nas criaturas, em virtude de suas limitações, daí porque as orações de determinadas pessoas receberão respostas favoráveis em certos casos.
Ó serva de Deus! Ocorre com o Senhor Cristo o mesmo que com Adão. Acaso possuía o primeiro ser humano a vir à existência nesta terra, pai ou mãe? É certo que não possuía nem um nem outro. Cristo, porém, carecia somente do pai.
Ó serva de Deus! As orações reveladas com o fito de suplicar-se cura aplicam-se à cura física como à espiritual. Recita-as, pois, a fim de curar tanto a alma como o corpo. Se a cura for melhor para o paciente, indubitavelmente será concedida; para alguns enfermos, porém, a cura seria apenas a causa de outros males, e a sabedoria, por conseguinte, não consente uma resposta positiva à prece.
Ó serva de Deus! O poder do Espírito Santo cura tanto moléstias físicas como espirituais.
Ó serva de Deus! Encontra-se inscrito na Tora: E Eu dar-te-ei o vale de Acor por porta de esperança95. Este vale de Acor é a cidade de 'Akká; e quem tem interpretado este versículo diversamente é dos destituídos de conhecimento.


140. Indagaste acerca da transfiguração de Jesus no Monte Tabor, com Moisés, Elias e o Pai Celestial, assim como está mencionada na Bíblia. Esse evento foi percebido pelos discípulos com seus olhos interiores, sendo, conseqüentemente, um segredo inteiramente oculto, uma descoberta espiritual da parte deles. Doutro modo, se o significado tencionado pelo texto fosse haverem eles visto formas físicas, isto é, testemunhado tal transfiguração com os olhos exteriores, por que então teriam os inúmeros outros que estavam cerca, na planície e no monte, sido incapazes de contemplá-la? E por que teria o Senhor ordenado-lhes que não o relatassem a nenhum homem? É evidente haver sido essa uma visão espiritual, uma imagem do Reino. Eis porque o Messias ordenou-lhe manterem-na em segredo, "até que o Filho do Homem seja ressuscitado dos mortos"54, ou seja, até que a Causa de Deus fosse exaltada e o Verbo de Deus triunfasse, e a realidade de Cristo ressuscitasse.


141. Ó chama que anelas, tu que estás a arder com o amor de Deus! Li tua carta, e as palavras nela encerradas, bem-expressas e eloqüentes, deleitaram-me o coração; elas verdadeiramente mostravam tua profunda sinceridade na Causa de Deus, teus passos perseverantes ao longo da senda de Seu Reino e tua inabalável constância em Sua Fé - pois dentre todas as coisas excelsas, essa, a Seu ver, é a maior.
Quantas almas volveram-se ao Senhor, abrigaram-se à sombra protetora de Seu Verbo e conquistaram renome pelo mundo inteiro! Judas Iscariotes constitui um exemplo. E então, ao crescerem as provações em severidade e ao intensificar-se sua violência, pisaram em falso na vereda e deram as costas à Fé após haverem reconhecido sua verdade, vindo a negá-la, afastando-se da harmonia e do amor e passando a viver em maldade e ódio. Assim tornou-se visível o poder das provações, que causam tremor e abalo a poderosos pilares.
Judas Iscariotes era o maior dos discípulos e convocava as pessoas a Cristo. Pareceu-lhe, então, que Jesus mostrava crescente consideração ao Apóstolo Pedro. As palavras que Jesus dirigiu a Pedro: "Tu és Pedro, e sobre esta pedra hei de edificar Minha igreja", e esta eleição de Pedro para honra especial, tiveram um efeito marcante sobre o Apóstolo e atearam inveja no coração de Judas. Em virtude disso, aquele que anteriormente se aproximara desviou-se, e aquele que crera na Fé negou-a, e seu amor transformou-se em ódio, até ele vir a ser a causa da crucificação daquele glorioso Senhor, daquele Esplendor manifesto. Tal é o resultado da inveja, a razão precípua pela qual os homens desviam-se do Caminho reto. Assim tem ocorrido, e ocorrerá, nesta grandiosa Causa. Todavia, isso não importa, pois isso engendra fidelidade nos demais, e faz erguerem-se almas que não titubeiam, que são firmes e inabaláveis qual montanhas em seu amor pela Luz Manifesta.
Transmite tu às servas do Misericordioso a mensagem de que quando uma provação tornar-se intensa, elas têm de manter-se firmes, fiéis a seu amor por Bahá. No inverno, sobrevêm as tempestades e sopram ventos violentos; depois, porém, segue-se a primavera na plenitude de sua beleza, engalanando montanha e planície com plantas fragrantes e anêmonas vermelhas, agradáveis aos olhos. Então haverão as aves de gorjear sobre os ramos seus cânticos de júbilo, e proferir sermões em tons ledos e melodiosos dos púlpitos das árvores. Em breve havereis de testemunhar estarem as luzes jorrando, os lábaros do reino nas alturas tremulando, os doces eflúvios do Todo-Misericordioso sendo difundidos por toda parte, as hostes do Reino descendo em marcha, os anjos do céu avançando com ímpeto e o Espírito Santo soprando sobre todas essas regiões. Naquele dia haverás de contemplar os vacilantes - quer homens, quer mulheres - frustrados em suas esperanças e em ruína manifesta. Isto está decretado pelo Senhor, o Revelador dos versículos.
Quanto a ti, bem-aventurada és, por seres constante na Causa de Deus e firme em Seu Convênio. Rogo a Ele que te conceda uma alma espiritual e a vida do Reino, e que faça de ti uma folha verdejante e viçosa na Árvore da Vida, a fim de vires a servir as servas do Misericordioso com espiritualidade e radiância.
Teu generoso Senhor haverá de auxiliar-te a laborar em Sua vinha, e fará com que sejas o veículo da disseminação do espírito de unidade entre Suas servas. Ele fará com que teus olhos interiores vejam com a luz do conhecimento, perdoar-te-á os pecados e transforma-los-á em atos virtuosos. Em verdade, Ele é o Clemente, o Compassivo, o Senhor de imensurável graça.


142. Ó tu, querida serva de Deus! Rende louvores a Deus por seres favorecida em Seu Sagrado Limiar e estimada no Reino de Seu poder. Estás à frente de uma assembléia que é o próprio selo da Companhia no alto, a imagem que espelha o reino todo-glorioso. Esforça-te de todo coração, em estado de zelosa humildade e abnegação, para defender a Lei de Deus e disseminar Seus doces eflúvios por toda a parte. Envida esforços por te tornares a verdadeira presidenta das assembléias de almas espirituais, e uma companheira dos anjos no reino do Todo-Misericordioso.
Inquiriste a respeito dos versículos décimo a décimo-sétimo do vigésimo-primeiro capítulo do Apocalipse de São João Evangelista. Sabe tu que, de acordo com princípios matemáticos, o firmamento do brilhante astro-rei da terra foi dividido em doze constelações, denominadas os doze signos zodiacais. Semelhantemente, o Sol da Verdade resplandece e derrama suas graças através de doze posições de santidade; e por esses sinais do céu tenciona-se exprimir aquelas personagens puras e imaculadas que são os próprios mananciais da santidade e os sítios do alvorecer que proclamam a unidade de Deus.
Considera como nos dias do Interlocutor (Moisés) havia doze seres santos que eram líderes das doze tribos; e, do mesmo modo, na dispensação do Espírito (Cristo), nota que havia doze Apóstolos reunidos à sombra protetora daquela Luz superna, e desses esplêndidos pontos de alvorecer o Sol da Verdade refulgiu como o próprio Sol do firmamento. Outrossim, nos dias de Maomé observa que havia uma dúzia de lugares de alvorecer da santidade, os manifestantes do auxílio confirmador de Deus. Eis como tem sucedido.
Da mesma forma, fez São João evangelista referência a doze portas e doze fundamentos em sua visão. E "aquela grandiosa cidade, a santa Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus" significa a sagrada Lei de Deus, estando isto exposto em várias Epístolas e ainda podendo ser lido nas Escrituras dos Profetas de antanho: essa Jerusalém, por exemplo, foi vista fugindo rumo ao deserto.
O significado desta passagem é que essa Jerusalém celestial possui doze portas, através das quais os bem-aventurados entram na Cidade de Deus. Essas portas são almas semelhantes a estrelas que guiam, a portais de conhecimento e graça; e junto a elas encontram-se doze anjos. O termo "anjo" representa o poder das confirmações divinas - ou seja, exprime que a vela do poder confirmador de Deus fulgura a partir do candelabro de tais almas - significando que a cada um desses seres será outorgado o mais veemente apoio confirmador.
Essas doze portas cingem o mundo inteiro, isto é, constituem-se num abrigo para todas as criaturas. Ademais, esses doze portões são o alicerce da Cidade de Deus, a Jerusalém celestial, encontrando-se inscrito sobre cada um desses fundamentos o nome de um dos Apóstolos de Cristo. Vale dizer, cada um deles torna manifestas as perfeições, a jubilosa mensagem e a excelência daquele santo Ser.
Em suma, reza a Escritura: "E meu interlocutor possuía uma vara de ouro para medir a cidade, suas portas e torres". A significação é que certas personagens guiaram as pessoas com um bastão que cresceu da terra, apascentando-as com um cajado, como a vara de Moisés. Já outros treinaram e pastoraram o povo com um cajado de ferro, como na dispensação de Maomé. E no presente ciclo - visto ser esta a mais poderosa das dispensações -, aquele bastão originário do reino vegetal e aquele cajado de ferro serão transformados numa vara do mais puro ouro, proveniente dos infindos repositórios de tesouros do reino do Senhor. Por meio dessa vara haverão os povos de ser treinados.
Observa bem a diferença: em um tempo, os Ensinamentos de Deus assemelhavam-se a um cajado, e através deste as Sagradas Escrituras foram disseminadas por toda parte, promulgou-se a Lei de Deus e estabeleceu-se Sua Fé. Seguiu-se então um período em que o cajado do verdadeiro Pastor era como que de ferro. E hoje, nesta nova e esplêndida era, a vara é mesmo como puro ouro. Quão vasta é essa diferença! Percebe, então, o quanto se elevaram a Lei e os Ensinamentos de Deus nesta dispensação, e como atingiram tais alturas que transcendem em muito as dispensações já idas; esta vara, verdadeiramente, é puro ouro, ao passo que aquelas de dias prístinos eram de ferro e madeira.
Esta é uma breve resposta que foi redigida para ti, por não consentir a exigüidade do tempo uma mais extensa. É certo que me perdoarás. Incumbe às servas de Deus ascenderem a uma posição tal que, por si mesmas e sem auxílio de outrem, venham a compreender esses significados velados e estar aptas a expor completamente palavra por palavra, uma posição em que um manancial de sabedoria flua da verdade entesourada no mais profundo recôndito de seus corações, jorrando aos borbotões tal qual uma fonte a esguichar de sua nascente.


143. Ó tu que te tens acercado do espírito de Cristo no reino de Deus! O corpo, em verdade, é constituído de elementos físicos, e todo composto forçosamente tem de decompor-se. O espírito, no entanto, é uma essência singular, pura, delicada, incorpórea, sempiterna e divina. Em virtude disto, quem buscar a Cristo mirando seu corpo físico, te-lo-á feito em vão, e dele estará excluído como que por um véu. Aquele, todavia, que ansiar encontrá-lo no espírito, haverá, dia a dia, de medrar em júbilo, anelo e amor ardente, em proximidade dEle e em contemplação dEle num modo claro e evidente. Neste novo e maravilhoso dia, cumpre a ti buscar encontrar o espírito de Cristo.
Em verdade, o céu ao qual o Messias ascendeu não foi este firmamento ilimitado; antes, o reino de Seu benévolo Senhor é que era Seu céu. Assim como Ele mesmo asseverou, "Eu desci do céu"55, e uma vez mais, "O Filho do Homem está no céu".56 Por conseguinte, é patente que Seu céu transcende todos os pontos direcionais; ele cinge toda a existência e está alçado para aqueles que adoram a Deus. Roga e implora a teu Senhor que te eleve a esse céu e te permita participar de seu alimento, nesta era de majestade e poder.
Sabe tu que as pessoas, mesmo até hoje, não têm logrado desvendar os segredos obscuros do Livro. Imaginam que Cristo estava excluído de Seu céu nos dias em que palmilhava a terra; que havia caído das alturas de Sua sublimidade e que depois ascendeu àquelas plagas superiores da abóbada celeste, àquele céu que em absoluto existe, pois não é senão espaço. E aguardam que Ele de lá desça novamente, sobre uma nuvem, julgando haver nuvens naquele espaço infinito e supondo que Ele andará sobre elas e por tal meio descerá. A verdade, porém, é que uma nuvem não passa de vapor que se origina na terra - e não desce do céu. Antes, a nuvem a que o Evangelho se refere é o corpo humano, assim nomeado porque o corpo assemelha-se a um véu para o homem - um véu que, assim como uma nuvem, o impede de contemplar o Sol da Verdade que fulge do horizonte de Cristo.
Rogo a Deus que descerre diante de teus olhos as portas das descobertas e percepções, a fim de que venhas a ter conhecimento de Seus mistérios neste mais manifesto dos dias.
Estou sobremodo ansioso por ver-te; a hora, porém, não é propícia. Se Deus quiser, haveremos de informar-te de um período melhor, quando poderás vir com regozijo.


144. Ó tu que amas a humanidade. Tua carta foi recebida e, louvado seja Deus! ela dá notícias de tua saúde e teu bem-estar. Tua resposta a uma carta anterior torna evidente que sentimentos afetuosos estavam sendo estabelecidos entre ti e os amigos.
Deve-se ver, em cada ser humano, apenas aquilo que é digno de louvor. Quando se faz isso, pode-se ser amigo de todo o gênero humano. Se, porém, olharmos as pessoas do ponto de vista de seus defeitos, então torna-se tarefa árdua ser-lhes amigo.
Aconteceu certa ocasião, no tempo de Cristo - que a vida do mundo Lhe seja um sacrifício - ter Ele passado perto do corpo morto de um cachorro, uma carcaça mal-cheirosa, horripilante, com os membros em putrefação. Exclamou um dos presentes: "Como é nojento esse fedor!" E outro disse: "Como é nauseabundo! Quão repugnante!" Em suma, cada um deles tinha alguma coisa para acrescentar à lista.
Mas então o próprio Cristo falou, e disse a eles: "Contemplai os dentes do cão! Como são alvos e brilhantes!"
O olhar do Messias - olhar que acoberta o pecado - nem por um instante se fixou na repugnância dessa carniça. A única parte daquela carcaça de cão que não era abominável eram os dentes - e Jesus olhou para seu brilho.
Assim, incumbe-nos, quando dirigimos o olhar para os outros, ver aquilo em que são excelentes, não aquilo em que são falhos.
Louvado seja Deus! tua meta é promover o bem-estar da humanidade e auxiliar as almas a superarem suas falhas. Essa boa intenção haverá de produzir resultados louváveis.


145. Escreveste a respeito da questão das descobertas espirituais. O espírito do homem é um poder circum-ambiente que abarca as realidades de todas as coisas. Tudo o que vês em teu redor - os admiráveis produtos da arte e habilidade humanas, as invenções, descobertas e semelhantes evidências - cada um destes era outrora um segredo oculto no reino do incógnito. Coube ao espírito humano tornar manifesto esse segredo, extraindo-o do mundo invisível e trazendo-o ao visível. Considera, por exemplo, o poder do vapor, a fotografia, o fonógrafo, a radiotelegrafia e os avanços da matemática: cada um destes, sem exceção, era antes um mistério, um segredo hermeticamente encerrado; não obstante, o espírito humano desvendou esses segredos e os trouxe do invisível à luz do dia. Assim, é patente ser o espírito humano um poder todo-abrangente que exerce domínio sobre a íntima essência de todas as coisas criadas, trazendo a lume os mistérios bem-guardados do mundo fenomênico.
O espírito divino, todavia, desvela as realidades divinas e os mistérios universais que jazem no imo do mundo espiritual. É minha esperança que venhas o obter esse espírito divino, de modo a desvendares os segredos do outro mundo, bem como os mistérios do mundo inferior.
Inquiriste a respeito do Evangelho de João, capítulo 14, versículo 30, em que o Senhor Cristo diz: "Já não falarei muito convosco, porque aí vem o Príncipe deste mundo, e ele nada tem em Mim". O príncipe deste mundo é a Abençoada Beleza; e as palavras "nada tem em mim" significam: depois de Mim todos haverão de auferir Minhas graças; Ele, porém, é independente de Mim, e de Mim graça alguma buscará; ou seja, Sua afluência está acima de qualquer graça Minha.
No que tange à tua indagação sobre as descobertas da alma após haver esta se despido de sua forma humana: indubitavelmente, aquele é um mundo de percepções e descobertas, porquanto o véu interposto há de ser removido e o espírito humano há de contemplar almas que estão num plano superior, inferior e equivalente ao seu. Isso é análogo à condição do ser humano no útero, onde seus olhos encontram-se velados e tudo lhe está escondido. Quando ele vem à luz, deixando a vida uterina e adentrando este mundo, percebe ser este - comparativamente ao ventre materno - um lugar de percepções e descobertas, e ele tudo observa através de seus olhos exteriores. Do mesmo modo, assim que partir desta vida ele haverá de contemplar, naquele mundo, tudo o que aqui lhe estava oculto; lá, no entanto, ele haverá de ver e compreender todas as coisas com seus olhos interiores. Lá haverá ele de fitar seus companheiros e pares, bem como aqueles de graus superiores e inferiores. Quanto ao que quer dizer a igualdade das almas no reino altíssimo: é que as almas dos crentes, quando de sua primeira manifestação no mundo do corpo, são iguais, sendo cada uma santificada e pura. Neste mundo, entretanto, principiarão a diferenciar-se umas das outras, atingindo algumas a mais exaltada posição, outras ficando num grau intermediário, e ainda outras permanecendo no mais baixo estágio do ser. A igualdade de posição das almas dá-se no início de sua existência; a diferenciação ocorre após o passamento delas.
Escreveste acerca de Seir. Seir é uma localidade perto de Nazaré, na Galiléia.
Quanto à asserção de Jó presente no capítulo 19, versículos 25 a 27 de seu livro: "Sei que meu Redentor vive e se levantará sobre a terra no último dia", o significado aqui é: não serei rebaixado, tenho um Sustentáculo e Guardião, e Aquele que me ampara, meu Defensor, haverá de se tornar manifesto no fim. E conquanto esteja agora minha carne fraca e coberta de vermes, hei de ser curado, e com meus próprios olhos, isto é, minha visão interior, hei de contemplá-Lo. Isto emanou dos lábios de Jó após o haverem exprobrado, e ele próprio deplorara os males que suas tribulações lhe haviam infligido. E mesmo quando, em virtude das terríveis investidas da moléstia, seu corpo estava coberto de vermes, ele esforçou-se por dizer aos que o cercavam que ainda haveria de ser plenamente curado, e que em seu próprio corpo, e com seus próprios olhos, haveria de contemplar seu Redentor.
No que concerne à mulher mencionada no décimo segundo capítulo do Apocalipse de São João, e à grande maravilha observada nos céus - aquela mulher, que fugiu para o deserto, vestida do Sol e com a Lua sob os pés: a mulher representa a Lei de Deus. Pois, conforme a terminologia dos Livros Sagrados, esta é uma alusão à Lei, sendo seu símbolo nesta passagem a mulher. Os dois luminares, o Sol e a Lua, são os tronos da Turquia e da Pérsia, por estarem ambos sob a guarda da Lei de Deus: o Sol é símbolo do Império Persa, e a Lua, isto é, o quarto crescente, do Império Turco. A coroa constituída de doze estrelas representa os doze Imames, os quais, da mesma forma que os Apóstolos, apoiaram a Fé de Deus. A Criança recém-nascida é a Beleza do Adorado57, que nasceu da Lei de Deus. Relata-se, então, haver a mulher fugido para o deserto, vale dizer, a Lei de Deus foi levada da Palestina ao deserto de Hedjaz, onde permaneceu por 1260 anos - ou seja, até o advento da Criança prometida; e como bem se sabe, cada dia, nas Escrituras Sagradas, é computado como um ano.


146. Ó tu, serva que estás a arder com o amor de Deus! Analisei tua excelente missiva e rendi graças a Deus por haveres chegado em segurança a essa grande cidade. Rogo a Ele que, através de Seu auxílio infalível, faça com que esse teu retorno exerça efeito poderoso. Isto só poderá suceder se te despojares de todo apego a este mundo e te adornares com a vestimenta da santidade; se realmente limitares todos os teus pensamentos e palavras à lembrança e ao louvor de Deus; à disseminação de seus doces eflúvios por toda a parte e à realização de atos virtuosos, e se te devotares a despertar os desatentos e a restituir ao cego a visão, ao surdo a audição, ao mudo a fala e - por meio do poder do espírito - a conceder vida aos mortos.
Pois justamente como Cristo delas falou no Evangelho, as pessoas estão cegas, surdas e mudas; e Ele disse: "Eu os curarei".
Sê bondosa e compassiva para com tua debilitada mãe, e fala-lhe do Reino, a fim de lhe inundares o coração de júbilo.
Transmite minhas saudações à senhorita Ford e participa-lhe as boas-novas de serem estes os dias do Reino de Deus. Dize-lhe: Bem-aventurada és tu por tuas nobres intenções, bem-aventurada és por teus atos virtuosos, bem-aventurada és por tua natureza espiritual. Verdadeiramente, amo a ti em virtude desses teus desígnios, qualidades e ações. Dize-lhe ainda: Lembra-te do Messias, e de Seus dias na terra, de sua humilhação, e suas tribulações, e do desprezo do povo em relação a Ele. Recorda-te de como os judeus O ridicularizavam, e escarnecida dEle, dizendo-Lhe: "Paz esteja sobre ti, Rei dos Judeus! Paz esteja sobre ti, Rei dos Reis!"; rememora que diziam estar Ele louco, e que indagavam como jamais poderia a Causa daquele Crucificado difundir-se até os rincões orientais e ocidentais do mundo. Ninguém o seguia então, salvo apenas algumas almas que eram pescadores, carpinteiros e outras pessoas simples. Quão deploráveis, quão deploráveis tais erros!
Percebe o que sucedeu então; como seus poderosos estandartes foram baixados e no lugar deles foi içado Seu mais exaltado pendão; como todas as brilhantes estrelas daquele céu de honra e orgulho extinguiram-se, como desapareceram no ocaso de tudo o que se esvai - enquanto Seu Orbe fulgurante ainda esparge seu esplendor de céus de glória imperecedoura, através dos séculos e eras. Sirva-vos isto, pois, de admoestação, ó vós que possuís olhos para ver! Em breve havereis de contemplar coisas ainda mais grandiosas que essa.
Sabe tu que todos os poderes conjugados são impotentes para estabelecer a paz universal, e tampouco têm o poder de resistir ao subjugador e ininterrupto domínio dessas guerras infindas. Em breve, todavia, o poder do céu, o domínio do Espírito Santo, haverá de hastear nos elevados cumes as insígnias do amor e da paz, e lá, sobre os castelos de majestade e poder, haverão de tremular aqueles estandartes ao sabor dos ventos impetuosos que sopram da terna mercê de Deus.
Transmite minhas recomendações à Senhora Florence, e dize-lhe: As diversas congregações têm abandonado os fundamentos de sua crença e adotado doutrinas que nenhuma valia têm aos olhos de Deus. Ele são assim como os fariseus, que tanto oravam como jejuavam, e por fim proclamaram sentença de morte contra Jesus Cristo. Pela vida de Deus! Isso está ocorrendo de um modo inusitado!
Quanto a ti, ó serva de Deus, recita placidamente ao teu Senhor estas palavras de comunhão com Ele, dizendo-Lhe:

Ó Deus, meu Deus! Enche para mim o cálice do desprendimento de tudo e, na assembléia de teus esplendores e dádivas, regozija-me com o vinho do amor por Ti. Livra-me das investidas da paixão do desejo, e liberta-me dos grilhões deste mundo inferior. Faze-me ascender em êxtase a teu reino superno e, dentre as servas, refresca-me com as brisas de tua santidade.
Ó Senhor! Ilumina-me a face com as luzes de Tuas graças e inunda-me os olhos de luz pela contemplação dos sinais de Teu poder, que a tudo subjuga. Deleita-me o coração com a glória de Teu conhecimento, que a tudo abraça, e alegra-me a alma com Tuas novas de grande júbilo que ressuscitam a alma - ó Tu Rei deste mundo e do Reino nas alturas, ó Tu Senhor de poder e domínio - para que eu possa disseminar por toda a parte teus sinais e provas, proclamando Tua Causa, promovendo Teus ensinamentos, servindo Tua Lei e exaltando Tua Palavra.
És, em verdade, o Poderoso, O que sempre dispensa dádivas, o Forte, o Onipotente.

No que tange aos fundamentos do ensino da Fé: sabe tu que a transmissão da mensagem só pode ser efetuada através de atos virtuosos e de atributos espirituais, de palavras cristalinamente claras e da felicidade refletida no semblante daquele que está a expor os Ensinamentos. É essencial que as ações do instrutor atestem a verdade de suas palavras. Tal é a condição de quem difunde por toda a parte os doces eflúvios de Deus, e a qualidade dos que são sinceros em sua fé.
Uma vez que o Senhor te capacitou a alcançar essa condição, tem tu certeza de que Ele há de inspirar-te com palavras plenas de verdade, e te fará falar através dos sopros de Espírito Santo.


147. Reflete sobre os eventos passados no tempo de Cristo, e assim os fatos presentes far-se-ão claros e manifestos.


148. Ó vós, filhos e filhas do Reino! As aves do espírito, plenas de gratidão, buscam somente voar nos elevados céus e cantar suas melodias com maravilhosa maestria. As desprezíveis minhocas, todavia, têm gosto apenas em cavar túneis no solo - e que grande esforço fazem por entranharem-se em suas profundezas! Assim igualmente são os filhos da terra: seu supremo desígnio é acrescerem seus meios de prolongar a estadia neste mundo evanescente, nesta morte em vida, a despeito de estarem com mãos e pés atados por miríades de ansiedades e pesares, jamais a salvo do perigo, por um piscar de olhos sequer; em tempo algum seguros, nem mesmo da morte súbita. Daí porque, após a expiração de um breve período, são eles completamente obliterados, não restando vestígio algum seu, e sem que jamais se volte a escutar a seu respeito uma palavra sequer.
Devotai-vos, então, ao louvor a Bahá'u'lláh, pois é por meio de Sua graça e auxílio que vos tornastes filhos e filhas do reino; é graças a Ele que agora sois aves chilreantes nos prados da verdade, e alçastes vôo às alturas da glória que perpetuamente subsiste. Alcançastes vossos lar no mundo que não fenece; os sopros do Espírito Santo têm soprado sobre vós; adquiristes outra vida e obtivestes acesso ao Liminar de Deus.
Por conseguinte, estabelecei assembléias espirituais, com grande júbilo, e ocupai-vos em pronunciar o louvor e a glorificação do Senhor, chamando-O de o Santo e o Mais Grandioso. Elevai ao reino do Todo-Glorioso vossos brados de súplica, chamando auxílio, e, a cada instante, pronunciai uma miríade de graças por haverdes conquistado esse copioso favor e essa mercê extrema.


149. Ó tu que possuis olhos para ver! O que testemunhaste é, deveras, a verdade, e pertence ao reino da visão.
O perfume está intimamente associado e mesclado ao botão, e tão logo este desbrocha, sua doce fragrância dissemina-se por toda parte. A erva não está desprovida de fruto - embora assim aparente estar -, pois neste jardim de Deus cada planta exerce sua própria influência e possui suas propriedades peculiares, e toda planta pode mesmo equiparar-se à risonha rosa de cem pétalas, deleitando os sentidos com sua fragrância. Tem tu certeza disso. Conquanto as páginas de um livro não tenham conhecimento algum das palavras e significados nelas impressos, ainda assim, devido à conexão que as vincula a essas palavras, os amigos manuseiam-nas com reverência. Essa conexão, ademais, é graça absoluta.
Quando a alma humana se desprende deste monte fugaz de pó, ascendendo ao mundo de Deus, então os véus cairão por terra, e as realidades virão à luz, e todas as coisas outrora desconhecidas tornar-se-ão evidentes, e as verdades ocultas serão compreendidas.
Considera como um ser, no mundo uterino, tinha ouvidos surdos, olhos cegos e língua muda; como era destituído de qualquer percepção. Contudo, assim que, deixando aquele mundo de obscuridade, ele adentra este mundo de luz, seus olhos vêem, seus ouvidos ouvem e sua língua fala. Da mesma forma, tão logo ele se apresse em partir deste lugar mortal e ingressar no Reino de Deus, ele nascerá no espírito, e então os olhos de sua percepção descerrar-se-ão, os ouvidos de sua alma haverão de ouvir, e todas as verdades que anteriormente ignorava tornar-se-lhe-ão manifestas e evidentes.
Um viajante observador, ao percorrer um caminho, haverá, certamente, de recordar suas descobertas, salvo se algum acidente lhe sobrevier e lhe obliterar a memória.


150. Ó serva que estás a arder com o fogo do amor de Deus! Não lastimes devido às tribulações e privações deste mundo inferior, nem te rejubiles quando reinarem a tranqüilidade e o conforto, pois tudo há de passar. Esta vida terrena é assim como onda que se assoma, ou uma miragem, ou sombras à deriva. Poderia alguma vez uma imagem distorcida no deserto servir de água refrescante? Não, pelo Senhor dos Senhores! Jamais poderão a realidade e a mera aparência de realidade ser iguais, e vasta é a diferença entre fantasia e fato, entre a verdade e seu espectro.
Sabe tu que o verdadeiro mundo é o Reino, e este sítio inferior, apenas a projeção de sua sombra. Uma sombra vida alguma tem em si mesma; sua existência é tão-somente uma fantasia, e nada mais; não passa de uma imagem refletida na água, que aos olhos aparenta ser um retrato.
Espera em Deus. Confia nEle. Louva-O e evoca-O continuamente. Ele, em verdade, transforma infortúnio em sossego, pesar em conforto, faina em paz absoluta. Ele, verdadeiramente, tem domínio sobre todas as coisas.
Se deres ouvidos a minhas palavras, liberta-te dos grilhões de tudo o que venha a suceder. Não, antes, sob todas as condições agradece a teu amoroso Senhor, e confia teus assuntos à Sua Vontade, que opera como Lhe apraz. Isto, em verdade, te é melhor que tudo o mais, em ambos os mundos.


151. Ó tu que tens fé na unidade divina! Sabe tu que nada senão o amor do Todo-Misericordioso é de benefício a uma alma, nada ilumina o coração salvo o esplendor que fulge do reino do Senhor.
Renuncia a qualquer outra preocupação, e deixa que o esquecimento oculte a memória de tudo o mais. Confina teus pensamentos naquilo que eleve a alma humana ao paraíso da graça celestial e faça com que toda ave do Reino alce vôo rumo ao Horizonte Supremo, o ponto central de honra sempiterna neste mundo contingente.


152. Quanto à pergunta relativa à alma de um homicida e sobre qual seria sua punição: a resposta é que o assassino tem de expiar seu crime; ou seja, se a ele for imposta a pena capital, a morte será sua expiação por seu crime, e após esta, Deus, em Sua justiça, não lhe infligirá segundo castigo, porquanto a justiça divina não permitiria isso.


153. Ó serva de Deus! Neste dia, render graças a Deus por Suas dádivas consiste em possuir um coração radiante e uma alma sensível aos ditames do espírito. É isto a essência da ação de graças.
Quanto a render graças através da fala ou da escrita, ainda que isto seja de fato aceitável, se comparado com aquela outra forma de manifestação de gratidão, é uma mera aparência, algo irreal, uma vez que o essencial são essas insinuações do espírito, essas emanações oriundas do recôndito imo do coração. É minha esperança que venhas a ser agraciada com isso.
Com respeito à falta de capacidade e ao desmerecimento do indivíduo no Dia da Ressurreição, isto não faz com que ele seja excluído das dádivas e bênçãos, pois este não é o Dia da Justiça, senão o Dia da Graça, sendo que a justiça consiste em outorgar a cada um o quinhão que lhe é devido. Não consideres portanto o grau de tua capacidade; dirige teu olhar ao ilimitado favor de Bahá'u'lláh: toda-abrangente é Sua munificência, plena é Sua graça.
Peço a Deus que, com Seu auxílio e poderoso apoio, possas ensinar as significações íntimas da Tora com eloqüência, compreensão, vigor e perícia. Volve a face ao Reino de Deus, roga pelas dádivas do Espírito Santo, e fala - as confirmações do Espírito hão de vir.
Quanto ao grandioso orbe que contemplaste em sonho: ele é o Prometido, e os raios que dele emanam são Suas dádivas. A superfície diáfana da massa de água simboliza os corações imaculados e puros, enquanto as ondas encapeladas denotam o grande arrebatamento desses corações e o fato de haverem sido agitados e profundamente comovidos; ou seja, as vagas representam as comoções do espírito e as santas insinuações da alma. Agradece a Deus por haveres testemunhado tais revelações no mundo dos sonhos.
Com relação ao que significa uma pessoa tornar-se totalmente esquecida de si própria: isso quer dizer que ela deveria levantar-se e sacrificar-se no verdadeiro sentido, isto é, deveria eliminar as incitações da condição humana, e livrar-se das características censuráveis - que constituem a triste obscuridade desta vida terrena -, e não que devesse permitir a deterioração de sua saúde física e o enfraquecimento de seu corpo.
Verdadeiramente, suplico fervorosa e humildemente no Limiar Sagrado, a fim de que bênçãos celestiais e perdão divino cinjam tua querida mãe, bem como tuas amorosas irmãs e teus familiares. Oro especialmente em favor de teu noivo, que de súbito apressou-se em partir deste mundo rumo ao vindouro.


154. Ó tu, filho do Reino! Tuas agradabilíssimas catas, com seu estilo aprazível, sempre nos regozijam os corações. Quando a melodia é do Reino ela deleita a alma.
Louva a Deus por haveres dirigido os passos a esse país58, movido pelo propósito de exaltar Sua Palavra e difundir por toda a parte a santa fragrância de Seu Reino, e por estares servindo como um jardineiro nos jardins do céu. Em breve hão teus esforços de ser coroados de êxito.
Ó filho do Reino! Todas as coisas são benéficas se conjugadas ao amor de Deus; e sem Seu amor tudo é danoso, e atua como um véu entre o homem e o Senhor Reino. Quando Seu amor está presente, toda amargura torna-se doce, e cada dádiva proporciona um prazer salutífero. Por exemplo, uma melodia doce aos ouvidos traz o próprio espírito da vida ao coração impregnado de amor a Deus e, todavia, macula com lascívia a alma absorvida em desejos sensuais. Todo ramo do saber, se associado ao amor por Deus, é aprovado e digno de louvor; porém, a erudição é estéril se destituída de Seu amor - na verdade, ela causa insanidade. Toda espécie de conhecimento, toda ciência, assemelha-se a uma árvore: se seu fruto for o amor a Deus, então essa será uma árvore abençoada; caso contrário, porém, não será mais que lenha ressequida, servindo apenas de alimento ao fogo.
Ó servo fiel de Deus, tu que proporcionas cura espiritual aos homens! Sempre que fores cuidar de um paciente, volve tua face ao Senhor do Reino celestial, roga ao Espírito Santo que venha em teu auxílio, e cura, então, a enfermidade.


155. Ó tu, flama do amor de Deus! O que manou de tua pena trouxe grande júbilo, pois tua missiva era como jardim do qual as rosas das significações íntimas disseminavam por toda a parte os doces eflúvios do amor de Deus. Do mesmo modo, minhas repostas servirão como orvalho e chuvas, para conferir a essas plantas espirituais que têm florescido no jardim de teu coração tal frescor e tal delicada beleza que palavras não podem recontar.
Mencionaste as aflitivas provações que te têm assaltado. Para a alma fiel, uma provação não é senão graça e favor de Deus, porquanto o bravo apressa-se com júbilo e ímpeto à violenta batalha no campo da angústia, enquanto o covarde, lamuriando-se com temor, estremece e vacila. Assim também, o estudante proficiente que com grande competência haja dominado as matérias e as tenha memorizado exibirá alegremente suas habilitações diante de seu examinadores no dia de suas provas. Da mesma forma, o ouro puro haverá de cintilar e fulgurar maravilhosamente no fogo do teste. É patente, então, serem as provações e tribulações, para as almas santificadas, tão-somente dádivas e graças de Deus, enquanto para o fraco são uma calamidade, imprevista e súbita.
Essa provações, assim como escreveste, na realidade apenas purificam o espelho do coração das manchas do ego, até que o Sol da Verdade nele possa projetar seus raios, visto não haver véu mais obstrutivo que o ego; a despeito de quão tênue seja esse véu, afinal excluirá por completo a pessoa, privando-a de seu quinhão da graça eterna.
Ó serva extasiada do Senhor! Quando os servos e as servas do Misericordioso surgem em pensamento diante de meus olhos, sinto-me aquecido no fogo do amor de Deus e oro ao Todo-Poderoso que venha em auxílio dessas almas santas com Suas hostes invisíveis. Louvado seja o Senhor por haverem as profecias de todas as Suas Manifestações sido agora cumpridas, neste dia supremo, nesta sagrada e abençoada era.
Ó serva extasiada de Deus! A proximidade é, verdadeiramente, da alma, não do corpo; o auxílio que se invoca, e que vem, não é material, mas espiritual; não obstante, é minha esperança que venhas a alcançar proximidade em todos os sentidos. As graças divinas, em verdade, haverão de cingir a alma santificada como a luz do Sol o faz em relação à Lua e às estrelas: fica certa disto.
Leva, em nome de 'Abdu'l-Bahá, os fragrantes sopros de santidade a cada um dos crentes, quer homens quer mulheres. Inspira-os a todos e exorta-os a espargirem por toda a parte os doces eflúvios do Senhor.


156. Ó servo do Limiar Sagrado! Lemos o que emanou de tua pena em teu amor por Deus, e o conteúdo de tua missiva deleitou-nos ao extremo. Minha esperança é que, através da graça de Deus, as brisas do Todo-Misericordioso te refresquem e revivifiquem em todos os tempos.
Escreveste acerca da reencarnação. A crença na reencarnação remonta à história antiga de quase todos os povos; esposavam-na mesmo os filósofos da Grécia, os sábios romanos, os antigos egípcios e os grandes assírios. Não obstante, tais superstições e asserções não passam de absurdos aos olhos de Deus.
O argumento principal dos reencarnacionistas era que, de acordo com a justiça de Deus, cada um tem de receber o que lhe cabe: por exemplo, sempre que um homem é afligido por alguma calamidade, isto se dá em virtude de algum mal por ele perpetrado. Considere-se, contudo, uma criança ainda no ventre materno, aquele embrião que mal se formou, sendo tal criança cega, surda, aleijada, imperfeito: que pecado cometeu semelhante criatura para merecer suas aflições? Respondem eles que conquanto a criança ainda no útero aparente estar isenta de pecados - não obstante, ela perpetrou alguma iniqüidade quando em seu corpo anterior, vindo assim a merecer sua punição.
Esses indivíduos, no entanto, têm deixado de perceber o seguinte ponto: se tudo na criação avançasse segundo uma única regra, como poderia o Poder tudo-abrangente se fazer sentir? De que modo poderia o Todo-Poderoso ser Aquele que "faz como Lhe apraz e ordena a como deseja"?59
Sucintamente, as Escrituras Sagradas de fato aludem a um retorno, porém entende-se nele o retorno das qualidades, condições, efeitos, perfeições e realidades íntimas das luzes que ressurgem em toda dispensação; essa referência não diz respeito a almas e identidades específicas, individuais. Pode-se afirmar, a título de ilustração, ser a luz desta lâmpada a volta da luz de ontem à noite, ou que a rosa que desabrochou no ano passado retornou agora ao jardim. Não estamos nos reportando, neste caso, à realidade individual, à identidade precisa ou ao ser específico daquela outra rosa; o que se quer exprimir é que as qualidades e atributos distintivos daquelas outras luz e flor se fazem ora presentes nestas. Aquelas perfeições, ou seja, aquelas graças e dádivas de uma primavera passada outra vez se manifestaram neste ano. Dizemos, por exemplo, ser este fruto o mesmo que medrou no ano anterior; estamos, todavia, considerando somente sua delicadeza, seu viço e frescor, e seu doce paladar, porquanto é óbvio que aquele inviolável foco da realidade, aquela identidade específica, jamais pode retornar.
Acaso alguma vez os Seres Santos de Deus desfrutaram de alguma paz, tranqüilidade e conforto durante sua estada neste mundo inferior para que desejassem continuamente voltar e aqui reviver? Não seria bastante uma única passagem por essa angústia, essas aflições e calamidades, essas agruras físicas e terríveis dificuldades? Por que haveriam Eles de desejar reiteradas vindas à vida deste mundo? Este cálice não é doce a ponto de alguém apreciar sorvê-lo uma segundo vez.
Por esse motivo, aqueles que amam a Beleza de Abhá recompensa alguma almejam, salvo alcançar aquela posição donde possam contemplá-Lo no Reino da Glória, e vereda alguma trilham a não ser as areias ermas do anelo por essas sublimes alturas; buscam a placidez e o consolo que perdurarão para sempre e as dádivas que estão santificadas acima da compreensão da mente mundana.
Quando olhares ao teu redor com olhos perceptivos, notarás que nesta Terra de pó todos os seres humanos estão a sofrer. Aqui homem algum se encontra em tal quietude que pudesse ser uma recompensa pelo bem que tivesse realizado em vidas anteriores, nem há ninguém tão ditoso de forma a aparentemente colher o fruto de uma angústia de tempos idos. E se a vida humana, com sua existência espiritual, estivesse limitada a este breve período terreno, qual seria então o fruto do criação? De fato, quais seriam os efeitos e conseqüências da própria Deidade? Fosse tal noção verdadeira, então todas as coisas criadas, todas as realidades contingentes e todo este mundo da existência - tudo, enfim, seria desprovido de sentido. Proíba Deus que alguém se apegue a tal falácia e erro flagrante.
Pois assim como os efeitos e frutos da vida uterina não podem ser encontrados naquele lugar escuro e estreito, e apenas quando a criança passa de lá para esta vasta Terra é que os benefícios e serventias do crescimento e desenvolvimento naquele mundo anterior efetivamente se apresentam - da mesma forma, a recompensa e a punição, o céu e o inferno, a retribuição e a paga por ações realizadas nesta vida tornar-se-ão evidentes no mundo do além. E do mesmo modo que se a vida humana se restringisse àquela mundo uterino a existência no ventre materno seria destituída de sentido e propósito, igualmente, se a vida deste mundo, os atos aqui praticados e sua frutificação não se tornassem manifestos no mundo vindouro, todo o processo seria irracional e tolo.
Sabe tu, pois, que o Senhor Deus possui reinos invisíveis que o intelecto do homem jamais poderá sondar, nem tampouco a mente poderá conceber. Quando tiveres limpado o canal de teu senso espiritual da contaminação desta vida mundana, haverás de sentir os doces aromas da santidade que emanam dos venturosos caramanchões daquela terra celestial.
Que a Glória repouse sobre ti e sobre quem quer que se volva em contemplação ao Reino do Todo-Glorioso, o qual foi santificado pelo Senhor acima do compreensão dos negligentes em relação a Ele, e que foi velado por Ele dos olhos daqueles que se Lhe mostram orgulhosos.


157. Ó vós que estais intensamente atraídos! Ó vós que sois atentos! Ó vós que estais a avançar em direção ao Reino de Deus! Em verdade, suplico ao Senhor Deus - de todo coração, com todo o favor de minha alma e com absoluta humildade - que faça de vós insígnias de guia, pendões de retidão e mananciais de compreensão e conhecimento, para que através de vós Ele possa conduzir os que buscam ao caminho reto e guiá-los à larga senda da verdade nesta mais grandiosa das eras.
Ó amados de Deus! Sabei vós que o mundo é idêntico a uma miragem que se eleva sobre as areias, a qual o sedento confunde com água. O vinho deste mundo não passa de um vapor no deserto, sua piedade e compaixão não são senão faina e dificuldades, e o sossego que oferece é apenas lassitude e pesar. Abandonai-o àqueles que lhe pertencem, e volvei as faces ao Reino de vosso Senhor, o Todo-Misericordioso, a fim de que Sua graça e generosidade esparjam seus esplendores matinais sobre vós, se vos faça descer uma mesa celestial, e vosso Senhor vos abençoe, e verta copiosamente Seus tesouros sobre vós para alegrar-vos o íntimo e preencher vossos corações com beatitude, para atrair vossas mentes, purificar-vos as almas e consolar-vos os olhos.
Ó amados de Deus! Há algum dispensador de dádivas a não ser Deus? Ele elege para Sua mercê quem quer que deseje. Em breve há Ele de descerrar ante vós as portas de Seu conhecimento e preencher vossos corações com Seu amor. Ele haverá de vos animar as almas com as suaves brisas de Sua santidade, e tornará refulgentes vossos semblantes com os esplendores de Suas luzes, e exaltar-vos-á a memória no seio de todos os povos. Vosso Senhor é verdadeiramente o Compassivo, o Misericordioso. Ele virá em vosso auxílio com hostes invisíveis, apoiando-vos com os exércitos da inspiração dentre a Assembléia no alto; Ele vos emitirá as doces fragrâncias do mais elevado Paraíso, e bafejará sobre vós as puras aragens que emanam dos jardins de rosas da Assembléia nos alturas. Ele haverá de vos soprar no coração com o espírito da vida, far-vos-á ingressar na Arca da salvação e vos revelará Seus testemunhos e sinais evidentes. Em verdade, isto é graça abundante. Em verdade, esta é a vitória incontestável.


158. Não sofras pela ascensão de meu amado Breakwell pois ele elevou-se a um roseiral de esplendores no coração do Paraíso de Abhá, abrigado pela mercê de seu poderoso Senhor, e está a bradar a plenos pulmões: "Oxalá pudessem os meus saber com que benevolência meu Senhor me outorgou Seu perdão, e me incluiu no número dos que atingiram Sua Presença!" 60

Ó Breakwell, ó meu amado!
Onde está agora tua bela face? Onde está tua língua eloqüente? Onde, teu iluminado semblante? Onde, tua resplendente formosura?

Ó Breakwell, ó meu amado!
Onde está teu fogo, ardente com o amor de Deus? Onde está teu enlevo ante Seus sagrados sopros? Onde estão teus louvores, sublimados a Ele? Onde está teu levantar para o serviço de Sua Causa?

Ó Breakwell, ó meu amado!
Onde estão teus formosos olhos? Teus lábios sorridentes? As magníficas feições? A formosa compleição?

Ó Breakwell, ó meu amado!
Deixaste este mundo terreno e ascendeste ao reino, alcançaste a graça do domínio invisível, e ofertaste teu próprio ser no limiar de seu Senhor.

Ó Breakwell, ó meu amado!
Abandonaste a lâmpada que era teu corpo aqui, o vidro que era teu templo humano, teus elementos terrenos, tua forma de vida neste plano inferior.

Ó Breakwell, ó meu amado!
Ateaste uma flama no interior da lâmpada da Assembléia no alto, ingressaste no Paraíso de Abhá, encontraste refúgio à sombra da Árvore Abençoada, e atingiste a reunião com Ele no abrigo do Céu.

Ó Breakwell, ó meu amado!
És agora uma ave do Céu; deixaste teu ninho terreno e alçaste vôo a um jardim de santidade no reino de teu Senhor. Tu te elevaste a uma posição plena de luz.

Ó Breakwell, ó meu amado!
Teu cântico é agora como um chilreio; vertes torrentes de versos em exaltação da mercê de teu Senhor. Daquele que sempre perdoa, foste um servo pleno de gratidão, em virtude do que obtiveste um quinhão de beatitude extrema.

Ó Breakwell, ó meu amado!
Em verdade, teu Senhor te elegeu para Seu amor, e te conduziu a Seus recintos de santidade; Ele fez com que adentrasses o jardim daqueles que são Seus íntimos companheiros, e te abençoou com a contemplação de Sua beleza.

Ó Breakwell, ó meu amado!
Tu conquistaste a vida eterna, e a dádiva que jamais se esvai, e uma vida para deleitar-te plenamente, e graça copiosa.
Ó Breakwell, ó meu amado!
Tu te transformaste numa estrela do firmamento superno, e numa lâmpada entre os anjos do sublime Paraíso; tu te tornaste um espírito vivente no mais exaltado Reino, entronizado na eternidade.


Ó Breakwell, ó meu amado!
Rogo a Deus que te atraia para cada vez mais perto dEle, que te tenha junto a Si cada vez mais firmemente; suplico-Lhe que te rejubile o coração com a proximidade de Sua presença, e te inunde de luz e ainda mais luz, e te conceda ainda mais beleza, e te confira poder e grande glória.

Ó Breakwell, ó meu amado!
Em todos os tempos, recordo-me de ti. Jamais hei de te esquecer. Oro por ti dia e noite; vejo-te nitidamente ante mim, como que em plena luz do dia.
Ó Breakwell, ó meu amado!


159. Quanto à tua pergunta se todas as almas, sem exceção, alcançam a vida eterna, sabe tu que a imortalidade pertence àquelas almas nas quais o espírito da vida provindo de Deus foi soprado. Todos, exceto estes, são despojados de vida - são os mortos, assim como Cristo explicou no texto do Evangelho. Aquele cujos olhos foram abertos por Deus perceberá as almas dos homens naquela posição que deverão ocupar depois de sua libertação do corpo. Encontrará os que têm vida a prosperar dentro dos recintos de seu Senhor, e os mortos afundados nos mais profundos abismos de perdição.
Sabe tu que toda alma é criada segundo a natureza de Deus, cada uma sendo pura e santa ao nascer. Mais adiante, porém, as pessoas irão variar conforme aquilo que adquiriram de virtudes ou vícios neste mundo. Não obstante de ser da própria natureza da criação de todos os seres existentes os graus ou níveis, pois as capacidades são multíplices, ainda assim cada pessoa nasce santa e pura, e apenas depois é que se pode contaminar.
Além disso, ainda que sejam diversos os graus da existência, no entanto todos são bons. Observa o corpo humano, seus membros, seus órgãos, o olho, os órgãos do olfato e do paladar, as mãos, as unhas. Independente das diferenças entre essas partes, cada uma delas, dentro de suas próprias limitações, participa de um todo coerente. Se uma delas falhar, precisará ser curada, e se nenhum remédio tiver efeito, aquela parte precisa ser removida.


160. Ó tu serva do Senhor, sincera e fiel! Li tua carta. Estás verdadeiramente ligada ao Reino e devotada ao Horizonte Todo-Glorioso. Rogo a Deus que, em Sua generosidade, faça com que dia a dia ardas com radiância cada vez maior no fogo de Seu amor.
Estavas aparentemente em dúvida quanto a atuares como escritora ou te dedicares ao ensino da Fé. Ensinar a Fé é essencial e no tempo presente te é preferível. Sempre que encontrares uma oportunidade, solta tua língua e guia o gênero humano.
Indagaste acerca da aquisição de conhecimento: lê tu os Livros e Epístolas de Deus, bem como os ensaios redigidos com o fito de demonstrar a verdade desta Fé. Incluem-se entre estes o Iqán - já vertido ao inglês -, as obras de Mírzá Abu'l-Fadl, e as de alguns outros dentre os crentes. Nos dias vindouros, um grande número de santas Epístolas e outras sagradas escrituras haverá de ser traduzido, e cumpre a ti lê-las também. Do mesmo modo, pede a Deus que o ímã de Seu amor atraia a ti o conhecimento dEle. Quando a alma se torna santa em todos os sentidos, vindo a ser purificada e santificada, as portas do conhecimento de Deus descerram-se inteiramente ante seus olhos.
Mencionaste a querida serva de Deus, a Senhora Goodall. Essa alma extasiada em Deus está verdadeiramente a servir à Fé em todos os tempos, fazendo tudo o que está a seu alcance para disseminar por toda a parte os esplendores celestiais. Em persistindo ela nesta mesma vereda, frutos extraordinários seguir-se-ão num tempo futuro. O essencial é permanecer inabalavelmente fiel e firmemente arraigado, perseverando até o fim. É minha esperança que, através dos valentes esforços das servas do Senhor, essa região montanhosa e o litoral desse oceano61 se tornem tão cintilantes que esparjam seus raios até os confins da terra.
Inquiriste se, com o advento do Reino de Deus, toda alma foi salva. O Sol da Verdade fulgurou esplendorosamente sobre o mundo inteiro, e sua luminosa elevação é a salvação do homem e sua vida eterna; todavia, só é dos salvos aquele que houver aberto plenamente os olhos de seu discernimento e contemplado essa glória.
Perguntaste, outrossim, se nesta Dispensação Bahá'í o espiritual haverá, por fim, de prevalecer. E indubitável que a espiritualidade triunfará sobre o materialismo, o celestial subjugará o humano e, por meio da educação divina, a generalidade dos povos avançará largos passos em todos os aspectos da vida - salvo aqueles que são cegos, surdos, mudos e mortos. Como podem tais indivíduos compreender a luz? Ainda que os raios solares iluminem todos os mais obscuros rincões do globo, o cego quinhão algum poderá ter na glória, e embora a chuva da mercê celestial mane torrencialmente sobre todo o planeta, jamais arbusto ou flor vicejarão num solo estéril.


161. Ó tu que buscas o Reino do Céu! Este mundo é semelhante ao corpo humano, e o reino de Deus é como o espírito da vida. Observa quão obscuro e estreito é o mundo físico do corpo do homem, e como é vitimado por moléstias e aflições. Em contrapartida, percebe quão vívido e radioso é o domínio de seu espírito. Julga, a partir desta metáfora, como o mundo do Reino tem derramado sua luz e como suas leis têm sido postas a operar neste domínio inferior. Apesar de o espírito estar oculto aos olhos, ainda assim seus mandamentos refulgem qual raios de luz sobre o mundo do corpo humano. Da mesma forma, embora o Reino do Céu esteja oculto da vista dessas pessoas inconscientes, para aquele que vê com os olhos interiores ele está claro como o dia.
Por conseguinte, habita sempre no Reino e esquece-te deste mundo inferior. Que estejas tão plenamente absorto nas emanações do espírito que nada neste mundo venha a te perturbar.


162. Ó vós, queridos amigos de 'Abdul-Bahá! Em todos os tempos, aguardo vossas boas-novas, anelando imensamente escutar que estais dia a dia fazendo progressos, sendo sempre mais iluminados pela luz da guia.
As bênçãos de Bahá'u'lláh são um mar sem limites, e mesmo a vida eterna é apenas uma gota de orvalho dele oriunda. As vagas desse mar estão continuamente se projetando contra os corações dos amigos, e delas emanam insinuações do espírito e ardentes pulsações da alma, até que o coração cede e, de bom grado ou não, volve-se humildemente em súplica ao Reino do Senhor. Portanto, fazei o quanto vos for possível por desprenderdes vosso íntimo, a fim de poderdes, a cada instante, refletir novos esplendores irradiados pelo sol da verdade.
Vós todos, sem exceção, viveis no imo do coração de 'Abdu'l-Bahá, e com cada alento volvo minha face ao Liminar da Unicidade, invocando bênçãos em favor de vós, de cada um de vós.


163. Ó vós que sois dois buscadores da verdade! Vossa carta foi recebida e seu conteúdo foi examinado. Quanto às cartas que anteriormente havíeis remetido, nem todas foram recebidas, ao passo que algumas aqui chegaram num período em que a crueldade dos opressores a tal ponto se intensificara que era impossível enviar uma resposta. Agora, esta última missiva vossa aqui se encontra, e estamos em condições de respondê-la; assim, a despeito de afazeres assaz prementes, pus-me a escrever, para que saibais serdes amados entre nós, e também acolhidos no Reino de Deus.
Contudo, só podemos elucidar concisamente as questões que apresentastes, por não haver tempo para uma elucidação detalhada. A resposta à primeira pergunta: as almas dos filhos do Reino, após sua separação do corpo, ascendem ao domínio da vida sempiterna. Se indagardes, porém, quanto ao lugar, sabei que o mundo da existência é um único mundo, se bem que os graus nele observados sejam vários e distintos. A vida mineral, por exemplo, ocupa seu próprio plano, mas uma entidade mineral não tem absolutamente qualquer consciência do reino vegetal e, com efeito, sua língua interior nega haver semelhante reino. De modo igual, um ente vegetal conhecimento algum tem do mundo animal, permanecendo completamente desatento e inconsciente em relação a ele, porquanto a condição do animal é superior à do vegetal, e este está velado do mundo animal e interiormente nega a existência de tal mundo; e tudo isso enquanto animal, vegetal e mineral coabita este mundo uno. Da mesma forma, o animal é de todo inconsciente daquele poder da mente humana que apreende as idéias universais e traz a lume os segredos da criação - poder tal que permite a um homem que vive no Oriente fazer planos e arranjos para o Ocidente; que capacita-o a desvendar mistérios: ainda que resida na Europa, permite-lhe descobrir a América; apesar de habitar a Terra, habilita-o a assenhorear-se das realidades íntimas das estrelas do céu. Deste poder de descoberta que pertence à mente humana - poder capaz de compreender idéias abstratas e universais - o animal permanece totalmente ignorante e, de fato, nega sua existência.
Da mesma forma, os habitantes da Terra não têm a mínima consciência do mundo do Reino e negam-lhe a existência. Perguntam por exemplo: "Onde está o Reino? Onde está o Senhor do Reino?" Essas pessoas são idênticas ao mineral e ao vegetal, que nada sabem do animal e do reino humano; não o vêem, e tampouco o encontram. Não obstante, mineral e vegetal, animal e homem, todos vivem juntos aqui, neste mundo da existência.
No que tange à segunda indagação: as provações e tribulações de Deus ocorrem neste mundo, não no mundo do Reino.
A resposta à terceira pergunta é que, no mundo vindouro, a realidade humana não adquire uma forma física, senão que assume uma forma celestial, constituída de elementos daquele domínio celestial.
Quanto à quarta pergunta: o âmago do Sol da Verdade está no mundo superno - o Reino de Deus. As almas puras e imaculadas, quando da dissolução de suas estruturas elementares, apressam-se rumo ao mundo de Deus, e aquele mundo está dentro deste mundo. As pessoas que aqui vivem, entretanto, não têm consciência daquele mundo, e assemelham-se ao mineral e ao vegetal, os quais conhecimento algum tem dos mundos animal e humano.
A explanação referente à quinta pergunta é a seguinte: Bahá'u'lláh ergueu o tabernáculo da unidade da humanidade. Quem quer que busque abrigo à sombra desse teto seguramente deixará outras moradas.
Relativamente à sexta questão: se em um ou outro assunto aflorar uma divergência entre dois grupos conflitantes, cumpre-lhes recorrerem ao Centro do Convênio para solucionar o problema.
No que concerne a vossa sétima indagação: Bahá'u'lláh foi tornado manifesto para toda a humanidade e a todos Ele convidou para a mesa de Deus, para o banquete da graça Divina. Hoje em dia, entretanto, a maioria dos que sentam ao redor dessa mesa são pobres; eis porque Cristo afiançou serem bem-aventurados os pobres, pois as riquezas efetivamente impedem os ricos de ingressar no Reino. Ainda mais, Ele afirma: "É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico no Reino de Deus"62. Se, contudo, a opulência, a glória e a fama mundanas não obstarem sua entrada, tal homem afluente haverá de ser favorecido no Liminar Sagrado e acolhido pelo Senhor do Reino.
Em suma, Bahá'u'lláh tornou-Se manifesto a fim de educar a todos os povos do mundo. Ele é o Educador Universal, tanto dos ricos como dos pobres, dos negros como dos brancos, quer dos povos do Oriente, quer dos do Ocidente, do Norte ou do Sul.
Dentre aqueles que visitam 'Akká, alguns têm progredido esplendidamente, avançando a largos passos. Eram velas sem luz, e foram acesos; estavam inteiramente destituídos de viço, e principiaram a florescer; embora estivessem mortos, foram ressuscitados, retornando a seus lares com boas-novas de grande júbilo. Mas outros, na verdade, meramente passaram por ali; apenas fizeram uma viagem turística.
Ó vós que estais ambos vivamente atraídos ao Reino! Rendei graças a Deus por haverdes feito de vosso lar um centro bahá'í e um lugar de reunião dos amigos.


164. Ó vós que sois duas almas fiéis e convictas! Vossa carta foi recebida. Louvado seja Deus! - ela continha boas-novas. O estado da Califórnia já está preparado para a disseminação dos ensinamentos divinos. É minha esperança que vos esforceis, de coração e alma, para que as narinas sejam impregnadas da doce fragrância...
Transmite minhas respeitosas recomendações à Senhora Chase e dirigi-lhe estas palavras: "O Sr. Chase é uma estrela cintilante fulgurando por sobre o horizonte da Verdade, se bem que hoje ainda esteja encoberto por nuvens; estas em breve se dissiparão, e a radiância desse astro virá a iluminar a Califórnia. Sê agradecida pela dádiva de haveres sido sua cônjuge e companheira em vida."
Cumpre aos amigos, todos os anos, quando da passagem do aniversário da ascensão dessa bendita alma63, visitar seu túmulo em nome de 'Abdu'l-Bahá e, com a máxima humildade, reverência e respeito, depositar coroas de flores sobre seu sepulcro e passar o dia inteiro em plácida prece, com as faces volvidas ao Reino dos Sinais e mencionando e louvando os atributos dessa ilustre pessoa.


165. Ó meu Deus! Ó meu Deus! Verdadeiramente, este teu servo, humilde ante a majestade de tua divina supremacia e submisso à porta de Tua unicidade, creu em Ti e em Teus versículos e testificou Tua palavra, tendo sido aceso com o fogo de Teu amor, imerso nas profundezas do oceano de Teu conhecimento, e atraído por Tuas brisas. Ele confiou em Ti, volveu a face a Ti, ofereceu a Ti suas súplicas e recebeu a certeza de Teu perdão e indulgência. Ele abandonou esta vida mortal e levantou vôo para o reino da imortalidade, anelando pela graça de atingir Tua Presença.
Ó Senhor! Exalta-lhe a posição; abriga-o à sombra do pavilhão de Tua mercê suprema; faze-o adentrar teu glorioso paraíso, e perpetua-lhe a existência em teu sublime jardim de rosas, a fim de que ele venha a se imergir no oceano da luz, no mundo dos mistérios.
Tu, em verdade, és o Generoso, o Poderoso, O que sempre perdoa, o Dispensador de Graças.

Ó tu, alma convicta, serva de Deus...! Não te aflijas pela morte de teu honrado esposo. Ele, na realidade, alcançou a reunião com seu Senhor na morada da Verdade, na presença do Rei poderoso. Não julgues tê-lo perdido. O véu há de ser erguido, e então contemplarás seu semblante, iluminando, na Assembléia Suprema. Tal como Deus, o Excelso, disse: "Nós, certamente, o ressuscitaremos para uma existência feliz". Deve-se, por conseguinte, associar suprema importância à vida futura, e não a esta primeira criação.


166. Ó servo de Bahá! Sê abnegado na vereda de Deus, e alça vôo rumo aos céus do amor da Beleza de Abhá, pois qualquer movimento animado pelo amor se desloca dos confins para o centro, de um ponto qualquer do espaço para o Astro-Rei do universo. Isso talvez te pareça difícil, todavia assevero-te que não o é, pois quando o poder que guia e motiva é a força do magnetismo divino, é possível, mediante seu auxílio, percorrer tempo e espaço com leveza e celeridade. Glorificado seja o povo de Bahá.


167. Indagaras acerca do destino, da predestinação e da vontade. O destino e a predestinação são as inter-relações necessárias e indispensáveis presentes nas realidades das coisas. Essas inter-relações foram colocadas nas realidades dos seres através do poder da criação, e todo evento é conseqüência da necessária inter-relação. Por exemplo, Deus criou uma relação entre o sol e o globo terrestre: a de que os raios solares brilhem e o solo seja produtivo. Estas inter-relações constituem a predestinação, e a sua manifestação no plano da existência é o destino. A vontade é aquela força ativa que controla essas inter-relações e acontecimentos. Tal é a síntese da explanação sobre destino e predestinação. Careço de tempo para uma exposição pormenorizada a respeito. Pondera sobre o que foi dito e a realidade do que é destino, predestinação e vontade tornar-se-á manifesta.


168. Ó tu, dama do Reino! Rende louvores a Deus por haveres sido despertada nesta era, a era da dispensação de Bahá'u'lláh, e por teres sido informada da Manifestação do Senhor dos Exércitos. Todas as pessoas do mundo estão sepultas nas tumbas da natureza, ou estão letárgicas, desatentas e inconscientes. Tal como Cristo diz: "Eis que posso vir quanto menos esperardes. A volta do Filho do Homem é semelhante à entrada de um ladrão numa casa cujo proprietário está em absoluta desatenção".
Em suma, minha esperança é que pelas graças de Bahá'u'lláh progridas dia a dia no Reino, vindo a ser um anjo celestial, confirmada pelos sopros do Espírito Santo, e erigindo uma estrutura que permaneça eternamente firme e inabalável. ...
Estes são dias assaz preciosos; aproveita esta oportunidade e acende uma vela inextinguível que perpetuamente esparja sua luz, iluminando o mundo humano!


169. Ó vós, duas almas pacientes! Vossa missiva foi recebida. A morte daquele amado jovem e sua separação de vós causaram a máxima dor e pesar; pois ele, na flor da idade e no verdor dos anos, alçou vôo rumo ao ninho celestial. No entanto, ele libertou-se deste abrigo repleto de sofrimentos e volveu a face em direção ao ninho eterno do Reino, e, livrando-se de um mundo escuro e exíguo, apressou-se na direção do domínio santificado da luz; nisso reside o consolo de nossos corações.
A inescrutável sabedoria divina está por trás desses acontecimentos que partem o coração. É como se um jardineiro bondoso transferisse um arbusto viçoso e tenro de um local confinado para uma área muito espaçosa. Tal translado não faz o arbusto murchar, nem se atrofiar ou perecer; ao contrário, tal mudança fará com que cresça e se desenvolva, que adquira frescor e delicadeza, que obtenha verdor e dê frutos. O jardineiro bem sabe deste segredo oculto, mas as almas inconscientes destas graças supõem que ele, possuído de ira e cólera, tenha extirpado o arbusto. Não obstante, para aqueles que são cientes este fato oculto está manifesto, e tal decreto predestinado é por eles tido como uma graça. Portanto, não vos sintais consternados ou desconsolados pela ascensão deste pássaro da fidelidade; não, antes, sob todas as circunstâncias orai por esse jovem, suplicando por ele perdão, e pela exaltação de sua posição.
Espero que venhais a atingir suprema paciência, serenidade e resignação, e suplico e imploro, no Liminar da Unidade, rogando humildemente perdão e clemência. A esperança que nutro das infinitas dádivas de Deus é que Ele abrigue esse pombo do jardim da fé e o faça habitar sobre os ramos da Assembléia Suprema, a fim de que gorjeie com a mais dulcíssona das melodias o louvor e a glorificação do Senhor dos Nomes e Atributos.


170. Ó tu que buscas o Reino! Tua carta foi recebida. Escreveste a respeito da severa calamidade que te sobreveio - a morte de teu respeitável marido. Esse homem honrado esteve tão sujeito à estafa e à tensão deste mundo que seu maior desejo era ser libertado dele. Assim é esta morada mortal: um celeiro de aflições e sofrimentos. É a ignorância que faz o homem prender-se a ela, pois nenhuma alma neste mundo pode assegurar-se qualquer conforto, desde o monarca até o mais humilde cidadão. Se alguma vez esta vida oferece uma taça doce, centenas de outras amargas lhe seguirão; tal é a condição deste mundo. O homem sábio, portanto, não se prende a esta vida mortal nem confia nela; em alguns momentos ele até anseia ardentemente pela morte, para assim ser libertado dessas tristezas e aflições. Por isso ocorre que algumas pessoas, sob pressão e angústia extremas, cometem suicídio.
Quanto ao teu esposo, fica serena. Ele será imergido no oceano da absolvição e do perdão e será alvo de generosidade e favor. Esforça-te ao máximo para dar a seu filho uma educação bahá'í, para que possa ser misericordioso, iluminado e celestial quando atingir a maturidade.


171. Ó serva amada de Deus! Embora a perda de um filho seja verdadeiramente de partir o coração e transcenda os limites do que o ser humano pode suportar, ainda assim, a pessoa dotada de conhecimento e compreensão tem o convicção de que o filho não foi perdido, mas ao contrário, passou deste mundo a outro, e ela há de encontrá-lo no reino divino. Essa reunião será por toda o eternidade, enquanto aqui neste mundo a separação é inevitável - e traz consigo uma dor pungente.
Louvado seja Deus por teres fé, estares com a face volvida ao Reino sempiterno e creres na existência de um mundo celestial. Portanto, não fiques desconsolada ou abatida; não suspires, não lamentes nem chores; pois a perturbação e o luto afetam-lhe profundamente a alma no domínio divino.
Esse amado filho, do mundo oculto assim se dirige a ti: "Ó Mãe bondosa, rende graças à Providência divina por eu haver sido libertado de uma pequena e sombria gaiola e, tal qual as aves dos prados, haver alçado vôo ao mundo divino - um mundo espaçoso, iluminado e perenemente feliz e jubiloso. Por isso, não lamentes, ó Mãe, nem te consternes; não sou dos perdidos, nem fui obliterado ou destruído. Livrei-me da forma mortal e hasteei meu estandarte neste mundo espiritual. A essa separação seguir-se-á eterna comunhão. Tu me encontrarás no céu do Senhor, imerso num oceano de luz".


172. Louvores a Deus por estar teu coração dedicado a Sua comemoração, tua alma iluminada por Suas boas-novas, e por estares absorto em oração. O estado de oração é a melhor das condições, pois nele o homem comunga com Deus. A oração, em verdade, confere vida, especialmente se oferecida a sós e em momentos - como à meia-noite - quando se está livre das preocupações quotidianas.


173. Aquelas almas que, neste dia, adentram o reino divino e atingem a vida eterna, ainda que materialmente habitem na terra, na realidade adejam no domínio do céu. Seus corpos podem tardar neste mundo, mas seus espíritos viajam através da imensidão do espaço; pois à proporção que os pensamentos se alargam e se tornam iluminados eles adquirem o poder de voar, e transportam o homem ao reino de Deus.


174. Ó amigos espirituais de 'Abdu'l-Bahá! A carta que escrevestes foi considerada; seu conteúdo era muito agradável e atestava vossa firmeza e constância na Causa de Deus.
Essa Assembléia repousa à sombra protetora do Senhor de todas as graças, e é minha esperança que - como é apropriado a esse corpo - ela seja favorecida e envigorada pelos sopros do Espírito Santo, e que, dia a dia, ameis a Deus mais profundamente, intensificando-se vossa atração à Beleza que perpetuamente subsiste, Aquele Que é Luz do mundo. Isto porque o amor a Deus e a atração espiritual efetivamente limpam e purificam o coração humano, ataviando-o e adorando-o com a imaculada veste da santidade; e uma vez que o coração esteja plenamente cativado do Senhor e submisso à Abençoada Perfeição a graça de Deus revelar-se-á.
Este amor não é do corpo, mas inteiramente espiritual. E aquelas almas cujo âmago está aceso pelo amor de Deus assemelham-se a raios de luz que se difundem, e fulguram qual estrelas de santidade num firmamento puro e cristalino; pois o amor real e verdadeiro é o amor a Deus, e este está santificado acima das noções e imaginações dos homens.
Que os amados de Deus - todos, sem exceção - sejam a essência da pureza e a própria vitalidade da santidade, de modo a celebrizarem-se, em todas as plagas, por sua independência de espírito, brandura e santidade. Rejubilem-se eles com sorvos do cálice eterno do amor de Deus, e exultem ao beber das adegas do Céu. Que contemplem a Abençoada Beleza, sintam a flama e o enlevo de tal comunhão e emudeçam, possuídos de pasmo e arrebatamento. Eis a condição dos sinceros; esta é a senda dos fiéis; tal é o esplendor que brilha nas faces daqueles que sorvem da proximidade de Deus.
Conseqüentemente, incumbe aos amigos de Deus levantarem-se no espírito unanimemente, com absoluta santidade, unidos entre si, a tal ponto que venham a ser como um único ente, uma mesma alma. Num plano como este, o corpo físico importância alguma tem, é o espírito quem predomina, prevalece e governa; e é quando seu poder abrange a tudo que a união espiritual é alcançada. Esforçai-vos, dia e noite, por cultivar vossa unidade até o grau máximo. Concentrai os pensamentos em vosso próprio desenvolvimento espiritual e cerrai os olhos às deficiências de outras almas. Agi de modo tal, manifestando atos puros e virtuosos, modéstia e humildade, que sejais a causa do despertar de outrem.
Jamais será desejo de 'Abdu'l-Bahá ver qualquer ser magoado, e tampouco fará Ele com que qualquer uma sofra, porquanto não há dádiva maior para o ser humano que regozijar o coração de alguém. Rogo a Deus sejais portadores de júbilo, como o são os anjos do Céu.


175. O encanto mortal há de desvanecer-se; as rosas hão de dar lugar a espinhos, e a beleza e a mocidade viverão seus dias e não mais serão. O que perdura eternamente, porém, é a Beleza do Verdadeiro, porquanto seu esplendor não perece e sua glória perenemente subsiste; seu encanto é onipotente e seu fascínio, infinito. Bem-aventurado, pois, o semblante que reflete o esplendor da Luz de Bem-Amado! Graças ao Senhor, tu foste iluminado por essa Luz, adquiriste a pérola do verdadeiro conhecimento e proferiste a Palavra da Verdade.


176. Ó tu que estás atraído ao Reino de Deus! Toda alma empenha-se em alcançar um objetivo e acalenta um desejo, esforçando-se dia e noite por atingir sua meta. Alguns aspiram à afluência, outros estão sedentos de glória e ainda outros anelam pela fama, destreza, prosperidade e assim por diante. Não obstante, todos afinal estão fadados à ruína e à desilusão. Todos, sem exceção, deixam para trás tudo que possuem e de mãos vazias apressar-se-ão para o domínio do além, e a totalidade de seu labores terá sido vã. Todos haverão de retornar ao pó, despojados, deprimidos, desalentados e em desespero absoluto.
Tu, contudo, graças ao Senhor, estás absorto naquilo que te assegurará um galardão que subsistirá perpetuamente; e tal não é senão tua atração ao Reino de Deus, tua fé e teu conhecimento, o esclarecimento de teu coração, e teus zelosos esforços pela difusão dos Ensinamentos Divinos.
Em verdade, essa dádiva é imperecedoura e essa riqueza, um tesouro provindo do alto!


177. Ó flama acesa do amor celestial! Teu coração foi tão vivamente incendido com o amor de Deus que a dez mil léguas de distância seu calor e radiância podem ser sentidos e vistos. O fogo aceso pela mão mortal transmite luz e calor apenas a uma diminuta área, ao passo que aquela sagrada chama que a Mão de Deus ateou, conquanto arda no Oriente, conflagrará o Ocidente e aquecerá tanto o Norte como o Sul; mais ainda, ascenderá deste mundo para arder com a mais cálida flama nos domínios do alto, inundando de luz o Reino de glória eterna.
Feliz és tu por haveres alcançado dádiva tão celestial. Bem -aventurado és, por seres favorecido com Suas graças divinas.
A glória de Deus repouse sobre ti e sobre aqueles que se apegam firmemente à corda segura de Seu Testamento e Seu sagrado Convênio.


178. Ó serva de Deus! Tua carta datada de 9 de dezembro de 1918 chegou-me às mãos. Seu conteúdo foi considerado. Jamais percas a confiança em Deus. Que teu coração esteja sempre repleto de esperança, visto que as graças divinas jamais cessam de manar sobre o homem. Ainda que, consideradas por um prisma, aparentem diminuir, vistas por outra perspectiva elas são plenas e completas. O ser humano, sob todas as condições, está imerso num mar de bênçãos de Deus. Por conseguinte, sob nenhuma circunstância fiques desesperançada, sê antes firme em tua esperança.
Participar das reuniões dos amigos tem o intuito específico de mantê-los atentos, vigilantes, amorosos e atraídos ao Reino divino.
Se tens forte e intenso desejo de viajar para Phillsburg, no estado de Montana, podes fazê-lo. Talvez possas ser capaz de acender uma vela entre aquele grupo de mineiros e possas torná-los atentos e vigilantes, de modo que se volvam a Deus e adquiram uma porção da Benevolência do Reino divino.


179. Esforçai-vos o quanto puderdes por vos volverdes inteiramente ao Reino, a fim de adquirirdes coragem inerente e poder ideal.


180. Nutro a esperança de que, neste mundo inferior, alcances a luz celestial e libertes as almas da escuridão da natureza - ou seja, o reino animal -, fazendo com que atinjam posições sublimes no reino humano. Atualmente todas as pessoas estão imersas no mundo natural, razão pela qual vês claramente inveja, cupidez, a luta pela sobrevivência, impostura, hipocrisia, tirania, opressão, contendas, combates, derramamento de sangue, saque e pilhagem, todos os quais emanam do mundo da natureza. Poucos são os que se têm libertado dessa obscuridade, ascendido do mundo da natureza ao mundo humano, seguido os Ensinamentos divinos, servido à humanidade, e que são resplendentes, misericordiosos, iluminados e como roseirais. Esforça-te o mais que puderes por tornar-te divino, ornado com Seus atributos, iluminado e misericordioso, para que sejas libertado de todo laço e fiques enamorado do Reino do Senhor incomparável. Isso é graça bahá'í, é luz celestial.


181. Com relação à asserção constante das Palavras Ocultas de que o homem deve renunciar a si mesmo, o significado disso é que ele tem de renunciar a seus desejos desmedidos, a seus fins egoístas e às inclinações de seu ego humano, e deve buscar os santos sopros do espírito, atender aos anelos de seu eu superior e imergir-se no mar do sacrifício, com o coração integralmente atraído à beleza do Todo-Glorioso.
No que concerne à alusão nas Palavras Ocultas ao convênio firmado no Monte Párán64: isso significa que, aos olhos de Deus, passado, presente e futuro são um só e o mesmo - enquanto em relação ao homem o passado já se foi e caiu no esquecimento, o presente é fugaz, e o futuro pertence ao domínio da esperança. E constitui um princípio fundamental da Lei de Deus que Ele, em toda Missão Profética, celebre um Convênio com todos os crentes - Convênio esse que dura até o fim daquela Missão, até o dia prometido, quando a personagem especificada no início da Missão se faz manifesta. Consideremos Moisés, Aquele que conversou com Deus. Em verdade, Moisés, no Monte Sinai, firmou um Convênio relativo ao Messias com todas aquelas almas que viriam a viver na época do Messias. E embora aquelas almas tivessem surgido apenas muitos séculos depois de Moisés, entretanto, no que se refere ao Convênio, que transcende o tempo, aquelas almas estavam presentes ali, com Moisés. Os judeus, todavia, estavam desatentos a tal fato e não recordaram-se dele, e assim sofreram uma perda grande e evidente.
Com relação à referência da parte árabe das Palavras Ocultas que afirma dever o homem desprender-se do ego, aqui o significado é, também, que ele não deve buscar obter coisa alguma para si próprio nesta vida fugaz, mas sim, deve extirpar o ego, ou seja, cabe-lhe oferecer o ego e tudo o que lhe diz respeito no campo do martírio, quando da vinda do Senhor.


182. Ó vós que estais firmemente seguros ao Convênio e Testamento! Neste dia, dos domínios do Todo-glorioso e do Reino da Santidade, onde ressoam hosanas de glorificação e louvor, a Assembléia no alto está a fitar-vos. Sempre que seu olhar se depara com reuniões dos que são firmes no Convênio e Testamento, exclamam seus membros: "Alvíssaras! Alvíssaras!" Exultantes, elevam, então, as vozes, e ecoa seu brado: "Ó comunidade espiritual! Ó assembléia de Deus! Benditos sois! Boas-novas a vós! Fúlgidas sejam vossas frontes! Transbordem de júbilo vossos corações! pois estais apegados ao convênio do Bem-Amado de todos os mundos e inebriados com o vinho de Seu Testamento. Tendes consagrado lealdade irrestrita ao Ancião dos Dias e sorvestes copiosamente do cálice da fidelidade. Tendes protegido e defendido a Causa de Deus; não tendes sido causa de divisão da Sua Palavra, nem rebaixastes Sua Fé, senão que tendes vos esforçado por glorificar-Lhe o Sagrado Nome; não tendes permitido que a Abençoada Causa se tornasse objeto de escárnio do povo, nem que a Posição Designada fosse humilhada, e tampouco estais desejosos de ver o Centro da Autoridade exposto ao descrédito ou ao escárnio e à perseguição. Tendes vos empenhado por preservar a integridade e unicidade da Palavra. Passastes pelos portais da mercê. Vós não tendes consentido que a Abençoada Beleza se ausentasse de vossas mentes, nem que caísse no olvido."
Que a Glória repouse sobre vós.


183. Ó tu, filha do Reino! Tua carta foi recebida. Era semelhante ao chilreio do rouxinol divino, cuja melodia deleita os corações. Isso porque seu conteúdo indicava fé, certeza e firmeza no Convênio e Testamento. Hoje, o poder dinâmico do mundo da existência é o poder do Convênio, o qual, semelhante a uma artéria, pulsa no corpo do mundo contingente e preserva a unidade bahá'í.
Os bahá'ís receberam a incumbência de estabelecer a unidade do gênero humano; se não forem capazes de unir-se em torno de um foco, como poderão levar a efeito a unidade da humanidade?
O desígnio da Abençoada Beleza ao firmar este Convênio e Testamento foi congregar todos os seres existentes em torno de um único foco, de modo que as almas insensatas, que em cada ciclo e geração têm sido fonte de dissensão, não pudessem solapar a Causa. Ele, conseqüentemente, decretou que tudo aquilo que emane do Centro do Convênio é correto e está sob Sua proteção e favor, enquanto tudo o mais é erro.
Glorificado seja Deus! tu és firme no Convênio e no Testamento.


184. Ó almas benditas! Apesar de estardes sendo submetidas a provações cruciais, face às reiteradas e assíduas tentativas por parte de alguns de abalar a fé dos amigos em Los Angeles, seguis sob o olhar vigilante da benevolência de Bahá'u'lláh e sois auxiliados por legiões de anjos.
Caminhai, portanto, a passos seguros, e dedicai-vos, com a máxima convicção e confiança, à disseminação dos eflúvios divinos, à glorificação da Palavra de Deus e à firmeza no Convênio. Tende plena certeza de que se uma alma levantar-se e com suprema perseverança erguer o Chamado do Reino, e resolutamente divulgar o Convênio, ela, ainda que seja uma insignificante formiga, será capacitada a afugentar o temível elefante da arena, e mesmo que seja uma frágil mariposa, retalhará a plumagem do abutre voraz.
Assim sendo, esforçai-vos, a fim de debandardes e dispersardes as hostes da dúvida e do erro com o poder das palavras sagradas. É essa minha exortação, esse é o meu conselho. Não polemizeis com pessoa alguma e abstende-vos de qualquer forma de controvérsia. Proferi a Palavra de Deus. Se vosso interlocutor aceitá-la, o objetivo desejado terá sido atingido; se, porém, rejeitá-la, deixai-o entregue a si mesmo e ponde vossa confiança em Deus.
Tal é o atributo dos firmes no Convênio.


185. Ó amigos e servas do Misericordioso! Foi recebida uma carta da Assembléia Espiritual de Los Angeles, a qual revelava o fato de que as almas abençoadas da Califórnia, como montanhas inabaláveis, estão resistindo ao vendaval da violação e, à semelhança de árvores benditas, foram plantadas no solo do Convênio e são extremamente firmes e constantes. Nutre-se a esperança, portanto, de que por meio das bênçãos do Sol da Verdade elas venham a robustecer-se diariamente em sua firmeza e constância. As provações de cada dispensação surgem em proporção direta com a grandeza da Causa, e como até agora um Convênio tão manifesto, escrito pela Pena Suprema, não havia sido instituído, as provações são proporcionalmente mais árduas. Tais provações fazem com que as almas tíbias vacilem, ao passo que aquelas que são firmes permanecem incólumes. Essas agitações dos violadores nada mais são que a espuma do oceano - e não há oceano sem espuma; todavia, o oceano do Convênio há de avançar em ondas e lançará à praia os corpos mortos, pois não pode conservá-los dentro de si. Assim, vê-se haver o oceano do Convênio se encapelado, mais e mais, até deitar fora os cadáveres: almas que são privadas do Espírito de Deus e estão perdidas na paixão e no ego, em busca de liderança. Essa espuma do oceano não perdurará; em breve se dissipará e desvanecerá, enquanto o oceano do Convênio há de intumescer e bramir por toda a eternidade...
Desde os primórdios da criação até o presente momento, em nenhuma dispensação divina semelhante Convênio, firme e explícito, fora estabelecido. Em vista disto, será possível a essa espuma permanecer sobre a superfície do oceano do Convênio? Não, por Deus! Os violadores estão a tripudiar sobre sua própria dignidade, a demolir seus próprios alicerces e orgulham-se de terem o apoio de aduladores que envidam enorme esforço por abalar a fé das almas débeis. No entanto, sua ação resultado algum terá; é miragem, não água; é espuma, jamais o mar; é névoa, não nuvem; não é realidade, apenas ilusão. Em breve percebereis isto tudo.
Vós, Deus seja louvado! sois firmes e constantes. Sede gratos por estardes firmemente plantados, qual árvores abençoadas, no solo do Convênio. É indubitável que todo aquele que se mantiver firme há de crescer, dar frutos novos e, dia a dia, vicejar em frescor e graça. Refleti sobre todas as escrituras de Bahá'u'lláh - quer epístolas, quer orações - e seguramente vos deparareis com uma miríade de passagens nas quais Bahá'u'lláh ora: "Ó Deus! Reduz ao nada os violadores do Convênio e desbarata os que oprimem o Testamento". "Aquele que contesta o Convênio e o Testamento é rejeitado por Deus; e o que neles permanece firme é estimado no liminar da Unicidade". Textos e orações nesses termos existem em profusão; referi-vos a eles e sabereis.
Que a depressão jamais se apodere de vós. Quanto mais fordes agitados pela violação, mais vos arraigai na firmeza e na constância, e tende a convicção de que as hostes divinas haverão de vencer, uma vez que a vitória do Reino de Abhá lhes está assegurada. Por todas as regiões, o pendão da firmeza e constância está erguido e a bandeira da violação, rebaixada, porquanto somente um punhado de almas fracas foi desencaminhado pela adulação e pelos argumentos enganadoramente belos dos violadores, os quais, exteriormente, e com o maior empenho, exibem firmeza, mas interiormente estão empenhados em agitar as almas. Apenas poucos dos que incitam e criam agitação, ou seja, seus líderes, são publicamente conhecidos como violadores, enquanto os demais por meios sutis enganam as almas, já que exteriormente afiançam sua firmeza e constância no Convênio, mas tão logo encontram ouvidos impressionáveis lançam secretamente as sementes da dúvida. O caso de todos eles parece-se com o rompimento do Convênio por Judas Iscariotes e seus seguidores. Considerai: deles restou algum resultado ou vestígio? De seus seguidores, nem um único nome sequer permanece e, conquanto vários judeus houvessem tomado seu partido, foi como se ele não tivesse tido qualquer adepto. Esse mesmo Judas Iscariotes, que era o líder dos apóstolos, traiu a Cristo por trinta moedas de prata. Atentai, ó vós dotados de percepção!
Presentemente, é certo que esses insignificantes violadores atraiçoarão o Centro do Convênio pela enorme quantia que, por todos os meios sutis, têm mendigado. Três décadas já expiraram desde a ascensão de Bahá'u'lláh, e durante todo esse tempo têm eles se esforçado de corpo e alma. O que conseguiram? Sob todas as condições, os que permaneceram firmes no Convênio têm triunfado; já os violadores têm encontrado só derrota, frustração e tristeza. Após a ascensão de 'Abdu'l-Bahá, deles não restará vestígio algum. Essas almas ignoram por completo o que há de sobrevir e vangloriam-se de suas próprias fantasias.
Em suma, ó amigos de Deus e servas do Misericordioso! A mão da graça divina pôs sobre vossas cabeças uma coroa adornada de jóias, cujas preciosas gemas resplandecerão eternamente por todas as regiões. Sede gratos por essa dádiva, soltai vossas línguas para expressarem louvor e gratidão, e devotai-vos à disseminação dos ensinamentos divinos, pois esse é o espírito da vida e o meio de se atingir a salvação.


186. Ó tu que estás firme no Convênio! Três cartas consecutivas foram de ti recebidas. De seu conteúdo soube-se que em Cleveland os corações estão aflitos pelos sussurros tenebrosos dos rompedores do Convênio, e a harmonia entre os amigos decresceu. Deus bondoso! Foi predito uma centena de vezes que os violadores estariam emboscados, desejando por todos os meios engendrar dissensão entre os amigos, de modo que tal dissensão viesse a resultar em violação do Convênio. Como puderam os amigos, a despeito desta advertência, negligenciar tal afirmação explícita?
A questão em foco é clara, evidente e da maior brevidade. Ou Bahá'u'lláh era sábio, onisciente e tinha ciência do que sucederia, ou estava ignorante e equivocado. Ele, através de Sua pena suprema, instituiu um Convênio e Testamento de magna firmeza com todos os bahá'ís - primeiramente com os Aghsán, os Afnán e Seus parentes - e ordenou-lhes que obedecessem e se volvessem para Ele. Com Sua pena suprema, declarou formalmente que o objeto do versículo seguinte, do Kitáb-i-Aqdas, é o Mais Grandioso Ramo65:
"Quando o oceano de Minha presença tiver refluído e quando se tiver concluído o Livro de Minha Revelação, volvei vossas faces para Aquele designado por Deus, Aquele Que proveio desta Raiz Antiga". Seu significado, em poucas palavras, é este: após Minha ascensão, incumbe aos Aghsán, aos Afnán e aos parentes, bem como a todos os amigos de Deus, volverem as faces para Aquele Que brotou da Raiz Antiga.
Ele, outrossim, afirma claramente no Kitáb-i-Aqdas: "Ó povo do mundo! Quando o Pombo Místico tiver alçado vôo de seu Santuário de Louvor em busca de sua meta longínqua, sua morada oculta, recorrei, para esclarecimento de tudo o que não compreendais do Livro, Àquele Que procedeu desta poderosa estirpe". Dirigindo-se a todas as pessoas do mundo Ele diz: quando o Pombo Místico voar do jardim do louvor rumo à Mais Suprema e Invisível Posição - isto é, ao afastar-se a Abençoada Beleza do mundo contingente em direção ao reino invisível - recorrei, sobre qualquer coisa do Livro que não entenderdes, Àquele Que procedeu da Raiz Antiga. Ou seja, tudo o que Ele disser é a própria verdade.
E, no Livro do Convênio, Ele categoricamente assevera que a expressão "Aquele Que procedeu desta Raiz Antiga" refere-se ao Mais Grandioso Ramo66; e ordena a todos os Aghsán, Afnán e familiares, e aos bahá'ís, que se volvam a Ele. Ora, ou devemos dizer que a Abençoada Beleza cometeu um equívoco, ou temos de obedecê-Lo. ´Abdu'l-Bahá nenhuma injunção tem às pessoas salvo a difusão das fragrâncias de Deus, a exaltação de Sua Palavra, a disseminação da unidade da humanidade, o estabelecimento da paz universal e outros dos mandamentos de Deus. Esses são mandamentos divinos e nada têm a ver com 'Abdu'l-Bahá. Quem assim o desejar, que os aceite, e quem quiser rejeitá-los que proceda como lhe aprouver.
Alguns dos intrigantes estão agora, através de inúmeros estratagemas, empenhados na conquista de liderança, e a fim de atingir essa posição eles instilam dúvidas entre os amigos, de modo a provocar divergências que lhes possibilitem aliciar uma facção para si. Cumpre aos amigos de Deus, todavia, permanecer despertos e saber que a difusão de tais dúvidas é motivada por desejos pessoais e sede de liderança.
Não rompas a unidade bahá'í; e sabe tu que esta não pode ser mantida senão através da fé no Convênio de Deus.
Tens o desejo de viajar com o intuito de propagar os eflúvios de Deus. Isso é sumamente oportuno. As confirmações divinas indubitavelmente te assistirão, e o poder do Convênio e Testamento assegurar-te-á o triunfo e a vitória.


187. Ó tu que estás firme no Convênio! Tua missiva foi recebida. Expressaste satisfação pela Convenção, por haver esta sido um meio de elevação da Causa de Deus e de demonstração do poder de Seu Verbo. A grandeza da Causa há de dirimir essas discórdias, e pode ser comparada à saúde no organismo humano, a qual, tão logo estabelecida, cura todas as enfermidades e debilidades. Nossa esperança é que nenhum traço de oposição subsista; todavia, alguns dos amigos na América estão inquietos por causa de suas vivas ambições e esforçam-se por buscar em toda parte algo que dê origem à dissensão.
Deus seja louvado! Tais portas estão todas cerradas na Causa de Bahá'u'lláh, pois foi designado um Centro especial investido de autoridade - Centro esse que soluciona todas as dificuldades e evita todas as divergências. A Casa Universal de Justiça, de modo igual, impede todas as discrepâncias, e todas as suas prescrições têm de ser aceitas, sendo rejeitado aquele que as transgredir. Porém, essa Casa Universal de Justiça - que constitui o Poder Legislativo - ainda não foi instituída.
Destarte, vê-se que nenhum meio para o surgimento da dissensão foi deixado; não obstante, os desejos mundanos são a causa da discórdia, como ocorre com os violadores. Estes não questionam a validade do Convênio, mas motivos egoísticos os arrastaram a essa condição. Não é que não saibam o que fazem; estão perfeitamente cônscios, e ainda assim, exibem oposição.
Em suma, tempestuoso e vasto é o oceano do Convênio. Ele lança à areia a espuma da violação. Portanto, permanecei serenos e convictos. Dedicai-vos ao fomento do Mashriqu'l-Adhkár e provede os instrumentos para a difusão das fragrâncias divinas. Não vos ocupeis com nada a não ser isso, pois doutro modo dispersareis vossa atenção e o trabalho não progredirá.


188. Ó vós que sois ternamente amados por 'Abdu'l-Bahá! Um longo tempo já se passou desde que, pela última vez, meus ouvidos interiores escutaram as doces melodias provenientes de certas regiões, e desde que meu coração foi alegrado; e isso a despeito de estardes sempre presentes em meus pensamentos e manifestamente visíveis ante meus olhos. O cálice de meu coração está a transbordar com o vinho do amor que vos devoto, e meu anseio de ver-vos pessoalmente corre como o espírito através de minhas artérias e veias. Isso torna claro quão grande é minha aflição. Atualmente, e ao longo de toda essa tempestade de calamidades, cujas ondas já atingem o céu superno, dardos cruéis estão sendo incessantemente arremessados contra mim de todos os pontos cardeais, e a todo instante chega aqui à Terra Santa uma notícia aterradora, e cada dia traz consigo sua quota de horror. O Centro da Sedição67 imaginara necessitar tão somente de sua arrogante rebelião para derribar e arruinar o Convênio e Testamento; cuidara que isso seria bastante para desviar os justos do Testamento Sagrado. Daí haver ele espargido seus folhetos de dúvida, expedindo-os a toda parte, e urdido inúmeras tramas secretas. Num tempo vociferava ele haver sido subvertido o edifício de Deus e haverem-se anulado Seus mandamentos divinos, e que, conseqüentemente, o Convênio e Testamento fora abolido. Noutra ocasião punha-se a suspirar e gemer, dizendo que estava sendo mantido cativo, faminto e sedento dia e noite. Depois disso suscitou uma comoção, afirmando que a unicidade de Deus fora negada, porquanto uma outra Manifestação havia sido proclamada antes da expiração de mil anos.
Ao constatar a absoluta ineficácia de suas calúnias, ele, gradualmente, maquinou um plano para incitar uma convulsão. Começou a instigar a maldade e, para tanto, bateu em todas as portas. Pôs-se a fazer acusações falsas aos oficiais do Governo. Aproximando-se de alguns dos forasteiros, fez-se íntimo deles, e conjuntamente redigiram um relatório que foi apresentado à Sede do Sultanato, espalhando pânico entre as autoridades. Entre as muitas acusações caluniosas feitas contra este ser injuriado68 figurava a de haver ele erguido a bandeira da revolta - um estandarte ostentando as palavras "Yá Bahá'u'l-Abhá" - tendo assim desfilado por toda a zona rural, por cada cidade, vila e aldeia, e até mesmo entre as tribos do deserto, alardeando essa bandeira e convocando toda a população a unir-se sob ela.
Ó meu Senhor! Refugio-me em Ti da própria cogitação de semelhante ato, o qual é contrário a todos os mandamentos de Bahá'u'lláh, e que, de fato, seria uma grande iniqüidade, que ninguém, exceto um pecador nefando, jamais perpetraria. Pois que Tu nos ordenaste obedecer aos governantes e reis.
Outra de suas injúrias foi afirmar que o Santuário no Monte Carmelo era uma fortaleza, por mim erigida robusta e inexpugnável - a despeito de o edifício em construção ter só seis cômodos - e que eu a denominara Medina, a Resplandecente, ao mesmo tempo que designara o Sagrado Sepulcro69 como Meca, a Glorificada. Outra de suas calúnias foi que eu havia instituído um estado soberano e independente e - Deus o proíba! Deus o proíba! Deus o Proíba - conclamara todos os crentes a associarem-se a mim nesse monumental erro. Quão atroz, ó meu Senhor, é sua injúria!
Além disso, ele assevera que um imenso malefício advirá a este governo e este povo em virtude de o Sagrado Santuário ter-se tornado um local visitado por peregrinos do mundo inteiro. Ele, o Centro da Sedição, sustenta que ele próprio nada teve a ver com qualquer dessas questões; que é sunita dos mais fervorosos e seguidor devoto de Abú-Bakr e 'Umar, e tem a Bahá'u'lláh na conta de um mero homem pio e místico; e que todas essas coisas foram postas em movimento por este injuriado.70
Em poucas palavras, foi nomeada uma Comissão de Investigação pelo Sultão - que a glória de seu reinado perdure - seus membros viajaram para cá e, mal chegaram, dirigiram-se de imediato à residência de um dos acusadores. Convocaram, então, o grupo que, em conluio com meu irmão, elaborara o documento acusatório, para que confirmassem ou não sua veracidade. O grupo explicou o conteúdo do relatório, afirmou que tudo o que neste se expusera era nada além da verdade e acrescentou novas acusações. Assim, atuaram eles simultaneamente como querelantes, testemunhas e juízes.
A Comissão agora já retornou à sede do Califado, e daquela cidade chegam, diariamente, relatos os mais terríveis. Não obstante, graças a Deus, 'Abdu'l-Bahá permanece sereno e tranqüilo. Contra ninguém guardo ressentimento por causa dessa difamação. Deixei todos os meus assuntos nas mãos de Sua irresistível Vontade e estou, com perfeita felicidade, verdadeiramente, na expectativa de oferecer minha vida e preparado para qualquer aflição penosa que me esteja reservada. Louvado seja Deus! também os crentes amorosos aceitam a Vontade de Deus e permanecem submissos à ela, contentes com ela, radiantemente aquiescentes, rendendo graças.
O Centro da Sedição imaginou que uma vez que o sangue deste injuriado seja derramado, assim que eu tenha sido abandonado na imensidão das areias do deserto, ou afogado no Mar Mediterrâneo - sem nome, desaparecido sem vestígios, sem ninguém que informasse a meu respeito -, então teria ele, afinal, um campo onde pudesse esporear seu corcel e, com seu taco de mentiras e dúvidas, golpear violentamente a bola de pólo71 de suas ambições, conquistando o prêmio.
Longe disso! Pois mesmo que o doce aroma do almíscar da fidelidade se dissipasse, e resquício algum seu permanecesse, quem se deixaria atrair pelo odor nauseabundo da perfídia? E mesmo se uma gazela do céu fosse dilacerada por chacais e lobos, quem é que correria em busca de um lobo voraz? E ainda que o ocaso do dia do Rouxinol Místico fosse iminente, quem jamais se deteria para escutar o grasnar do corvo ou o crocitar da gralha? Que suposição sem sentido a dele! Que presunção néscia! "Suas obras assemelham-se ao vapor do deserto, que o sequioso sonha ser água, até que o alcança - e nada encontra."72
Ó amados de Deus! Que sejam firmes vossos passos, constante vosso coração e, através do poder do auxílio da Abençoada Beleza, mantende-vos empenhados em vosso propósito. Servi a Causa de Deus. Defrontai todas as nações do mundo com a constância e a paciência do povo de Bahá, deixando todos estupefatos e a perguntar-se como podem vossos corações ser mananciais de confiança e fé e minas tão ricas no amor de Deus. Assim sede vós, para não fraquejardes nem titubiardes em função destas calamidades na Terra Santa; não permitais que estes terríveis eventos vos desalentem. E se todos os crentes caírem ao fio da espada, sendo poupado apenas um, que este único brade em nome do Senhor e esparja as novas jubilosas; que ele se levante e arroste todos os povos da terra.
Não fixeis vosso olhar nos terríveis acontecimentos em curso neste Lugar Iluminado. A Terra Santa corre perigo em todos os tempos e aqui a maré das calamidades é permanentemente alta, pois este chamado que se ergueu já foi ouvido por todo o planeta, e sua fama já atingiu os confins da terra. É por isso que os inimigos, externos como internos, passaram a recorrer, com sagacidade e astúcia, à difusão de calúnias. É evidente que um local como este teria de estar exposto ao perigo, visto não haver qualquer defensor aqui, ninguém que se levante e permaneça ao nosso lado à face da calúnia: aqui há, somente, um punhado de almas sem lar, injuriadas, mantidas em cativeiro nesta cidadela. Paladino algum têm; ninguém há que os socorra ou desvie as setas das mentiras e os dardos da difamação contra eles atirados: ninguém, salvo Deus.
Cabe a vós ponderar sobre todos aqueles bem-amados que se lançaram impetuosamente ao sagrado campo do sacrifício, aquelas preciosas almas que imolaram sua própria vida. Ponderai sobre os rios de sangue sagrado que foram derramados; sobre quantos corações justos foram despedaçados; quantos peitos foram alvejados pelas lanças da opressão; quantos corpos castos foram dilacerados. Que cabimento então teria sequer pensarmos em salvar nossas vidas? Adular estranhos e parentes, e agir hipócrita e dissimuladamente! Não deveríamos, ao invés disso, trilhar a senda dos retos e seguir as pegadas daqueles heróis de antanho?
Estes poucos e efêmeros dias hão de passar, e esta vida desaparecerá de nossas vistas; as rosas deste mundo serão despidas de seu viço e beleza, e o jardim dos triunfos e prazeres terrenos acabará por definhar e morrer. A primavera da vida transformar-se-á no outono da morte, e a leda alegria dos recintos dos palácios dará lugar a uma noite perene e sem luar no interior da sepultura. Por conseguinte, tudo isso é indigno de qualquer afeição, e o sábio não lhe aferrará o coração.
Aquele que é dotado de conhecimento e poder irá antes buscar a glória do céu, a distinção espiritual, a vida que não finda. Ele ansiará por aproximar-se do Limiar sagrado de Deus; pois o homem de Deus não se deterá, embriagado, na taberna deste mundo efêmero, e nem sequer por um instante se acomodará e tampouco se maculará com apego algum a esta existência terrena.
Ao contrário, os amigos são estrelas nos sublimes céus da guia, são astros nos firmamentos da graça divina, os quais com todas as suas forças afugentam as trevas. Eles destroem os alicerces da malevolência e do ódio. Acalentam apenas um desejo para o mundo e todos os seus povos: o bem-estar e a paz. Através deles os baluartes da guerra e da agressão são demolidos. Eles têm a veracidade, a conduta reta e a amizade como metas, e a bondade mesmo ao inimigo perverso; e eles haverão, afinal, de transformar o mundo - esta prisão de perfídia - numa mansão da maior fidedignidade, e hão de fazer deste cárcere de ódio, malignidade e rancor um paraíso de Deus.
Ó amigos amorosos! Esforçai-vos, de corpo e alma, por fazer com que este mundo espelhe vividamente o Reino, para que este mundo inferior exubere nas bênçãos do mundo de Deus, que as vozes da Assembléia no alto se ergam em aclamação e os sinais e provas das graças e dádivas de Bahá'u'lláh envolvam a Terra inteira.
Jináb-i-Amín tem expressado a maior admiração por vós, cavalheiros ilustres e damas esclarecidas, mencionando e louvando, um a um, a todos vós, descrevendo em detalhes a firmeza e constância que todos tendes demonstrado e relatando que, graças a Deus, em toda a Pérsia homens e mulheres mantêm-se unidos, retos, fortes, inabaláveis, constituindo um imponente e sólido edifício; e conta que estais empenhados, com amor e júbilo, na disseminação das doces fragrâncias do Senhor por todos os quadrantes.
Essas foram notícias causadoras de grande regozijo, em especial por terem-me chegado nestes dias de extremo perigo. Pois o mais ardente desejo deste injuriado é que os amigos possuam corações espirituais e mentes iluminadas; e uma vez que essa graça me seja concedida, a calamidade, não importa quão aflitiva, não é senão benevolência a jorrar sobre mim, semelhante a uma chuva copiosa.

Ó Deus, meu Deus! Tu me vês imerso num oceano de angústias, cingido pelos fogos da opressão, em prantos na escuridão da noite. Insone, agito-me no leito, e meus olhos lutam para avistar a luz matinal da fidelidade e fidedignidade. Estou agonizante como um peixe cujas entranhas ardem ao debater-se aterrorizado sobre a areia, e, todavia, guardo sempre a esperança de que tuas dádivas sujam de todos os lados.
Ó Deus, meu Deus! Permite que os crentes de outras plagas obtenham um quinhão de tua graça abundante; com Teu auxílio e generosidade infalíveis, salva aqueles de Teus amados que nas terras mais distantes suspiram devido à amarga crueldade de seus inimigos. Senhor! Eles são os cativos de Teu amor, os prisioneiros de Tuas hostes; são as aves que voam nos céus de Tua guia, as baleias que nadam no oceano de Tuas dádivas, as estrelas cintilantes do horizonte de Teus dons. Eles são os defensores da fortaleza de Tua lei. São os estandartes de Tua lembrança entre os homens. São as fontes profusas de Tua compaixão divina, os mananciais de Teus favores e as nascentes de tua graça.
Guarda-os sempre em segurança com teu olhar que a tudo protege. Ajuda-os a exaltar Teu Verbo; torna seus corações constantes em Teu amor; fortalece seus braços para que Te sirvam condignamente; e em servitude, reforça-lhes os poderes.
Através deles, difunde por toda parte Teus doces eflúvios; manifesta através deles Tuas Sagradas Escrituras; por intermédio deles torna conhecido o que provêm de Tua Voz; torna-os instrumentos do cumprimento de Tuas Palavras; por meio deles, esparge Tua mercê.
És, verdadeiramente, o Grande, o Poderoso. És, verdadeiramente, o Clemente, o Compassivo.


189. Hoje, toda pessoa sábia, vigilante e previdente está desperta e lhe estão desvelados os mistérios do futuro - que mostram que nada exceto o poder do Convênio é capaz de comover e fazer vibrar o coração da humanidade - de forma idêntica ao Novo e Antigo Testamentos, que conduziram por todas as regiões a Causa de Cristo, e eram o poder pulsante no corpo do mundo. A árvore que possui raiz ostentará frutos, enquanto aquela que não tem - por mais elevada e resistente que seja - há de, afinal, secar, perecer e tornar-se não mais que uma tora destinada ao fogo.
O Convênio de Deus assemelha-se a um vasto e insondável oceano. Dele uma vaga há de erguer-se e encapelar-se, e deitará fora toda a espuma acumulada.
Louvado seja Deus por ser a exaltação do verbo de Deus e a propagação das fragrâncias divinas a mais nobre aspiração das almas atentas. Isto, em verdade, é o alicerce seguro e firme.
No tempo atual, como ao alvorecer, espargiu-se por todas as regiões a luz do Sol da Verdade. Cumpre envidar esforços para que as almas letárgicas sejam despertas, os desatentos tornem-se vigilantes e os ensinamentos divinos, que constituem o espírito desta era, alcancem os ouvidos de todos os povos, sejam disseminados pela imprensa e expostos brilhante e eloqüentemente nas assembléias humanas.
Deve-se possuir conduta como a de Paulo e fé similar à de Pedro. Esta brisa almiscarada há de deleitar os povos do mundo, e este espírito ressuscitará os mortos.
O odor repugnante da violação tem detido, temporariamente, a marcha da Causa, pois se assim não fosse os ensinamentos divinos, como os raios solares, de imediato se disseminariam e permeariam todas as terras.
Tens a intenção de imprimir e publicar as palestras de 'Abdu'l-Bahá que compilaste. Isso com efeito, é assaz oportuno. Este serviço será causa de teres a face refulgente no Reino de Abhá e fará de ti objeto de louvor e gratidão dos amigos, tanto do Oriente quanto do Ocidente. Porém, isso deve ser executado com o máximo cuidado, a fim de que se reproduza fielmente o texto, excluindo-se todas as deturpações e adulterações cometidas por tradutores anteriores.


190. Tu me vês, ó meu Deus, prostrado em submissão, humilde ante Teus mandamentos, submisso a Tua soberania, estremecendo frente ao poder de Teu domínio, fugindo de tua ira, suplicando Tua graça, confiando em Teu perdão, trêmulo de temor ante Tua fúria. Eu te imploro, com o coração a palpitar, os olhos plenos de lágrimas e a alma anelante, e com absoluto desprendimento de tudo, que faças daqueles que Te amam raios de luz através de Teus reinos e auxilies Teus servos eleitos a exaltarem Tua Palavra, para que suas frontes se façam formosas e resplendentes, seus corações fiquem repletos de mistérios divinos, e toda alma se livre do fardo de seus pecados. Protegei-os então, do agressor, daquele que se tornou um blasfemo e impudente perpetrador de iniqüidades.
Ó meu Senhor! Em verdade, aqueles que Te amam estão sequiosos; guia-os ao manancial da bondade e da graça. Verdadeiramente, têm fome; faze descer para eles Teu banquete celestial. Em verdade, estão despojados; adorna-os com as vestes do conhecimento e do saber.
Heróis eles são, ó meu Senhor; conduze-os ao campo de batalha. São dos que guiam; faze-os clamar com argumentos e provas. Servos dedicados é o que são; faze com que ofereçam a todos o cálice a transbordar com o vinho da certeza. Ó meu Deus! Torna-os aves canoras a gorjear em belos jardins, faze deles leões que repousam nos bosques, baleias a imergir-se no vasto oceano.
Verdadeiramente és o Senhor de graça abundante. Nenhum outro Deus há a não ser Tu, o Grande, o Poderoso, o Dispensador de dádivas.

Ó vós, meus amigos espirituais! Nos últimos tempos, as pressões foram rigorosas, as restrições foram qual grilhões de ferro. Este injuriado infeliz viu-se entregue à solitude e ao abandono, pois todos os caminhos estavam obstruídos. Aos amigos foi vedado o acesso a mim; os fidedignos foram confinados à distância; o inimigo sitiou-me; os espreitadores malignos eram atrozes e audazes. A cada instante, nova aflição. A cada alento, nova angústia. Tanto parentes como estranhos a atacar; de fato, os amigos pérfidos, infiéis e impiedosos, eram mais cruéis que os inimigos quando se levantavam para me atormentar. E ninguém havia para defender 'Abdu'l-Bahá - ninguém que o amparasse, nenhum protetor, nenhum aliado, nenhum paladino. Eu me afogava num mar sem praias, e atordoavam-me os ouvidos, sem trégua, as vozes crocitantes dos traidores.
A cada alvorecer, densas trevas. Ao crepúsculo, tirania de corações empedernidos. E jamais a paz, nem mesmo momentânea, jamais bálsamo algum para as feridas rubras dos dardos. De quando em quando, chegava notícia de meu exílio às areias de Fezzan73; a toda hora, novas de que seria atirado no mar sem limites. Ora se dizia que afinal estavam arruinados estes errantes sem lar; logo em seguida, que em breve se lançaria mão da cruz. Agora, este meu corpo debilitado havia de se tornar alvo de balas e setas; logo depois, havia de ser retalhado pela espada.
Os conhecidos que nos queriam mal não se podiam conter de alegria, e nossos amigos traiçoeiros exultavam: "Louvado seja Deus!", um deles exclamaria, "eis a concretização de nossos sonhos!" "Graças a Deus!" diria um outro, "a ponta de nossa lança atingiu o coração que almejara!"
A aflição flagelava este cativo como as chuvas tempestuosas da primavera, e as vitórias dos malévolos precipitavam-se numa torrente implacável; e, ainda assim, 'Abdu'l-Bahá permanecia feliz e sereno, confiante na graça do Todo-Misericordioso. Aquela dor e aquela angústia eram um paraíso de todos os deleites; aqueles grilhões eram o colar de um rei num trono do céu. Contente com a vontade de Deus, de todo resignado, meu coração rendeu-se ao que quer que o destino me reservasse; eu era feliz e tinha por bom companheiro um júbilo imenso.
Por fim, chegou um tempo em que os amigos ficaram inconsoláveis e perderam todas as esperanças. Foi então que, de súbito, a manhã radiosa alvoreceu, inundando tudo com luz infinita. As nuvens densas dissiparam-se; as sombras lúgubres fugiram. Naquele instante, as correntes romperam-se, as cadeias foram retiradas do pescoço deste ser sem guarida e colocadas no pescoço do inimigo. Aquelas adversidades terríveis transformaram-se em sossego e, no horizonte dos favores de Deus, o sol da esperança nasceu, e tudo isso em virtude de Sua graça e Suas dádivas.
E, todavia, num certo sentido este errante achou-se pesaroso e desalentado. Em que dor, no porvir, poderia eu buscar conforto? Que desejo meu acaso se tornara realidade, para que eu me regozijasse? Não havia mais opressão, tampouco aflição, nem eventos trágicos ou tribulações. Meu júbilo único neste mundo fugaz era palmilhar a senda pedregosa de Deus e suportar toda sorte de provações violentas e tormentos materiais. Pois doutro modo esta vida terrena mostrar-se-ia estéril e vã, e a morte ser-lhe-ia preferível. A árvore do ser fruto algum produziria; o solo semeado desta existência não geraria nenhuma colheita. Destarte, é minha esperança que, uma vez mais, alguma circunstância faça com que transborde meu cálice de angústia, e que o lindo Amor, esse Assassino de almas, novamente deslumbre os observadores. Então este coração será ditoso e esta alma, bem-aventurada.

Ó Divina Providência! Ergue aos lábios daqueles que Te amam um cálice transbordante de angústia. Às almas que por Ti suspiram, em Teu caminho, torna a doçura tão-somente um aguilhão e o veneno, doce como mel. Faz de nossas cabeças o ornamento das pontas das lanças. Torna nossos corações o alvo de setas e dardos impiedosos. Ressuscita no campo do martírio esta alma esmorecida; faze com que este coração desanimado sorva da taça da opressão e volte assim a vicejar, irradiando frescor e beleza. Inebria-o com o vinho de Teu Convênio Eterno e torna-o um extasiado a erguer seu cálice. Ajuda-o a oferecer a vida; consente que, por amor a Ti, ele seja imolado.
Tu és o Grande, o Poderoso. És o Conhecedor, o Que ouve e vê.


191. Ó tu que tens suportado penosas tribulações na senda do Convênio! A angústia e o tormento, quando sofridos no caminho do Senhor dos sinais manifestos, são apenas favor e graça; aflição não é senão mercê, e a dor, uma dádiva de Deus. Veneno é açúcar a deliciar a língua, e ira é bondade que nutre a alma.
Rende louvores, pois, a Ele, o amoroso Provedor, por haver ordenado essa aflição terrível que é simplesmente pura generosidade.

Quiçá eu ainda tenha, como Abraão,
Que entre chamas ardentes andar;
Ou talvez precise, qual João74,
Com meu sangue o solo encharcar;

Talvez, como a José, me lances em negro poço,
Ou me atires agrilhoado em cela escura;
Ou me presenteies da pobreza o esforço:
Qual do Filho de Maria a vida dura.

Eu de Ti não me afastaria, porém,
Antes buscaria a eternidade a teu lado;
Submisso a Tua Vontade, como convém,
Todo meu ser por Ti sacrificado.


192. Hoje, o Senhor dos Exércitos é o defensor do Convênio; as hostes do Reino protegem-no, as almas celestiais rendem seus serviços e anjos celestiais divulgam-no e o difundem aos quatro ventos. Se for analisado com discernimento, ver-se-á que todas as forças do universo, em última análise, servem ao Convênio. Isto há de tornar-se evidente e manifesto no futuro. Em vista disso, o que podem essas almas débeis e tíbias conseguir? Mesmo plantas resistentes, se destituídas de raízes e privadas das efusões da nuvem da mercê, não perdurarão. O que se pode esperar, então, de frágeis ervas daninhas?...


193. É romper do dia, e do horizonte dos domínios invisíveis de Deus a luz da unidade está raiando; do mundo oculto do Reino da unicidade precipita-se e jorra um dilúvio de graça abundante. Ouvem-se as boas-novas do Reino de todos os lados, e de todas as direções provêm os primeiros sinais matinais do Verbo de Deus e do enaltecimento de Sua Causa. A mensagem da unidade está-se disseminando, os versículos da unicidade estão sendo entoados, o mar das dádivas divinas projeta ondas monumentais e Suas bênçãos emanam em exuberantes cataratas.
As confirmações dAquele que sempre perdoa imergiram todas as plagas em luz, os exércitos da Companhia no alto estão a lançar-se com ímpeto para combater ao lado dos amigos do Senhor e para vencer a batalha; o renome da Beleza Antiga - seja minha vida oferecida em holocausto por Seus amadas - repercute de pólo a pólo, e as novas de Sagrada Cause têm-se propagado pelo Oriente e pelo Ocidente.
Tudo isso traz júbilo ao coração, e, no entanto, 'Abdu'l-Bahá está submerso num oceano de aflição, e a dor e a angústia a tal ponto me têm afetado os membros que prostração extrema apossou-se de todo o meu corpo. Notai que quando ergui o chamado de Deus pelo mundo inteiro, só e sem auxílio, sem ninguém que me ajudasse, os povos levantaram-se com o fito de se opor, de contestar, de negar. De um lado, está claro como os fanáticos do passado se municiaram para atacar de todos os pontos; de outro lado, chega notícia dos escarnecedores mentirosos e dos extremos que estão a cometer na tentativa de extirpar a Árvore Divina. Que imputações maliciosas e caluniosas investem contra a Beleza Antiga! Quão repletos de calúnias iníquas e depravadas contra o Maior Nome são os panfletos que estão ativamente redigindo e propalando! E agora, às ocultas, estão a envidar os mais diligentes esforços para desferir um temível golpe nesta Fé.
E ainda mais, os arrogantes têm maquinado toda sorte de conspiração e sortilégio visando a degradar por completo a Causa de Deus e apagar o nome de 'Abdu'l-Bahá do Livro da Vida.
E agora, em adição a todas essas tribulações, tormentos e investidas inimigas, levantou-se uma nuvem de pó de animosidade entre os próprios crentes. Isto a despeito de ser a Causa da Beleza Antiga a própria essência do amor, o verdadeiro canal da unicidade, que existe unicamente para que todos se tornem as ondas de um só mar, e estrelas fulgurantes do mesmo céu infinito, e pérolas no interior da concha de unicidade, e jóias cintilantes extraídas das minas da unidade; para que venham a ser servos uns dos outros, se adorem mutuamente, se glorifiquem reciprocamente e louvem uns aos outros, e cada um solte a língua em louvor e gratidão a todos os demais sem exceção; e todos ergam os olhos ao horizonte de glória, lembrando-se de que estão ligados ao Sagrado Limiar, e nada vejam um no outro a não ser o bem, nada ouçam senão o louvor mútuo, e palavra alguma pronunciem sobre os demais, salvo em elogio.
Há alguns que, de fato, trilham essa vereda de retidão, e esses, mercê de Deus, são fortalecidos e apoiados pelo poder celestial em todas as terras. Outros, contudo, não ascenderam como deveriam a essa posição gloriosa e sublime, o que representa um golpe de sofrimento para o coração de 'Abdu'l-Bahá, um golpe de inconcebível dor. Pois nenhuma tempestade mais perigosa que essa poderia jamais assaltar a Causa de Deus, e nada além disso poderia fazer tanto diminuir a influência de Sua Palavra.
Cumpre a todos os amados de Deus serem como um só, congregarem-se sob a proteção de um único estandarte, constituírem um corpo de opinião unânime, seguirem o mesmo único caminho e segurarem-se firmemente a uma resolução una. Que esqueçam suas teorias divergentes e ponham de lado seus pontos de vista conflitantes, já que, Deus seja Louvado! nosso propósito é um só, nossa meta é uma só. Somos os servos de um único Limiar, somos nutridos pela mesma Fonte, estamos reunidos à sombra do mesmo Tabernáculo excelso e abrigados pela mesma Árvore celestial.
Ó Amados do Senhor! Se qualquer alma falar mal duma outra ausente, o único resultado será evidentemente este: ela fará desanimar o zelo dos amigos, tendendo a torná-los apáticos; pois a fofoca causa a divisão e é o principal fator a gerar nos amigos a disposição de afastar-se. Se qualquer indivíduo começar a falar mal de alguém ausente, incumbe a seus ouvintes, de uma maneira espiritual e amigável, detê-lo, e dizer-lhe com efeito: servirá essa difamação a algum fim benéfico? Traria prazer à Abençoada Beleza? Contribuirá para a honra duradoura dos amigos? Promoverá a Fé sagrada? Apoiará o Convênio? Trará, enfim, qualquer possível benefício a qualquer alma? Não, jamais! Ao contrário, fará com que assente tão espessa camada de pó sobre o coração que os ouvidos não mais ouvirão, nem os olhos contemplarão mais a luz da verdade.
Se uma pessoa, porém, puser-se a falar bem de outra, abrindo os lábios em louvor, ela tocará uma corda sensível no recôndito de seus ouvintes, e estes se sentirão comovidos pelas brisas de Deus. Seus corações e almas regozijar-se-ão por saber que, graças a Deus, eis aí uma alma na Fé que é um foco de perfeições humanas, autêntica personificação das graças do Senhor; alguém cuja língua é eloqüente, cuja face é radiante em qualquer reunião em que esteja presente, um ser que traz a vitória no semblante e aufere alento dos doces eflúvios de Deus.
Ora, qual desses dois procedimentos é preferível? Juro pela beleza do Senhor: sempre que ouço o bem dos amigos, meu coração transborda de júbilo; quando, todavia, percebo a mínima insinuação de que estão de mal uns com os outros, sou esmagado pela dor. Tal é a condição de 'Abdu'l-Bahá. Julgai, então, a partir disso, em que consiste vosso dever.
Louvores a Deus, para onde quer que nos volvamos constatamos haver a Beleza Antiga aberto por inteiro os portais da graça, e anunciado, em termos inequívocos, as boas-novas da vitória por meio do auxílio sustentador do Senhor. Através do amor Ele arrebatou os corações dos crentes e confiou o triunfo deles às hostes da Assembléia no alto.
Incumbe agora aos amados levantar-se entre todos os povos do mundo, com corações idênticos ao sol, com forte determinação interior, com frontes fúlgidas, hálitos almiscarados, línguas continuamente falando de Deus, com exposição cristalina, determinação intrépida e um poder oriundo do céu, com caracteres espirituais e uma confirmação em todo divina. Que todos, sem exceção, se tornem esplendores no horizonte do céu e estrelas deslumbrantes no firmamento, e sejam árvores frutíferas nos jardins celestiais e flores docemente perfumadas nos vergéis divinos; que sejam versículos de perfeição na página da criação, palavras de unidade no Livro da Vida. Esta é a idade primeira, estes são os primórdios da aurora da dispensação da Suprema Luz, conseqüentemente, neste século, devem-se adquirir virtudes, e qualidades santas devem ser aperfeiçoadas durante esta breve vida. Justamente nestes dias é que o Paraíso de Abhá deve erigir seus pavilhões nas planícies do mundo. As luzes da realidade devem agora ser reveladas; os segredos das dádivas de Deus devem agora ser divulgados; esta é a hora em que a graça antiga deve resplandecer e este mundo transformar-se no Éden do Céu, no jardim de Deus. E através de corações puros e favores celestiais, todas as perfeições, qualidades e atributos da Deidade devem agora fazer-se manifestos.
Em todos os tempos 'Abdu'l-Bahá suplica e em lágrimas roga ao Onipotente, clamando:

Ó Tu, Senhor bondoso! Somos servos de teu Limiar e abrigamo-nos à Tua santa Porta. Refúgio algum buscamos, salvo este pilar poderoso, e a nada nos volvemos em busca de amparo, senão à Tua custódia. Protege-nos, abençoa-nos e apóia-nos; faze-nos tais que amemos tão-somente o Teu beneplácito, pronunciemos exclusivamente o Teu louvor e sigamos apenas a senda da verdade, de modo que nos tornemos ricos o bastante para prescindirmos de tudo, salvo de Ti, recebamos as dádivas do mar de Tua bondade, diligenciemos sempre por exaltar Tua Causa e difundir por todas as plagas Teus doces aromas; para que olvidemos o ego, nos ocupemos unicamente contigo, renunciemos a tudo mais e nos apeguemos a Ti.
Ó Tu que provês, Tu que perdoas! Concede-nos Tua graça e mercê, Tuas dádivas e Teus favores, e reanima-nos, para que possamos atingir nossa meta. És o Poderoso, o Que tem capacidade, o Que sabe e vê; e em verdade, és o Generoso o Todo-Misericordioso; e verdadeiramente, és o Indulgente, Aquele a Quem se deve mostrar arrependimento, e que perdoa mesmo o mais grave dos pecados.


194. Ó vós, sinceros amados da Beleza de Abhá! Nestes dias a Causa de Deus está crescendo rapidamente em poder pelo mundo inteiro e, dia a dia, está difundindo-se mais e mais, alcançando os derradeiros confins da Terra. Seus inimigos, pertencentes a todos os povos e raças do mundo, estão, conseqüentemente, mostrando-se cada vez mais agressivos, malévolos, invejosos e virulentamente hostis. Incumbe aos amados de Deus exercitarem a maior cautela e prudência em todas as coisas, de grande ou de pequena monta, consultarem juntos e, unidos, resistirem ao furioso assalto dos instigadores de conflito e promotores do mal. Eles devem fazer esforço para se associar com todos num espírito amigável; devem observar moderação em sua conduta, ter respeito e consideração uns com os outros e tratar a todos os povos do mundo com amorosa bondade e terna afeição. Devem ser pacientes e resignados para que se desenvolvam a ponto de ser os ímãs das confirmações do Reino de Abhá e adquirir o poder dinâmico das hostes do domínio nas alturas.
As horas fugazes da vida terrena correm celeremente, e o pouco que ainda restar esvair-se-á; o que perdura e subsiste por toda a eternidade, no entanto, é o fruto colhido pelo homem de sua servitude no Limiar Divino. Contemplai a verdade destas palavras; quão abundantes e gloriosas são suas provas no mundo da existência!
Repouse a glória das glórias sobre o povo de Bahá!


195. Ó rebento excelso do Lótus divino!... Quando fores desprezado e rejeitado pelos iníquos, não esmoreças; e tampouco fiques contrariado ou desgostoso pelo poder e contumácia dos presunçosos; pois assim agem as almas desatentas, desde tempos imemoriais. "Ai, a miséria dos homens! Nenhum Mensageiro lhes vem que não sofra o riso escarnecedor da parte deles!"75
Na realidade, os ataques e a oposição dos ignorantes simplesmente causam a exaltação do verbo de Deus e a propagação de Seus sinais e provas por todos os quadrantes. Não fora essa oposição dos desdenhosos, essa dureza de coração dos caluniadores, esse vociferar dos púlpitos, esse bramir e lamuriar de grandes como de pequenos, essas acusações de incredulidade assacadas pelos ignorantes, esse alarido dos néscios - como jamais poderiam as novas do advento do Ponto Primaz e do nascer esplêndido do sol de Bahá ter alcançado Oriente e Ocidente? Como poderia o planeta haver sido abalado de um polo a outro? De que modo poderia a Pérsia ter-se tornado o ponto focal dos esplendores rútilos e a Ásia Menor o núcleo irradiador da beleza do Senhor? Como então haveria sido possível à fama da Manifestação difundir-se até o Sul? Por que meio poderiam os brados de Deus ter sido ouvidos no Norte longínquo? De que forma poderia Seu chamado haver sido escutado nos continentes da América e da África, a negra? Como poderia o cocoricar do Céu haver penetrado aqueles ouvidos? De que outra maneira teria sido possível aos doces papagaios da Índia encontrar este açúcar, ou aos rouxinóis verter seus gorjeios da terra do Iraque? O que mais poderia pôr Leste e Oeste a dançar, ou fazer com que este Lugar Sagrado se tornasse o trono da Beleza de Deus? Como haveria sido capaz de o Sinai contemplar esse fulgor ardente ou a chama do Advento de adornar esse monte? De que modo se poderia fazer da Terra Santa o escabelo da beleza divina, e do vale sagrado de Towa76 o sítio da excelência e graça, o excelso local onde Moisés tirou as sandálias? Como poderiam as brisas do paraíso bafejar através do Vale da Santidade ou as efusões docemente fragrantes e etéreas que emanam dos jardins de Abhá ser porventura sentidas por aqueles que habitam a Ilha Verdejante? De que outra forma jamais poderiam as promessas dos Profetas, as novas jubilosas dos santos Videntes d'outrora e as comovedoras promissões feitas a este Lugar Sagrado haver sido cumpridas?
Como, enfim, teria podido ser a Árvore de Anísá77 aqui plantada, o estandarte do Testamento desfraldado e o cálice inebriante do Convênio haver alcançado estes lábios? Todas essas bênçãos e graças - verdadeiros meios de proclamar a Fé - vieram a ser através da zombaria dos ignorantes, da oposição dos tolos, da pertinácia dos obtusos de espírito e da violência dos agressores. Não fosse por isso, a notícia do advento do Báb não teria ainda hoje sequer alcançado as plagas circunvizinhas. Por conseguinte, nunca deveríamos nos lastimar pela cegueira dos inconscientes, pelos ataques dos insensatos, pela hostilidade dos vis e abjetos, pela negligência dos clérigos ou pelas acusações de infidelidade contra nós formuladas pelos tolos. Procederam também desta forma em épocas passadas. Fossem eles dos que sabem, assim não seria; estão, entretanto, imersos em trevas, e não chegam a apreender o que lhes é dito78.
Portanto, convém a ti, como rebento da Árvore Sagrada de Deus, nascido dessa poderosa Estirpe, e cabe outrossim a nós, mediante a graça sustentadora da Beleza Antiga - seja minha vida um sacrifício por Seu Sacratíssimo Santuário - arder com tamanha intensidade com esta flama acesa que veio do céu que venhamos a atear o fogo do amor de Deus de pólo a pólo. Seja-nos exemplo a Árvore grandiosa e sagrada do excelso Báb - seja minha vida imolada por Ele. Assim como Ele, exponhamos nossos peitos aos dardos dos tormentos, façamos de nossos corações alvos para as lanças decretadas por Deus. Assim como velas, consumamo-nos em fogo; como mariposas, chamusquemos as asas; como sabiás, demos vazão a nosso canto plangente; tal qual rouxinóis, rompamos em lamentações.
De modo idêntico às nuvens, vertamos lágrimas; e como os relâmpagos coriscantes, riamo-nos de nossas carreiras pelo Leste e pelo Oeste. Dia e noite, restrinjamos os pensamentos à disseminação dos doces eflúvios de Deus. Não persistamos perpetuamente em nossas fantasias e ilusões, em nossas análises, interpretações e difusão de dúvidas complexas. Ponhamos de lado todas as cogitações do ego; fechemos os olhos a todos na Terra. Não demos a conhecer nossos sofrimentos, nem deploremos as injustiças contra nós cometidas. Antes, esqueçamo-nos de nós mesmos e, sorvendo do vinho da graça celestial, exclamemos nosso júbilo e percamo-nos no êxtase da abnegação ante a beleza do Todo-Glorioso.
Ó Afnán79 do Lótus divino! Cada um de nós deve esforçar-se para se tornar um ramo fecundo que produza frutos sempre mais doces e salutares, para que o renovo prove ser uma continuação da raiz e a parte seja condizente com o todo. É minha esperança que, por meio da generosidade do Maior Nome e da terna bondade do Ponto primaz - seja minha alma oferecida em holocausto por Ambos - nos tornemos os instrumentos de exaltação do Verbo de Deus por todo o globo, para que possamos sempre render serviços à Fonte de nossa Causa e estender por sobre todos o pálio do verdadeiro e santo zelo do Senhor. Isso para que de toda a extensão dos campos da graça façamos bafejarem brisas trazendo ao homem os doces aromas que se exalam dos jardins divinos; para que transmutemos este mundo no Paraíso de Abhá e façamos deste lugar inferior o Reino do Céu.
Embora seja verdade que a cada um dos servos de Deus, e em especial aqueles que ardem com o fogo da Fé, tenha sido prescrito o dever da servitude ao Deus Onipotente, a incumbência a nós imposta é maior que aquela que pesa sobre os ombros dos demais. A Ele dirigimos o olhar em busca de graça, favor e força.
Todo louvor e gratidão à Abençoada Beleza, por convocar e pôr em ação os exércitos de Seu Reino de Abhá e fazer chegar-nos seu ininterrupto auxílio, certo como as estrelas nascentes. Em cada região do orbe Ele apoiou este servo sozinho e solitário, revelando-me, a todo instante, os sinais e provas de Seu amor. Ele tem deixado em estupor a todos aqueles que estão apegados a suas ilusões vis, e os tem tornado infames aos olhos de grandes e pequenos. Ele tem convertido aqueles que perseguem seus caprichos e fantasias em objeto de repreensão geral, e expôs os arrogantes à vista pública; tem feito daqueles dos amigos que se têm demonstrado vacilantes na fé uma lição a todo observador, e tem feito com que os líderes dos que titubeiam amem exclusivamente a si próprios e naufraguem na vanglória. Concomitantemente, pelo poder de Sua soberania, Ele capacitou esta ave de asas partidas a elevar-se ante todos os que habitam a terra. Ele destroçou as fileiras cerradas das rebeldes, conferiu a vitória às hostes da salvação, e soprou nos corações dos que permanecem firmes no Convênio e Testamento o alento da vida eterna.
Transmite as saudações de Abhá a cada um dos Afnán, brotados da Árvore Sagrada. Que a glória repouse sobre ti e todos os Afnáns que se mantêm fiéis e leais ao Convênio.


196. Ó tu que és constante no Convênio! Tua carta de 9 de setembro de 1909 foi recebida. Não te aflijas nem te entregues ao desalento pelo que sucedeu. Essa tribulação te sobreveio quando trilhavas a senda de Deus, portanto, deveria trazer-te regozijo. Já nos pronunciáramos antes aos amigos, tanto por escrito como verbalmente, no sentido de que eles, no Ocidente, terão indubitavelmente sua porção das calamidades sofridas pelos amigos do Oriente. Já que estão trilhando o caminho de Bahá'u'lláh, é inevitável que também se tornem vítimas da perseguição dos opressores.
Considera como ao despontar da era cristã os apóstolos foram afligidos, e que tormentos vieram a suportar na vereda de Cristo! Todos os dias de suas vidas, eram alvo das setas das zombarias, difamações e injúrias dos fariseus. Experimentaram grande infortúnio; conheceram o encarceramento; e, em sua maioria, levaram aos lábios a doce taça dos martírio.
Vós, agora, do mesmo modo, deveis certamente tornar-vos meus parceiros e aceitar vosso quinhão de provações e pesares. Esses episódios, contudo, hão de passar, ao passo que a glória duradoura e a vida eterna permanecerão imutáveis por todo o sempre. Ademais, essas aflições serão causa de enorme progresso.
Rogo a Deus que tu, Seu lavrador, venhas a arar o solo duro e rochoso, e regá-lo, e nele espalhar sementes - pois isso mostrará quão exímio é o agricultor, já que qualquer um é capaz de plantar e cultivar na terra tenra, livre de espinheiros e abrolhos.


197. Ó tu servo de Deus! Não te entristeças por causa das aflições e calamidades que te têm sobrevido. Todas as calamidades e aflições foram criadas para o homem a fim de que ele pudesse desprezar este mundo mortal - mundo este ao qual está muito apegado. Quando ele passa por severas provações e dificuldades, sua natureza recua e ele deseja o reino eterno - um reino santificado de toda aflição e calamidade. Tal é o caso do homem que é sábio. Jamais haverá ele de beber de um cálice que no fim lhe possa causar dissabor e sim, ao contrário, buscará o cálice de água pura e límpida. Ele não provará do mel que está misturado com veneno.
Louva tu a Deus por haveres sido testado e teres passado por tal provação. Sê paciente e grato. Volve a face para o Reino divino e esforça-te para que possas adquirir características misericordiosas, tornar-te iluminado e possuir os atributos do Reino e do Senhor. Empenha-te para que te possas tornar indiferente aos prazeres e conforto deste mundo, possas permanecer firme e resoluto no Convênio e promulgar a Causa de Deus.
Disto provém a elevação do homem, disto derivam sua glória e sua salvação.


198. Ó tu que estás enamorado das brisas de Deus! Li tua carta, a qual bradava teu amor a Ele e tua atração irresistível à Sua Beleza, e seu tema maravilhoso rejubilou-me o coração.
O intuito do que te escrevi em minha carta anterior era que, ao se exaltar o Verbo de Deus, há provações e calamidades a serem enfrentadas; e quando se O ama a todo momento há tribulações e aflições.
Convém ao indivíduo, primeiramente, prezar essas provas, de bom grado aceitá-las, e avidamente acolhê-las com regozijo; somente então deve ele prosseguir ensinando a Fé e enaltecendo a Palavra de Deus.
Atingindo tal estado, não importa o que lhe sobrevenha em seu amor a Deus - atormentações, reprovações, vitupérios, imprecações, torturas físicas, aprisionamento, morte - ele jamais estará abatido, e sua paixão pela Beleza Divina irá apenas crescer em ardor. Foi o que tencionei exprimir.
De outro modo, ai da alma que se empenha na busca de conforto, riquezas e prazeres mundanos, enquanto descura a lembrança de Deus, por sua desdita e desventura! Pois as calamidades encontradas na vereda de Deus não são, para 'Abdu'l-Bahá, senão favor e graça; e numa de Suas Epístolas, a Beleza Todo-Gloriosa declarou: "Jamais passei por uma árvore sem que meu coração lhe dirigisse estas palavras: 'Oxalá fosses cortada em Meu nome e Meu corpo sobre ti fosse crucificado!'" Estas foram as palavras do maior Nome. Eis a sua senda. Tal é o caminho que conduz a Seu Reino de Grandeza.


199. Ó vós que sois sinceros, vós que anelais e estais atraídos, como que magnetizados; vós que vos levantastes para servir à Causa de Deus, exaltar Seu Verbo e difundir aos quatro ventos Suas doces fragrâncias! Li vossa magnífica carta - bela em estilo, de palavras eloqüentes, profunda em significação - e louvei e agradeci a Deus por haver Ele vindo em vosso auxílio e ter-vos capacitado a servi-Lo em Sua extensa vinha.
Em breve hão vossas faces de reluzir com a radiância de vossas súplicas e adoração a Deus, das preces que a Ele elevais e de vossa humildade e abnegação na presença dos amigos. Ele fará de vossa comunidade um ímã que atrairá para vós os raios fulgentes das confirmações divinas que emanam de Seu reino de glória.
Incumbe-vos ponderar e meditar em vossos corações sobre Suas palavras, e humildemente invocá-Lo, e pôr de lado o ego em Sua Causa celestial. Isso é o que vos tornará sinais de guia para toda a humanidade, estrelas brilhantes no horizonte supremo e árvores alterosas no Paraíso de Abhá.
Sabei vós que 'Abdu'l-Bahá vive em deleite perene. Haver sido encerrado nesta remota prisão é para mim júbilo extremo. Pela vida de Bahá! Este cárcere é meu sublime paraíso; é minha meta acariciada, o consolo de meu íntimo, a beatitude de meu coração; é meu refúgio, meu abrigo, meu asilo, minha guarida segura, e em seu interior é que exulto, rodeado pelas legiões do céu e pela Assembléia no alto.
Rejubilai-vos, é amigos de Deus, por meu cativeiro, pois ele esparge as sementes da liberdade; regozijai-vos por meu aprisionamento, pois é o manancial da salvação; alegrai-vos por meu tormento, pois ele conduz à bonança eterna. Pelo Senhor Deus! Eu não trocaria esta prisão nem pelo trono do mundo inteiro, e tampouco abriria mão deste confinamento por prazeres e folguedos em todos os jardins belos da Terra. Minha esperança é que, pela graça abundamente do Senhor e por Sua munificência e terna bondade, eu seja, em seu caminho, suspenso pelo pescoço, e meu coração se torne alvo de mil balas, ou que eu seja atirado nas profundezas do mar ou abandonado nas areias do deserto para perecer. Eis o que mais anelo; esta é a minha aspiração suprema; é o que refresca minha alma, é o bálsamo de meu peito, é o próprio consolo de meus olhos.
Quanto a vós, Ó vós que amais a Deus! Firmai vossos passos em Sua Causa com tal determinação que jamais vos abaleis, ainda que as mais terrível calamidades sacudam o mundo.
Que nada, em nenhuma circunstância, vos perturbe. Permanecei firmemente estabelecidos, como as montanhas elevadas; sede estrelas a alvorar no horizonte da vida, lâmpadas brilhantes nas assembléias de unidade e almas humildes e submissas na presença dos amigos, sede cândidas de coração. Sede símbolos de guia e luzes de santidade, desprendidos do mundo, firmados na corda que é segura e forte, a disseminar por toda parte o espírito da vida e a conduzir a Arca da salvação. Sede auroras de generosidade, lugares em que alvorecem os mistérios da existência, sítios onde pousa a inspiração, pontos de onde emanam esplendores, e almas sustentadas pelo Espírito Santo, enamoradas do Senhor, desapegadas de tudo salvo dEle, santificadas acima das características do humanidade e adornadas com os atributos dos anjos do céu, para que conquisteis a maior de todas as dádivas neste novo tempo, nesta era maravilhosa.
Pela vida de Bahá! Só haverá de alcançar essa graça suprema aquele que houver renunciado ao mundo, aquele que for um cativo do amor divino, vazio de paixão e ego, fiel a seu Deus em todos os aspectos, humilde, submisso e suplicante, banhado em lágrimas e resignado na presença do Senhor.


207. Ó meus amados espirituais! Num tempo em que um oceano de provas e tribulações intumescia e arrojava suas vagas até os céus, quando multidões nos assediavam e os opressores perpetravam contra nós iniqüidades excruciantes - em tão crítica hora, uma corja, intentando difamar-nos, aliou-se a nosso irmão cruel, trouxe a público um documento repleto de imputações injuriosas e lançou acusações e calúnias contra nós.
Desse modo, criaram alarme e confusão entre as autoridades; e é evidente qual passou a ser, desde então, a situação deste cativo nesta cidadela em ruínas, e que mal e dano terríveis se causaram, muito piores que palavras possam expressar. A despeito de tudo, este prisioneiro sem lar permanece sereno e seguro em seu íntimo, confiando no Senhor incomparável e ansiando por quaisquer aflições que tenham de ser enfrentadas na senda do amor de Deus; pois flechas de ódio são para nós simplesmente uma dádiva de pérolas, outorgada por Ele, e veneno mortal não é senão um sorvo que concede cura.
Em tal condição nos encontrávamos quando eis que nos chega às mãos uma carta dos amigos americanos80. Eles haviam pactuado entre si, assim escreveram, de modo a permanecer unidos em todas as coisas, e todos os signatários, sem exceção, votaram fazer sacrifícios na vereda do amor de Deus, para assim obter a vida eterna. No exato momento em que essa carta era lida, com as assinaturas que se lhe seguiam ao termo, 'Abdu'l-Bahá experimentou um júbilo tão intenso que pena alguma é capaz de descrever, e agradeceu a Deus por terem-se levantado, naquele país, amigos que viverão juntos em harmonia perfeita, na mais fraterna camaradagem, em concórdia absoluta, ligados por laços íntimos e fortes, e unidos em seus esforços.
Quanto mais se reforçar esse pacto, tanto melhor e mais feliz tudo será, já que ele há de atrair a si as confirmações divinas. Se os que amam ao Senhor alentam a esperança de conquistar a graça de ter por amigos a Assembléia do alto, impõe-se-lhes fazer todo o possível para fortalecer esse trato, porquanto semelhante aliança pela irmandade e unidade é idêntica ao regar da Árvore da Vida: é vida perpétua.
Ó vós que amais a Deus! Fazei firmes vossos passos; cumpri vosso compromisso mútuo; avançai em harmonia para difundir aos quatro ventos os doces eflúvios do amor de Deus e estabelecer Seus ensinamentos, até insuflardes alma no corpo morto deste mundo e levardes a verdadeira cura, nos reinos espiritual e físico, a todo enfermo.
Ó vós que amais o Deus! O mundo assemelha-se a um ser humano que está doente e combalido, cujos olhos já não vêem, cujos ouvidos ensurdeceram e cujas forças, em sua totalidade, estão consumidas e esgotadas. Por conseguinte, incumbe aos amigos de Deus serem médicos competentes que, seguindo os ensinamentos sagrados, cuidem desse paciente até restituir-lhe a saúde. Quiçá o mundo, querendo Deus, venha a se restabelecer e tornar permanentemente são, e suas faculdades exaustas sejam restauradas, e sua pessoa venha a adquirir vigor, frescor e viço tais que resplandeça com beleza e graça.
O primeiro de todos os remédios consiste em guiar as pessoas à senda reta, a fim de que se volvam a Deus, atendam aos Seus conselhos e avancem com ouvidos que ouvem e olhos que vêem. Em se lhes ministrando essa dose de eficácia instantânea, deve-se, então, de acordo com os Ensinamentos, levá-los a adquirir as características e a conduta da Assembléia do alto, e encorajá-los a buscar todas as graças do Reino de Abhá. Cumpre-lhes purificar o coração do mais tênue traço de ódio e rancor, e devem começar a ser verazes e sinceros, conciliadores e amorosos com toda a humanidade, para que Oriente e Ocidente, como dois amantes, abracem-se carinhosamente, e a inimizade e a hostilidade extingam-se da face da Terra, e a paz universal seja firmemente estabelecida em seu lugar.
Ó vós que amais a Deus! Sede bondosos com todos os povos; zelai por cada pessoa; fazei tudo o que puderdes para purificar o coração e a mente dos homens; esforçai-vos por alegrar a cada alma. Para todo prado, sede uma chuva de graças, e para toda árvore, a água da vida. Sede doce almíscar a extasiar a humanidade, e brisa fresca e restauradora para o debilitado. Para todo sequioso, sede águas deleitáveis, e para todos os desencaminhados, guias seguros. Sede pai e mãe para o órfão, filhos e filhas amorosos para o ancião, tesouro farto para o pobre. Considerai o amor e a amizade as delícias do céu, e vede a hostilidade e o ódio como os tormentos do inferno.
Não vos entregueis ao repouso, mas laborai de corpo e alma, e, do fundo do coração, clamai e implorai a Deus que vos conceda Seu socorro e Sua graça. Assim podereis fazer deste mundo o Paraíso de Abhá, e deste globo terrestre a praça de armas do domínio das alturas. Se ao menos envidardes esforços, decerto que esses esplendores fulgurarão, essas nuvens de mercê verterão chuva, esses ventos vivificadores bafejarão e soprarão, e esse almíscar docemente perfumado será disseminado por todas as regiões.
Ó vós que amais a Deus! Não vos preocupeis pelo que virá a suceder neste lugar sagrado, e de forma alguma estejais alarmados. Aconteça o que acontecer, isso virá para bem e será o melhor, porque a aflição nada mais é que a essência da generosidade, e dor e faina são genuína mercê, e angústia é paz de espírito, e fazer um sacrifício é ser agraciado com uma dádiva, e o que quer que venha a ocorrer terá manado da graça de Deus.
Tratai, portanto, de vossos próprios deveres: guiai os povos e ensinai as almas a seguirem o exemplo de 'Abdu'l-Bahá. Proclamai ao gênero humano esta rejubilante mensagem do Reino de Abhá. Não descanseis, nem de dia nem à noite; não procureis tranqüilidade, nem por um momento sequer. Empenhai-vos com todas as forças por levardes aos ouvidos dos homens essas novas regozijadoras. Em vosso amor a Deus e vossa afeição por 'Abdu'l-Bahá aceitai toda tribulação e todas as dores. Suportai os insultos do agressor; tolerai as exprobações dos inimigos. Segui os passos de 'Abdu'l-Bahá e, na senda de Beleza de Abhá, anelai a todo instante oferecer vossas vidas. Radiai como o sol, sede infatigáveis qual o mar; assim como as nuvens do céu, espargi vida sobre planície e montanha, e à semelhança dos ventos primaveris, soprai viço por entre essas árvores humanas e fazei-as atingir a florescência.


201. Ó tu que estás arrebatada pelo amor de Deus! O sol da Verdade ergueu-se por sobre o horizonte deste mundo e espalhou seus raios de guia. A graça sempiterna jamais se interrompe, e um de seus frutos é a paz universal. Tem tu certeza de que, nesta era do espírito, o Reino da Paz erguerá seu tabernáculo nos píncaros do mundo, e os mandamentos do Príncipe da Paz tanto dominarão as artérias e nervos de cada povo, que atrairão todas as nações da Terra ao abrigo de Sua sobra. É dos mananciais do amor, da verdade e da unidade que o verdadeiro Pastor dará de beber às suas ovelhas.
Ó serva de Deus! A paz tem de ser estabelecida, primeiro, entre os indivíduos, para que resulte, afinal, na paz entre as nações. Portanto, ó vós bahá'ís, lutai com todas as vossas energias para criardes, mediante o poder do Verbo de Deus, amor genuíno, comunhão espiritual e liames duradouros entre as pessoas. Eis a vossa tarefa.


202. Ó vós que amais a verdade, ó servos da humanidade! Da floração de vossos pensamentos e esperanças, emanações fragrantes chegaram até mim, em virtude do que um sentimento íntimo de dever compele-me a redigir estas palavras.
Testemunhai quão tumultuado está o mundo, com facções antagônicas a se engalfinharem, e quantas terras estão rubras de sangue, o próprio pó mesclado de vermelho. Os fogos do conflito têm-se alastrado em tão gigantescas labaredas que jamais, quer em épocas primitivas, quer na Idade Média ou nos séculos recentes, houve tão hedionda conflagração, semelhante a uma mó que toma por grãos os crânios dos homens. Não, é ainda muito pior, visto que países florescentes têm sido reduzidos a entulho, cidades têm sido arrasadas, e um sem-número de aldeias outrora prósperas converteram-se em ruínas. Pais têm perdido filhos, e filhos, os pais. Mães têm tido os corações destroçados pelo pranto por seus pequeninos mortos. Crianças têm sido orfanadas, mulheres abandonadas a vagar, errantes, sem lar. Em todos os aspectos, a humanidade tem soçobrado na degradação. Terríveis são os gritos lancinantes das crianças órfãs; cortantes são as vozes maternas angustiadas, que atingem os céus.
E o que dá origem a todas essas tragédias é o preconceito: preconceito de raça e nação, de religião, de posições políticas; e a causa fundamental do preconceito é a imitação cega do passado - imitação na religião e nas atitudes raciais, imitação no nacionalismo fanático e na política. Enquanto esse arremedo do passado persistir, as bases da ordem social permanecerão sem sustentação, à mercê dos quatro ventos, e o gênero humano, continuamente exposto aos mais temíveis perigos.
Ora, em tão iluminada era como esta, quando realidades anteriormente desconhecidas têm sido reveladas, quando se têm desvendado os segredos das coisas criadas e a Aurora da Verdade raiou, inundando de luz o mundo, será admissível que o homem prossiga uma guerra que está destruindo a condição humana? Não pelo Senhor Deus!
Cristo Jesus convocou toda a humanidade à amizade e à paz. Disse Ele a Pedro: "Mete a espada na bainha"81. Tal foi a ordem e o conselho do Senhor Cristo; hoje, não obstante, os cristãos têm todos a espada desembainhada, na mão. Quão enorme é a discrepância entre esses atos e o texto claro do Evangelho!
Há sessenta anos, Bahá'u'lláh ergueu-se, como o sol, por sobre a Pérsia. Ele afirmou estarem sombrios os horizontes do mundo; declarou que essas trevas auguravam calamidades e que conflitos terríveis estavam por vir. Da prisão de 'Akká, Ele dirigiu-Se ao Imperador alemão nos mais claros termos, dizendo que uma guerra de grandes proporções estava a caminho, e que sua Berlim viria a prorromper em lamentações e gemidos. Do mesmo modo, apesar de ser uma vítima do sultão da Turquia, um cativo em sua prisão - ou seja, era mantido prisioneiro na Fortaleza de 'Akká -, Bahá'u'lláh escreveu a este soberano, asseverando explicitamente que Constantinopla seria surpreendida por uma súbita e profunda transformação, tão grave que as mulheres e crianças dessa cidade se deplorariam e pranteariam em altos brados. Em suma, Ele dirigiu semelhantes palavras a todos os monarcas e presidentes, e tudo veio a se passar exatamente como profetizara.
De Sua poderosa Pena manaram vários ensinamentos para a prevenção da guerra, os quais se têm divulgado por todos os quadrantes.
O primeiro deles é a investigação independente da verdade, pois a imitação cega do passado tolhe o desenvolvimento da mente. Quando, porém, cada alma pesquisar a verdade, a sociedade ver-se-á livre da obscuridade da repetição contínua do passado.
Seu segundo princípio é a unidade da humanidade: todos os homens são as ovelhas de Deus e Ele é seu Pastor amoroso, que vela com extremo carinho por todos, sem favorecer a um ou a outro. "Nenhuma distinção podes ver na criação do Deus de misericórdia"82; todos são seus servos, todos imploram Sua graça.
O terceiro preceito de Bahá'u'lláh é que a religião é um poderoso baluarte; mas deve engendrar amor, não malevolência e ódio. Fosse ela produzir malignidade, rancor ou inimizade, não teria, absolutamente, valor algum. Pois a religião é um remédio, e se este acarreta doença que seja então posto de lado. Outrossim, no que tange ao preconceito religioso, racial, de nacionalidade e político: todos esses preconceitos atacam a própria raiz da vida humana; todos, sem exceção, geram derramamento de sangue e a ruína do mundo. Enquanto subsistirem esses preconceitos, haverá conflitos infindos e horrendos.
Para remediar tal situação a paz universal é necessária, e para que esta se torne realidade cumpre estabelecer um supremo Tribunal representativo de todos os governos e povos; tanto questões nacionais quanto internacionais devem ser submetidas a essa corte, e incube a todos levar a cabo suas sentenças. Caso qualquer governo ou povo desobedeça, que contra eles levante-se o mundo inteiro.
Outro dos ensinamentos de Bahá'u'lláh é a igualdade entre o homem e a mulher e sua participação igualitária em todos os direitos. E há muitos outros princípios similares. Atualmente já se tornou manifesto serem esses preceitos a própria vida e alma do mundo.
Servos da raça humana que sois, esforçai-vos de todo coração por livrá-la dessa treva e desses preconceitos que pertencem à condição humana e ao mundo da natureza, para que a humanidade possa ingressar na luz do mundo de Deus.
Louvado seja Ele, estais familiarizados com as várias leis, instituições e princípios do mundo; nada, exceto esses ensinamentos divinos, pode, hoje, assegurar paz e tranqüilidade ao gênero humano. A não ser por esses ensinamentos, essa escuridão jamais se dissipará e essas moléstias crônicas nunca se curarão; antes, tornar-se-ão dia a dia mais violentas. Os Bálcãs permanecerão descontentes. Sua inquietude intensificar-se-á. Os poderes vencidos continuarão a provocar agitação. Recorrerão a todas as medidas para atear uma vez mais a flama da guerra. Movimentos recém-nascidos e de âmbito mundial exercerão o máximo esforço pela promoção de seus propósitos. O movimento esquerdista adquirirá grande importância. Estender-se-á a sua influência.
Esforçai-vos, portanto, com o auxílio de Deus, com mente e coração iluminados e uma força oriunda do céu, por virdes a ser uma dádiva de Deus ao homem e por criardes bem-estar e paz para toda a humanidade.


203. Ó tu que estás enamorado do Convênio! A Abençoada Beleza prometeu a este servo que viriam a levantar-se certas almas que seriam a própria personificação da guia, estandartes da Assembléia do alto, tochas da unidade de Deus e estrelas de Sua verdade pura a resplandecer no céu onde só Ele é Rei. Elas restituiriam a visão ao cego e a audição ao surdo e ressuscitariam os mortos; enfrentariam todos os povos da Terra e defenderiam sua Causa com as provas do Senhor dos sete céus.
É minha esperança que Ele, por Sua generosidade, breve erga essas almas, para que Sua Causa seja exaltada. O ímã que atrairá essa graça é a fidelidade ao convênio. Rende graças a Deus por teres atingido a suprema firmeza.

Ó meu Deus! Auxilia Teu servo a enaltecer Teu Verbo, refutar o que é vão e falso e estabelecer a verdade; ajuda-o a disseminar por todas as regiões os versículos sagrados, a revelar os esplendores e a fazer raiar a luz matinal no coração dos justos.
Tu és, verdadeiramente, o Munificente, Aquele que sempre perdoa.


204. Ó fênix daquela flama imorredoura acesa na Árvore sagrada! Durante Seus derradeiros dias terrenos, Bahá'u'lláh - sejam minha vida, minha alma e meu espírito oferecidos em holocausto por Seus servos humildes - prometeu, de modo sumamente enfático, que, mediante as efusões da graça de Deus e o auxílio e a assistência outorgados do Seu Reino das alturas, almas hão de levantar-se e seres santos aparecerão, que, como estrelas, adornarão o firmamento da guia divina; iluminarão o albor da amorosa bondade e generosidade, manifestarão os sinais da unidade de Deus; resplandecerão com a luz da santidade e pureza; receberão quinhão pleno de inspiração divina; erguerão ao alto a tocha sagrada da fé; permanecerão firmes como a rocha e inabaláveis qual a montanha; e virão a ser luminares nos céus de Sua Revelação, canais poderosos de Sua graça, instrumentos do zelo dadivoso de Deus, arautos a invocar o nome do Deus Uno e Verdadeiro, e estabelecedores do alicerce supremo do mundo.
Essas almas hão de laborar incessantemente, dia e noite, não farão caso de sofrimentos ou infortúnio, pausa alguma admitirão em seus esforços, nenhum repouso buscarão, desprezarão toda a tranqüilidade e bem-estar material e, desprendidas e imaculadas, consagrarão cada momento fugaz de sua vida à difusão da fragrância divina e à exaltação do Verbo sagrado de Deus. Júbilo celestial irradiará seu semblante, e exuberante de regozijo terão o coração. Inspirada ser-lhe-á a alma, e firme manter-se-á seu alicerce. Espalhar-se-ão pelo mundo, e viajarão por todas as regiões. Hão de erguer a voz em todas as assembléias e adornar e ressuscitar cada reunião. Falarão em todas as línguas e elucidarão cada significado abstruso. Revelarão os mistérios do Reino e manifestarão a todos os sinais de Deus. Hão de arder brilhantemente como velas no seio de cada congregação e refulgir qual estrela por sobre todo horizonte. As suaves brisas emanadas do jardim de seus corações perfumarão e vivificarão as almas dos homens, e as revelações de sua mente, a semelhança de chuvas caudais, revigorarão os povos e nações do mundo.
Estou esperando, ansiosamente estou esperando que esses seres santos surjam; e, contudo, por quanto tempo delongarão sua vinda? Minha prece e súplica fervorosa, ao alvorecer e ao crepúsculo, é que cedo essas estrelas cintilantes esparjam sua radiância sobre o mundo, e suas frontes sagradas se desvelem aos olhos mortais, e as hostes do auxílio divino consumam seu triunfo, e as vagas da graça, erguendo-se de seus oceanos supernos, fluam sobre toda a humanidade. Orai e suplicai vós também a Ele, a fim de que, por meio da generosa ajuda da Beleza Antiga, tais almas sejam reveladas aos olhos do mundo.
Repouse a glória de Deus sobre ti e sobre aqueles cujas faces são iluminadas pela luz eterna que brilha de Seu Reino de Glória.


205. Ó almas honradas! Em virtude da contínua imitação de velhas e ultrapassadas atitudes, o mundo tornara-se tão escuro quanto uma noite tenebrosa. A essência dos Ensinamentos divinos perdera-se da memória dos homens; seu cerne e sua substância haviam sido totalmente esquecidos, e as pessoas apegavam-se a cascas. As nações, como trajes rotos desde muito desgastados, haviam-se degradado a uma condição lastimável.
Dessa obscuridade absoluta alvoreceu o esplendor matinal dos Ensinamentos de Bahá'u'lláh. Ele adornou o mundo com vestes novas e belas, que são os princípios que desceram de Deus.
Agora, a nova era aqui está, e a criação já renasceu. A humanidade adquiriu vida nova. O outono já se foi e a primavera ressuscitadora já raiou. Todas as coisas agora se fizeram novas. As artes e a indústria renasceram, há novas descobertas na ciência, e novas invenções; até mesmo os detalhes da vida humana - como o vestuário, os pertences pessoais e até as armas - foram todos, igualmente, renovados. Revisaram-se as leis e normas de cada governo. Renovar é a ordem do dia.
E a fonte de todas essas novidades são as novas efusões de maravilhosa graça e favor emanadas do Senhor do Reino, as quais renovaram o mundo. As pessoas, conseqüentemente, devem ser libertadas por completo dos velhos padrões de pensamento, para que toda a sua atenção concentre-se nesses novos princípios, pois estes são a luz do nosso tempo e o verdadeiro espírito desta época.
A menos que se propaguem efetivamente esses Ensinamentos entre os povos, e enquanto as velhas atitudes e os velhos conceitos não forem abandonados e esquecidos, este mundo não terá paz nem refletirá as perfeições do Reino Celestial. Empenhai-vos, de todo o coração, por tornardes o desatento cônscio, por despertar o adormecido, por transmitir conhecimento ao ignorante, por restaurar a visão ao cego, a audição ao surdo e a vida ao morto.
Cabe a vós demonstrar tal poder, tal constância, que deixem atônitos a todos. As confirmações do Reino estão convosco. Que sobre vós seja a glória do Todo-Glorioso.


206. Louvores Àquele que dissipou as trevas, extinguiu a noite, removeu os véus e rompeu em pedaços os cendais; cuja luz, desde então, refulgiu, cujos sinais e provas difundiram-se por toda parte e cujos mistérios foram revelados. Suas nuvens, então, abriram-se e cumularam a terra com Seus favores e dádivas e, vertendo chuva, tornaram a tudo doce, e fizeram que a fresca folhagem do conhecimento e os jacintos da certeza brotassem e se agitassem, num frêmito de júbilo, até perfumarem o globo inteiro com a fragrância de Sua santidade.
Saudações e louvor, bênçãos e glória estejam sobre as realidades divinas, as anêmonas sagradas que surgiram por meio dessa mercê suprema, dessa graça torrencial que bramiu qual um mar proceloso de dádivas e dons, cujas ondas atingem os altos céus.

Ó Deus, meu Deus! Louvores a Ti por haveres ateado o fogo do amor divino na Árvore Sagrada - a qual "não é nem do Oriente nem do Ocidente"83 -, sita no cume da mais elevada montanha; fogo esse que se abrasou até sua flama se elevar e atingir a Assembléia do alto, cujas realidades dela colheram a luz da guia e bradaram: "Percebemos, verdadeiramente, um fogo na encosta do Monte Sinai"84.
Ó Deus, meu Deus! Aumenta dia a dia esse fogo, até que seu estrugir ponha em movimento a Terra inteira. Ó meu Senhor! acende a luz de Teu amor em cada coração; insufla na alma dos homens o espírito de Teu conhecimento e rejubila-lhes o peito com os versículos de Tua unicidade. Chama à vida os que jazem nas sepulturas; adverte os orgulhosos; torna a felicidade universal, faze descer Tuas águas cristalinas e na assembléia dos esplendores manifestos, oferece a todos a taça "preparada na fonte canforada"85.
Tu, em verdade, és o Dispensador de Graças, o Indulgente, o Eternamente Dadivoso, o Misericordioso, o Compassivo.

Ó amados de Deus! O cálice de vinho do Céu está a transbordar, o banquete do Convênio de Deus resplandece com luzes festivas, a aurora de todos os favores está rompendo, as suaves brisas da graça estão soprando e, do mundo invisível, chegam boas novas de dádivas e dons. A primavera divina ergueu suas tendas em prados engalanados de flores, e as almas espirituais inalam doces eflúvios da Sabá86 do espírito, trazidos pelo vento leste. Eis agora o rouxinol místico a chilrear suas odes, e botões de significados ocultos a explodir em delicadas e lindas flores. Os canários tornaram-se os músicos da festividade e, erguendo vozes maravilhosas, exclamam e cantam ao som das melodias da Assembléia do alto: "Bem-aventurados sois! Alvíssaras! Alvíssaras!" E eles exortam os convivas desse festival do Paraíso de Abhá a sorverem suas taças, e discursam eloqüentemente sobre a árvore celestial, e proferem brados sagrados. E tudo isso a fim de que as almas definhantes que vagam pelo deserto da negligência, e os debilitados de espírito, perdidos nas areias da indiferença, possam retornar à vida que vibra, e tomar parte nas festas e jubilosas comemorações do Senhor Deus.
Louvado seja Ele! O renome de Sua Causa alcançou Oriente e Ocidente, e a fama do poder da Beleza de Abhá tem vivificado Norte e Sul. Esse brado do continente americano é um coro de santidade; o clamor que retumba longe e perto e se eleva até a Assembléia do alto é "Yá Bahá'u'l-Abhá!" Agora está o Oriente radiante de glórias e o Ocidente doce como a rosa, e a Terra inteira está fragrante de sândalo, e os ventos que sopram ao redor do Santuário Sagrado estão impregnados de almíscar. Em breve testemunhareis que mesmo as plagas mais escuras estão reluzentes, e a Europa e a África têm-se transformado em jardins de flores e florestas de árvores em floração.
Porém, uma vez que o alvorecer desse Astro-Rei deu-se na Pérsia, e já que foi desde esse nascente que o sol resplendeu sobre o Ocidente, é nossa mais acalentada esperança que as flamas do fogo do amor ardam sempre com maior veemência nesse país, e que aí o esplendor desta Fé Sagrada se intensifique cada vez mais. Que o tumulto da Causa de Deus de tal sorte abale essa terra até os alicerces, e que a força espiritual de Seu Verbo tanto se manifeste, que façam do Irã o núcleo e o foco do bem-estar e da paz. Que a retidão e a conciliação, o amor e a confiança, a emanar do Irã, levem a imortalidade a todos os povos do planeta. Que essa terra hasteie nos mais altos pináculos o estandarte da ordem pública, da puríssima espiritualidade e da paz universal.
Ó amados de Deus! Nesta dispensação bahá'í a Causa de Deus é espírito genuíno. Sua Causa não pertence ao mundo material. Não vem para contenda ou guerra, nem para iniqüidades ou infâmias, tampouco para disputas com outras fés ou conflitos com as nações. O seu único exército é o amor de Deus; outro júbilo não tem senão o vinho puro de Seu conhecimento; uma só batalha trava: a exposição da Verdade; a sua cruzada una é contra o ego insistente, contra os instintos maus do coração humano. A sua vitória é submeter-se e render-se; a abnegação é a sua glória eterna. Em suma, é espírito e mais espírito:
Salvo se necessário for,
Não esmagueis a serpente rastejante;
Muito menos firais um semelhante.
E se possível não causes pavor
Nem a uma formiga pelo chão;
Muito menos magoeis a um irmão.
Nisto se concentre toda a vossa luta: serdes a fonte de vida e imortalidade, de paz, conforto e júbilo para toda alma, seja conhecida, seja estranha, adversária ou aliada vossa. Não olheis para a pureza ou impureza de sua natureza: fitai a mercê do Senhor, que a tudo abrange; a luz de Sua graça abraçou a Terra inteira e todos os que a habitam; na plenitude de Sua generosidade encontram-se imersos os sábios como os ignorantes. Tanto o estranho como o amigo estão ambos sentados à mesa de Seu favor. Tal qual o crente, aquele que nega e se desvia de Deus estende ao mesmo tempo as mãos e sorve do mar de Suas dádivas.
Cumpre aos amados do Senhor ser as manifestações e os símbolos de Sua mercê universal e as personificações de Sua própria graça sublime. Tal como o sol, que esparjam seus raios igualmente sobre jardim e terreno baldio; qual as nuvens primaveris, que vertam chuva sobre flor e espinho. Que busquem tão somente o amor e a fidelidade e não se deixem guiar pela rudeza; que sua conversação restrinja-se aos segredos da amizade e da paz. Eis os atributos dos justos; tal é a insígnia dos que servem a Seu Limiar.
A Beleza de Abhá suportou as mais aflitivas calamidades. Sofreu inumeráveis tormentos e dores. Não desfrutou sequer um instante de paz; alento algum por ele aspirado vinha acompanhado de sossego. Sem lar, vagava por areias de desertos e vertentes de montanhas; encarceraram-No numa fortaleza, no interior de uma cela. Não obstante, para Ele, Sua humilde esteira de palha era um trono eterno de glória, e os pesados grilhões que O oprimiam, um colar régio cravejado de jóias. Vivia sob uma espada a zumir, e, a todo momento, estava pronto a morrer na cruz. Tudo isso Ele sofreu a fim de purificar o mundo e adorná-lo com os amorosos favores do Senhor Deus; para que pudesse trazer-lhe paz; para que se debandassem o conflito e a agressão, e se permutassem lança e lâmina aguçada por amizade; para que a malevolência e a guerra se convertessem em segurança, bondade e amor, e os campos de batalha de ódio e ira se transformassem em jardins de deleite, e os lugares onde antes colidiam com fragor os exércitos sanguinosos se tornassem fragrantes e aprazíveis vergéis; a fim de que se considerasse a luta armada uma ignomínia, e todos os povos evitassem o recurso às armas como a uma moléstia repugnante, e a paz universal erguesse seus pavilhões nos mais elevados montes, e a guerra fosse erradicada para sempre da face da terra.
Por conseguinte, devem os amador de Deus, diligentemente, com as águas de seus esforços, cultivar e nutrir e fomentar essa árvore de esperança. Em qualquer plaga onde vivam, que sejam, de todo coração, amigos e companheiros de toda alma, quer vizinha, quer remota. Que eles, com qualidades celestiais, promovam as instituições e a religião de Deus. Que jamais os deixe a coragem, e nunca esmoreçam, e jamais se sintam aflitos. Quanto mais intenso o antagonismo que encontrarem, mais demonstrem eles sua própria boa fé; quanto mais tormentos e calamidades tenham de enfrentar, tanto mais generosamente ofereçam a todos o cálice dadivoso. Eis o espírito que virá a ser a vida do mundo; tal é a luz que em seu coração se dissemina - e quem assim não é ou age diversamente não é digno de servir no Limiar Sagrado do Senhor.
Ó amados de Deus! O Sol da Verdade está a fulgurar de céus invisíveis; reconhecei a preciosidade destes dias. Erguei a cabeça e crescei até vos tornardes altos como ciprestes às margens dessas águas que fluem velozmente. Rejubilai-vos pela beleza do narciso de Najd, pois a noite virá e este já não será. ...
Ó amados de Deus! Louvores a Ele; o lábaro resplandecente do Convênio está desfraldado, dia a dia mais altaneiro, enquanto a bandeira da perfídia rebaixou-se e jaz a meio-pau. Os agressores das sombras foram abalados até o próprio âmago; são agora como tumbas arruinadas e, de modo idêntico às criaturas cegas que habitam as entranhas da terra, arrastam-se e rastejam por um canto do sepulcro, e dessa cova, de quando em vez, quais animais selvagens, emergem nervosos e emitem uivos. Glória a Deus! Como podem as trevas esperar sobrepujar a luz? De que forma podem as cordas de um mago subjugar "uma serpente manifesta aos olhos de todos?" "Pois vede! Ela engoliu por completo seus falsos prodígios."87 Ai deles! Iludiram-se com fábulas e a fim de saciar os próprios desejos aniquilaram a si mesmos. Abriram mão da glória eterna pelo orgulho humano, e sacrificaram grandeza em ambos os mundos pelas exigências do ego insistente. É disto que vos temos advertido. Em breve contemplareis os insensatos em ruína evidente.

Ó meu Senhor e minha Esperança! Ajuda teus amados a serem firmes em Teu poderoso Convênio, a permanecerem fiéis a Tua Causa manifesta e a cumprirem os mandamentos que lhes prescreveste em Teu Livro de Esplendores; para que se tornem estandarte de guia, lâmpadas da Assembléia no alto, mananciais da Tua infinita sabedoria e estrelas que guiam à senda reta reluzindo do céu superno. Tu, em verdade, és o Invencível, o Onipotente, o Todo-Poderoso.


207. Ó vós que volvestes a face à Exaltada Beleza! Durante o dia como à noite, ao amanhecer e ao ocaso, ao avizinhar-se a escuridão e ao raiar a luz, lembro-me, como sempre me tenho lembrado, nos reinos de minha mente e meu coração, dos amados do Senhor. Rogo-Lhe que verta Suas confirmações sobre esses amados habitantes dessa terra pura e sagrada, e lhes propicie bom êxito em todas as coisas: que faça com que em seu caráter, sua conduta, suas palavras, seu modo de vida, em tudo o que são e fazem, atinjam distinção entre os homens; suplico-Lhe que os reúna à comunidade mundial, com os corações exuberantes de êxtase e fervor e amor ardente, com conhecimento e certeza, com as faces formosas e brilhantes.
Ó amados do Senhor! Este é o dia da união, o dia da congregação de toda a humanidade. "Deus, em verdade, ama os que, como uma muralha sólida, batalham por Sua Causa em fileiras cerradas!"88 Observareis que Ele diz "em fileiras cerradas" - o que significa apinhadas, compactas, ombro a ombro, um encadeado ao outro, cada qual a apoiar os companheiros. Batalhar, conforme reza o versículo sagrado, não quer dizer, nesta maior de todas as dispensações, avançar armado de espada, seta, lança ou flecha aguçada, mas sim munido de intenção pura, motivos retos, conselhos benéficos e eficazes, atributos bons, atos que aprazem ao Todo-Poderoso e qualidades celestiais. Significa a educação de todo o gênero humano, a guia de todos os homens, a difusão aos quatro ventos dos doces eflúvios do espírito, a propagação das provas de Deus, a apresentação de argumentos irrefutáveis e divinos, a prática de ações caridosas.
Sempre que almas santas, recorrendo aos poderes do céu, levantarem-se com tais qualidades do espírito e marcharem em harmonia, fileira após fileira, cada uma delas será como um milhar, e as ondas encapeladas desse grandioso oceano serão como os batalhões da Assembléia no alto. Que bênção será então! quando todos se reunirem, assim como torrentes, rios, regatos, riachos, e simples gotas antes separados e agora a convergirem para um mesmo lugar para lá formar um grandioso mar. E em tamanho grau há de prevalecer a unidade essencial de todos, que as tradições, usanças e distinções da vida caprichosa das populações serão extintas e desvanecer-se-ão qual gotas isoladas ao se erguer e encapelar e bramir o grande oceano da unidade.
Juro pela Beleza Antiga! Ao chegar esse dia, espantosa graça tanto cingirá a todos, e o mar da grandeza a tal ponto inundará suas praias, que o mais estreito fio d'água se ampliará como um oceano ilimitado, e toda gota, por menor que seja, virá a ser como o pélago infindo.
Ó amados de Deus! Empenhai-vos e diligenciai por atingir essa elevada posição e por fazer com que brilhe tão radiante esplendor através desses reinos da Terra que seus raios retornem, refletidos, de um nascente do horizonte da eternidade. Esse é o próprio alicerce da Causa de Deus. Essa é a própria substância de Sua Lei. Essa é a poderosa estrutura erigida pelas Manifestações de Deus. Essa é a razão por que o orbe do mundo de Deus alvorece. Esse é o motivo pelo qual o Senhor Se estabelece no trono de Seu corpo humano.
Ó Amados de Deus! Vede como o Excelso89 - que as almas de todos da Terra sejam um resgate por Ele - por esse sublime objetivo, fez de Seu coração bendito o alvo para as setas da aflição; e visto que o verdadeiro intento da Beleza Antiga - que por Ele sejam sacrificadas as almas da Assembléia no alto - era conquistar essa mesma meta superna, o Excelso expôs Seus santo peito como alvo para uma miríade de balas disparadas pelo povo da maldade e do ódio, rendendo Ele o alento, com absoluta humildade, como mártir. Sobre o pó dessa senda jorrou o sangue sagrado de milhares e milhares de almas santas, e inúmeras vezes o corpo abençoado de um fiel amante de Deus era enforcado numa árvore.
A Própria Beleza de Abhá - que o espírito de toda a existência seja oferecido em holocausto por Seus amados - suportou toda sorte de provação e, de bom grado, aceitou para Si intensas aflições. Nenhum tormento restou a que Seu sagrado corpo não fosse sujeitado, sofrimento algum houve que sobre ele se não abatesse. Quantas noites Suas foram insones por causa do peso do grilhão de ferro que se Lhe prendia ao pescoço! Quantos os dias em que a dor pungente do tronco90 e das cadeias não Lhe permitia sequer um instante de paz! Fizeram-No correr de Níyávarán a Teerã - Ele que era espírito personificado, Ele que fora acostumado a repousar sobre almofadas de seda ornamentada - acorrentado, descalço, cabeça descoberta; e num subterrâneo, na profundeza da terra, na espessa escuridão daquela masmorra exígua, confinaram-No ao lado de assassinos, rebeldes e salteadores. De quando em quando O assaltavam com novo tormento, e todos tinham por certo que de um momento a outro Ele seria martirizado. Algum tempo depois, baniram-No de Sua terra natal para plagas estranhas e remotas. Durante muitos anos, no Iraque, nenhum instante transcorria sem que a seta de uma nova angústia Lhe lancinasse o santo coração; a cada alento, uma espada precipitava-se-Lhe sobre o sagrado corpo, e esperança alguma podia Ele ter de um momento de segurança ou repouso. Seus inimigos contra Ele arremeteram de todos os lados com ódio implacável; e Ele, sem auxílio e sozinho, resistiu a todos. Após todas essas tribulações, todos esses golpes físicos, expulsaram-No do Iraque, na Ásia, e mandaram-No ao continente europeu, e nesse lugar de exílio amargo, de sofrimentos deploráveis, ao sem-número de inqüidades contra Ele perpetradas pelo povo do Alcorão vieram somar-se as perseguições virulentas, os ataques poderosos, as tramas, as calúnias, as hostilidades ininterruptas, o ódio e a malevolência do povo do Bayán. Minha pena é impotente para relatá-lo a pleno; mas vós, seguramente, estais a par disso. Então, depois de vinte e quatro anos nesta Maior Prisão, em extrema dor física e padecimento penoso, Seus dias findaram.
Em suma, durante toda a Sua estada neste mundo transitório, a Beleza Antiga foi sempre um cativo, ora preso por grilhões, ora a viver sob a espada; já sujeitado a sofrimento e tormento extremos, já encarcerado na Máxima Prisão. Em virtude de Sua fraqueza física, provocada pelas torturas que sofreu, Seu abençoado corpo desgastou-se a ponto de dele não restar mais que um sopro; era leve como um fio de teia de aranha em conseqüência da prolongada aflição. E a razão pela qual Ele ombreou esse opressivo fardo e suportou toda essa angústia - que era semelhante a um oceano cujas vagas atingem o alto céu - o motivo pelo qual ofereceu-Se às pesadas correntes de ferro e veio a ser a própria personificação da absoluta resignação e humildade foi o de guiar todas as almas da Terra à concórdia, à solidariedade e à unidade; a fim de tornar conhecido entre todos os povos o sinal da unicidade de Deus, de modo que a unidade primordial depositada na essência de todas as coisas criados enfim desse seu fruto destinado, e o esplendor de "Nenhuma diferença podes ver na criação do Deus de Misericórdia"91 espargisse por toda a parte seus raios.
Agora é o tempo, ó amados do Senhor, do empenho ardente. Empenhai-vos. Fazei esforços. E como a Beleza Antiga foi exposta, dia e noite, no campo do martírio, que nós, de nossa parte, laboremos diligentemente e escutemos e ponderemos os conselhos de Deus; ponhamos de lado nossas vidas e renunciemos a nossos dias breves e contados. Afastemos o olhar das vãs fantasias das formas divergentes deste mundo e sirvamos, ao invés disso, este propósito preeminente, este nobre desígnio. Não abatamos, por via de nossas imaginações, esta árvore que a mão da graça celestial plantou; não eclipsemos, com as nuvens negras de nossas ilusões, de nossos interesses egoístas, a glória que emana do Reino de Abhá. Evitemos ser barreiras a represar o oceano encapelado do Deus Onipotente. Não impeçamos os puros e doces perfumes do jardim da beleza Todo-Gloriosa de se difundirem aos quatro ventos. Evitemos interromper, neste dia da reunião, a torrente primaveral de bênçãos que jorra do alto. Não consintamos que os esplendores do Sol da Verdade jamais se obscureçam ou desapareçam. Eis as admoestações de Deus, conforme foram estabelecidas em Seus Livros Sagrados, Escrituras e Epístolas que exprimem Seus conselhos aos sinceros.
Que a glória e a mercê e as bênçãos de Deus repousem sobre vós.


208. Ó servos do Limiar Sagrado! As hostes triunfantes da Assembléia Celestial, enfileiradas e dispostas em ordem de batalha, permanecem prontas e na expectativa de apoiar e assegurar vitória ao valente cavaleiro que pleno de confiança esporear seu corcel, lançando-se na arena do serviço. Bem-aventurado esse guerreiro intimorato que, armado do poder do verdadeiro Conhecimento, arroja-se impetuosamente ao campo de batalha, dispersa os exércitos da ignorância, debanda as hostes do erro e ergue altaneiro o Estandarte da Guia Divina, e faz soar o Clarim da Vitória. Pela retidão do Senhor! Esse terá atingido glorioso triunfo e conquistado a verdadeira vitória.


209. Ó servos da Abençoada Beleza!... É evidente que, neste dia, as confirmações do mundo invisível estão a envolver todos os que transmitem a Mensagem divina. Fosse o trabalho de ensino decair, essas confirmações cessariam inteiramente, dado que é impossível que os amados de Deus recebam auxílio a menos que ensinem.
Sob todas as condições, cumpre levar avante o ensino, mas com sabedoria. Caso não seja possível prossegui-lo publicamente, que se ensine em particular, de forma que se engendrem espiritualmente e camaradagem entre os filhos dos homens. Se, por exemplo, cada um dos crentes, sem exceção, se tornar verdadeiro amigo de um dos desatentos e, procedendo com absoluta retidão, estabelecer laços de companheirismo com tal alma, tratando-a com a máxima bondade - ele mesmo tornando-se exemplar das instruções divinas que recebeu, das boas qualidades e padrões de conduta -, agindo em todos os tempos de acordo com as admoestações de Deus, decerto que, pouco a pouco, terá êxito em despertar essa pessoa anteriormente negligente e em transformar sua ignorância em conhecimento da verdade.
As almas estão propensas à desafeição. Deve-se primeiro procurar eliminar esse desafeto, pois somente então a Palavra terá efeito. Se um crente mostrar bondade a um dos desatentos e, com grande amor, levá-lo gradualmente a compreender a validade da Sagrada Causa, de modo que venha a conhecer os princípios fundamentais da Fé de Deus e suas implicações, tal pessoa será certamente transformada, exceto se for daqueles indivíduos raro encontrados que são idênticos a cinzas, cujos corações são "duros como pedras - não, ainda mais duros"90.
Se cada qual dos amigos esforçar-se destarte para guiar uma alma ao caminho reto, o número de crentes duplicará a cada ano; e isto pode ser realizado com prudência e sabedoria, sem que mal algum resulte.
Além disso, os instrutores devem empreender viagens por todas as regiões, e se a disseminação ostensiva da Mensagem causar perturbação, que encoragem e treinem os crentes, e os inspirem e deleitem, e lhes regozijem os corações e os reanimem e revigorem com as doces fragrâncias da santidade.


210. Ó rosas do jardim do amor de Deus! Ó lâmpadas radiantes da assembléia de Seu conhecimento! Que as suaves brisas de Deus soprem sobre vós e a Glória de Deus ilumine o horizonte de vosso coração. Sois as ondas do oceano profundo do conhecimento, os exércitos concentrados nas planícies da certeza, as estrelas dos céus da compaixão de Deus; sois as pedras que põem em debandada o povo da perdição, as nuvens da piedade divina a pairar sobre os jardins da vida, a graça abundante da unidade de Deus que é derramada sobre a essência de todas as coisas criadas.
Na epístola estendida deste mundo, sois os versículos de Sua unicidade; e nos pináculos de torres de palácios majestosos, sois os estandartes do Senhor. Em Seus vergéis, sois as flores e ervas docemente fragrantes; no roseiral do espírito, os rouxinóis que vertem canto plangente. Sois as aves que alçam vôo ao firmamento da compreensão, os falcões reais no pulso de Deus.
Por que, então, estais apagados? por que silentes? por que inertes e desalentados? Deveis flamejar como o relâmpago e erguer um clamor semelhante ao do grande mar. Como uma vela, deveis espargir vossa luz, e de modo idêntico às suaves brisas de Deus, deveis soprar por todo o mundo. Cumpre a vós, qual doces zéfiros dimanados dos jardins celestiais e ventos impregnados de almíscar oriundos dos vergéis do Senhor, perfumar a atmosfera para o povo do conhecimento, e como os esplendores emitidos pelo Sol verdadeiro, iluminar os corações da humanidade; pois vós sois os ventos impregnados de vida, a fragrância exalada pelos jasmins dos jardins dos salvos. Insuflai, portanto, vida no morto e despertai o letárgico. Em meio à escuridão do mundo, sede flamas radiantes, nas areias da perdição, sede mananciais da água da vida, sede a guia do Senhor Deus. Agora é o tempo de servir, esta é a hora de estar incandescente. Reconhecei o valor desta oportunidade, desta conjuntura favorável que é graça ilimitada antes que vos escape das mãos.
Cedo nossos parcos dias, nossa vida evanescente, ter-se-ão esgotados, e, de mãos vazias, passaremos à cova que é cavada para os que não mais falam. Por conseguinte, temos de nos enamorar da Beleza Manifesta e nos apegar à corda infalível da salvação. Temos de nos preparar para o serviço, atear a flama do amor e nos consumir em seu ardor. Mister é soltarmos as línguas até conflagrarmos o âmago deste vasto mundo, até aniquilarmos, com os raios fúlgidos da guia, as forças das trevas, e então, por amor a Ele, no campo do sacrifício atirarmos a vida a Seus pés.
Portanto, disseminemos entre todos os povos as jóias entesouradas do reconhecimento de Deus; com a lâmina peremptória da língua e as setas certeiras do conhecimento, derrotemos as hostes do ego e da paixão e apressemo-nos em avançar até o sítio do martírio, o lugar onde morreremos pelo Senhor. E então, com pendões a tremular, ao rufar dos tambores, passemos para o reino do Todo-Glorioso e juntemo-nos à Assembléia no alto.
Bem-aventurados os autores de grandes feitos.


211. Quando não se esforçam por difundir a mensagem os amigos deixam de se lembrar de Deus de um modo digno, e não haverão de testemunhar os sinais de ajuda e confirmação que vêm do Reino de Abhá, nem compreenderão os mistérios divinos. Quando, porém, a língua do instrutor se ocupa do ensino, ele próprio será naturalmente estimulado, se tornará um ímã que atrai o auxílio divino e a graça do Reino, e será como o pássaro que ao alvorecer, inebria-se com seu próprio canto, seu chilrear e sua melodia.


212. É em tais momentos que os amigos de Deus valem-se da ocasião, aproveitam a oportunidade, avançam impetuosamente e conquistam o prêmio. Se sua tarefa for confinada à boa conduta e bons conselhos somente, nada será realizado. É imperioso que falem abertamente, exponham as provas, apresentem argumentos claros e deduzam conclusões irrefutáveis que estabeleçam a verdade da manifestação do Sol da Realidade.


213. O trabalho de ensino deve, sob todas as circunstâncias, ser ativamente levado avante pelos crentes, pois disso dependem as confirmações divinas. Se um bahá'í não se dedicar plena e vigorosamente e de todo o coração, ao trabalho de ensino, ele, sem sombra de dúvida, será privado das bênçãos do Reino de Abhá. Ainda assim, essa atividade deve ser realizada com sabedoria - não, porém, a sabedoria que exige que se guarde silêncio e negligencie de tal obrigação, mas antes a que manda exibir tolerância divina, amor, bondade, paciência, caráter virtuoso e atos santos. Em suma, encoraja os amigos individualmente a ensinar a Causa de Deus e chama-lhes a atenção para este significado de sabedoria mencionado nas Escrituras, que é em si a essência do ensino da Fé; mas tudo isso deve ser feito com a máxima tolerância, de forma que a assistência celestial e a confirmação divina auxiliem os amigos.


214. Segue tu no caminho de teu Senhor e não digas o que os ouvidos não podem suportar, pois tais dizeres seriam como alimento delicioso dado as criancinhas: por mais saboroso, raro e rico que seja, esse alimento não pode ser assimilado pelos órgãos digestivos da criança que mama. Assim, pois, a qualquer um que tenha direito, seja dada a sua medida certa.
"Nem tudo o que um homem sabe pode ser revelado, nem tudo o que lhe é possível revelar deverá ser julgado oportuno, e nem todo dizer oportuno pode ser considerado apropriado à capacidade dos que o ouvem". Tal é a consumada sabedoria a ser observada em tuas atividades. Que disto não te esqueça, se desejas ser homem de ação sob todas as condições.
Primeiro faze o diagnóstico da moléstia e identifica o mal, e então prescreve o remédio, pois é esse o método perfeito do médico hábil.


215. A esperança que nutro da graça do Senhor Uno e Verdadeiro é que sejas capacitado a disseminar as fragrâncias de Deus entre as tribos. Isto é importantíssimo...
Se tiveres êxito em render esse serviço, hás de sobressair e ser o líder no campo de batalha.


216. Tem tu plena certeza de que os sopros do Espírito Santo te soltarão a língua. Fala, pois; fala abertamente, com grande coragem, em toda reunião. Quando estás prestas e principiar teu discurso, volve-te primeiro a Bahá'u'lláh e implora as confirmações do Espírito Santo; então, abre os lábios e diz o que te for inspirado ao coração - isto, porém, com a máxima coragem, dignidade e convicção. É minha esperança que, dia a dia, vossas reuniões cresçam e floresçam, e que os que buscam a verdade nelas escutem argumentos racionais e provas convincentes. Estou convosco, de coração e em espírito, em cada reunião; assegurai-vos disso.


217. O instrutor, quando ensina, deve estar, ele próprio, plenamente inflamado, de modo que suas palavras assim como uma chama de fogo, possam exercer influência e consumir o véu do ego e da paixão. Ele deve ser absolutamente humilde e submisso, a fim de que outros sejam edificados, e ser totalmente desprendido de si mesmo e evanescente, para que possa ensinar com a melodia da Assembléia nas alturas; de outro modo, seu ensino nenhum efeito terá.


218. Ó amigos íntimos e queridos de 'Abdu'l-Bahá!
Difundi perfumes no Oriente,
E ao Ocidente fulgores levai;
Aos búlgaros trazei luz fulgente;
E os eslavos ressuscitai.
Um ano após a ascensão de Bahá'u'lláh, essa quadra fluiu dos lábios do Centro do Convênio. Os rompedores do Convênio acharam-na realmente estranha e zombaram dela. Não obstante, louvado seja Deus! seus efeitos estão agora manifestos, seu poder revelado, sua significação clara, uma vez que hoje, pela graça de Deus, Oriente e Ocidente estão ambos a fremir de júbilo, e, presentemente, as doces aragens da santidade têm deixado a Terra inteira perfumada de almíscar.
A Abençoada Beleza fez, em termos inequívocos, a seguinte promessa em Seu Livro: "Verdadeiramente, Nós vos vemos de Nossos reinos de glória e ajudaremos qualquer um que se levantar para o triunfo de Nossa Causa com as hostes da Assembléia do alto e uma companhia de Nossos anjos escolhidos."91
Graças a Deus, esse auxílio prometido tem sido outorgado, como é patente aos olhos de todos, e resplandece tão claro quanto o sol no firmamento.
Por conseguinte, ó amigos de Deus, redobrai os esforços e empenhai-vos ao máximo, até triunfardes em vossa servitude à Beleza Antiga, a Luz Manifesta, e vos tornardes a causa da difusão universal dos raios do Sol da Verdade. Insuflai o alento frescor da vida no corpo exausto e alquebrado do mundo e, nos solos arados de todas as regiões, deitai a semente sagrada. Levantai-vos para serdes campeões desta Causa; abri os lábios e ensinai. Na assembléia da vida, sede vela que guia; sede estrelas deslumbrantes nos céus deste mundo; nos jardins da unidade, sede aves do espírito a gorjear verdades e mistérios ocultos.
Despendei cada sopro de vida nesta grandiosa Causa e dedicai todos os vossos dias ao serviço de Bahá, para que no fim, salvos de perda e privação, herdeis os tesouros acumulados dos reinos no alto. Pois os dias do homem são repletos de perigo e nem sequer em um momento mais de vida pode ele se fiar; e, ainda assim, as pessoas, semelhantes a uma miragem tremulante de ilusões, asseguram-se de que no final alcançarão as alturas. Ai delas! Os homens de outrora acalentaram no peito essas mesmas fantasias até serem varridos por uma onda e retornarem ao pó, onde se viram excluídos e despojados, todos, exceto as almas que se haviam libertado do ego e atiraram suas vidas no caminho de Deus. A estrela refulgente destes resplandeceu nos céus de glória antiga, e as memórias legadas por todas as eras são o testemunho disso.
Portanto, não repouseis nem de dia nem à noite e tampouco busqueis conforto. Manifestai os segredos da servitude e trilhai a vereda do serviço, até obterdes o auxílio prometido proveniente dos reinos de Deus.
Ó amigos! Nuvens negras têm coberto a Terra inteira, e as trevas do ódio, do rancor, da crueldade, da agressão e da corrupção alastraram-se por todos os quadrantes. Todas as pessoas passam as vidas num estupor negligente, e a voracidade e a sede de sangue são consideradas as maiores virtudes do homem. Dentre toda a massa da humanidade, Deus elegeu os amigos e os tem favorecido com Sua guia e graça ilimitada. Seu desígnio é que todos nós lutemos, de todo o coração, por sacrificar nossa vida, guiar outros à Sua senda e treinar as almas dos homens - até que essas feras enlouquecidas sejam transformadas em gazelas nos prados da unidade, esses lobos em cordeiros de Deus, essas criaturas selvagens em hostes angélicas; até que se extingam os fogos do ódio, e a flama que se levanta do vale abrigado do Santuário sagrado irradie seus esplendores; e até que o odor nauseabundo do monturo do opressor seja soprado embora e dê lugar aos puros doces aromas emanados dos roseirais da fé da fidedignidade. Nesse dia, os débeis de intelecto recorrerão à generosidade da Mente divina e universal, e aqueles cuja vida é somente ódio sairão em busca dessas brisas purificadoras e santas.
Contudo, é preciso que haja almas que manifestem tais dádivas, e é imperioso haver lavradores que cultivem esses campos, jardineiros para esses vergéis, peixes que nadem nesse mar, estrelas que cintilem nesse firmamento. Esses enfermos têm de receber os cuidados de médicos espirituais, e os perdidos necessitam de guias bondosos - de modo que de semelhantes almas os destituídos recebam seu quinhão, e os privados obtenham sua porção, e os que buscam ouçam provas irrefutáveis, e os pobres nelas descubram riqueza imensurável.

Ó meu Senhor, meu Defensor, meu Amparo no perigo! Com absoluta humildade Te suplico; enfermo, a Ti me volvo, esperando em Tua cura; a Ti clamo, humildemente, com a língua, a alma e o espírito:
Ó Deus, meu Deus! A escuridão da noite encobriu todas as regiões, e a Terra inteira acha-se velada por nuvens densas. Os povos do mundo estão submersos nas profundezas tenebrosas das vãs ilusões, enquanto seus tiranos nadam na crueldade e no ódio. Nada vejo a não ser o clarão dos fogos devoradores e ardentes que se erguem no ínfimo dos abismos; som algum me chega aos ouvidos senão o estrondo atroador produzido pelo ribombar de milhares e milhares de armas de fogo de ataque, ao mesmo tempo que toda plaga exclama, em voz alta, em sua língua secreta: "Minhas riquezas de nada me valem e minha soberania pereceu!"
Ó meu Senhor! As lâmpadas da guia se apagaram. As flamas da paixão avolumam-se até as alturas, e a malevolência está continuamente a ganhar terreno no mundo. A malícia e o rancor têm-se estendido sobre toda a face da terra, e nenhuma alma encontro salvo Teus próprios companheiros, opressos e escassos, que erguem este brado:
Apressai-vos logo ao amor! Apressai-vos logo à fidedignidade! Apressai-vos a fazer dádivas! Vinde ser guiados!
Vinde à harmonia! Vinde contemplar o sol! Vinde aqui para a bondade, para o bem estar! Chegai-vos aqui para a amizade e a paz!
Vinde e deitai ao chão as vossas armas de ira, até se conquistar a unidade! Vinde, e na senda verdadeira do Senhor ajudemo-nos mutuamente!
Esses Teus opressos, veramente, com júbilo extremo, de corpo e alma, sacrificam as próprias vidas pela humanidade inteira, em todas as plagas. Tu os vês, ó meu Senhor, a prantear as lágrimas vertidas por Teu povo, aflitos pela dor de Teus filhos, a condoer-se do gênero humano, a sofrer em virtude das calamidades que assediam a todos os habitantes da terra.
Ó meu Senhor! Dota-os com as asas da vitória, para que possam alçar vôo até os céus da salvação; fortalece-os no serviço a Teu povo e fortifica-os na servitude a Teu Limiar de Santidade.
Tu, em verdade, és o Generoso, o Misericordioso! Nenhum outro Deus há senão Tu, o Clemente, o Compassivo, o Ancião dos Dias.


219. Ó filhos e filhas do Reino! Vossa carta, que certamente foi inspirada pelo céu, foi recebida. Seu conteúdo era o mais agradável, seus sentimentos nascidos de corações luminosos.
Os crentes de Londres são verdadeiramente firmes e fiéis; são resolutos, são constantes no serviço; quando submetidos a provações, não vacilam, nem míngua seu fogo com o passar do tempo; ao contrário, eles são bahá'ís. São celestes, são exuberantes de luz, são de Deus. Indubitavelmente, tornar-se-ão o instrumento que alto erguerá a Palavra de Deus, e que promoverá a unidade do mundo dos homens; serão a causa da propagação dos ensinamentos de Deus e da disseminação, por todas as regiões, da igualdade de todos os membros do gênero humano.
É fácil aproximar-se do Reino do Céu, mas difícil nele permanecer firme e inabalável, pois as provações são rigorosas e penosas de suportar. Os ingleses, porém, mantêm-se constantes sob todas as condições e não pisam em falso ao primeiro sinal de tribulação. Não são volúveis; não agem com irresponsabilidade na condução de projeto algum, abandonando-o em seguida. Não perdem o entusiasmo por qualquer razão de pequena monta, nem o zelo e o interesse. Não, em tudo o que fazem são resolutos, sólidos como a rocha, inabalavelmente firmes.
Embora vivais em terras ocidentais, ouvistes, mercê de Deus! este chamado do Oriente, e tal qual Moisés aquecestes as mãos no fogo ateado na Árvore Asiática. Encontrastes o caminho verdadeiro, fostes acesos como lâmpadas, e ingressastes no Reino de Deus. E agora, em gratidão por tais bênçãos vos tendes levantado e estais rogando o auxílio divino para todos os povos do planeta, para que seus olhos também possam contemplar os esplendores do Reino de Abhá, e seus corações, qual espelhos, reflitam os raios fulgurantes do sol da Verdade.
É minha esperança que os sopros do Espírito Santo tanto vos sejam insuflados nos corações que vossas línguas desvendem os mistérios, e exponham e descrevam os significados ocultos dos Livros Sagrados; que os amigos venham a ser médicos e, por meio do remédio eficaz dos ensinamentos divinos, curem as moléstias crônicas de que padece o corpo deste mundo, e que restituam a visão ao cego, a audição ao surdo, a vida ao morto e despertem os letárgicos.
Estai convictos de que as confirmações do Espírito Santo manarão sobre vós e os exércitos do Reino de Abhá garantirão vossa vitória.


220. O Senhor de toda a humanidade moldou este reino humano para ser o jardim do Éden, o paraíso terreno; se, como lhe cumpre, ele encontrar o caminho da harmonia e da paz, do amor e da confiança mútua, este domínio tornar-se-á verdadeira morada de beatitude, lugar de bênçãos múltiplas e de deleites sem fim, onde a excelência da humanidade far-se-á manifesta e os raios do Sol da Verdade resplandecerão sobre todas as regiões.
Lembrai-vos como Adão e os demais, em tempos priscos, habitavam juntos no Éden. Mal, porém, irrompeu a contenda entre Adão e Satã, foram todos banidos do jardim, e isto representa uma advertência ao gênero humano - um meio de fazer-lhe ver que a dissensão, até com Satanás, é a vereda que conduz a dano amargo. Eis porque, nesta era iluminada, Deu ensina que conflitos e disputas não são permissíveis, nem mesmo com o próprio Satã.
Deus bondoso! Quão desatento é o homem! Ainda vemos a conflagração a envolver-lhe o mundo de um pólo a outro. Há guerra entre as religiões; há guerra entre as nações, guerra entre os povos, guerra entre os governantes. Que transformação bem-vinda se daria se ao menos essas nuvens negras se dissipassem e desaparecessem dos céus do mundo, de modo que a luz da realidade pudesse espargir-se por todos os quadrantes! Se ao menos a poeira sombria dessas lutas e matanças contínuas assentasse para todo o sempre, e as doces brisas da graça de Deus soprassem do manancial da paz! Então este mundo tornar-se-ia outro mundo, e a Terra fulguraria com a luz de seu Senhor.
Se alguma esperança há, esta repousa exclusivamente nos favores de Deus: que Sua graça fortalecedora chegará, e as lutas e contendas cessarão, e a aguilhoada acerba da espada sanguinária se transformará no mel da amizade, da probidade e da confiança. Quão doce seria esse dia ao paladar, quão fragrante como almíscar o seu aroma.
Permita Deus que o ano novo encerre auspícios da nova paz. Que Ele capacite essa eminente assembléia a celebrar um tratado eqüitativo e estabelecer um convênio justo, de sorte que sejais eternamente abençoados, por todos os séculos ainda não nascidos.
(Epístola dirigida aos leitores do The Christian Common-wealth, em 1 de janeiro de 1913)


221. Ó vós que sois firmes no Convênio! Aquele que veio em peregrinação fez menção de cada um de vós e pediu fosse redigida uma carta a cada um; contudo, este errante no deserto do amor de Deus se vê impedido de manter correspondência por uma infinidade de preocupações e afazeres; e visto que dos lestes e oestes da Terra sobre ele converge uma torrente crescente de missivas, seria impossível enviar uma carta individual a cada um; portanto, esta única epístola é dirigida a cada um de vós, de modo que, como vinha lacrado, vos regozije as almas e aqueça os corações.
Ó vós que sois constantes e amados! A graça de Deus está a precipitar-se sobre a humanidade, assim como as chuvas primaveris, e os raios da Luz manifesta têm feito desta Terra a inveja do céu. Lastimavelmente, porém, os cegos estão privados dessa mercê, os negligentes dela se acham excluídos, os definhantes perdem todas as esperanças de alcançá-la, os debilitados estão perecendo - de sorte que esse caudal infinito de graça, assim como águas torrenciais, flui de volta à sua fonte original, num mar oculto. Apenas uma mancheia recebe essa graça e obtém dela seu quinhão. Assim, depositemos as esperanças em tudo quanto o braço forte do Bem Amado pode realizar.
Temos plena confiança em que, no porvir, os letárgicos hão de despertar, os desatentos tornar-se-ão cônscios e os excluídos, iniciados nos mistérios. Agora é o tempo em que devem os amigos perseverar em seu labor de corpo e alma, e envidar um esforço grandioso, até que os baluartes da dissensão sejam derribados e as glórias da unicidade da humanidade levem todos a unir-se.
Hoje, a necessidade capital é unidade e harmonia entre os amados do Senhor, pois eles devem constituir um único coração, uma só alma, e, na medida de suas forças, resistir unidos à hostilidade de todos os povos do mundo; cumpre-lhes pôr termo às trevas dos preconceitos de todas as nações e religiões e fazer saber a todo membro do gênero humano que todos são as folhas de um mesmo ramo, os frutos de uma só vergôntea.
Antes, todavia, que os amigos estabeleçam unidade perfeita entre si próprios, como podem convocar outrem à harmonia e paz?
A alma que não chegou a ressuscitar, como pode a vida a outra outorgar?
Refleti sobre todas as formas de vida afora a humana, e que estas vos sirvam e exortação: as nuvens que se deixam espalhar pelo vento não podem produzir a dádiva da chuva e cedo se esvaem; um rebanho de ovelhas, se disperso, torna-se presa certa do lobo; os pássaros que voam solitários não tardam em cair nas garras do gavião. Que demonstração mais clara poderia haver de que a unidade leva à vida florescente, ao passo que a dissensão e a alienação dos demais conduzem apenas ao infortúnio, pois são os caminhos que fatalmente levam a amargo desengano e ruína?
As santas Manifestações de Deus foram enviadas do Alto a fim de tornarem visível a unidade da humanidade. Se suportaram inumeráveis calamidades e tribulações, foi a fim de que uma comunidade dentre os povos divergentes da humanidade pudesse se reunir à sombra do Verbo de Deus, viver como um só corpo e, com encanto e graça, demonstrar na Terra a unidade do gênero humano. Destarte, a aspiração dos amigos tem de ser a de congregar e unificar a todos os povos, para que todos recebam um sorvo generoso do vinho puro do cálice "temperado na fonte canforada". Que façam das populações discrepantes uma só gente e induzam as raças hostis e sanguinárias da Terra ao amor mútuo ao invés do ódio. Que libertem os cativos dos desejos sensuais de seus grilhões e tornem os excluídos íntimos dos mistérios. Que concedam aos privados um quinhão das bênçãos destes dias, e guiem os destituídos ao tesouro inexaurível. Essa graça pode efetuar-se através de palavras, conduta e atos que sejam do Reino Invisível, na ausência destes, entretanto, sua realização é impossível.
As confirmações divinas são o penhor dessas bênçãos, a sagrada munificência de Deus é o que confere essas magníficas dádivas. Os amigos de Deus têm a apoiá-los o Reino das alturas, e conquistam as vitórias por meio das hostes arregimentadas da guia suprema. Destarte, toda dificuldade lhes será mitigada, e qualquer problema será resolvido com a maior facilidade.
Observai quão facilmente uma família onde reina a unidade conduz seus afazeres: como progridem seus membros, como prosperam no mundo! Seus negócios vão bem, desfrutam de conforto, tranqüilidade e segurança, sua posição está garantida e chegam a ser invejados por todos. Tal família, dia a dia, só se engrandece e se eleva em honra duradoura. E se ampliarmos um pouco a esfera de unidade - incluindo os habitantes de uma aldeia que procuram ser amorosos e unidos e mostram camaradagem e bondade uns aos outros -, que enorme desenvolvimento terão, como estarão seguros e protegidos! Alarguemos um pouco mais então o círculo; consideremos os habitantes de uma cidade no seu conjunto: se estabelecerem laços fortíssimos de unidade entre si, que largo progresso alcançarão, mesmo num curto período, e que poder manifestarão! E estendendo-se ainda mais o âmbito de unidade, isto é, se no íntimo dos cidadãos de um país inteiro florescerem corações pacíficos, e se eles de todo o coração, e de corpo e alma, ansiarem por cooperar uns com os outros e viverem em unidade, e se nutrirem sentimentos de amor e bondade mútuos, tal país atingirá júbilo imorredouro e glória perpétua. Nele a paz imperará; terá fartura e vasta riqueza.
Atentai, pois, para isto: se a totalidade dos clãs, tribos, comunidades, nações, países e territórios do planeta se reunissem sob o pavilhão unicolor da unidade da humanidade; e se pelos raios deslumbrantes do Sol da Verdade proclamassem a universalidade do homem, e fizessem todas as nações e todos os credos abrir os braços por inteiro uns aos outros, e estabelecer um Conselho Mundial e criar entre os membros da sociedade fortes laços mútuos que os unissem - que sucederia, então? Não resta sombra de dúvida de que o Bem-Amado Divino, com todo o esplendor de Sua beleza cativante e rodeado por um exército compacto de confirmações celestiais e bênçãos e dádivas humanas, manifestar-se-ia, na plenitude de Sua glória, ante os olhos do mundo inteiro.
Portanto, ó amados do Senhor, ponde-vos em movimento e fazei todo o possível por serdes como uma só alma e viverdes em paz um com o outro: pois sois todos gotas de um só oceano, folhas de uma única árvore, pérolas da mesma concha, flores e ervas doces do mesmo jardim. E em alcançando isso, empenhai-vos por unir os corações dos que professam outras fés.
A própria vida deveis sacrificar um pelo outro. Com todo ser humano deveis ser infinitamente bondosos. A ninguém trateis como se estranho fora; não considereis a ninguém vosso inimigo. Sede como se todos os homens fossem vossos familiares e amigos honrados. Vivei de modo tal que este mundo efêmero se transforme num esplendor, e este lúgubre monte de pó num palácio de delícias. Eis o conselho de 'Abdu'l-Bahá, este servo desditoso.


222. Ó errantes sem lar na Senda de Deus! A prosperidade, o contentamento e a liberdade, por mais desejados e conducentes à alegria do coração humano que sejam, de modo algum se comparam às provações do desabrigo e do infortúnio no caminho de Deus, pois tal exílio e desterro é abençoado pelo favor divino, e seguramente se lhe segue a mercê da Providência. A satisfação da tranqüilidade no lar e a doçura de achar-se livre de todas as preocupações hão de passar, enquanto a bênção do estar sem lar há de perdurar por toda a eternidade, e seus frutos, de largo alcance, far-se-ão manifestos.
A emigração de Abraão de Sua terra natal tornou manifestas as generosas dádivas do Todo-Glorioso, e o ocaso da mais fulgurante estrela de Canaã desvelou aos olhos a radiância de José. A fuga de Moisés, o Profeta do Sinai, revelou a Flama do Fogo ardente do Senhor, e a ascensão de Jesus insuflou os sopros do Espírito Santo no mundo. A partida de Maomé, o amado de Deus, de Sua cidade natal foi a causa de exaltação do Verbo Sagrado de Deus, e o banimento da Sagrada Beleza levou à difusão da luz de Sua Revelação divina por todas as plagas.
Atentai bem, ó dotados de discernimento!


223. Ó filhos e filhas do Reino! Vossa carta foi recebida. De seu conteúdo soube-se, Deus seja louvado! da extrema pureza de vossos corações e do regozijo de vossas almas pelas boas-novas de Deus. A maioria das pessoas está ocupada com o ego e com desejos mundanos, estão imersas no oceano do mundo inferior e são cativas do mundo da natureza, com exceção das almas que foram libertas dos grilhões e cadeias do mundo material e, como aves de vôo célere, estão a adejar nesse domínio ilimitado. Essas estão despertas e vigilantes, e afastam-se da obscuridade do mundo da natureza; sua mais alta inspiração centraliza-se na erradicação dentre os homens da luta pela existência, no resplandecer da espiritualidade e do amor do reino das alturas, na prática da máxima bondade entre os povos, na realização de uma associação íntima e forte entre as religiões, e na prática do ideal do sacrifício de si mesmo. Então o mundo da humanidade transformar-se-á no Reino de Deus.
Ó amigos, envidai esforço! Todo dispêndio faz necessária uma receita. Hoje, neste mundo, os homens estão o tempo inteiro dilapidando, porquanto a guerra nada mais é que o desperdício de vidas e riquezas. Que ao menos vós vos dediqueis a atos proveitosos ao mundo da humanidade, a fim de compensardes parcialmente essas perdas. Quiçá, mediante as confirmações divinas, sejais auxiliados a promover amizade e concórdia entre os homens, a transformar inimizade em amor, a fazer resultar da guerra universal a paz universal e a converter perda e rancor em proveito e amor. Este desiderato tornar-se-á realidade através do poder do Reino.


224. Ó servo de Deus! Tua carta foi recebida. Sublime e magnífico era seu conteúdo, elevado e relevante seu intuito. O mundo da humanidade está a necessitar grande melhoria, pois é uma selva material onde árvores infrutíferas medram e ervas daninhas abundam. Se chega a haver uma árvore que dê fruto, esta é obscurecida pelas estéreis, e se uma flor se desenvolve nessa selva, é oculta e escondida. O mundo humano está precisando de jardineiros peritos que convertam essas florestas em roseirais deleitáveis, substituam essas árvores estéreis por outras fecundas, e plantem, no lugar dessas ervas daninhas inúteis, rosas e ervas fragrantes. Assim, as almas ativas e vigilantes não repousam nem de dia nem à noite, mas se esforçam por estar ligadas ao Reino divino e, desse modo, tornar-se as manifestações da generosidade infinita e os jardineiros ideais para essas florestas. Dessa forma há o mundo da humanidade de ser integralmente transformado, e as dádivas munificentes de se manifestar.


225. Ó assembléia do Reino de Abhá! Dois chamados ao êxito e à prosperidade estão a erguer-se das alturas da felicidade do gênero humano, despertando os letárgicos, concedendo visão aos cegos, tornando os desatentos cônscios, proporcionando audição aos surdos, soltando a língua do mundo e ressuscitando os mortos.
Um é o chamado da civilização, do progresso do mundo material. Este concerne ao mundo dos fenômenos, promove os princípios das conquistas materiais e é o que treina a humanidade para as realizações no plano físico. Compreende as leis, normas, artes e ciências mediante as quais o mundo da humanidade tem-se desenvolvido - leis e normas essas que são resultado de ideais sublimes e produto de mentes sãs, e que entraram na arena da existência através dos esforços dos que eram sábios e cultos em eras passadas e posteriores. O propagador e o poder executivo desse chamado é o governo justo.
O outro é o chamado que procede de Deus, que comove a alma, cujos ensinamentos espirituais são salvaguardas da glória, da felicidade e da iluminação eternas do mundo da humanidade, e que fazem com que os atributos da mercê sejam revelados no mundo humano e na vida vindoura.
Este segundo chamado tem por alicerces as instruções e exortações do Senhor e as admoestações e os sentimentos altruísticos pertencentes ao reino da virtude que, como uma luz brilhante, fazem resplandecer e radiar a lâmpada das realidades da humanidade. Sua força penetrante é o Verbo de Deus.
Todavia, enquanto as conquistas materiais, as realizações no plano físico e as virtudes humanas não forem reforçadas por perfeições espirituais, por qualidades luminosas e características misericordiosas, nenhum fruto, nenhum resultado delas advirá, e tampouco se alcançará a meta suprema: a felicidade do gênero humano. Pois se por um lado os avanços materiais e o desenvolvimento do mundo físico engendram prosperidade, a qual manifesta com requinte seus objetivos definidos, por outro lado, há perigos, calamidades terríveis e aflições violentas iminentes.
Conseqüentemente, se observares a configuração bem organizada de reinos, cidades e aldeias, com a atratividade de seus adornos, o frescor de seus recursos naturais, o refinamento de seus utensílios, a comodidade de seus meios de transporte, a amplitude de conhecimentos disponíveis relativos ao mundo da natureza, as grandes invenções, os empreendimentos colossais, as descobertas admiráveis e as pesquisas científicas, concluirás que a civilização conduz à felicidade e ao progresso do mundo humano. Não obstante, fosses volver o olhar ao descobrimento de máquinas arrasadoras e infernais, ao desenvolvimento de forças de destruição e à invenção de apetrechos ígneos, que extirpam a árvore da vida, tornar-se-ia evidente e manifesto a ti estar a civilização associada à barbárie. O progresso e a selvageria caminham juntos, a menos que a civilização material seja confirmada pela Guia Divina, pelas revelações do Todo-Misericordioso e por virtudes pias, e seja reforçada por conduta espiritual, pelos ideais do Reino e pelas efusões do Domínio do Poder.
Considera, outrossim, que os países mais adiantados e civilizados do planeta se converteram em arsenais de explosivos, os continentes do globo se transformaram em gigantescos acampamentos militares e campos de batalha, os povos do mundo se transfiguraram em nações armadas e os governos da Terra estão a competir entre si pela primazia de pisar antes dos demais na arena da carnificina e do derramamento de sangue, e assim sujeitam a humanidade ao grau máximo de aflição.
Conseqüentemente, tal civilização e progresso material devem ser associados à Suprema Guia, para que este mundo inferior se torne o cenário da aparição das dádivas do Reino e as conquistas no plano físico venham juntamente com os fulgores do Misericordioso; e isto a fim de que a beleza e perfeição do mundo do homem se desvelem e manifestem aos olhos de todos com a maior graça e esplendor. Desta forma glória e felicidade eternas hão de revelar-se.
Deus seja louvado! pois ao longo de sucessivos séculos e eras o chamado da civilização tem-se erguido, o mundo da humanidade tem avançado e evoluído dia a dia, vários países têm-se desenvolvido a largos passos e os progressos materiais têm aumentado, até que, afinal, o mundo da existência alcançou a capacidade universal de receber os ensinamentos espirituais e dar ouvidos ao Chamado Divino. A criancinha que mama passa por várias fases físicas, durante cada uma das quais cresce e se desenvolve, até seu corpo atingir a idade da maturidade. Ao chegar nesse estágio, ela adquire a capacidade de manifestar perfeições espirituais e intelectuais. As luzes da compreensão, da inteligência e do conhecimento nela se tornam perceptíveis e os poderes de sua alma desabrocham. Semelhantemente, no mundo contingente a espécie humana experimentou transformações físicas evolutivas e, por um lento processo, galgou os degraus da civilização, concretizando em si as maravilhas, virtudes e dádivas inerentes à condição humana em sua forma mais gloriosa, até conquistar a faculdade de manifestar o esplendor das perfeições espirituais e dos ideais divinos e se tornar capaz de atender ao chamado de Deus. E então, enfim, o chamado do Reino foi erguido, revelaram-se as qualidades e perfeições espirituais, o Sol da Realidade raio e promoveram-se os princípios da Paz Máxima, da unidade da humanidade e da universalidade do homem. Nutrimos a esperança de que a fulgência desses raios se intensifique mais e mais e as virtudes ideais venham a ser ainda mais resplandecentes, para que a meta desse processo humano universal seja alcançada e o amor d e Deus se manifeste com a graça e beleza e deslumbre todos os corações.
Ó amados de Deus! Sabei, verdadeiramente, que a felicidade do gênero humano reside na sua união e harmonia, e o desenvolvimento espiritual e o material estão condicionados ao amor e à amizade entre todos os homens. Considerai as criaturas viventes, a saber, as que se movem sobre a terra e as que voam, as que pastam e as vorazes. Vede os animais carniceiros: cada uma das espécies de um mesmo gênero vive separada das demais, e entre todas se observam antagonismo e hostilidade completos; e sempre que se defrontam, põem-se de pronto a brigar e a derramar o sangue um do outro, rangendo os dentes e exibindo as garras. Tal é o comportamento de bestas ferozes e lobos sanguinários, animais carnívoros que vivem isolados e lutam pela vida. No entanto, os animais dóceis, de boa índole e mansos, sejam os que voam, sejam os que pastam, associam-se uns aos outros com perfeita afinidade e, unidos em seus rebanhos, vivem com prazer, felicidade e contentamento. Assim são os pássaros que se satisfazem com um punhado de grãos e por este são gratos; vivem em completa alegria e emitem melodias variadas e melodiosas enquanto sobrevoam prados, planícies, colinas e montanhas. De modo similar, os animais herbívoros, como o cordeiro, o antílope e a gazela, convivem com a maior amizade, intimidade e união e passam a existência nas campinas e pradarias num estado de contentamento absoluto. No entanto, lobos, chacais, tigres, hienas e demais feras estão separadas umas das outras quando caçam e vagueiam sozinhas. As criaturas dos campos e as aves do ar nem sequer evitam ou molestam umas às outras ao encontrarem-se nas suas áreas comuns de pasto e repouso; ao contrário, aceitam-se mutuamente de maneira amigável, diferentes das bestas vorazes, que de imediato se despedaçam quando uma avança para a caverna ou toca da outra; sim, mesmo se uma delas apenas passar perto da habitação de outra, esta instantaneamente se arroja para fora a fim de atacá-la e, se possível, matá-la.
Portanto, está claro e patente que também no reino animal o amor e a afinidade são os frutos de uma índole bondosa, uma natureza pura e um caráter louvável, enquanto a discórdia e o isolamento são características das bestas ferozes das selvas.
O Onipotente não criou no homem as garras e presas dos animais ferozes; não, antes, a constituição humana foi moldada e ataviada com os mais belos atributos e adornada com as mais perfeitas virtudes. A honra dessa criação e a dignidade dessa vestimenta, portanto, requerem do homem que ele tenha amor e afinidade por sua própria espécie, e mais ainda, que ele aja com justiça e eqüidade em relação a todas as criaturas vivas.
Semelhantemente, considerai como a causa da prosperidade, felicidade, júbilo e bem-estar da humanidade é a amizade e a união, ao passo que a dissensão e a contenda levam inevitavelmente à miséria, humilhação, agitação e ruína.
Todavia, mil vezes que lástima! que o homem seja negligente e esteja inconsciente desses fatos, e diariamente pavoneie por toda a parte com as características de um animal bravio. Vede! Num instante ele se transforma num tigre feroz; daí a pouco torna-se uma víbora rastejante e venenosa! As sublimes conquistas do homem, porém, residem nas qualidades e atributos que são próprios exclusivamente dos anjos da Assembléia Suprema. Assim, quando o homem manifesta qualidades dignas de louvor e moral elevada, ele se torna um ser celestial, uma anjo do Reino, uma realidade divina e um fulgor do céu. Por outro lado, quando se envolve em conflitos, contendas e derramamento de sangue, ele se faz mais vil que a mais cruel das criaturas selvagens, pois se um lobo sanguinário devora uma ovelha em uma única noite, o homem massacra cem milhares no campo de batalha, e cobre o solo com seus cadáveres, e encharca a terra com seu sangue.
Em suma, o homem é dotado de duas naturezas: uma se inclina à sublimidade moral e à perfeição intelectual, enquanto a outra se volve à degradação bestial e às imperfeições carnais. Se percorrerdes os países do globo, observareis, de um lado, vestígios de ruína e destruição, e, de outro, vereis sinais de civilização e desenvolvimento. Tal desolação e ruína são os resultados da guerra, dos conflitos e das contendas, ao passo que todo o desenvolvimento e progresso é fruto das luzes da virtude, cooperação e concórdia.
Se alguém viajar pelos desertos da Ásia Central, notará quantas cidades, outrora magníficas e prósperas como Paris e Londres, encontram-se agora destruídas e arrasadas. Desde o mar Cáspio até o Rio Oxus96 estendem-se planícies, desertos, sertões e vales enormes e sem vida. A ferrovia russa atravessa, ao longo de uma distância equivalente a dois dias e duas noites, as cidades arruinadas e as aldeias desabitadas daquelas terras sáfaras. Antigamente, repousavam sobre aquela planície os frutos das mais imponentes civilizações do passado. Os sinais do desenvolvimento e progresso eram evidentes por todos os lados, protegiam-se e promoviam as artes e ciências, as profissões e indústrias floresciam, o comércio e a agricultura haviam atingido alto grau de eficiência e os alicerces do governo e da condução dos negócios públicos estavam assentados sobre uma base forte e sólida. Hoje, aquela vasta extensão de terra tornou-se principalmente refúgio e asilo de tribos turcomanas, e arena para a exibição selvagem de feras bravias. As cidades prístinas daquela planície, tais como Gurgán, Nissá, Abyord e Shahristán, célebres em todo o mundo por suas artes, ciências, cultura e indústria, e famosas por sua riqueza, magnificência, prosperidade e distinção, deram lugar a uma vasta região inculta onde voz alguma se ouve senão o bramir de animais ferozes, e onde lobos sedentos de sangue vagueiam à vontade. Essa destruição e desolação foi provocada pela guerra e conflito, dissensão e discórdia entre persas e turcos, povos que tinham religião e costumes distintos. Tão inflexível era a mentalidade de preconceito religioso que os líderes pérfidos sancionaram o derramamento de sangue inocente, a ruína da propriedade e a profanação da honra familiar. Isto para citar apenas um único exemplo.
Destarte, percorrendo as regiões do mundo chegareis à conclusão de que todo progresso é conseqüência do companheirismo e da cooperação, enquanto a ruína é o resultado da animosidade e do ódio. A despeito dessa realidade, a humanidade não percebe a advertência nela contida nem desperta do sono da negligência. O homem continua a criar divergências, discórdia e dissensão a fim de dispor em ordem de batalha as coortes da guerra e, com suas legiões, lançar-se no campo sanguinolento da carnificina.
Considerai, ademais, o fenômeno da composição e decomposição, da existência e inexistência. Toda coisa criada no mundo contingente é constituída de muitos átomos diferentes e suas existência depende da composição destes. Noutras palavras, através do poder criativo divino se dá uma combinação de elementos simples, e por essa composição um organismo bem definido é gerado. A existência de todas as coisas baseia-se nesse princípio. Quando, entretanto, a ordem é desarranjada, ocorre a decomposição, e a desintegração se manifesta, então a criatura deixa de existir. Ou seja, a aniquilação de todos os seres é causada pela decomposição e desintegração. Assim sendo, a atração e composição entre elementos diversos é o que proporciona a vida, e a discórdia, a decomposição e a divisão produzem a morte. Portanto, as forças coesivas e atrativas levam ao aparecimento de resultados e efeitos proveitosos em todas as coisas, ao passo que a alienação e separação dos seres conduzem à perturbação e aniquilação. Por meio da afinidade e da atração todas as coisas viventes, como as plantas, os animais e o homem, vêm à existência; já a divisão e a discórdia ocasionam a decomposição e destruição.
Conseqüentemente, tudo o que é conducente à camaradagem, à atração e à união entre os filhos dos homens é o canal da vida do mundo humano, e o que quer que provoque divisão, aversão ou distanciamento leva à morte da humanidade.
E se, ao passardes por campos e fazendas, observardes que as plantas, flores e ervas fragrantes brotam exuberantemente juntas, aí tereis uma evidência do fato de que tal plantação ou jardim está florescendo sob os cuidados de um jardineiro hábil. Quando, no entanto, contemplardes um estado de desordem e irregularidade, inferireis estar-lhe faltando o cuidado de um agricultor eficiente, motivo pelo qual produziu ervas daninhas e joio.
Portanto, torna-se evidente que amizade e coesão evidenciam o treinamento recebido do Educador Verdadeiro, enquanto dispersão e separação são prova de selvageria e privação da educação divina.
Algum crítico poderia fazer a seguinte objeção: já que os povos, raças, tribos e comunidades do mundo possuem costumes, traços físicos, gostos, características, tendências e idéias diferentes e várias, e visto que as opiniões e pensamentos são contrários, como é possível, então, existir verdadeira unidade e perfeita harmonia entre as almas humanas?
A resposta é que as diferenças são de duas espécies. Uma é causa de aniquilação e é como a antipatia existente entre nações em guerra e tribos conflitantes que lutam pela destruição uma da outra, exterminando as famílias, privando de sossego e conforto uma à outra e desencadeando o morticínio. A outra sorte de diferença, que constitui um sinal de diversidade, é a essência da perfeição o fator da aparição das dádivas do Senhor Gloriosíssimo.
Considerai as flores de um jardim: diferem em espécie, cor, forma e aspecto. Não obstante, desde que são refrescadas pelas águas da mesma fonte, revivificadas pelos sopros de um só vento e revigoradas pelos raios de um único Sol, sua diversidade lhes aumenta o encanto e realça a beleza. Assim, quando a força unificadora que é a influência penetrante do Verbo de Deus faz efeito, a variedade de costumes, procedimentos, hábitos, idéias, opiniões e temperamentos embeleza o mundo da humanidade. Tal diversidade, tal diferença, é análoga à dessemelhança e variedade natural dos membros e órgãos do corpo humano, pois cada qual contribui para a beleza, eficiência e perfeição do todo. Quando a alma soberana do homem exerce sua influência sobre esses diferentes membros e órgãos e o poder da alma permeia os membros e partes, as veias e artérias do corpo, então a diferença vem reforçar a harmonia, a diversidade fortalece o amor e a multiplicidade se torna o maior fator de coordenação.
Quão pouco nos agradaria aos olhos se todas as plantas e árvores desse jardim, com seus ramos, suas folhas, flores e frutos fossem da mesma forma e cor! A diversidade de colorido, formato e aparência enriquece e adorna o jardim e aviva-lhe a aparência. Outrossim, quando se reúnem vários matizes de pensamento, temperamento e caráter sob a influência e o poder de uma só força dominante, revelam-se e realçam-se a beleza e a glória da perfeição humana. Nada a não ser a potência celestial da Palavra de Deus, a qual rege e transcende a realidade de todas as coisas, consegue harmonizar os pensamentos e sentimentos divergentes e as várias idéias e convicções dos filhos dos homens. Em verdade, é ela o poder que penetra em todas as coisas, comove as almas e une e governa o mundo da humanidade.
Deus seja louvado! hoje o esplendor da palavra de Deus já iluminou todos os horizontes, e inúmeras almas, provenientes de todas as raças, tribos, nações, comunidades e seitas têm-se reunido à luz da Palavra de Deus, congregadas, unidas e concordes em perfeita harmonia. Oh! Que grande número de reuniões, adornadas com almas de raças várias e seitas diversas, estão a se realizar! Quem quer que as presencie ficará estupefato e poderia presumir serem essas pessoas todas de uma mesma terra natal, pertencentes a uma única comunidade, adeptas de uma só crença e possuidoras de mentalidade e opiniões comuns; ao passo que, na realidade, um é americano, o outro africano, um vem da Ásia, outro da Europa, um é natural da Índia, outro do Turquestão, um é árabe, outro é tadjique, um é originário da Pérsia, outro da Grécia. A despeito de tamanha diversidade, associam-se com perfeita harmonia e unidade, com amor e liberdade; suas vozes são uníssonas, suas idéias coincidentes, seu propósito uno. Verdadeiramente, isto deriva do poder penetrante do Verbo de Deus! Nem mesmo todas as forças do universo combinadas seriam capazes de reunir uma única assembléia tão imbuída dos sentimentos de amor, afeição, atração e calor humano a ponto de unir os membros de diferentes raças e erguer do âmago do mundo uma voz que há de dissipar a guerra e o conflito, erradicar a dissensão e a contenda, inaugurar a era de paz universal e estabelecer unidade e concórdia entre os seres humanos.
Pode alguma força resistir à influência penetrante da Palavra de Deus? Não, por Deus! A prova é clara, a evidência é cabal! Se qualquer um contemplar com os olhos da justiça, será possuído de pasmo e assombro e testificará que todos os povos, seitas e raças do mundo deveriam estar alegres, contentes, e cheios de gratidão pelos ensinamentos e admoestações de Bahá'u'lláh, porque esses mandamentos divinos amansam toda besta feroz, transformam o inseto rastejante num pássaro a voar nas alturas, convertem as almas humanas em anjos do Reino e fazem do mundo humano o foco das qualidades misericordiosas.
Além disso, cumpre a todos, sem exceção, mostrar obediência, submissão e lealdade ao governo de seu país. Presentemente, nenhum estado do mundo se encontra numa condição de paz e tranqüilidade, porquanto a segurança e a confiança desapareceram dentre o povo. Governados como governantes acham-se igualmente em perigo. O único grupo que, nestes dias, se submete pacífica e fielmente às leis e determinações do governo e procede com honestidade e franqueza com as pessoas não é outro senão esta comunidade injustiçada. Pois enquanto todas as seitas e raças da Pérsia e do Turquestão estão absortas na promoção de seus próprios interesses e só obedecem aos seus governos ou por esperança de recompensa ou por temor de punição, os bahá'ís desejam o bem do governo, são obedientes às suas leis e amorosos para com todos os povos.
Tal obediência e submissão foi declarada um dever e uma obrigação de todos pelo Texto claro da Beleza de Abhá. Assim, os crentes, em observância ao mandamento do Verdadeiro, mostram a máxima sinceridade e benevolência a todas as nações; e fosse qualquer alma transgredir as leis do governo, ela, por esse pecado e falta, teria de responder perante Deus e seria merecedora da ira divina e de punição. É de admirar que, a despeito disso, certos funcionários do governo considerem os bahá'ís seus malquerentes e ao mesmo tempo reputem os membros de outras comunidades seus benquerentes. Deus bondoso! Recentemente, quando houve revolução e agitação geral em Teerã e em outras províncias da Pérsia, ficou provado que nem um único bahá'í sequer tomara parte ou interviera naqueles acontecimentos. Por esta razão, os ignorantes chegaram a censurar os bahá'ís por haverem estes obedecido a injunção da Abençoada Perfeição, abstendo-se em absoluto de interferir em questões políticas. Não estavam vinculados a nenhum partido, senão que estavam ocupados com os próprios afazeres e profissões e desincumbiam-se dos próprios deveres.
Todos os amigos de Deus dão testemunho do fato de que 'Abdu'l-Bahá, sob todos ângulos, almeja o bem de todos os governos e nações e ora com toda a sinceridade por seu progresso e desenvolvimento, especialmente em prol dos dois grandes países do Oriente, pois um é a terra natal de Bahá'u'lláh, e o outro, o lugar de Seu exílio. Em todas as epístolas e escritos, 'Abdu'l-Bahá tem louvado e enaltecido esses dois governos e suplicado que lhes sejam concedidas as confirmações divinas do Limiar do Deus Uno e Verdadeiro. A Beleza de Abhá - seja minha vida um sacrifício por Seus amados - ofereceu preces em favor de Suas majestades imperiais. Deus bondoso! Quão estranho que, não obstante essas provas concludentes, todo dia ocorra algo e surjam dificuldades. Seja como for, nós e os amigos de Deus por motivo algum deveríamos minorar vossos esforços por sermos leais, sinceros e homens e boa-vontade. Devemos, em todos os tempos, manifestar veracidade e sinceridade, ou antes, temos de ser constantes em nossa fidelidade e fidedignidade e ocupar-nos em elevar orações pelo bem de todos.
Ó amados de Deus! Estes são dias em que constância, firmeza e perseverança na Causa de Deus são essenciais. Não deveis concentrar a atenção na pessoa de 'Abdu'l-Bahá, por que em breve ele se despedirá de vós. Fixai antes o olhar no Verbo de Deus. Se o Verbo de Deus estiver sendo promovido, rejubilai-vos e sede felizes e agradecidos, ainda que o próprio 'Abdu'l-Bahá esteja sob a ameaça da espada ou oprimido pelo peso de cadeias e grilhões, pois o sagrado Templo da Causa de Deus é que é importante, não o corpo físico de 'Abdu'l-Bahá. Incumbe aos amigos de Deus erguerem-se com firmeza tal, que se, a qualquer momento, uma centena de almas como 'Abdu'l-Bahá se tornarem alvo das setas de aflição, eles não mudarão nem vacilarão em sua resolução, determinação, ardor, devoção e serviço na Causa de Deus. O próprio 'Abdu'l-Bahá é um servo do Limiar da Abençoada Beleza e uma manifestação de servitude pura e absoluta no Limiar do Onipotente. Nenhuma outra posição ou título, nenhuma outra distinção ou poder possui ele. É este meu Anelo supremo, meu Paraíso eterno, meu Templo sacratíssimo, meu Sadratu'l-Muntahá92. Com a Abençoada Beleza de Abhá e Sua Santidade o Excelso, Seu Arauto - seja minha vida sacrificada por Ambos - findou a revelação das Manifestações independentes e universais de Deus. E por mil anos todos serão iluminados por Suas luzes e sustentados pelo oceano de Seus favores.
Ó vós que amais a Deus! Este, em verdade, é meu último desejo e minha admoestação a vós. Bem-aventurado, pois, aquele que é auxiliado por Deus a seguir o que está inscrito nesse pergaminho cujas palavras são santificadas dos símbolos correntes entre os homens.


226. Ó servo de Deus! Tua carta chegou e foi fonte de alegria. Expressaste o desejo ardente de que eu assistisse ao Congresso da Paz. Não compareço a tais conferências políticas porque o estabelecimento da paz é irrealizável salvo através do poder do Verbo de Deus. Quando se convocar uma conferência que seja representativa de todas as nações e trabalhe sob a influência do Verbo de Deus, aí então a paz universal será estabelecida; do contrário, porém, sua concretização é impossível.
É certo que, atualmente, vigora paz temporária; esta, todavia, não perdurará. Todos os governos e nações estão exaustos da guerra; das dificuldades de viajar, dos dispêndios descomunais, da perda de vidas, da aflição das mulheres e do enorme número de órfãos, e são compelidos à paz. Esta paz, contudo, não é permanente, mas transitória.
Alentamos a esperança de que o poder do Verbo de Deus estabeleça uma paz segura que reine eternamente.


22797. Ó vós, estimados pioneiros entre os que almejam o bem do mundo humano!
As cartas que enviastes durante a guerra não foram recebidas, mas uma missiva datada de 11 de fevereiro de 1916 acaba de chegar-nos às mãos, e pusemo-nos imediatamente a redigir uma resposta. O desígnio que vos anima é digno de mil louvores, porquanto estais a servir ao mundo humano, e isso conduz à felicidade e ao bem-estar de todos. Esta última guerra provou ao mundo e às pessoas que guerra é destruição, enquanto paz universal é construção, guerra é morte, ao passo que paz é vida; guerra é sinônimo de voracidade e sede de sangue, mas paz significa bondade e beneficência; a guerra pertence ao mundo da natureza enquanto a paz é um dos fundamentos da religião de Deus; guerra é trevas sobre trevas, ao passo que paz é luz celestial; guerra representa a destruição da estrutura da humanidade, mas paz constitui a vida perpétua do mundo humano; a guerra assemelha-se a um lobo devorador, enquanto a paz é como os anjos do céu; a guerra é a luta pela existência, ao passo que paz é auxílio mútuo e cooperação entre os povos e a causa do beneplácito do Verdadeiro no reino do céu.
Não existe nenhum ser humano cuja consciência não ateste que a mais relevante de todas as questões do mundo de hoje é a da paz universal. Todo homem justo dá testemunho disso e venera essa estimada Assembléia por ser seu intuito a transformação dessas trevas em luz, dessa sede de sangue em bondade, desse tormento em bem-aventurança, desse sofrimento em bem-estar e dessa inimizade e ódio em amizade e amor. Portanto, o esforço dessas almas estimadas é merecedor de louvor e encômio.
Entretanto, as pessoas sábias que percebem as relações essenciais que emanam das realidades das coisas são de opinião que uma única questão isolada é incapaz, por si só, de exercer a devida e necessária influência sobre a realidade humana, pois enquanto as mentes dos homens não se unirem, nada de importante se realizará. Presentemente, a paz universal é uma questão de grande importância, mas a unidade de consciência é essencial, de modo que se tornem seguros os alicerces desta questão, firme seu estabelecimento e robusto seu edifício.
Por essa razão, há cinqüenta anos, Bahá'u'lláh esclareceu esse assunto - a paz universal - num tempo em que Se encontrava confinado na fortaleza de 'Akká, vítima de iniqüidade, mantido como prisioneiro. Ele escreveu sobre essa importante questão da paz universal a todos os grandes soberanos do mundo e estabeleceu-a entre Seus amigos do Oriente. O horizonte do Leste estava totalmente obscuro; as nações mostravam o maior ódio e inimizade mútuos, as religiões tinham sede do sangue umas das outras e predominavam trevas sobre trevas. Em semelhante época, Bahá'u'lláh resplandeceu como o Sol desde o horizonte do Oriente e iluminou a Pérsia com a luz desses ensinamentos.
Entre Seus ensinamentos figurava a proclamação da paz universal. As pessoas que O seguiram, oriundas de diferentes nações, religiões e seitas, uniram-se de tal maneira que reuniões notáveis foram estabelecidas, representativas das diversas nações e religiões do Oriente. Toda alma que ingressava nessas reuniões não via mais que uma única nação, um mesmo ensinamento, um caminho e uma só ordem, pois os princípios de Bahá'u'lláh não se limitavam ao estabelecimento da paz universal; compreendiam muitos preceitos que suplementavam e sustentavam esse da paz universal.
Ente esses ensinamentos estava a investigação independente da realidade, para que o mundo humano possa ser salvo das trevas da imitação e chegue à verdade; para que arranque de si e jogue fora as vestes rotas e antiquadas de mil anos atrás e possa se adornar com o manto tecido com a maior pureza e santidade no tear da realidade é uma e não admite multiplicidade, as opiniões divergentes têm de fundir-se, afinal, em uma só.
E entre os ensinamentos de Bahá'u'lláh inclui-se a unidade do gênero humano: que todos os homens são as ovelhas de Deus e Ele é bondoso pastor trata com bondade todas as ovelhas, porque Ele as criou a todas, Ele as treinou, zelou e protegeu. Indubitavelmente, o Pastor é bondoso para com todas as ovelhas; e em havendo entre elas algumas às quais faltam conhecimentos, cumpre educá-las; se existirem algumas imaturas, estas devem ser ensinadas até atingirem a madureza; havendo ovelhas doentes, precisam ser curadas. Nenhum ódio ou inimizade deve haver, mas sim devem esses seres imaturos e enfermos ser tratados como que por um médico benévolo.
E entre os ensinamentos de Bahá'u'lláh está que a religião tem de ser causa de camaradagem e amor. Se se torna motivo de desafeição dela não mais necessitamos, pois religião é como um remédio: se agrava o mal, torna-se desnecessária.
E outro dos ensinamentos de Bahá'u'lláh é que a religião deve estar em harmonia com a ciência e a razão, a fim de exercer influência sobre os corações dos homens. O alicerce deve ser sólido e não consistir em imitações.
E ainda outro dos preceitos de Bahá'u'lláh é o seguinte: os preconceitos raciais, políticos, econômicos e patrióticos destroem a estrutura da humanidade. Enquanto esses preconceitos predominarem, o mundo humano não encontrará sossego. A História informa-nos acerca de seis mil anos da vida da humanidade. Durante todos esses seis milênios, o mundo não se viu livre de guerra, contenda, matança e sede de sangue. Em cada período tem-se travado guerras em um ou outro país, e sempre por causa de algum preconceito - de religião, raça, política ou pátria. Logo, é fato evidente e provado que todos os preconceitos arrasam a estrutura humana; enquanto persistirem, a luta pela existência continuará a prevalecer, acompanhada de sede de sangue e rapacidade. Portanto, assim como no passado, o mundo humano não se salvará das trevas da natureza nem alcançará iluminação a menos que abandone os preconceitos e adquira a moral do Reino.
Se tal preconceito e inimizade nascem da religião, consideremos que a religião deveria ser causa de amizade; senão é infrutífera. E se esse preconceito for o de nacionalidade, ponderemos que toda a humanidade é da mesma nação; todos se originaram da árvore de Adão, sendo Adão a raiz. Essa árvore é uma só, e todas as nações são como os ramos, enquanto os seres humanos são suas folhas, flores e frutos. Assim, a constituição de nações diversas e a conseqüente carnificina e destruição da estrutura da humanidade resultam da ignorância humana e de fins egoístas.
Quanto ao preconceito patriótico, também provém de ignorância absoluta, pois a superfície do planeta é uma só terra natal. Cada um pode viver em qualquer parte do globo terrestre; o mundo inteiro, pois, é a pátria do homem. Essas divisões e fronteiras foram inventadas pelo homem; não foram determinadas na criação. A Europa é um único continente, a Ásia é um único continente, a África é um único continente, a Austrália é um único continente, mas algumas pessoas, movidas por fins pessoais e interesses egoístas, dividiram cada um desses continentes e consideraram certa parte como sendo seu próprio país. Deus não fixou divisa alguma entre a França e a Alemanha; são terras contínuas. Sim, nos tempos primitivos, almas egoístas, visando à promoção de seus próprios interesses, estabeleceram limites e divisões, aos quais deram mais e mais importância, até isso levar, em séculos subseqüentes, a intensa inimizade, rapacidade e carnificina. E assim continuará a ser por tempo indeterminado, e se esse conceito de patriotismo permanecer restrito a certo círculo, será a causa preponderante da destruição do mundo. Nenhuma pessoa sábia e justa admitirá essas distinções imaginárias. Consideramos nossa terra natal qualquer área circunscrita a que chamamos pátria, quando o globo terrestre é que é a terra natal de todos, não alguma área restrita. Em suma, vivemos por alguns dias nesta terra e, afinal, nela somos sepultados - é nosso jazigo perpétuo. Valerá a pena entregarmo-nos ao derramamento de sangue e despedaçarmos uns aos outros por este túmulo eterno? Não, longe disso! Tal conduta não pode aprazer a Deus, nem homem algum de juízo são a aprovará.
Considerai! Os animais abençoados não se envolvem em disputas patrióticas. Reina entre eles a maior amizade e vivem juntos, em harmonia. Se, por exemplo, um pombo do Leste, e um do Oeste, e outro do Norte, e outro do Sul chegam por acaso simultaneamente a um mesmo jardim, de imediato se associam com harmonia. Assim é com os quadrúpedes e aves abençoados. Os animais ferozes, todavia, logo que se defrontam, atacam-se e lutam e dilaceram-se mutuamente; é-lhes impossível viver em paz juntos no mesmo lugar. São todos insociáveis, ferozes, selvagens, pugnazes.
No que concerne ao preconceito econômico: é evidente que no momento em que os laços entre as nações se fortalecerem e se acelerar o intercâmbio de mercadorias, e qualquer princípio econômico for implantado em determinado país, isso terá influência, em última análise, sobre os demais países, e benefícios universais advirão. Por que, então, esse preconceito?
Com relação ao preconceito político: o que se deve seguir é o plano de ação de Deus, que é inquestionavelmente superior a qualquer esquema humano. Temos de nos guiar pela Política Divina, a qual se aplica a todos igualmente. Ele trata a todos da mesma forma, sem nenhuma distinção, e isso é a base das Religiões Divinas.
E entre os ensinamentos de Bahá'u'lláh figura a adoção de um idioma que possa ser difundido universalmente entre os homens. Esse preceito foi revelado pela pena de Bahá'u'lláh a fim de que, por meio dessa língua universal, se eliminassem os mal-entendidos entre os seres humanos.
E outro dos ensinamentos de Bahá'u'lláh é a igualdade entre homem e mulher. O mundo humano é dotado de duas asas: uma é a mulher, a outra o homem. A ave só poderá voar quando ambas as asas estiverem igualmente desenvolvidas. Se uma delas permanece fraca, o vôo é impossível. Enquanto o mundo feminino não se equiparar ao masculino na aquisição de virtudes e perfeições, não se atingirão devidamente o êxito e a prosperidade.
E entre os princípios de Bahá'u'lláh está a repartição voluntária dos bens com o semelhante. Essa partilha espontânea é superior à igualdade, e consiste em que o homem não se dê preferência a si mesmo sobre outrem, senão que sacrifique a vida e os haveres pelo próximo. Isso, entretanto, não deve ser introduzido pela coerção, de modo que se torne uma lei que o homem seja constrangido a obedecer. Não, antes, o ser humano deve, por sua própria vontade e opção, sacrificar as posses e a vida pelos outros e, de bom grado, dar aos pobres, assim como fazem os bahá'ís da Pérsia.
E entre os preceitos de Bahá'u'lláh inclui-se a liberdade do homem. Através do Poder ideal, ele deve libertar-se e emancipar-se do cativeiro do mundo natural. Pois enquanto o homem permanecer prisioneiro da natureza, será animal feroz, já que a luta pela existência é uma das exigências do mundo natural. Essa questão da luta pela existência é o manancial de todas as calamidades; é a aflição suprema.
E consta dos ensinamentos de Bahá'u'lláh que a religião é um poderoso baluarte. Se o edifício da religião for abalado e oscilar, seguir-se-ão comoção e caos, e a ordem das coisas será completamente transtornada, pois no mundo humano há duas salvaguardas que preservam o homem da perpetração de más ações. Uma é a lei, que pune o infrator, isto, porém, evita apenas o crime manifesto e não o pecado oculto; ao passo que a religião de Deus - a salvaguarda ideal - impede tanto a transgressão manifesta quanto a oculta, educa o homem, ensina a moral, leva ao desenvolvimento de virtudes e é o poder todo-abrangente que assegura a felicidade do mundo humano. Por religião entendemos, todavia, o que se averiguou mediante investigação, e não o que se baseia em mera imitação; queremos dizer os fundamentos das Religiões Divinas, não os arremedos humanos.
E é um dos princípios de Bahá'u'lláh que a civilização material, embora um dos meios do progresso do mundo humano, enquanto não estiver fundida com a civilização divina, não trará o resultado desejado, que é a felicidade do homem. Considerai! Essas belonaves que reduzem uma cidade a escombros no intervalo de uma hora são conseqüência da civilização material, como também o são os canhões Krupp, os rifles Mauser, a dinamite, os submarinos, os torpedeiros, os aviões de caça e os bombardeiros - todos esses instrumentos de guerra são os frutos malignos da civilização material. Tivesse a civilização material sido associada à divina, jamais tão terríveis armas teriam sido inventadas. Não, antes, a energia humana teria sido integralmente dedicada a invenções úteis e concentrada em descobrimentos louváveis. A civilização material assemelha-se a uma lâmpada e a divina, à luz. Sem luz, a lâmpada permanece escura. A civilização material é como o corpo. Por infinitas que sejam sua formosura, graça e beleza, ele é morto. A civilização divina é como o espírito. É o espírito que insufla vida no corpo; pois sem o espírito o corpo não passa de um cadáver. Conseqüentemente, está comprovado que o mundo humano necessita dos sopros do Espírito Santo. Sem espírito, o mundo humano carece de vida, e destituído dessa luz está em escuridão absoluta. Pois o mundo da natureza é um mundo animal, e o homem, até que renasça desse mundo, ou seja, se desprenda do mundo da natureza, será essencialmente animal. São os ensinamentos de Deus que transformam esse animal numa alma humana.
E outro dos princípios de Bahá'u'lláh é a promoção da educação. Toda criança deve ser instruída nas ciências tanto quanto necessário. Se aos pais for possível arcar com as despesas decorrentes dessa educação, ótimo; do contrário, incumbe à comunidade providenciar o ensino da criança.
E figuram entre os preceitos de Bahá'u'lláh a justiça e o direito. Enquanto estes não se estabelecerem no plano da existência, tudo permanecerá em desordem e imperfeição. O mundo humano é um mundo de opressão e crueldade, um reino de agressão e erro.
Em suma, tais ensinamentos são numerosos. Esses múltiplos princípios, que constituem a maior base para a felicidade da humanidade, e provêm da graça do Misericordioso, têm de ser adicionados à questão da paz universal e com esta combinados, a fim de se obterem resultados. Do contrário, difícil é a concretização da paz universal no mundo se tomada isoladamente. Os ensinamentos de Bahá'u'lláh, combinados com a paz universal, assemelham-se a uma mesa provida de toda sorte de alimento fresco e delicioso. Nessa mesa de generosidade infinita, cada alma pode encontrar o que deseja. Restringindo-se a questão exclusivamente à paz universal, os notáveis resultados esperados e desejados não serão atingidos. O escopo da paz universal deve ser tal que todas as comunidades e religiões nele vejam a realização de sua mais elevada aspiração. Os ensinamentos de Bahá'u'lláh são tais que todas as comunidades do mundo, quer religiosas, políticas ou éticas, quer antigas ou modernas, neles encontram a expressão de seu mais alto desiderato.
Os adeptos das religiões, por exemplo, encontram nos princípios de Bahá'u'lláh o estabelecimento da Religião Universal - religião esta que corresponde com perfeição às condições atuais, que afetua de fato a cura imediata do mal insanável, que alivia toda dor e proporciona o antídoto infalível de todo veneno mortífero. Pois se é nossa intenção ordenar e organizar o mundo humano de acordo com as imitações religiosas hodiernas - como, por exemplo, pela execução das leis da Tora ou das demais religiões conforme as imitações atuais -, então é possível e impraticável alcançar a felicidade do mundo humano. A base essencial de todas as Religiões Divinas, porém, que é pertinente às virtudes do mundo humano e é o alicerce de seu bem-estar, essa é encontrada nos ensinamentos de Bahá'u'lláh na mais perfeita apresentação.
Semelhantemente, no que respeita aos povos que clamam por liberdade: a liberdade moderada que garante o bem-estar do mundo humano e mantém e preserva as relações universais está presente, na plenitude máxima de seu vigor e extensão, nos princípios de Bahá'u'lláh.
De modo semelhante, com referência aos partidos políticos: aquilo que constitui a política maior que guia o mundo humano, não, ainda mais, que é a própria política divina encontra-se nos preceitos de Bahá'u'lláh.
Outrossim, no que tange ao partido da "igualdade", que se empenha na busca da solução dos problemas econômicos: até agora, todas as propostas de solução tem-se mostra impraticáveis, com exceção das proposições econômicas dos ensinamentos de Bahá'u'lláh, que são exeqüíveis e não causam tormento à sociedade.
O mesmo se dá em relação aos demais grupos: se examinardes a fundo o assunto, descobrireis que as mais sublimes aspirações desses grupos estão presentes nos princípios de Bahá'u'lláh. Estes constituem o poder que a tudo abrange entre todos os homens, e são factíveis. Há, no entanto, certos ensinamentos do passado, como os da Tora, cuja prática é impossível nos dias de hoje, e isto também se aplica às outras religiões e aos preceitos das diversas seitas e dos vários grupos.
Consideramos, por exemplo, a questão da paz universal, acerca da qual Bahá'u'lláh afirma ser imperioso o estabelecimento do Supremo Tribunal: conquanto já tenha sido instituída a Liga das Nações, esta é incapaz de estabelecer a paz universal. O supremo Tribunal que Bahá'u'lláh descreve, porém, levará a cabo essa tarefa sagrada com a máxima pujança e poder. Eis o Seu plano: as assembléias nacionais de cada país e nação - ou seja, os parlamentos - devem eleger duas ou três pessoas que sejam as mais excelentes da nação - homens que estejam bem informados no que concerne às leis internacionais e às relações entre os governos, e conscientes das necessidades essenciais do mundo atual. O número desses representantes deve ser proporcional à população de cada país. A eleição dessas almas escolhidas pela assembléia nacional, isto é, pelo parlamento, tem de ser confirmada pela câmara alta, pelo congresso e pelo ministério, bem como pelo presidente ou monarca, de modo que essas pessoas sejam os eleitos de toda a nação e do governo. Dentre essas almas o Supremo Tribunal será eleito, e assim toda a humanidade nele terá participação, pois cada um desses delegados é plenamente representativo de sua nação. Ao tomar o Supremo Tribunal uma deliberação sobre qualquer questão internacional, seja por unanimidade, seja por maioria, não mais haverá pretexto para o querelante nem fundamento para objeção por parte do réu. Se qualquer governo ou nação for negligente ou dilatório no cumprimento da irrefutável decisão do Supremo Tribunal, contra ele erguer-se-ão todas as demais nações porquanto todos os governos e nações do mundo são os apoiadores dessa Corte Máxima. Considerai que alicerce forte é esse! A uma Liga limitada e restrita, porém, não será possível levar a efeito este propósito como cumpre e é necessário. Eis a verdade a respeito da situação, aqui exposta...


228. Ó servo do liminar de Bahá'u'lláh! Tua carta datada de 14 de junho de 1920 foi recebida. Também chegou uma missiva de alguns dos membros da Comissão de Paz e uma resposta foi-lhes redigida. Faze com que lhes chegue às mãos.
É evidente que essa assembléia não é o que todos a reputam e é incapaz de ordenar e resolver as questões da forma adequada e necessária. Seja como for, o assunto de que estão a tratar é, contudo, da máxima importância. A reunião de Haia deveria ter tal autoridade e prestígio que seus pronunciamentos exercessem influência sobre os governos e as nações. Chama a atenção dos venerandos membros aí congregados para o fato de que a Conferência de Haia realizada antes da guerra tinha por presidente o Imperador da Rússia, e seus partícipes eram Homens da maior eminência. Não obstante, isso não evitou tão terrível conflito. E agora, como há de ser? Pois no futuro, outra conflagração, mais atroz que a última, por certo rebentará; em verdade, quanto a isso não há sombra de dúvida. Que poderá a assembléia de Haia fazer?
Os princípios fundamentais estabelecidos por Bahá'u'lláh, porém, estão em dia a disseminar-se. Faze a entrega da resposta a sua carta, mostrando-lhes o maior amor e gentileza, e deixa-os cuidar dos próprios afazeres. Certifica-te de fiquem satisfeitos contigo e, sob a permissão deles, podes imprimir e distribuir essa epístola minha, já vertida ao inglês.
Com respeito aos esperantistas, cria com eles laços de amizade. Sempre que encontrares um que tenha compreensão, transmite-lhe as fragrâncias da Vida. Em todas as reuniões, conversa dos ensinamentos de Bahá'u'lláh, pois isso será eficaz, hoje nos países ocidentais. E se te indagarem acerca de tua crença em Bahá'u'lláh, deves responder que O temos na conta de o principal Mestre e Educador do mundo nesta era, e deixa claro, através de explicação detalhada, que esses princípios relativos à paz universal e a outros assuntos foram revelados pela pena da Bahá'u'lláh há cinqüenta anos, e já foram publicados na Pérsia e na Índia e difundidos por todos os quadrantes do planeta. A princípio, todos manifestavam incredulidade na idéia da paz universal e julgavam-na uma impossibilidade. Fala, outrossim, da grandeza de Bahá'u'lláh, dos eventos ocorridos na Pérsia e na Turquia, da assombrosa influência que Ele exerceu e do conteúdo das Epístolas por Ele dirigidas a todos os soberanos, bem como de seu cumprimento. Discorre, igualmente, sobre a propagação da Causa Bahá'í. Aproxima-te tanto quanto possível da Comissão da Paz Universal em Haia e trata seus membros com a máxima cortesia.
É evidente que os esperantistas são receptivos, e estás familiarizado com o seu idioma e nele és perito. Entra em contato também com os esperantistas da Alemanha e de outros lugares. Os livros e folhetos que estás a disseminar deveriam versar somente sobre os ensinamentos; não é aconselhável que tratem de outros assuntos no momento. Minha esperança é que as confirmações divinas te assistam perenemente...
Não te lastimeis pela apatia e frieza da reunião de Haia. Põe tua confiança em Deus. Nutrimos a esperança de que o Esperanto tenha, doravante, poderosa influência entre as pessoas. Tu já plantaste a semente. Ela seguramente há de germinar. Seu desenvolvimento depende de Deus.


229. Ó servo sincero do Verdadeiro! Chega-me aos ouvidos que estás aflito e angustiado pelos acontecimentos do mundo e pelas vicissitudes da fortuna. Por que esse temor e pesar? Os que amam verdadeiramente a Beleza de Abhá e sorveram profusamente do Cálice do Convênio nenhuma calamidade temem e tampouco se sentem deprimidos nas horas de provação. Consideram o fogo do infortúnio seu jardim de delícias, e vêem as profundezas do mar como a vastidão do céu.
Tu estás protegido sob o abrigo de Deus e à sombra da Árvore de Seu Convênio, por que, então, contristar-se e lamentar-se? Permanece convicto e confiante. Observa os mandamentos escritos de teu Senhor com júbilo e paz de espírito, com zelo e sinceridade; e deseja o bem de teu país e teu governo. A graça dEle auxiliar-te-á em todos os tempos, Suas bênçãos hão de jorrar sobre ti e o anseio de teu coração há de realizar-se.
Juro pela Beleza Antiga! - seja minha vida um sacrifício por Seus amados - fossem os amigos compreender que gloriosa soberania o Senhor lhes destinou em Seu Reino, eles, com absoluta certeza, sentir-se-iam repletos de êxtase, ver-se-iam coroados de glória imortal e enlevados e arrebatados pela alegria. Em breve se tornará manifesto quão esplendorosamente a luz de Seu generoso desvelo e mercê tem fulgurado sobre Seus amados e que oceano turbulento Ele lhes tem agitado nos corações! Então bradarão e exclamarão eles: felizes somos nós, que o mundo inteiro se regozije!


230. Ó personagem respeitável! Tua segunda missiva, datada de 19 de dezembro de 1918, foi recebida e trouxe grande júbilo e alegria, pois atestava tua firmeza e constância no Convênio e Testamento e teu desejo ardente de erguer o chamado do Reino de Deus. Hoje, o chamado do Reino é o poder magnético que atrai a si o mundo humano, pois grande é a capacidade de homem. Os ensinamentos divinos constituem o espírito desta era e, mais que isso, são o sol desta era. Cada alma deve fazer esforços para que os véus que cobrem os olhos dos homens sejam rompidos e instantaneamente se veja o Sol e este ilumine corações e vistas.
Agora, por meio do auxílio e da mercê de Deus, esse poder de guia e essa dádiva generosa estão presentes em ti. Levanta-te, portanto, com o máximo poder, para que concedas espírito a ossos em decomposição, visão ao cego, bálsamo e alívio ao abatido, vivacidade e graça ao desalentado. Toda lâmpada afinal se extinguirá, salvo a lâmpada do Reino, cujo esplendor e realça dia a dia. Todo chamado há, por fim, de enfraquecer-se, exceto o chamado para o Reino de Deus, erguido de alvorecer a alvorecer. Toda trilha acabará por se tornar tortuosa, menos a estrada do Reino, dia a dia mais reta. Indubitavelmente, nenhuma canção terrena se compara à melodia celeste, e luzes artificiais não podem rivalizar o Sol celestial. Temos, por conseguinte, de envidar esforços em tudo o que seja duradouro e permanente, a fim de sermos mais e mais iluminados, fortalecidos, revivificados...
Oro e suplico ao Reino Divino que teu pai, tua mãe e teu irmão possam, através da luz da guia, ingressar no Reino de Deus.


231. Ó flor da Árvore da vida! Bem-aventurada és, por te haveres erguido para servir, por te teres levantado, com todas as forças, para a difusão dos ensinamentos divinos e por estares realizando reuniões e lutando pela exaltação do Verbo de Deus.
Neste mundo mortal, tudo o que é importante tem fim, e todo feito notável, um término; nada há de subsistência perene. Observa, por exemplo, como as realizações extraordinárias do mundo antigo foram totalmente aniquiladas e delas nem sequer um vestígio restou a não ser a grandiosa Causa do reino de Deus, que não teve princípio nem terá fim; quando muito, é apenas renovada. No princípio de cada renovação não merece atenção alguma aos olhos do povo; porém, uma vez definitivamente estabelecida, progride dia a dia e em sua exaltação ininterrupta chega aos céus supremos.
Considera, por exemplo, o dia de Cristo, o qual foi o dia da renovação do Reino de Deus. O povo não lhe atribuiu nenhuma importância nem lhe compreendeu a significação, a tal ponto que o sepulcro de Cristo permaneceu perdido e incógnito por três séculos, até Helena, a serva de Deus e mãe de Constantino, chegar à Terra Santa e descobrir o lugar sagrado.
Tudo isso digo no intuito de mostrar quão desatentas e ignorantes são as pessoas, e como, no dia do estabelecimento do Reino, permanecem desatentas e negligentes.
Em breve o poder do Reino envolverá o mundo inteiro, e então os homens despertarão e prantearão e deplorarão os que foram opressos e martirizados, e suspirarão e gemerão. Assim são as pessoas.


232. No que concerne ao Presidente Wilson, os quatorze princípios por ele enunciados encontram-se, em sua maioria, nos ensinamentos de Bahá'u'lláh; espero, por isso, que ele seja confirmado e assistido. Agora estamos na alvorada da paz universal; minha esperança é que sua manhã rompa em plenitude, convertendo as trevas das guerras, conflitos e contendas entre os homens na luz da união, harmonia e afeição.


233. Ó amigos fiéis, ó servos sinceros de Bahá'u'lláh! Neste momento, na calada da noite, quando os olhos estão cerrados pelo sono e todos têm a cabeça deitada sobre o leito do repouso e adormecimento profundo, 'Abdu'l-Bahá está vigilando nos recintos do Sagrado Santuário, e, no ardor de sua súplica, profere esta sua prece:

Ó bondosa e amorosa Providência! O Oriente está agitado, e o Ocidente se encapela como as vagas eternas do mar. As suaves brisas de santidade difundem-se e, do Reino Invisível, os raios do Sol da Verdade rutilam resplendentes. Os hinos da unicidade divina estão sendo entoados, e os pendões do poder celestial estão a tremular. A Voz angélica enche os ares e, como o rugido do leviatã, faz soar o chamamento à abnegação e à evanescência. O brado triunfal Yá Bahá'u'l-Abhá! retumba por todas as plagas, e o chamado de Yá 'Alíyyu'l-'Alá ecoa por todas as regiões. Não há agitação no mundo a não ser a da Glória do Arrebatador de Corações, e tumulto algum existe salvo o encapelar do amor a Ele, o Incomparável, o Bem-Amado.
Os amados do Senhor, com hálito almiscarado, ardem como velas radiantes em cada clima, e os amigos do Misericordiosíssimo encontram-se em todas as terras, tal qual flores a desabrochar. Nem por um momento sequer buscam repouso; não respiram senão em lembrança de Ti e a nada aspiram a não ser a servir Tua Causa. Nos prados da verdade, eles são rouxinóis de doce cantar, e no jardim da guia, flores de vívidas cores. Adornam com rosas místicas as aléias do Jardim da Realidade; como ciprestes a balouçar, alinham-se ao longo das margens do rio da Vontade Divina. No horizonte da existência, cintilam qual estrelas fúlgidas; no firmamento do mundo, luzem com o brilho de orbes esplêndidos. Manifestações da graça celestial é o que são, e auroras da luz da assistência divina.
Permite, ó Senhor de Amor, que todos se mantenham firmes e constantes, brilhantes com esplendor perpétuo, para que a cada alento brisas gentis soprem dos jardins de Tua terna bondade, e uma nuvem se forme do oceano de Tua graça, e as chuvas amenas de Teu amor jorrem frescas, e o zéfiro bafeje seu perfume do roseiral da unidade divina.
Concede-nos, ó Tu que és o Mais Amado do mundo, um raio de Teu Esplendor, e derrama sobre nós, ó Bem-Amado do gênero humano, a luz do Teu Semblante.
Protege-nos, ó Deus Onipotente, e sê nosso refúgio. Manifesta, ó Senhor da Existência, Teu poder e Tua soberania.
Ó Senhor Amoroso! Os instigadores de sedição acham-se em plena atividade em certas regiões e, dia e noite, estão a perpetrar maldades cruéis.
Assim como lobos, opressores estão emboscados, à espera, e o rebanho atormentado e inocente não tem quem o ajude ou socorra. Cães ferozes rastreiam as gazelas dos campos da unicidade divina, e o faisão das montanhas da guia celestial é perseguido pelos corvos da inveja.
Ó divina Providência! Preserva-nos! Protege-nos! Ó Tu que és nosso Escudo! Salva-nos! Defende-nos! Abriga-nos à sombra de Teu Refúgio e, através de Teu amparo, livra-nos de todos os males. Deveras, és o Protetor Verdadeiro, o Defensor Invisível, o Preservador que está nos céus, o Senhor Amoroso Celestial.

Ó amados do Senhor! De um lado, o estandarte do Deus Uno e Verdadeiro está desfraldado e a Voz do Reino ressoa. A Causa de Deus está-se disseminando e as maravilhas do alto acham-se esplendorosamente manifestas. O Oriente está iluminado, o Ocidente perfumado; fragrante de sândalo está o Norte, impregnado de almíscar o Sul.
Do outro lado, os ímpios crescem em ódio e rancor, e incitam incessantemente sedição e maldade atrozes. Nenhum dia se passa sem que algum deles não erga a bandeira da revolta e, esporeando o corcel, se atire na arena da discórdia. Hora alguma transcorre sem que a víbora vil exiba as presas e esparja sua peçonha mortífera.
Os amados de Deus estão envoltos numa atmosfera de absoluta sinceridade e devoção, sem perceberem esse rancor e malignidade. Insinuantes e insidiosas são essas serpentes, esses murmuradores do mal; são ardilosos em sua astúcia e perfídia. Permanecei alerta e sempre vigilantes! Perspicazes e agudos de intelecto são os fiéis, firmes e constantes os convictos. Agi com toda a precaução!
"Temei a sagacidade do fiel, pois ele vê com a luz divina!"
Acautelai-vos para que ninguém, secretamente, provoque ruptura ou instigue contenda. Sede guerreiros intrépidos da Fortaleza Inexpugnável, e hoste valorosa da Mansão Grandiosa. Tende o máximo cuidado e, dia e noite, permanecei atentos, a fim de que o tirano mal nenhum possa infligir.
Estudai a Epístola do Sagrado Marinheiro para que saibais a verdade, e considerai como a Abençoada Beleza vaticinara cabalmente os acontecimentos futuros. Sirva isso de advertência aos dotados de percepção. Em verdade, há nisso uma graça para os sinceros!
Com humildade e submissão absolutas, assim como pó no Limiar Sagrado, 'Abdu'l-Bahá devota-se à disseminação de Seus sinais dia e noite. Sempre que consegue tempo ele ora ardorosamente e, banhado em lágrimas, implora-Lhe com todo o fervor, dizendo:

Ó Divina Providência! Lastimáveis somos nós; concede-nos Teu socorro. Somos errantes sem lar; abriga-nos à sombra de Teu refúgio. Estamos dispersos; une-nos. Tu nos vês perdidos; reúne-nos a Teu rebanho. Eis-nos destituídos; confere-nos um quinhão e porção. Achamo-nos sequiosos; conduze-nos ao manancial da Vida. Somos fracos; fortalece-nos para que possamos levantar-nos em auxílio à tua Causa e nos imolarmos em sacrifício vivo no caminho da guia.

Os infiéis, todavia, dia e noite, abertamente como às ocultas, fazem o quanto podem para abalar os alicerces da Causa, extirpar a Árvore Abençoada, privar este servo de servir, atear sedição e contenda secretas, e aniquilar a 'Abdu'l-Bahá. Exteriormente, apresentam-se como cordeiros, mas interiormente não são senão lobos vorazes. Como serem doces nas palavras, são contudo, no fundo, veneno letal.
Ó amados, guardai a Causa de Deus! Que nenhum canto de sereia vos iluda; não, antes, considerai o motivo de cada alma e ponderai o pensamento que acalenta. Sede de pronto cautelosos e prevenidos. Evitai tal pessoa, mas não sejais agressivos jamais! Abstende-vos da censura e da difamação e deixai-o nas Mãos de Deus. A Glória das Glórias seja sobre vós.


234. Ó tu que estás extasiada pelas suaves brisas do Senhor! Examinei o conteúdo de tua eloqüente carta e, por seu intermédio, soube que vertes lágrimas e tens o coração a arder de tanto pranteares pelo encarceramento de 'Abdu'l-Bahá.
Ó serva de Deus! Esta prisão me é mais doce e mais almejada que um jardim de flores; para mim este cativeiro é melhor que a liberdade de ir para onde queira, e sinto este lugar exíguo mais espaçoso que amplas e vastas planícies. Não sofras por mim. E se decretasse meu Senhor fosse eu abençoado com a doce taça do martírio - isso significaria tão-somente ser agraciado com o que mais ardentemente anelo.
Não temas se este Ramo for decepado deste mundo material e abandonar as suas folhas; não, as folhas hão de vicejar, pois este Ramo crescerá após ser cortado deste mundo inferior, e atingirá os mais sublimes pináculos da glória, e dará frutos tais que perfumarão o mundo com sua fragrância.


235. Ó Deus, meu Deus! Ilumina as faces dos que verdadeiramente Te amam e sustenta-os com as hostes angélicas do triunfo certo. Faze-lhes firmes os passos em Teu caminho reto e, por Tua generosidade antiga, abre ante eles os portais de Tuas bênçãos, pois estão a despender em Tua senda, para salvaguardar Tua Fé, o que Tu lhes concedeste. Tu os vês pondo a confiança na lembrança de Ti, sacrificando os corações por amor a Ti e abrindo mão do que possuem em adoração da Tua Beleza e na busca de meios para Te agradarem.
Ó meu Senhor! Destina-lhes um quinhão farto, uma recompensa determinada, um galardão seguro.
Em verdade, és Quem sustenta e auxilia, o Generoso, o Munificente, O Que sempre dispensa graças.


236. Ó meu Deus! Ó Tu que guias o que busca à vereda reta e salvas a alma perdida e cega nos desertos da perdição! Ó Tu que concedes aos sinceros grandes graças e favores e abrigas o amedrontado no interior de teu refúgio inexpugnável. Tu que respondes, de Teu horizonte supremo, à súplica do que clamam a Ti! Louvado sejas, ó meu Senhor! Livraste os desviados, por Tua guia, da morte da descrença, e conduziste os que se aproximam de ti à meta de sua caminhada. Regozijaste os corações dos convictos entre Teus servos, tornando realidade seus mais acariciados desejos e, de Teu reino de beleza, abriste ante as faces dos que suspiram por ti os portões da reunião, e salvaste-os dos fogos da privação e da ausência - de sorte que se precipitaram em Tua direção e alcançaram Tua presença, e chegaram à Tua porta acolhedora, e receberam quinhão copioso de dádivas.
Ó meu Senhor! Eles estavam sedentos; ergueste-lhes aos lábios ressequidos as águas da reunião. Tu lhes mitigaste a dor, ó Deus de Amor e Bondade, com o bálsamo de Tua generosidade e mercê, e lhes curaste as enfermidades com o remédio infalível de Tua compaixão. Torna-lhes firmes os passos em Tua senda reta, ó Senhor; faze com que o fundo da agulha lhes seja vasto e consente que, vestidos em mantos reais, vivam em glória para todo o sempre.
És, em verdade, o Dadivoso, O Que sempre dispensa dons, o Precioso, o Mais Generoso. Outro Deus não há senão Tu, o Soberano, o Poderoso, o Excelso, o Vitorioso.
Ó meus amados espirituais! Deus seja louvado! removestes os véus, reconhecestes o Bem-Amado compassivo e, abandonando esta morada, alçastes vôo ao reino etéreo. Armastes vossas tendas no mundo de Deus e, para glorificar a Ele, O Que subsiste por Si Próprio, erguestes doces vozes e entoastes cânticos que trespassam o coração. Bravo! Mil vezes bravo! Pois contemplastes a Luz tornada manifesta e, renascidos que fostes, fizestes soar o brado: "Bendito seja o Senhor, o mais excelente de todos os criadores!" Éreis não mais que bebês no ventre materno, depois passastes a ser criancinhas de peito, e de seios preciosos sorvestes o leite do conhecimento; chegastes, então, à maturidade e conquistastes a salvação. Agora é o tempo de servir; esta é a hora da servitude ao Senhor. Libertai-vos de todos os pensamentos que vos possam distrair: transmiti com toda a eloqüência a Mensagem e adornai vossas reuniões com o louvor do Bem-Amado, até que a graça desça em caudais extraordinários e adorne o mundo com folhagem fresca e flores viçosas. Essa graça torrencial é, em verdade, os conselhos, as admoestações, as instruções e as injunções de Deus Onipotente.
Ó meus amados! O mundo está envolto pelas densas trevas da revolta ostensiva e acha-se varrido por um turbilhão de ódio. São os fogos da malevolência a arrojar as flamas até as nuvens; é um rio de sangue a despenhar-se de montanhas e a atravessar planícies; e ninguém na face da terra encontra paz alguma. Por isso os amigos de Deus têm de engendrar a ternura que provém do Céu e doar amor espiritual a toda a humanidade. Com cada alma, devem portar-se de acordo com os conselhos e admoestações divinos; a todos devem mostrar bondade e boa fé; e desejar-lhes o bem. Devem sacrificar-se a si próprios pelo amigo, e desejar boa ventura ao inimigo. Compete-lhes confortarem o perverso e tratarem os que os oprimem com benevolência. Devem ser água refrescante para o sequioso, remédio de eficácia instantânea para o enfermo, bálsamo aliviador para os que sofrem de dor e consolo para todo coração atribulado. Incumbe-lhes serem farol para os desencaminhados, guia fidedigno para os perdidos. Devem ser olhos perceptivos para o cego, ouvidos aguçados para o surdo. Para o morto, devem ser vida eterna, e para o esmorecido, júbilo perpétuo.
Que os amigos de Deus, de bom grado, sejam submissos a todo rei justo, e bons cidadãos para com cada governante generoso. Que obedeçam ao governo e não intervenham em questões políticas, mas sim, se devotem ao aperfeiçoamento do caráter e da conduta e fixem o olhar na Luz do mundo.


237. Quem recitar esta oração com humildade e fervor trará alegria e contentamento ao coração deste Servo; será como se, na realidade, se encontrasse com Ele, face a face.

Ele é o Todo-Glorioso!
Ó Deus, meu Deus! Humilde e em lágrimas, levanto as mãos suplicantes a ti, e cubro a face no pó desse Teu Limiar, o qual está elevado além do conhecimento do sábio, acima do louvor de todos os que Te glorificam. Bondosamente, dirige a Teu servo, humilde e submisso na Tua porta, o olhar da Tua misericórdia, e imerge-o no Oceano de Tua graça eterna.
Senhor! Ele é um pobre, humilde servo Teu, extasiado, implorando-Te, cativo em Tuas mãos, rogando-Te fervorosamente, pondo em Ti sua inteira confiança, em prantos em Tua Presença, invocando-Te e pedindo nestas palavras:
Ó Senhor, meu Deus! Concede-me Tua graça, para que eu possa servir Teus bem-amados; fortalece-me em Teu serviço. Que minha fronte se ilumine com a luz de adoração em Tua Santa Corte e de súplica a Teu Reino de grandeza. Que meu ego se esvaeça, com Tua ajuda, à entrada celestial de Tua porta, e eu me desprenda de tudo dentro de Tuas santas plagas. Senhor! Do cálice da abnegação, permite-me sorver; com suas vestes, adorna-me; em seu oceano, imerge-me. Faze-me como pó no caminho de Teus bem-amados e permite que eu ofereça minh'alma em holocausto pela terra que as pegadas de Teus eleitos em Teu caminho enobreceram, ó Senhor de Glória nas supremas alturas!
Com esta prece Teu servo Te invoca, ao alvorecer e à noite. Satisfaze o desejo de seu coração, ó Senhor! Ilumina seu coração e alegra sua alma. Acende esta lâmpada em serviço à Tua Causa e a Teus servos.
Tu és o Dispensador de Graças, o Compassivo, o Generosíssimo, o Benévolo, o Clemente, o Misericordioso.






















NOTAS

1.Alcorão 60:13
2.Refere-se à história relatada no Velho Testamento e no Alcorão, na qual Jacó reconhece o filho bem-amado, José, pelo perfume de suas vestes. (L.B)
3.Mateus 22:14
4.Alcorão 57:21
5.Alcorão 17:81
6.Alcorão 15:72
7.Alcorão 39:68; Epistle to the Son of the Wolf, p. 133.
8.Alcorão 74:8
9.Alcorão 39:68
10.Alcorão 79:6
11.Alcorão 22:2
12.Alcorão 34:39
13.Alcorão 29:19
14.Alcorão 79:34
15.Alcorão 6:91; 52:12
16.Napoleão III
17."Dispensation" (s.) tem sentidos que nenhuma palavra em português apresenta: um sistema de princípios, promessas, leis e ordenanças que são estabelecidos e regulados por Deus; o sistema, o governo, a administração; um período da história durante o qual uma revelação divina em particular (por exemplo: de Moisés, de Cristo, de Maomé, de Bahá'u'lláh) predomina sobre os afazeres da humanidade. Escolhemos adotar a palavra "dispensação", por empréstimo ao inglês, já que preenche lacuna no idioma português. (L.B.)
18.Isráfíl é tido como o anjo escolhido para tocar a trombeta no Dia da Ressurreição, e assim fazer os mortos se erguerem ao chamado de Deus.
19.Huqúqu'lláh
20.Vide nota no. 16
21.Propriedade bahá'í situada no estado do Maine, nos Estados Unidos da América, utilizada como centro de reuniões e estudo desde os primeiros dias da Fé Bahá´í naquele país. ´Abdu´l-Bahá visitou o local durante sua viagem à América em 1912, e abençoou o bosque lá existente. (L.B.)
22.Alcorão 6:103
23. Alcorão 17:110. Segundo uma tradição islâmica, os idólatras teriam ouvido o Profeta Maomé dizer: "Ó Deus! Ó Todo-Misericordioso!", e então comentaram entre si: "... Vede! Ele nos exorta a ter um só Deus, mas ele mesmo adora a dois." Daí a revelação deste versículo, que afirma ser Deus o Possuidor de todos os nomes. (L.B.)
24.João 14:11
25.João 14:10
26.Alcorão 6:91
27.Escrito especialmente para a obra imortal do Dr. Esslemont, Bahá´u´lláh e a Nova Era.
28.Tiro é o antigo nome de Sur, cidade costeira do atual Líbano, a meio caminho entre Beirute e Haifa, está em Israel. (L.B.)
29.João 6:51,58
30.Conforme João 15:26; 16:12-13
31.Com relação a esta Epístola, uma carta escrita em nome de Shoghi Effendi em 9 de maio de 1938 afirma: "... isso obviamente se refere ao Báb, como o texto claramente demonstra..."
32.Refere-se ao Manifestante de Deus em cada era. (L.B.)
33.Jesus
34."A Árvore além da qual não há passagem", um dos títulos dos Manifestantes de Deus, conforme o Alcorão. (L.B.)
35.Cidades na China famosas por seus animais produtores de almíscar.
36.O terremoto de 1906.
37.De uma Assembléia Espiritual.
38.Os bahá´ís de Najaf-Ábád.
39.Maomé.
40.A orientação, dada a moradores do hemisfério norte, indica o desejo de ´Abdu´l-Bahá de protegê-lo dos rigores do inverno durante a viagem - não o contrário, como poderia dar a entender já que lá o frio é mais intenso no norte do que no sul. (L.B.)
41.Shahnáz, nome dado a quem recebeu esta Epístola, é também o nome de uma forma musical.
42.O Evangelho da Riqueza. Um artigo do livro de Andrew Carnegie, The Gospel of Wealth, foi publicado no Pall Mall Budget e intitulado The Gospel of Wealth, conforme a Autobiografia de Andrew Carnegie, p.255n.
43.Alcorão 36:36, e 51:49.
44.Alcorão 25:55, 35:13, 55:19-25. Vide também a oração do casamento revelada por ´Abdu´l-Bahá que inicia por: "Ele é Deus! Ó Senhor incomparável!..."
45.Vide em O Esplendor da Verdade, pgs. 228-9, os comentários de ´Abdu´l-Bahá sobre o arco de subida e o de descida.
45.Conforme o Alcorão 37:60 (A Árvore de Zaqqúm).
46.Conforme Alcorão 24:35.
48.Gênesis 1:26.
49.Uma classe infantil bahá´í em Kenosha, estado de Wisconsin, EUA.
50.Alcorão 25:50.
51.João 3:5.
52.Alcorão 39:57
53.Os siques
54.Mateus 17:1-19; Marcos 9:2-9; Lucas 9:28-36
55.João 6:38
56.João 3:13
57.O Báb; confrontar com "O Esplendor da Verdade", cap. XIII.
58.Alemanha
59.Confrontar com Alcorão 3:35; 2:254.
60.Alcorão 36:25
61.O Pacífico
62.Mateus 19:24; Marcos 10:25
63. 30 de setembro de 1912
64.Versículo 71 da parte persa. (P.M.)
65. "Most Great Branch", a tradução inglesa de "Ghusn-i-A´zam", é um superlativo analítico do adjetivo "grande". Em português tal superlativo analítico dá-se por "Mais Grandioso", já que "mais grande" é forma em desuso na língua portuguesa. Há também a forma superlativa sintética "Máximo" ou "Supremo", que lhe são sinônimos. "Mais Grandioso Ramo" era o título de ´Abdu´l-Bahá na família de Bahá´u´lláh. O irmão traidor do Convênio, Mírzá Muhammad-´Alí, tinha o título de "Ghusn-i-Akbar", ou "Greater Branch", "Maior Ramo", que é a forma comparativa de superioridade de "grande". Claro, o superlativo é superior inclusive ao comparativo de superioridade, daí Shoghi Effendi ter optado por essa forma a tradução das palavras originais, que, no árabe, têm raízes diferentes. Assim, o título de ´Abdu´l-Bahá, a mando de Bahá´u´lláh, sempre estaria acima do de Mírzá Muhammad-´Al´´i. Em traduções do passado, consignou-se "Maior Ramo" para "Most Great Branch" (´Abdu´l-Bahá), e "Grande Ramo" para "Greater Branch" (Muhammad-´Alí), por isso alerta-se os leitores, para que se evitem confusões ao referirem-se a obras publicadas anteriormente. (L.B.)
66.Isto é, Seu filho mais velho, ´Abdu´l-Bahá, como vimos na nota acima. (L.B.)
67.Mírzá Muhammad-´Alí, o meio-irmão de ´Abdu´l-Bahá e principal violador do Convênio de Bahá´u´lláh. (L.B.)
68.O próprio ´Abdu´l-Bahá, entenda-se. (L.B.)
69.O santuário de Bahá´u´lláh, em Bahjí, ´Akká.
70.Outra vez, o próprio ´Abdu´l-Bahá. (L.B.)
71.Toda esta metáfora baseia-se no pólo, jogo esportivo originário do Oriente em que duas equipes, montadas a cavalo e munidas de bastões compridos e recurvados numa extremidade, tentam, dentro de um campo, impulsionar uma bola através da meta adversária. (P.M.)
72.Alcorão 24:39
73.Deserto na Tripolitânia, atualmente região da Líbia, para onde ´Abdu´l-Bahá seria degredado. (P.M.)
74.João, o Batista
75.Alcorão 36:29
76.Alcorão 20:12. Também mencionado como o "Vale Sagrado".
77.Árvore da Vida, associada ao estabelecimento do novo Convênio de Deus, como em "Presença de Deus" p. 325. (L.B.)
78.Confrontar com Alcorão 4:80
79.Afnán quer dizer "Renovo, Broto". Refere-se aos descendentes masculinos do Báb. (L.B.)
80.Essa carta foi subscrita por quatrocentos e vinte e dois crentes dos Estados Unidos e enviada em 4 de julho de 1905.
81.João 18:11
82.Alcorão 67:3
83.Alcorão 24:35
84.Confrontar com Alcorão 28:29
85.Alcorão 76:5
86.A terra de Sabá, cuja rainha visitou Salomão, conforme relato também na Bíblia, corresponde atualmente ao Iêmen, no extremo sul da península Arábica. Ao contrário do restante daquela região desértica, Sabá (Iêmen) sempre foi lendária por seu clima ameno, suas chuvas regulares e sua vegetação luxuriante, designando, como aqui, um lugar paradisíaco. (L.B.)
87.Alcorão 26:31 e 26:44; a referência é à vara de Moisés, tornada em cobra, e aos feiticeiros do Faraó.
88.Alcorão 61:4
89.O Báb
90.Antigo instrumento de tortura que consistia num cepo com buracos onde se metiam os pés e/ou as mãos do prisioneiro. (P.M.)
91.Alcorão 67:3
92.Alcorão 2:69
93.Seleção dos Escritos de Bahá´u´lláh, LXXII
94.Sadratu´l-Muntahá significa "A Árvore Além da Qual Não Há Passagem", ou "A Divina Árvore de Lótus", "A Árvore de Lótus da Extremidade". Essa árvore sagrada, que marca o limite além do qual nem homens nem anjos podem seguir, foi vista por Maomé no sétimo céu (Alcorão 53:8-18) e representa a Manifestação de Deus, o Profeta, além do Qual não há compreensão possível para as criaturas, pois lá repousa o mistério eterno da Essência de Deus. (L.B.)
95. Oséias 2:15 (L.B.)
96.O rio Oxus é atualmente chamado de Amu Darja ou Amo Darya. Corre por 2.540 km desde sua mais longínqua nascente até desaguar no mar de Aral, e marca fronteiras sucessivas no Afeganistão, Tadjiquistão, Usbequistão e Turcomenistão, na Ásia Central.
O oxus, um dos mais importantes rios da história, era conhecido no Ocidente desde o tempo dos Gregos e Romanos, sendo chamado de ayhún pelos árabes. Sempre marcou a direção das principais rotas comerciais da região ao longo das quais, na época áurea do Islã, estavam cidades famosas como Buchara e Samarkand (L.B.)
97.Esta é a primeira resposta de ´Abdu´l-Bahá à carta que lhe dirigiu a Comissão Executiva da Organização Central por uma Paz Duradoura. Esta Epístola, descrita por Shoghi Effendi em "A Presença de Deus" como "de imensurável importância". Datada de 17 de dezembro de 1919, foi expedida à Comissão, sediada em Haia, por intermédio de uma delegação especial.













GUIA DE ASSUNTOS

A Casa Universal de Justiça, ao compilar os textos de ´Abdu´l-Bahá constantes no livro, colocou-os reunidos conforme sua temática principal. Apesar de não existir uma divisão visível entre os diversos temas, a leitura atenta demonstrará ao leitor que houve muito critério no arranjo dos textos no livro:
1) eles se encontram agrupados em blocos temáticos do início ao fim da obra. Dentro de cada bloco temático há textos que tratam predominantemente de um assunto, embora praticamente todos os textos contenham alguns elementos sempre repetidos, como louvores a Deus e exortações diversas;
2) os textos reunidos dentro de um mesmo bloco estão agrupados conforme a semelhança dos assuntos daquele tema a que se referem;
3) textos que contêm elementos de dois temas distintos são colocados nos limites de cada bloco temático, finalizando um tema e iniciando outro;
4) alguns textos são muito suigêneres para caber em qualquer classificação, e encontram-se "intercalados" entre os diversos blocos, mas ainda conforme sua melhor adequação.
Assim, sem que o leitor o perceba, há uma intenção didática na ordem dos textos apresentados, de forma que assuntos relacionados a um mesmo tema podem ser lidos ao longo de poucas páginas, fisicamente reunidos de modo a lançar luz uns sobre os outros, realçando e clarificando as nuances de sentido de cada um. Esse foi o critério estabelecido pelo Guardião ao compilar obras como Seleção dos Escritos de Bahá´u´lláh.
O presente Guia dos assuntos tratados no livro foi elaborado para a edição em português a fim de facilitar a consulta do livro. Devido à exigência de divisão que este tipo de guia impõe, é importante o leitor ter em mente a natureza da ordenação dos textos a fim de tirar o melhor proveito do Guia. O leitor não se deveria deixar restringir demasiadamente pela divisão proposta, mas sim deveria consultar também um ou dois textos do final do bloco temático anterior, ou do início do próximo, que, por sua natureza "híbrida", também podem conter informações relevantes ao assunto sendo pesquisado.
Os principais assuntos expostos dentro de cada texto, "principais" no critério puramente subjetivo e pessoal do elaborador, foram apresentados com brevidade, de modo a facilitar sua localização.
Os blocos temáticos foram identificados por algarismos romanos. Os assuntos referentes a cada texto estão listados ao lado do número que identifica o texto no livro.


GUIA DE ASSUNTOS

I. A Chegada do Dia de Deus

1. O Sol da Verdade surgiu a fim de iluminar toda a terra e espiritualizar a comunidade do homem. Exortações aos bahá´ís.

2. Oração: "Ó meu Senhor! De Ti me aproximei nas profundezas desta noite tenebrosa..." "Apesar de sermos o que somos, ainda pertencemos a Ti, e o que pronunciamos e ouvimos é louvor a Ti, e é Tua face que buscamos, é Tua trilha que seguimos." A chegada do Dia de Deus. Descrição dos ataques a ´Abdu´l-Bahá. Exortações aos bahá´ís. Hoje as mais premente de todas as tarefas é a purificação do caráter, a reforma da moral, a retificação da conduta.

3.Chegou o Dia de Deus. Regozijai-vos.

4. A vinda do Dia de Deus. Os sinais que atestam a sua vinda.


II. Os Eleitos de Deus

5. A grande Luz do mundo já Se pôs. Exortação aos bahá´ís.

6. Quantas almas ansiaram pela entrada no Reino, mas não obtiveram esta bênção. Dever de gratidão dos bahá´ís por terem sido agraciados com isso.

7. Exortações aos bahá´ís. Oração: "Ó Deus, meu Deus! Ajuda Teus servos fiéis..."

8. Exortações aos bahá´ís. Os amigos são médicos divinos. As servas de Deus superam as rainhas. Oração: "Ó Deus, meu Deus! Estes são Teus servos fracos; são Teus leais escravos e Tuas servas..."

9. Agradece a Deus por te haver capacitado a entrar em Seu Reino de poder. Glorifica-O por te haver permitido oferecer-Lhe o Direito de Deus (Huqúqu´lláh).

10. Norma pela qual guiar a vida.

11. Prestar serviço aos amigos é prestar serviço ao Reino de Deus, e mostrar consideração aos pobres é um dos maiores ensinamentos de Deus.


III. As Revelações de Deus

12. O Amor é o segredo da santa Dispensação de Deus.

13. As religiões divinas devem ser a causa de união entre os homens, e instrumentos de unidade e do amor. No máximo, a diferença entre as almas está nisso: que algumas carecem de conhecimento, devem ser educadas; algumas estão enfermas...

14. "... haveis investigado a verdade e vos livrastes de imitações e superstições, observais com vossos próprios olhos e não com os alheios..."

15. "Começaste tua carta com uma frase bendita, que dizia: ´Sou cristã´. Oxalá que todos fossem verdadeiramente cristãos!" Em ciclos passados, embora a harmonia tenha sido estabelecida, ainda assim, devido à falta de meios, a unidade de todo gênero humano não poderia ter sido conquistada.

16. Os que viram a luz de Bahá´u´lláh estão libertos das fantasias e dúvidas. Render graças por ter-se reconhecido a Luz do mundo. Comportar-se de acordo com os conselhos do Senhor.

17. Expressar louvores ao Senhor por ter Ele vindo ao mundo. A fim de Lhe agradecer por isso, devemos fazer um extraordinário esforço, e escolher para nós próprios uma meta nobre. Ler as obras de Bahá´u´lláh. Seguir os ensinamentos. Oração: "Ó Tu, amoroso Provedor! Estas almas escutaram o chamado do Reino..."

18. Carta a uma pessoa cega. "Teu coração vê e teu espírito ouve."

19. Louvor a Deus pela manifestação de Bahá´u´lláh. Não dar atenção aos fariseus. Citação das últimas palavras de Cristo na cruz.

20. Como os judeus deixaram de reconhecer Cristo, por não entenderem profecias. Texto escrito para "Bahá´u´lláh e a Nova Era".

21. Provas da existência de Deus.

22. "Ó tu que para Deus estás volvendo a face! Fecha teus olhos a tudo o mais e abre-os para o reino do Todo-Glorioso..."

23. A religião de Deus é uma só religião, mas precisa sempre ser renovada. No mundo da existência todas as coisas precisam ser renovadas.

24. A Essência de Deus está santificada acima de qualquer especulação humana.

25. Sócrates viajou à Palestina e à Síria e lá, através de homens versados nas coisas de Deus, adquiriu certas verdades espirituais.

26. Os Santos Manifestantes de Deus possuem duas condições: uma é a condição física, e a outra é espiritual.

27. A manifestação de Bahá´u´lláh demonstrou a chegada da maturidade da humanidade.

28. A Árvore da Vida, da qual se faz menção na Bíblia, é Bahá´u´lláh.

29. A unidade das Revelações divinas. A Nova Jerusalém é a nova Lei de Deus.

30. Há dois tipos de existência: a de Deus e a do homem. Deus é o Originador da causa das causas.

31. Os Manifestantes do passado apareciam dotados das virtudes correspondentes a Sua era, mas agora é o tempo do fulgor pleno. Por isso Bahá´u´lláh apareceu com perfeições espirituais e realizações celestiais acima de todos Os demais. As diferenças entre as religiões do mundo são devidas aos vários tipos de entendimentos. O amor entre os bahá´ís é maior que entre os adeptos das demais religiões. Traduções das Escrituras.

32. Esta é uma Revelação inigualável.

33. A grandeza da Revelação de Bahá´u´lláh. Nenhum profeta antes de mil anos.

34. Toda alma imperfeita concentra-se em si mesma e pensa somente no seu próprio bem. As sublimes Manifestações de Deus tinham um conceito universal, que a tudo incluía. Exortações aos crentes.


IV. Vida Comunitária Bahá´í.

35. Epístola que invoca: "Ó exército de Deus!". Exortações.

36. Enquanto os ser não atingir o plano do sacrifício, estará privado de todo favor e toda graça.

37. Constituição de uma Assembléia Espiritual Local. Condição dos membros. Firmeza face a más notícias da Terra Santa.

38. As mulheres são iguais aos homens, mas apenas os homens podem participar da Casa Universal de Justiça. Em breve a sabedoria disso será manifesta como o sol.

39. Constituição de Assembléias. Não considerar a pequenez do número de fiéis. Bênçãos celestiais. Significado de "anjos". Modo de atrair o esposo. Terremoto em São Francisco e significado dos desastres naturais.

40. Constituição de Assembléias. Congregações do passado. Crescimento de uma Assembléia, comparada com uma árvore.

41. Assembléia de Chicago deve estar em harmonia com a de Nova Iorque. Coordenar e unificar as assembléias. Características de amor dos crentes. Unidade.

42. Enaltecimento dos firmes no Convênio. Oração da Assembléia Espiritual.

43. O primeiro requisito para os que consultam.

44. Forma de consulta. Brilhante fagulha da verdade.

45. A primeira condição para a consulta. O processo da consulta.

46. 'Abdu'l-Bahá está em constante comunhão espiritual com as assembléias espirituais.

47. Festa de dezenove dias: bênçãos. Atributos dos crentes.

48. As festividades são vivamente aclamadas em todas as dispensações, especialmente nesta. Os efeitos da Festa. A festa deve ser espiritual e material.

49. A Festa de dezenove dias é a mesa que desceu do céu. Esperança de 'Abdu'l-Bahá em relação a ela.

50. Festa de Dezenove Dias.

51. Festa de Dezenove Dias. Se for comemorada da maneira correta, os amigos ver-se-ão restaurados e dotados de poder que não é deste mundo.

52. Reuniões espirituais. Verdadeira fraternidade e amorosa comunhão atraem as bênçãos do alto. A maior peregrinação é aliviar o coração entristecido.

53. 'Abdu'l-Bahá inala a fragrância das reuniões espirituais. Não falar de política. Restringir as palavras aos temas do Reino.

54. Bahá'u'lláh reina onde os amigos de Deus se reúnem. Restringir as palavras às melodias do Reino.

55. Incumbe aos amigos realizar reuniões devocionais. Elas são o Mashriqu'l-Adhkar.

56. Sempre que pessoas se reúnem para glorificar a Deus e conversar sobre Seus mistérios, o Espírito Santo vem a elas.

57. Reuniões espirituais atraem bênçãos.

58. A sabedoria dos locais de adoração pública.

59. Mashriqu'l-Adhkár: sua importância, mesmo que seja subterrâneo.

60. O templo é um centro coletivo; une os homens. Seu efeito sempre foi marcante na história, garantindo êxito às cidades por eles abençoadas. Seu efeito é imenso.

61. Prece por aqueles que ajudam a construir o Mashriqu'l-Adhkar.

62. As bênçãos do sacrifício pelo Mashriqu'l-Adhkár: oferenda dos cabelos.

63. Mashriqu'l-Adhkár na América. O sacrifício dos cabelos. A oferenda das tâmaras a Maomé. Zaynu'l-Muqarrabín. Najáf-Ábád.

64. Mashriqu'l-Adhkár: instituições suplementares. A bênção dos que ensinam a Fé. Ensino da Causa e matrimônio.


V. Viagens para o Ensino da Causa

65. Viagem de ensino ao Extremo Oriente. O ensino da Fé é a mais nobre aspiração. O que dizer no ensino. Melhor ir a locais mais acessíveis.

66. 'Abdu'l-Bahá está presente apesar da distância.

67. Ensino em Paris: como fazê-la arder com a chama do Reino.

68. Os povos do mundo são cativos do mundo da natureza. Esforçar-se por merecer as dádivas do Reino. Obrigação de render graças. O que atrairá 'Abdu'l-Bahá à América. Oração de súplica.

69. Organização do Reino: os ensinamentos divinos. Viagem de 'Abdu'l-Bahá à América: falta de tempo por excessivas ocupações.

70. 'Abdu'l-Bahá dá orientações sobre viagens. Havaí. O que abordar nas palestras. Os ensinamentos de Bahá'u'lláh. O coração humano é como um espelho. Chicago tem primazia entre as cidades.


VI. Aquisição do Conhecimento e das Artes

71. Cada era tem um espírito; o desta era são os ensinamentos de Bahá'u'lláh. Descrição dos ensinamentos. Presidente Wilson serve o Reino.

72. Conhecimento e artes são a glória da humanidade, porém, depende se conduzem a Deus ou não. A erudição pode levar ao erro. Incumbe-nos adquirir os vários ramos do conhecimento e volver nossas faces a Bahá'u'lláh.

73. Aquisição de conhecimento: enquanto os pensamentos estiverem dispersos, nenhum resultado será obtido. Os resultados do pensamento concentrado são admiráveis. Esta era supera em conhecimento e realizações todas as demais.

74. O preconceito contra a música era uma superstição do Oriente. A arte musical está entre aquelas dignas de louvor.


VII. Unidade da Humanidade

75. As diferenças de raça e nacionalidade são fantasias.

76. Preconceito racial na América.

77. Unidade das nações: essencial para o bem-estar e a paz. Este século é o século da unidade do mundo humano.

78. Carta a uma pessoa negra. Elogio. Esta era se destaca de todas as eras passadas.


VIII. Ajuda aos Necessitados

79. The Gospel of Wealth. Ensinamentos de Bahá'u'lláh sobre economia. Partilha voluntária de bens. Perfeição adquirida através do livre arbítrio. A colheita da força é o tumulto e a ruína da ordem social.

80. Ajuda aos pobres. Almas do Reino anelam esse serviço.

81. Auxílio aos pobres e serviço à Cruz Vermelha.

82. Ajuda a um prisioneiro. A prisão da natureza.

83. Treinamento e educação de prisioneiros. San Quentin.


IX. Matrimônio e União

84. Matrimônio: de ser uma união tanto física como espiritual.

85. Primeiro escolher o futuro cônjuge, depois submeter a escolha aos pais. Antes de escolher eles não podem interferir.

86. Conhecer totalmente o caráter um do outro antes do casamento.

87. Matrimônio. Separação é fonte de todo mal, e associação é causa de graças em todos os níveis da existência. Oração pelo matrimônio.

88. Casamento: sua importância está no criar-se uma família abençoada. A iluminação do mundo depende da existência do homem.

89. Provações no casamento. O valor da provação. Paciência com o cônjuge.

90. Oração pelo marido.

91. Como tratar o cônjuge que não aceitou a Fé.

92. Deus fez a mulher e o homem para viverem em harmonia. Se assim for, serão objeto do favor divino; se não, ansiarão pela morte e se envergonharão no Reino do céu.


X. A Posição das Mulheres

93. Ser serva de Deus traz glória eterna, enquanto as rainhas deste mundo são totalmente esquecidas. Maria Madalena era uma camponesa. A Convenção Bahá´í: seus efeitos.

94. Reuniões de mulheres bahá'ís: como deveriam ser; o que deveriam estudar e tratar. Efeito dessas reuniões sobre as crianças.


XI. Educação das Crianças

95. Reunião de mulheres. Dedicar-se à educação das crianças. O que ensinar. Essa educação capacitará as crianças a ter êxito em tudo. Como educar. Não bater nas crianças, nem insultá-las.

96. Educar as crianças é forma de agradecer a Deus por Suas dádivas. As mães são as primeiras educadoras. As mães determinam a futura condição dos filhos.

97. O conhecimento: mais poderoso pilar que sustenta a Fé de Deus. Promovê-lo é inevitável dever.

98. A importância do professor. Educação obrigatória. Pais serão repreendidos por Deus se falharem na educação dos filhos.

99. Amor de Deus entrar junto com o leite materno.

100. Moralidade degenerará no futuro. Educar as crianças na conduta bahá'í para proteger sua felicidade. A felicidade humana depende de comportamento espiritual.

101. Os pais são obrigados a educar seus filhos. Se não puderem, incumbe à Casa Universal de Justiça fazê-lo. Não realizar isso atrai a ira de Deus.

102. Educação de crianças. Efeitos do Sol da Verdade no mundo. Ser as vanguardas das perfeições humanas. Padrões de educação bahá'í. O que ensinar às crianças.

103. A educação é o fundamento de toda excelência humana. O mentor deve dar educação, e também remediar os defeitos das crianças. Efeitos transformadores da educação. Arco da descida. Toda criança é potencialmente a luz e as trevas do mundo.

104. As diferenças entre as mentes é inata, mas a educação tem grande influência também.

105. Diferença entre a civilização material e a espiritual: aquela pune, esta educa.

106. Educar é difícil.

107. Que as crianças sejam treinadas a ter amor.

108. Caráter virtuoso: questão de fundamental importância. Encorajar as crianças em idade escolar a darem palestras.

109. Ensino das artes e das ciências. Estabelecimento de escolas.

110. Organização das escolas: uniforme, local, etc. Ensino moral: sua prioridade. Melhor uma criança ignorante e boa do que uma instruída, porém, má.

111. Causa fundamental da maldade é a ignorância. Forma de educar na moral.

112. Órfãos.

113. As mães devem ser orientadas em como educar seus filhos. Cabe às Assembléias fornecer essa guia.

114. A melhor forma de adorar a Deus é educar as crianças.

115. Os atos devem atestar a veracidade das palavras. Louvor aos que educam as crianças.

116. Dedicar-se antes de tudo ao pai viúvo, e servir a Fé sempre que for possível.

117. Filho verdadeiro é o que brotou da parte espiritual do homem.

118. Epístola às crianças. Distinção entre o homem e os animais.

119. Crianças bahá'ís superarem as demais: aprendam em um mês o que as outras aprendem em um ano.

120. Esperança de 'Abdu'l-Bahá: que as crianças bahá'ís sejam treinadas segundo os Ensinamentos de Bahá'u'lláh para que iluminem a humanidade.

121. Crescimento e desenvolvimento dependem dos poderes mentais e não da idade.

122. Educar as crianças nas coisas do espírito para que adquiram todas as perfeições.

123. Ser bahá'í é uma verdade, não meramente um nome. Ensinai isso às crianças. Escola dominical bahá'í.

124. Escola dominical. Perseverança é essencial para o bom resultado de qualquer empreendimento.

125. Substituição de professores. Escola dominical. Evitar horários coincidentes com outras igrejas.


XII. Labor é Adoração

126. Escola de agricultura. Ciências e artes como atos de adoçarão.

127. Engenho humano é adoração. Responsabilidade dos artífices.

128. Perfeição na profissão é adoração a Deus.


XIII. Saúde e Curas

129. Epístola da Pureza.

130. Cura por meios físicos e espirituais.

131. Volver-se a Bahá'u'lláh para curar.

132. Boa saúde é a maior das dádivas.

133. Curas físicas e espirituais. O remédio verdadeiro são os ensinamentos de Deus.

134. Causas das doenças. O pecado provoca enfermidades. Equilíbrio natural. Cura pelos alimentos. Sentidos físicos como meios de selecionar o que é saudável. Médicos devem usar a cura pelos alimentos, e essa será a realidade da medicina no futuro.

135. Ordenança de Deus é que se consultem médicos competentes.

136. Mandamento de Deus: procurar tratamento médico.

137. Ordem universal: todas as coisas servem de alimento umas às outras.


XIV. Temas Místicos e Cristãos

138. Mostrar bondade para com todos, menos aos egoístas, tiranos, impostores e ladrões. Se não desmascaramos o mentiroso ele segue mentindo. Bondade para com os animais.

139. O ensino deve ser com dignidade e magnanimidade. As palavras só terão efeito se o coração tiver certas qualidades essenciais. Poder do Espírito Santo. Estrelas não têm influência espiritual. Médiuns estão no caminho da ilusão. Como são respondidas as orações. Graça de Deus comparada à chuva, que só adquire limitações quando em contato com a terra. Adão não tinha pai nem mãe. Cura do Espírito Santo. Vale de Acor (Tora).

140. Transfiguração de Cristo no Monte Tabor: explicação.

141. Firmeza nas provações. Judas Iscariotes era o maior dos discípulos. A inveja destrói. Provações destruirão muitos nesta Causa, e enaltecerão outros.

142. Explicação de Apocalipse 21:10-17; a cidade de Deus, o número doze, as varas de madeira, ferro e ouro.

143. Subida de Cristo ao céu: simbolismo.

144. Olhar apenas as boas qualidades das pessoas. Exemplo de Cristo com a carcaça do cão morto.

145. O poder do espírito humano para descobrir as coisas ocultas. O poder do espírito divino. Explicação de João 14:30; o "Príncipe deste mundo" é a Abençoada Beleza. O mundo após a morte: percepção dos graus das almas. Almas se diferenciam após a morte. Seir, na Galiléia. Explicação de Jó 19:25-27. Explicação do Apocalipse de São João, capítulo 12: a mulher que foge para o deserto é a Lei de Deus, etc.

146. Desprendimento é requisito para produzir-se efeito. Curar os cegos, surdos e mudos; ressuscitar os mortos. Como Cristo venceu, apesar de toda aparente derrota, e como o mesmo sucederá agora. A paz mundial só pode ser estabelecida pelo poder do Espírito Santo. Oração por desprendimento. Fundamentos do ensino da Fé: boas ações e atributos espirituais, palavras claras e semblante radiante.

147. Refletir sobre o tempo de Cristo para poder entender os fatos do presente.


XV. Provações e Morte

148. Os pássaros e as minhocas: parábola. Elevar louvores a Bahá´u´lláh.

149. Parábola: o perfume da rosa e das ervas. As palavras e as folhas do livro. O romper dos véus após a morte.

150. Não lamentar nas tribulações nem alegrar-se na tranqüilidade: tudo nesta vida passará. O verdadeiro mundo é o Reino. Entregar todos os assuntos a Deus.

151. Nada traz benefício senão o amor de Deus. Confinar os pensamentos naquilo que eleve as almas.

152. Castigo da alma de um assassino.

153. Render graças é possuir coração radiante. Falta de capacidade e desmerecimento do indivíduo não impede que ele seja objeto das dádivas deste Dia. Este é o Dia da Graça, não da Justiça. Confiar nos favores ilimitados de Bahá'u'lláh. O verdadeiro significado do esquecimento de si próprio: abandono das más paixões, não o desleixo com o corpo.

154. Tudo é benéfico se unido ao amor a Deus, e sem Seu amor todas as coisas são danosas. A mesma música enche de vida o coração puro, e de lascívia o coração sensual. Assim também com o conhecimento: se seu fruto é o amor a Deus ele é digno de louvor. A erudição sem o amor de Deus provoca loucura.

155. As provações são motivo de alegria para os fiéis. Distinguem-nos dos fracos e refratários.

156. Reencarnação: comentário sobre a falsidade de tal idéia. Se a criação avançasse apenas conforme uma regra única, como poderia Deus intervir com Seu poder conforme Seu desejo? O retorno é das qualidades. O fruto da vida uterina não pode ser encontrado no útero, mas no nascimento para este mundo de luz.

157. Este mundo é como miragem no deserto. Deve-se abandoná-lo àqueles que lhe pertencem. Não há outro doador a não ser Deus. Ele virá em ajuda dos fiéis.

158. Epístola sobre a ascenção de Thomas Breakwell.

159. Apenas têm vida eterna aqueles que foram revivificados por Deus. Estes perceberão a condição das almas como serão após a morte. Todas as almas nascem puras e santas, apesar das diferenças originais de grau. Os vícios e as virtudes são adquiridos depois, indiferente dos graus. Assim como as partes do corpo.

160. Aconselha uma senhora a ensinar em vez de seguir a carreira de escritora. Orienta como obter conhecimento. Referência à Sra. Goodall. Só são salvos os que reconheceram Bahá'u'lláh. A espiritualidade prevalecerá sobre o materialismo, mas apenas os revivificados desfrutarão do Reino.

161. O mundo material é como o corpo humano, que precisa de um espírito invisível para ter vida.

162. As bênçãos de Bahá'u'lláh são um mar sem limites. Devemos desprender-nos para poder refletir seus esplendores. As influências de Bahá'u'lláh fazem o coração voltar-se para Ele em humildade, mesmo que forçado a isso.

163. 1) O mundo da alma após a morte é o mesmo mundo. O mundo da existência é um só. Cada nível da existência está inconsciente do nível superior. 2) As provações se limitam a este mundo inferior, não ocorrem no Reino. 3) No mundo espiritual os seres humanos assumem uma forma celestial, não física. 4) Ao morrer as almas puras vão para o mundo de Deus. E aquele mundo está dentro deste mundo. 5) Quem buscar o abrigo de Bahá'u'lláh abandonará outras moradas. 6) Referir-se ao Centro do Convênio no caso de divergências. 7) Bahá'u'lláh convocou toda a humanidade, mas os pobres responderam mais ao Seu chamado. É difícil uma pessoa rica entrar no Reino. 8) Bahá'u'lláh é o Educador Universal.

164. Louvor a Thornton Chase. Maneira de celebrar o aniversário de sua ascensão todos os anos.

165. Oração por uma alma. Deve-se dar importância suprema à vida vindoura, não a esta vida inferior.

166. Qualquer movimento motivado pelo amor de Deus transporta de longe para perto.

167. Explicação sobre destino, predestinação e vontade.

168. Todas as pessoas do mundo estão em absoluta inconsciência. Render graças por haver reconhecido a Manifestação. Estes são dias assaz preciosos.

169. Consolo pela morte de um jovem. A sabedoria divina subjaz tais acontecimentos. É como a mudança de uma planta de um lugar escuro para outro mais amplo e iluminado que favorece seu crescimento.

170. Sobre o suicídio.

171. A perda de um filho está além do que o ser humano pode suportar. A perturbação e o luto afetam a alma no mundo celestial, por isso devemos estar consolados pela fé. Palavras do filho para a mãe desde o Reino celestial.


XVI. Espiritualidade

172. O estado de oração é a melhor das condições. A oração tem especial efeito se dita a sós e em momentos de despreocupação.

173. Quem entra no reino já vive no céu, embora seu corpo ainda esteja na terra.

174. O amor de Deus e a atração espiritual limpam e purificam o coração humano. Esforçai-vos por aumentar vossa unidade. Concentrai os pensamentos em vosso próprio desenvolvimento espiritual e cerrai os olhos às deficiências alheias. Não há dádiva maior para o ser humano do que regozijar o coração de outrem.

175. O encanto mortal há de desvanecer-se; o que perdura eternamente é a Beleza do Verdadeiro.

176. Tudo que as almas buscam e almejam perder-se-á. Apenas perdurará a atração ao Reino, a fé, o conhecimento, o esclarecimento e os esforços de ensino da Causa.

177. O fogo do amor de Deus aquece toda a terra e os domínios celestiais também. Bem-aventurado quem isso obteve.

178. Nunca perder a confiança em Deus. Sob nenhuma circunstância ficar desesperançado. Participar nas reuniões mantém os amigos alertas, vigilantes, amorosos e atraídos aos Reino.

179. Volver-se inteiramente ao reino confere coragem e poder.

180. Libertar-se do mundo da natureza, o qual é a fonte de todo o mal.

181. Palavras Ocultas - o significado: 1) da renúncia a si mesmo; 2) do convênio no Monte Párán; 3) do desprendimento do ego.

182. Palavras da Assembléia no alto dirigidas às reuniões dos fiéis.


XVII. O Convênio

183. O poder dinâmico do mundo da existência é o poder do Convênio; é como uma artéria que pulsa no corpo do mundo. O Centro do Convênio garante o que é correto.

184. A firmeza no Convênio concede poder celestial. A formiga vence o elefante, e a mariposa o abutre.

185. Firmeza dos amigos da Califórnia no Convênio. As provações são proporcionais à grandeza da Causa. As violações do Convênio são como a espuma no oceano. O oceano do Convênio lançará à praia todos os corpos mortos. Os violadores fingem firmeza, mas dedicam-se a agitar as almas em segredo. Judas Iscariotes teve vários seguidores, mas nenhum nome foi deixado para a história. Judas era o líder dos apóstolos, mas traiu por trinta moedas de prata. A disseminação dos ensinamentos divinos é o meio de atingir a salvação.

186. O Convênio de Deus: emanado da pena de Bahá'u'lláh e fonte de unidade (apresentação dos textos autoritativos).

187. O Convênio: um Centro especial nomeado e a Casa Universal de Justiça impedem toda cisma. Os rompedores sabem perfeitamente o que fazem. Eles reconhecem o convênio, mas vão contra ele por buscarem liderança.

188. Descrição longa e detalhada dos estratagemas vis de Mírzá Muhammad-'Alí contra o Convênio e dos sofrimentos de 'Abdu'l-Bahá. Exortações diversas em relação ao Convênio. O maior desejo de 'Abdu'l-Bahá é que os amigos possuam corações espirituais e mentes iluminadas.

189. Toda pessoa sábia, vigilante e previdente está desperta e conhece os segredos do futuro. Só o poder do Convênio pode tocar o coração da humanidade. Deve-se possuir a conduta de Paulo e a fé de Pedro. Publicação das palestras de 'Abdu'l-Bahá.

190. Oração pelos amados de Deus. Amor de 'Abdu'l-Bahá pelas provações e calamidades. Súplica por sofrimentos no caminho de Deus.

191. Regozijar-se pelas aflições no caminho de Deus. Poesia sobre o sacrifício em Deus.

192. Todas as forças do universo servem o Convênio.


XVIII. Provações no Caminho de Deus

193. Sinais espirituais do Dia de Deus. Penosa dissensão entre os crentes. Todos deveriam apenas ver o bem nos demais. O conflito entre os crentes é golpe de inconcebível dor para o coração do Mestre. O maior prejuízo para a Causa advém da falta de unidade entre os crentes. O que ocorre se os amigos fazem fofoca ou falam mal dos outros. Como impedir a maledicência. Agora é o tempo de os amados de Deus demonstrarem perfeições divinas. Oração.

194. A Causa está crescendo e seus inimigos estão ficando mais hostis. Os crentes devem exercitar a maior cautela e prudência. Desenvolver virtudes. Paciência e resignação atraem os poderes do Reino.

195. Epístola a um dos Afnán. Análise da sabedoria oculta por trás das perseguições sofridas pela Causa e seus servos.

196. Tribulações sofridas no caminho de Deus deveriam nos trazer regozijo. Os amigos no Ocidente também terão de enfrentar oposição.

197. As calamidades e aflições foram criadas para que o homem viesse a desprezar esse mundo mortal. Tornar-se indiferente aos prazeres e confortos do mundo. Disso dependem a glória e a salvação das almas.

198. Há provações e calamidades no caminho de Deus. O indivíduo deve aceitá-las de bom grado e ansiar por elas. Só então deve seguir ensinando a Causa. Desdita está reservada aos que descuram Deus enquanto buscam os prazeres deste mundo.

199. Aquilo que exaltará os crentes: meditar sobre as palavras de Deus, invocá-Lo e afastar-se do ego. 'Abdu'l-Bahá exulta na prisão. Seu maior desejo é o martírio no caminho de Deus. Exortações aos crentes por firmeza e santidade. Só haverá de alcançar a graça suprema aquele que houver renunciado ao mundo.


XIX. Unidade e Paz

200. Abaixo-assinado recebido por 'Abdu'l-Bahá dos crentes dos Estados Unidos, no qual prometiam permanecer unidos e consagrados à Causa. As bênçãos do alto serão asseguradas através desse pacto. O mundo está enfermo e os amados de Deus devem ser os médicos.

201. Nesta era a paz será estabelecida no mundo. A paz tem de ser estabelecida primeiro entre os indivíduos, para que conduza à paz entre as nações.

202. O mundo está imerso na guerra e na carnificina. A origem de todas essas tragédias é o preconceito. A causa fundamental do preconceito é a imitação. Bahá'u'lláh divulgou vários ensinamentos para a prevenção da guerra (que são listados). Nada a não ser os ensinamentos de Bahá'u'lláh jamais poderá acabar com a guerra. Os Bálcãs permanecerão descontentes e procurarão reiniciar a guerra. Movimentos recém-nascidos difundir-se-ão, especialmente o de esquerda.

203. Bahá'u'lláh prometera que almas puras se ergueriam em prol da Causa. O ímã que atrai as graças é a firmeza no convênio.

204. Bahá'u'lláh prometeu o surgimento de almas que seriam a essência da guia: suas características e o efeito de sua ação.

205. A imitação cega do passado tornou o mundo obscuro. Os Ensinamentos de Bahá'u'lláh trouxeram ao mundo tudo que é novo, e a menos que sejam difundidos e substituam as velhas fórmulas, o mundo não encontrará paz.

206. A Causa iluminou todos os horizontes do mundo. Oração. Já que a Fé nasceu na Pérsia, é esperança de 'Abdu'l-Bahá que ela cresça cada vez mais naquela terra. Que o Irã torne-se o núcleo e o foco do bem-estar e da paz. Cabe aos amados de Deus serem sinais do amor. Não olhar para a pureza ou impureza da natureza das pessoas: todos estão imersos no mar de Sua generosidade. As qualidades dos verdadeiros crentes.

207. Características dos crentes. O poder da unidade entre eles. A razão pela qual Deus se manifesta: unidade. Descrição dos sofrimentos de Bahá'u'lláh. Objetivo dos sofrimentos de Bahá'u'lláh: estabelecer a unidade.


XX. As Bênçãos do Ensino

208. As hostes da Assembléia celestial estão preparadas para auxiliar qualquer valente guerreiro que se lançar na arena do serviço.

209. Caso o ensino decaia, as confirmações serão totalmente cortadas. Ensino através da amizade garantirá a duplicação da comunidade a cada ano.

210. Louvores aos crentes. O dever de ensinar: espargir os aromas de Deus e conquistar vitórias com o poder da língua e do conhecimento.

211. As confirmações dependem do ensino.

212. A tarefa dos crentes não pode confinar-se à boa conduta, pois isso só não conduz a nada. Devem falar e promover a verdade da Revelação.

213. Sem ensino as bênçãos são cortadas. Mas o ensino deve ser realizado com sabedoria.

214. Não digas aquilo que os ouvidos não podem suportar. "Nem tudo o que um homem sabe pode ser revelado..."

215. Importantíssimo o ensino entre as tribos.

216. Volver-se a Bahá'u'lláh antes de principiar a falar: seremos inspirados. Falar com coragem, dignidade e convicção. Apresentar argumentos racionais e provas convincentes.

217. Condições sem as quais o ensino não terá efeito algum.

218. Verso de 'Abdu'l-Bahá zombado pelos rompedores. Auxílio divino hoje manifesto. Redobrar os esforços e ensinar. Dentre toda a humanidade Deus escolheu os amigos para fazê-lo. Oração: "Ó meu Senhor, meu Defensor, meu Amparo no perigo!"

219. Os crentes em Londres são exemplares. É fácil aproximar-se do Reino do Céu, mas difícil nele permanecer firme e inabalável, pois as provações são rigorosas.


XXI. O Reino de Deus

220. Deus moldou o mundo humano para ser o jardim do Éden. A dissensão, mesmo com o demônio, leva ao dano e à perda. Possa o ano novo trazer a paz. (Epístola de 1913)

221. Agora é o tempo de os amigos envidarem grande esforço a fim de estabelecer a unidade do mundo. Hoje, a necessidade capital é unidade e harmonia entre os amados do Senhor. Tudo que existe depende da unidade para viver. Unir o mundo depende de palavras, conduta e atos que sejam do Reino. Sem isso, sua realização é impossível. Os efeitos da unidade na família, tribo, cidade, nação e planeta.

222. A tranqüilidade do lar passará, mas as bênçãos do flagelo no caminho de Deus durarão eternamente. O efeito dos desterros dos diversos Profetas.

223. A maioria das pessoas estão cativa do mundo da natureza. Cabe aos amados de Deus despertarem-nas. Todo dispêndio exige uma receita. A guerra é desperdício de vidas e riquezas.

224. O mundo é hoje um lugar desprezível que será ajardinado pelos esforços dos amados de Deus.

225. Dois chamados à prosperidade e ao êxito estão sendo levantados: um é o da civilização, o outro é o de Deus (Descreve cada um deles). Enquanto as perfeições humanas não forem reforçadas por perfeições espirituais, nenhum fruto será alcançado e a felicidade da humanidade não virá. A civilização está associada à barbárie. O progresso e a selvageria caminham juntos, a menos que a civilização material seja confirmada pela Guia Divina. A humanidade evoluiu no mundo material até ser capacitada a atingir o estado no qual podem ser manifestas as perfeições do Reino. A felicidade da humanidade depende de sua união e harmonia. O desenvolvimento material e espiritual depende do amor e da amizade entre todos. O homem é dotado de duas naturezas: uma se inclina à sublimidade moral e à perfeição intelectual, enquanto a outra se volve à degradação bestial e às imperfeições carnais. O exemplo da destruição causada pelo conflito no mundo animal e no mundo dos homens. O fenômeno da composição e decomposição, da existência e inexistência. As diferenças são de duas espécies, uma é causa de aniquilação, outra de perfeição. Cumpre a todos, sem exceção, mostrar obediência, submissão e lealdade ao governo de seu país.

226. 'Abdu'l-Bahá não comparece a conferências políticas porque o estabelecimento da paz é irrealizável salvo através do poder do Verbo de Deus.

227. (Epístola a Haia) Uma única questão isolada é incapaz de exercer a devida e necessária influência sobre a realidade humana, pois enquanto as mentes dos homens não se unirem, nada de importante se realizará. A unidade de consciência é essencial para que a paz mundial seja estabelecida. A realidade é uma só, portanto, diferentes opiniões, se girarem em torno dela, haverão afinal de fundir-se. Os ensinamentos de Bahá'u'lláh para a paz. A ação dos preconceitos. O preconceito patriótico será a causa preponderante da destruição no mundo. A luta pela existência é o manancial de todas as calamidades; é a aflição suprema.
O Supremo Tribunal prescrito por Bahá'u'lláh para arbitragem da paz: como deve ser formado e porque a Liga das Nações não será eficaz.

228. A ineficácia da conferência da Haia para o estabelecimento da paz. Ela não impediu a Primeira Grande Guerra. 'Abdu'l-Bahá prevê a Segunda Guerra Mundial. Ensino aos esperantistas. Esperança na influência do Esperanto.

229. Os verdadeiros servos de Bahá não se entristecem nem temem as provações.

230. Hoje, o chamado do Reino é o poder magnético que atrai a si o mundo humano, pois grande é a capacidade de homem. Os ensinamentos divinos constituem o espírito desta era e, mais que isso, são o sol desta era. Tudo o mais passará, menos o Reino.

231. Neste mundo mortal, tudo o que é importante tem fim; nada há de subsistência perene. No início da renovação da Palavra de Deus o povo não lhe dá importância.

232. Presidente Wilson: os quatorze pontos por ele enunciados encontram-se nos ensinamentos de Bahá'u'lláh. Estamos na alvorada da paz universal.


XXII. Epístolas Finais

233. Oração de intercessão pelos servos de Deus. Cada dia nova aflição se manifesta pelos ímpios. Os amigos precisam estar alertas às insinuações das serpentes caluniadoras. Estudar a Epístola do Sagrado Marinheiro e perceber como os eventos do futuro foram ali vaticinados.

234. Não sofrer pelo aprisionamento de 'Abdu'l-Bahá, pois ele se regozija nele.

235. Oração de intercessão pelos fiéis: "Ó Deus, meu Deus! Ilumina as faces..."

236. Oração: "Ó meu Deus! Ó Tu que guias o que busca..." Exortações aos crentes por boa conduta, qualidades celestiais e não envolvimento em política.

237. Epístola da Visitação de 'Abdu'l-Bahá.













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Outras obras publicadas em português:

* Orações Bahá'ís

* O Esplendor da Verdade

* Vislumbres de Perfeição

* Palestras de 'Abdu'l-Bahá em Paris, 1911

* Última Vontade e Testamento



'Abdu'l-Bahá nasceu em Teerã, Pérsia (hoje Irã), em 23 de maio de 1844. Ainda criança, reconheceu em Seu Pai - Bahá'u'lláh - o Mensageiro Divino anunciado em todas as religiões do passado, compartilhando com Ele de todos os Seus exílios, para o Iraque, Turquia e Palestina, durante 40 anos, de 1852 a 1892 quando Bahá'u'lláh faleceu.

'Abdu'l-Bahá foi designado por Seu Pai o Centro de Seu Convênio, continuador de Sua obra e intérprete autorizado de Seus Escritos. Para os Bahá'ís é considerado o exemplar perfeito das virtudes humanas.

De 1911 a 1913 realizou viagens à Europa e à América do Norte, levando a Mensagem de Bahá'u'lláh aos povos ocidentais, em uma série de conferências e apresentações em dezenas de cidades, realizando assim uma divulgação e proclamação dos princípios de unidade mundial nunca antes registrado na história das religiões.

Até 1921, ano em que faleceu em Haifa (Palestina), 'Abdu'l-Bahá escreveu muitos livros e milhares de cartas a pessoas e instituições. Seus livros e muitas de suas cartas (Epístolas) encontram-se publicados em diversos idiomas. Complementando alguns volumes já existentes em português, a presente obra traz ao leitor brasileiro uma seleção dos mais importantes escritos do "Mestre", como era chamado 'Abdu'l-Bahá.


SELEÇÃO DOS ESCRITOS DE 'ABDU'L-BAHÁ

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